“Na companhia de meus amigos, assisti a essas reuniões e ouviu o impressionante anúncio de que Cristo estava voltando em 1843, somente uns poucos anos no futuro. O Sr. Miller expôs as profecias com uma precisão que transmitia convicção aos corações de seus ouvintes. Ele demorava-se sobre os períodos proféticos, e apresentou muitas provas para fortalecer sua posição. Testimonies, Vol. 1, p. 14
Quando Cristo não retornou em 1843 muitos dos seguidores de Miller deixaram o movimento. Miller e seus associados determinaram que um erro havia sido feito nos cálculos da data do retorno de Cristo. Após estudo adicional, estabeleceram que Cristo retornaria no Dia da Expiação, 22 de outubro de 1844*.
Ao falhar a predição novamente, houve um amargo desapontamento. Nos próximos anos, Miller e a maioria dos crentes e principais líderes do movimento admitiram que estavam equivocados e retornaram a suas igrejas anteriores. Alguns poucos que insistiam em que o movimento era de Deus (ou estavam muito envergonhados para voltar a suas antigas igrejas admitindo terem errado) apartaram-se do corpo principal de cristãos e formaram suas próprias igrejas.
Falhas Flagrantes nos Ensinos de Miller
Quando a mensagem de estabelecimento de data de Miller foi pregada nos primeiros anos da década de 1840, argutos pastores protestantes, eruditos e estudantes da Bíblia imediatamente reconheceram que era uma mensagem errada por várias razões:
1. A Mensagem de Miller Contradizia a Mensagem de Cristo
A mensagem opunha-se à vigorosa advertência de Jesus: “Vigiai, pois não sabeis o dia nem a hora em que o Filho do homem há de vir”. Mat. 25:13
Muitos membros de igrejas protestantes amavam a Cristo e esperavam ansiosamente por Seu retorno, contudo, sentiam que não podiam unir-se a um movimento que se opunha tão flagrantemente às claras palavras de Jesus Cristo.
2. O Estabelecimento de Data é Ensino Falso
Pastores e eruditos protestantes estavam familiarizados com inúmeras pessoas que marcaram datas para o retorno de Cristo. Isso vinha sendo feito por séculos. Eles não podiam deixar de reconhecer que a marcação de data conduz a um falso reavivamento e que amargos desapontamentos que os seguem resultam na destruição da fé dos envolvidos. Líderes eclesiásticos reconheceram que a marcação de data sempre foi um instrumento satânico, e não podiam endossar qualquer movimento que se envolvesse com o estabelecimento de uma data para o retorno de Cristo.
3. As Profecias Não Haviam Tido Cumprimento
Líderes protestantes estavam cientes de que nem todas as profecias no livro de Apocalipse e outras partes da Bíblia tinham tido cumprimento em 1844! Um exemplo contra o qual não resta possível argumento é a predição de Cristo de que o evangelho teria de ser pregado em todo mundo antes de Seu retorno: “E este evangelho do Reino será pregado em todo o mundo, em testemunho de todas as nações, e então virá o fim”. Mat. 24:14
Havia literalmente milhões de indivíduo que falavam milhares de línguas e dialetos que nunca tinham ouvido o evangelho em l844. Aliás, mesmo hoje ainda restam milhões a carecerem de ouvir a mensagem do evangelho. E em meados do século XIX, sobretudo após 1844, é que se deram os grandes esforços missionários, como o de David Livingstone no continente africano, a expansão da difusão de Bíblias pelas Sociedades Bíblicas, etc. Obviamente, Cristo não poderia ter retornado em 1844 em oposição a Sua própria palavra.
4. As “Provas” de Miller Firmavam-se em Métodos Incorretos de Interpretação Bíblica
Outra razão pela qual os líderes protestantes rejeitaram o movimento de 1844 era porque Guilherme Miller empregava uma pobre exegese bíblica ao propor suas “15 provas” do retorno de Cristo em 1844. Eis a primeira de suas “15 provas”:
UM: Eu o comprovo pelo tempo dado a Moisés, no capítulo 26 de Levítico, sendo sete tempos o período em que o povo de Deus deve estar sob servidão dos reinos deste mundo; ou em Babilônia, literal e mística; cujos sete tempos não podem ser entendidos a não ser como sete tempos, ou 360 revoluções da Terra em sua órbita, fazendo 2.520 anos. Creio que isso começou, segundo Jeremias 15:4: “E farei com que sejam removidos para todos os reinos da Terra, por causa de Manassés, o filho de Ezequias, filho de Judá, pelo que ele fez em Jerusalém”. E Isaías 7:8: “Pois a cabeça da Síria é Damasco, e a cabeça de Damasco é Resim: e dentro de sessenta e cinco anos Efraim será despedaçado, para não mais ser um povo”,–quando Manassés foi levado cativo para Babilônia, e Israel não mais era uma nação,–ver cronologia, 2 Crôn. 33:9. “Assim, Manassés fez Judá e os habitantes de Jerusalém errar, e a agir pior do que os pagãos, a quem o Senhor havia destruído perante os filhos de Israel”-o 677º ano A.C. Daí, tome-se 677 de 2.520, ficando 1843 A.D., quando a punição do povo de Deus cessará. Miller’s Lectures [Conferências de Miller], pág. 251.
Este é um exemplo de uso indiscriminado de “textos-prova” por Miller para demonstrar suas teorias. Atentem a Levítico 26:18: “Se também após essas coisas, não me obedecerdes, então vos punirei sete vezes mais por vossos pecados”.
Esta passagem não diz absolutamente nada sobre a segunda vinda da Cristo! A palavra “tempos” não está no original hebraico neste verso; ao contrário, a ênfase do texto está no grau de punição, não na extensão de tempo.
Logicamente, Miller não teria sabido disso porque não tinha conhecimento de línguas originais. As outras 14 provas que Miller utilizava são também de dúbia validade. Uma das “15 provas” de Miller pontificava que os 2.300 dias de Daniel 8:14 findariam em 1844 com a “purificação do santuário”, que seria a purificação da Terra pelos fogos do Advento. [N.T.: Os que quiserem ter mais informação sobre essas “15 provas” advogadas por Miller em defesa de suas idéias podem solicitar o artigo de nº 24 de nosso “Catálogo-“O Fim do Historicismo, Uma Dissertação Que Dá o Que Pensar, do Dr. Kai Arasola, dirigente adventista na Finlândia, onde expõe suas razões para crer que o historicismo, como ferramenta outrora útil de interpretação bíblica, chegou ao seu fim].
Ellen White Descreve Triunfalisticamente o Movimento de 1844
Como vimos da discussão acima, os protestantes tinham quatro forte razões, de base bíblica, para rejeitar o movimento de Guilherme Miller. Agora, vejamos como Ellen White encarava o movimento de 1844 e os pastores que o rejeitaram. Eis alguns trechos extraídos das páginas 229-249 de seu livro Early Writings [Primeiros Escritos] dispostos sob subtítulos pertinentes:
A Missão de Guilherme Miller assemelhava-se à de João Batista:
“Assim como João Batista anunciou o primeiro advento de Jesus e preparou o caminho de Sua vinda, Guilherme Miller e os que a ele se uniram proclamaram o segundo advento do Filho de Deus.”
Deus dirigiu Miller em sua compreensão da profecia e anjos deram-lhe assistência nisso:
“Deus dirigiu a mente de Guilherme Miller para as profecias e concedeu-lhe grande luz sobre o livro de Apocalipse”. “Anjos de Deus repetidamente visitaram aquele escolhido [Miller], para guiar sua mente e abrir ao seu entendimento profecias que sempre foram obscuras para o povo de Deus”.
[Ponderação: Sendo que o entendimento de Miller tinha por base uma metodologia deficiente de estudo da Bíblia, que conduziu a conclusões inexatas e ao desapontamento final, esses anjos parece não lhe terem sido de grande auxílio, afinal de contas.]
Deus estava por detrás do estabelecimento da data 1843:
“Vi que Deus estava na proclamação do tempo em 1843.”
O estabelecimento da data de 1843 era uma “verdade” pela qual Deus iria provar o Seu povo:
“Foi Seu desígnio despertar o povo e levá-lo a um ponto de prova, no qual se decidiriam pela verdade ou contra ela.”
O espírito de Elias foi manifestado na proclamação da “verdade”:
“Milhares foram levados a abraçar a verdade pregada por Guilherme Miller, e servos de Deus foram suscitados no espírito e poder de Elias para proclamarem a mensagem.”
Os que apontavam à advertência de Jesus em Mat. 25:13 eram hipócritas e zombadores:
“A pregação de tempo definido despertou grande oposição de todas as classes, desde ministros nos púlpitos, até o pecador mais ousado e degradado”. ‘Nenhum homem sabe o dia nem a hora’, era ouvido dos ministros hipócritas e dos ousados zombadores”.
[Ponderação: Os ministros eram tidos por “hipócritas” por lembrarem aos mileritas dizeres bíblicos que não estavam respeitando, e que, por não os respeitarem, terminaram se dando bem mal. . .]
Pastores que amavam a vinda de Cristo, contudo rejeitavam o estabelecimento de datas eram tidos por “incrédulos” e acusados de que “não amavam a Jesus”:
“Muitos pastores do rebanho, que professam amar a Jesus, disseram que não se opunham à pregação da vinda de Cristo, mas faziam objeção ao estabelecimento de um tempo definido. O Deus onisciente lia seus corações. Eles não amavam a proximidade de Jesus. Sabiam que seu estilo de vida descrente não passaria pelo teste, pois não estavam andando nas veredas de humildade a eles assinaladas por Ele”.
Somente os justos aceitaram e creram na mensagem de estabelecimento de tempo:
“Os mais dedicados alegremente receberam a mensagem. Eles sabiam que procedia de Deus”.
O “erro” de estabelecer o tempo em 1843 foi culpa de Deus:
“Sua mão cobriu um erro na contagem dos períodos proféticos.”
Deus desejava que o Seu povo fosse desapontado:
“Deus designou que o Seu povo enfrentasse um desapontamento.”
Após o desapontamento de 1843, os que deixaram o movimento de marcação de data rejeitaram a Deus e uniram-se a Satanás:
“Satanás e seus anjos triunfaram sobre eles. . . . Não perceberam que estavam rejeitando o conselho de Deus contra si próprios, e atuando em união com Satanás e seus anjos para trazerem perplexidade ao povo de Deus, que estava vivendo segundo a mensagem enviada pelo céu.”
As igrejas que rejeitaram a marcação de tempo como não tendo base nas Escrituras foram totalmente rejeitadas por Deus:
“Ao recusarem as igrejas a receber a mensagem do primeiro anjo, rejeitaram a luz do céu e caíram do favor de Deus.
“Confiaram em sua própria força e, por se oporem à primeira mensagem, colocaram-se onde não podiam ver a luz da mensagem do segundo anjo.
“Mas os amados de Deus, sob opressão, aceitaram a mensagem, ‘Caiu Babilônia’, e deixaram as igrejas”.
Os que não se uniram o movimento de 22 de outubro de 1844 não eram convertidos:
“Muitos que professaram estar olhando para Cristo não tinham parte na obra da mensagem [do estabelecimento do tempo como 22 de outubro de 1844] . . . mas não haviam sido convertido; não estavam prontos para a vinda de seu Senhor”.
O movimento de 1844 cumpria as 1a e 2a mensagens de Apoc. 14:
“A profecia teve cumprimento na primeira e segunda mensagens”.
O céu inteiro estava “indignado” com quem não se uniu ao movimento de estabelecimento de data:
“O céu todo estava cheio de indignação de que Jesus fosse tratado assim levianamente por seus professos seguidores.”
Foi propósito de Deus desapontar amargamente o Seu povo em 1844:
“Havia sido propósito de Deus ocultar o futuro e trazer o Seu povo a um ponto de decisão. Sem a pregação de um tempo definido para a vinda de Cristo, a obra designada por Deus não teria sido cumprida.”
Os que reconheceram o seu erro e retornaram a suas igrejas perderam-se:
“A passagem do tempo os havia testado e provado, e muitos foram pesados na balança e achados em falta.”
Os que rejeitaram a marcação de tempo e disseram, “Eu bem que lhe disse!” após o desapontamento eram zombadores e seriam punidos por Deus:
“De igual maneira, aqueles que zombaram e criticaram da idéia de que os santos haveriam de ascender serão visitados pela ira de Deus, e haverão de sentir que não é coisa pequena tratar levianamente com o seu Criador.”
[Ponderação: Não há evidência de que essa visitação da ira divina jamais haja ocorrido com os opositores do milerismo].
Jesus condenou e rejeitou aqueles que não aceitaram a marcação de data:
“Jesus volveu-lhes as costas com sobrecenho carregado; pois haviam-No menosprezado e rejeitado.”
Jesus pediu a Seus anjos para conduz as pessoas para fora das igrejas protestantes que recusassem aceitar o estabelecimento de data:
“Vi que Jesus volveu o Seu rosto daqueles que O rejeitaram e desprezaram a Sua vinda, e então ordenou aos anjos que conduzissem o Seu povo de entre os imundos a fim de que não se contaminassem.”
Comparem-se agora as posições de adventistas e protestantes em torno de 1844:
Os Adventistas em 1844
Guilherme Miller sabe o dia e a hora do retorno de Cristo.
Marcação de data como método divino para despertar o povo em reavivamento
Nenhuma explicação sobre o porquê de o evangelho não ter alcançado o mundo inteiro ou por que tantas profecias estavam ainda aparentemente sem cumprimento.
Emprego indiscriminado de textos-prova e métodos de interpretação bíblica reprováveis.
Atração aos jovens e pessoas sem cultura que, como a jovem Ellen Harmon, de 13 anos de idade, eram facilmente apanhados em excitação emocional.
Alegação de que as igrejas protestantes estavam caídas, enganadas e unidas com Satanás.
Revelaram-se errados em 22 de outubro de 1844.
Os protestantes em 1844
Somente Deus sabe o dia e a hora do retorno de Cristo (Mat. 24:36)
Cria um excitação fanática e sempre termina em desapontamento.
Questionamento sobre como Cristo poderia ter retornado em 1844 quando muitas profecias bíblicas ainda não tiveram cumprimento.
Emprego de sólidos métodos de interpretação bíblica.
Atração aos que eram firmes na fé e não se deixavam persuadir facilmente pelo emocionalismo religioso.
Alegação de que Miller estava equivocado e os que a ele se uniram estavam enganados.
Revelaram-se corretos em 22 de outubro de 1844.
Cinco Perguntas Desafiadoras Para os Adventistas do Sétimo Dia Responderem:
De quem deriva o método de marcação de datas (que Cristo condenou em Mat. 25:13)?
É um método divino para trazer pessoas à verdade.
É um estratagema do Diabo para agitar as pessoas e levá-las ao fanatismo, depois esmagá-las sob o peso do desapontamento.
Ellen White disse que foi “desígnio” de Deus que o Seu povo fosse enganado a respeito do retorno do Senhor. Quem deseja que os cristãos sejam enganados a respeito do Advento de Cristo?
Deus tem por desígnio que os cristãos sejam enganados.
Satanás tem por desígnio que os cristãos sejam enganados.
Segundo Ellen White, o amargo desapontamento de 1844 fazia parte do “desígnio” divino. De quem é o empenho para tornar os cristãos amargamente desapontados?
Deus se compraz em desapontar amargamente Seus filhos.
Satanás se compraz em desapontar amargamente os filhos de Deus.
Segundo Ellen White, Deus dirigiu o entendimento das profecias de Miller.
Quem levou Miller a fazer o que Cristo havia explicitamente proibido em Mateus 25:13?
Jesus levou Miller a desobedecer Sua própria Palavra.
Satanás levou Miller a desobedecer a Palavra de Cristo.
Que tipo de profeta denunciaria os pastores protestantes como “falsos pastores” simplesmente porque rejeitaram a marcação de datas e inadequados métodos de interpretação bíblica de Miller, e tentarem advertir seus rebanhos quanto aos perigos do fanatismo?
[Ponderação: Anos mais tarde, a própria Sra. White disse, a respeito de marcação de datas por alguns de seus contemporâneos: “Vi que alguns estavam obtendo uma falsa excitação, derivada da pregação sobre data. . . . Não devemos estar sob uma excitação relativa a data. Não devemos nos embaraçar com especulações a respeito de tempos e estações que Deus não revelou. Jesus disse a Seus discípulos, ‘vigiai’, mas não com respeito a um tempo definido”. – Mensagens Escolhidas, Liv. 1, págs. 188, 189. Sábio conselho que serviria como uma luva para os mileritas de anos antes].
* Esta data tinha sido adotada por um dentre os vários grupos de judeus, os karaítas, segundo pesquisa de um dos seguidores de Miller que pertencia àquela comunidade de gente simples, sem grande cabedal de conhecimentos. Pesquisas posteriores revelaram que naquele ano de 1844 o Dia da Expiação na verdade caiu pelo menos um mês antes do que na época imaginavam, não em 22 de outubro.
Autor: Dirk Anderson