História do movimento pentecostal

I – ORIGENS DO MOVIMENTO PENTECOSTAL

Há muitas controvérsias com respeito ao início do Movimento Pentecostal, que é assim chamado porque resgatou a plenitude da experiência de Atos 2, ocorrida durante a festa judaica de Pentecostes. Os dons do Espírito, os chamados “sinais”, foram prometidos por Jesus (Marcos 16.17-20). Além do episódio de Atos 2, vemos o derramamento do Espírito Santo em várias partes do livro de Atos. Em alguns casos, os dons do Espírito Santo são frisados: línguas e profecias, principalmente (Atos 10.45-46).

O batismo no Espírito Santo, com evidência de falar em outras línguas, conhecidas ou desconhecidas para quem ouve, mas sempre desconhecida para quem fala, foi extremamente comum no início da Igreja. Os dons espirituais eram exercidos constantemente.

O apóstolo Paulo dedicou parte de sua Primeira Epístola aos Coríntios para falar do uso correto dos dons espirituais (1Coríntios 12-14). Após o período apostólico, os sinais continuaram a todo vapor, principalmente no primeiro século.

Registros Após o Período Apostólico

O jornalista Emilio Conde, considerado “O apóstolo da imprensa pentecostal”, que militou na Redação da CPAD desde os anos 20 (quando ainda não existia a Casa oficialmente) até seu falecimento em 1971, é, sem dúvida, um dos mais notáveis historiadores do Movimento Pentecostal. Ele registrou os primeiros passos do pentecostalismo no Brasil em sua obra História das Assembleias de Deus (CPAD) e relatou as origens e o avanço do pentecostalismo no mundo em seu livro O Testemunho dos Séculos (CPAD).

Segundo Conde, O testemunho dos séculos foi escrito com o auxílio da biblioteca pessoal do missionário sueco Samuel Nyström e das informações de seus colegas ingleses Howard Carter e Donald Gee, e de seu amigo norte-americano Stanley Frodsham, redator da revista Pentecostal Evangel e autor do clássico With Signs Following.

No brilhante prefácio de O Testemunho dos Séculos, o missionário sueco Samuel Nyström ressalta que um dos motivos pelos quais há poucos registros históricos da manifestação dos dons espirituais antes do século 19 é que os historiadores, cessacionistas em sua totalidade, omitiram de suas obras manifestações como profecias e línguas estranhas, que quando eventualmente citadas eram apresentadas, nas palavras de Nyström, como “excentricidades passageiras, coisas inconvenientes até para serem descritas”.

Outro fator é que os casos de glossolalia (como o fenômeno das línguas estranhas é descrito tecnicamente) foram realmente muito raros depois do terceiro século até o período da Reforma Protestante, já que o advento da Igreja Católica Romana, com seus dogmas heréticos que afetaram até o conceito de salvação, acabou jogando a cristandade em uma profunda era de trevas espirituais. Some-se a isso a má vontade dos historiadores e temos esta escassez de registros. A glossolalia só voltou a ganhar registros significativos quando retornou com força total nos séculos 19 e 20.

Até o terceiro século, além do registro bíblico, temos somente seis registros. Um deles é citado por Emílio Conde em O Testemunho dos Séculos. Conde menciona uma história narrada pelo reverendo Frederic William Farrar (1831-1903), historiador e deão da Catedral de Canterbury, na Inglaterra. Em suas pesquisas sobre a Igreja Primitiva, Farrar registra a visita às escondidas de um príncipe britânico da Corte Romana a uma reunião cristã. Segundo a narrativa, em dado momento da reunião, “línguas estranhas foram ouvidas

As palavras que pronunciavam eram elevadas, solenes e cheias de significação misteriosa. Não falavam a sua própria língua, mas parecia que falavam toda qualidade de idiomas, embora não se pudesse dizer se hebraico, grego, latim ou persa. Isso se deu com uns e outros, segundo o impulso poderoso que operava na ocasião”, transcreve Farrar, que em seguida declara: “O príncipe os ouvira falar em línguas. Ele fora testemunha ocular do fenômeno pentecostal que o paganismo não conhecia”.

Esse era um culto na Igreja Primitiva do primeiro século. É só a partir do terceiro século dC que a frequência dos dons espirituais não é mais a mesma.

Tertuliano e o Montanismo

O segundo registro diz respeito a um movimento espiritual do segundo século, liderado por um homem chamado Montano. O movimento surgiu na Frígia, Ásia Menor Romana (Turquia), em meados do segundo século, e visava ao despertamento espiritual da igreja. É que algumas comunidades cristãs estavam esfriando espiritualmente, inclusive olvidando os dons espirituais, tão comuns no primeiro século. O adepto mais famoso do montanismo, como ficou conhecido o movimento, foi Tertuliano, um dos Pais da Igreja.

Montano não tinha cargos eclesiásticos. Ele e três mulheres ricas, Priscila, Quintila e Maximila, percorriam as cidades pregando a necessidade de viver uma vida de santidade para estar pronto para a Vinda de Cristo. Havia línguas estranhas, interpretação de línguas, revelação e profecias. As três mulheres profetizavam. Nas profecias, Deus falava por meio delas na primeira pessoa: “Eu, o Senhor…”

Os bispos da Ásia Menor se reuniram e condenaram o movimento por volta do ano 160 dC. O que chamava a atenção dos bispos não era tanto as línguas estranhas, mas as profecias e o poder de mobilização do movimento, que combatia a frieza espiritual da igreja e o formalismo da liderança.

Tertuliano defendeu os montanistas. Porém, após a morte de Tertuliano, como faltou orientação bíblica para os fervorosos avivalistas, o movimento acabou descambando em exageros e heresias. Alguns chegaram a afirmar que a Nova Jerusalém seria estabelecida na Frigia, para onde se dirigiam os fiéis. Em sua ânsia por santidade, os montanistas passaram a pregar um asceticismo rigoroso, com celibato, jejuns e abstinência de carne.

Isolado, sem apoio e cheio de excessos, o montanismo foi combatido veementemente como heresia no terceiro e quarto séculos, devido, principalmente, à sua total rejeição da eclesiologia tradicional. Finalmente, com o advento do catolicismo romano, o montanismo desapareceu. Mesmo assim, muitos teólogos afirmam que, ao excluir o montanismo, a igreja do segundo século perdeu, pois o movimento era uma contraposição ao crescente formalismo e ao mundanismo entre alguns cristãos.

Outro mal foi a redução da expectativa da Volta de Cristo e da operação dos dons espirituais na comunidade cristã. “Ao invés de condenar a prática dos dons espirituais, a igreja teria lucrado se a regulasse à luz das Escrituras”, ressalta o teólogo Paulo Romeiro. Em outras palavras, como diziam os antigos romanos, “o abuso não é justificativa para impedir o uso”.

Orígenes, Irineu e Agostinho

O terceiro registro veio de um anticristão que é citado por um dos Pais da Igreja. Celso, um filósofo pagão que odiava os cristãos, menciona em um de seus discursos do segundo século (176 dC) que os seguidores de Cristo falavam em línguas estranhas. O discurso de Celso é citado literalmente nas obras Contra Heresias e Comentário de João, de Orígenes (254 dC).

Orígenes cita-o para comprovar que no segundo século os cristãos falavam em línguas estranhas. Ou seja, já na época de Orígenes, línguas estranhas não eram tão comuns. Em seu discurso, Celso afirma que os cristãos são “estranhos” e “fanáticos”, e que em suas reuniões “falam palavras ininteligíveis para as quais uma pessoa racional não consegue encontrar significado”. Ele diz que são línguas “muito obscuras”.

Além de Tertuliano e Orígenes, apenas mais dois Pais da Igreja citam o falar em línguas estranhas: Irineu e Agostinho.

Irineu era discípulo de Policarpo, que por sua vez foi discípulo do apóstolo João. Ele foi bispo em Lyon, na França. A igreja de Irineu era uma das poucas comunidades cristãs da época em que os dons espirituais ainda estavam em plena atividade. Em seus escritos do início do terceiro século, Irineu afirma: “Temos em nossas igrejas irmãos que possuem dons proféticos e, pelo Espírito Santo, falam toda classe de idiomas”.

Veio, então, o quarto século, o advento do catolicismo romano, seus dogmas espúrios e o consequente engessamento da igreja. Mesmo assim, há registros de que, no quarto século, Pacômio, o fundador do primeiro mosteiro, falava em grego e latim sem nunca ter estudado essas línguas. Pacômio nunca explicou o caso e todos começaram a atribuir essas suas habilidades ao Espírito Santo. E, finalmente, Agostinho, bispo de Hipona, escreve no mesmo período: “Faremos o que os apóstolos fizeram quando impuseram as mãos sobre os samaritanos, pedindo que o Espírito Santo caísse sobre eles: esperamos que os convertidos falem novas línguas”.

Agostinho tinha a expectativa de que o que era comum até o terceiro século continuaria a acontecer no quarto. Porém, quando escreve Cidade de Deus anos depoiss já no quinto século, no ocaso de seu ministério, ele transparece não acreditar mais na contemporaneidade de todos os dons espirituais.

Assim, depois do quarto século, praticamente não se houve mais falar de línguas estranhas e da manifestação dos dons espirituais. Elas só voltam à tona da Reforma Protestante em diante. Existiram casos entre os séculos 5 e 15, pois o Espírito Santo nunca deixou de atuar plenamente na História, mas foram poucos os que ficaram registrados para a posteridade.

II – MANIFESTAÇÕES NOS SÉCULOS 12 A 19

Depois dos casos de línguas estranhas nos primeiros séculos, só a partir do século 12 surgem novamente referências concretas a línguas estranhas nos registros históricos. No século 12, Pedro Valdo, rico comerciante francês do Delfinado (Leste da França), resolve dar todos os seus bens aos pobres e reúne os fiéis dispostos a lutar com ele contra o luxo e a opulência do clero romanista. Nascem, assim, os valdenses, caracterizados pelo desejo por um “evangelismo puro”.

Por só reconhecerem “a autoridade dos Evangelhos”, os valdenses foram excomungados em 1182. Perseguidos por Roma, espalharam-se na região de Lyon, depois na Provença e até ao Norte da Itália e à região da Catalunha.

Segundo registros históricos, “os primeiros valdenses falavam em línguas desconhecidas”. Esses registros são ressaltados pelo jornalista norte-americano John Sherrill, em uma pesquisa que fez sobre o Movimento Pentecostal antes de aceitar ao pentecostalismo, e que foi publicada posteriormente sob o título They Speak in Other Tangues.

Nos séculos seguintes, há referências a manifestações espirituais entre albigenses e outros grupos, mas nada muito direto no que concerne a línguas estranhas. O pré-reformador Girolamo Savonarola, do século 15, por exemplo, era usado em profecia e tinha visões, mas não há referência à glossolalia em seu ministério. De qualquer forma, isso mostra que os dons espirituais ainda estavam sendo usados, mesmo que não em sua plenitude, como nos primeiros séculos da Igreja. Afinal, se a principal doutrina, a da Salvação, ainda precisava ser resgatada, o que dizer das demais?

Por isso, só após a Reforma Protestante os registros aumentam. Há casos entre os anabatistas e, segundo o historiador alemão T. L. Souer, em sua obra História da Igreja Cristã, no volume 3, página 406, o próprio Martin Lutero falava em línguas estranhas: “Dr. Martin Lutero profetizava, evangelizava, falava em línguas e interpretava revestido de todos os dons do Espírito Santo”. Essa é a única referência histórica à glossolalia na vida do célebre reformador, e escrita por um antigo e respeitável historiador alemão do século 19.

No século 17, entre os Quacres, há registros de línguas estranhas. W. C. Braithwait, no seu relato sobre as primeiras reuniões dos Quacres, escreveu: “Esperando no Senhor, recebemos com frequência o derramamento do Espírito sobre nós e falamos em novas línguas”.

No mesmo período, há glossolalia entre os pietistas. O Movimento Pietista nasceu na Alemanha, em 1666. Em seu livro The Pilgrim Church, na página 468, o historiador Edmund Hamer Broadbent (1861-1945) cita registros de línguas em cultos pietistas nos séculos 17 e 18: “Um estranho êxtase espiritual vinha sobre alguns ou sobre todos, e começavam a falar em línguas. De quando em quando essas manifestações se repetiam. A muitos deles, estas coisas pareciam mostrar que, agora, eram um só coração e uma só alma no Senhor”.

No século 19, há um boom de registros de glossolalia. Em 1830, na Escócia, uma jovem de Fernicarry, chamada Mary Campbell, planejava tomar-se missionária. Ela começou a orar por isso e, em uma certa noite daquele ano, quando orava junto com outros amigos, Campbell sentiu poderosamente a presença divina e começou .a falar em um idioma que não conhecia. No começo, pensou que se tratava de uma língua que a ajudaria na obra missionária, mas nunca pôde identificar que idioma era aquele.

Na mesma época, na Inglaterra, um destacado ministro londrino, o reverendo Edward Irving (1792-1834), pastor presbiteriano, recebeu o batismo no Espírito Santo. Ele e sua congreção foram excluídos da denominação. Havia línguas e profecias nos cultos.

Foi em julho de 1822 que Irving, então com 30 anos, foi convidado a pastorear uma pequena congregação da Igreja da Escócia em Londres, a Caledonian Chapel. No início do ano seguinte, as multidões que se reuniam para ouvi-lo eram tão grandes que um novo templo precisou ser construído: a majestosa catedral de Regent Square. Em 1827, quando o novo templo foi inaugurado, cerca de mil pessoas frequentavam os cultos regularmente, fazendo dela a maior igreja da capital inglesa.

A fama de Irving se devia ao fato de ser um pregador eloquente. Um historiador diz que “nenhum ídolo e nenhum pecado escapavam do açoite profético de suas denúncias abrasadoras. Mesmo assim, a alta sociedade londrina acorria para ouvi-lo, inclusive distintas personalidades do mundo político e intelectual, como Canning, Lord Liverpool, Bentham e Coleridge. Embora os seus sermões se estendessem em média por duas horas, era preciso reservar lugares com dias de antecedência”.

A partir de 1825, Irving começou a se reunir com amigos na casa do banqueiro Henry Drummond, em Albury Park, para estudar escatologia e “buscar o Senhor, pedindo um derramamento do Espírito Santo”. Então, em 1830, surgiram ocorrências de glossolalia e profecias na Escócia. Um ano depois, no final de 1831, surgiram também línguas e profecias nos cultos de Regent Square, a igreja pastoreada por Irving, que recusou-se a proibi-las. Sema línas depois, Irving foi afastado do pastorado de Regent Square. Mais de 600 pessoas o acompanharam. Após a morte de Irving aos 42 anos, devido à tuberculose, esse grupo fundou a Igreja Apostólica de Londres, que aos poucos se diluiu.

Em 1854, falando de um avivamento em uma igreja evangélica da Nova Inglaterra, um crente chamado V. P. Simmons escreveu impressionado: “Em 1854, o ancião F. G. Mathewson falou em línguas, enquanto o ancião Edward Burnham interpretou as mesmas”. Por essa época, os mórmons anunciaram que falavam em línguas em uma colônia de Nauvoo, Illinois. O 7o artigo de fé dos mórmons fala sobre a contemporaneidade dos dons espirituais. Porém, as ocorrências pareciam ser mais um blefe da seita, para chamar a atenção de curiosos, do que manifestações reais do Espírito Santo.

Em 1855, jornais publicam que, dentro da Rússia czarista, um pequeno grupo dissidente da Igreja Ortodoxa Grega falava línguas e profetiza. Em 1873, Robert Boyd escreve sobre uma campanha que o célebre evangelista Dwight Lyman Moody fez em Sunderland, Inglaterra: “Quando cheguei às salas da Associação Cristã de Moços, encontrei a reunião em fogo. Os jovens estavam falando em línguas e profetizando. Que significaria isso? Somente que Moody pregara para eles naquela tarde”.

Nada se sabe sobre Moody ter falado em línguas alguma vez. Se o fez, foi de forma particular. Sabe-se, porém, que muitos dos que o seguiam falavam em línguas e ele não os criticava por isso. Moody cria em uma “segunda bênção” subsequente à salvação, que consistia em um “revestimento de poder do Alto”, que ele e R. A. Torrey chamaram de “batismo no Espírito Santo”. A diferença é que os dois não ensinavam que línguas estranhas eram a evidência externa do batismo no Espírito.

Em meio ao avivamento do século 19 nos Estados Unidos (que começou em 1857 e se estendeu até perto do final do século), e que teve como protagonistas principalmente Charles Finney e Moody, as ocorrências de glossolalia aumentaram. Eventualmente, pessoas falavam em línguas nas campanhas de Moody e Finney. Finney cria também em uma “segunda bênção”, mas, como Moody, não a vinculava às línguas. Nesse período surgiu, também, o Movimento de Santidade ou Holiness, como é conhecido em inglês, de onde surgiria o Movimento Pentecostal no início do século 20.

Nessa época, R. B. Swan, pastor em Providence, Rhode Island (EUA), escreveu: “Em 1875, nosso Senhor começou a derramar sobre nós de seu Espírito. Minha esposa, eu e alguns irmãos começamos a proferir algumas poucas a palavras em uma língua desconhecida”. Em 1879, mais outro caso: um crente chamado Jethro Walthall, do Estado de Arkansas, falou em línguas. Quando o Movimento Pentecostal se inicia, o caso de Walthall é relembrado e ele escreve: “Quando tive essa experiência, nada sabia do ensino bíblico acerca do batismo no Espírito Santo ou do falar em línguas”. Como Walthall, muitas pessoas passaram pela mesma experiência nos séculos anteriores, em sua devoção pessoal com Deus, mas por essa doutrina estar relegada naquele período, guardaram essas experiências para si.

Outro caso ocorreu na viagem do teólogo F. B. Meyer (1847-1929) à Estônia no final do século 19. Meyer conta que visitou congregações batistas e viu ”uma poderosa ação do Espírito Santo”. Escrevendo a crentes em Londres, ele diz: “O dom de línguas é ouvido abertamente nas reuniões, especialmente nas vilas, mas também nas cidades(…). O pastor da Igreja Batista disse-me que muitas vezes as línguas irrompem em suas reuniões e, quando elas são interpretadas, têm como significado: ‘Jesus está vindo. Jesus está perto. Esteja pronto. Não seja negligente’. Quando as línguas são escutadas, incrédulos que porventura estejam na audiência ficam grandemente impressionados”.

Em 1880, na Suíça, uma crente chamada Mary Gerber declara que em momentos especiais de alegria, que descreve como “entregar meu duro coração ao Espírito Santo”, entoa cânticos espirituais em um idioma que lhe é desconhecido. Anos depois, em visita aos Estados Unidos, Mary estava orando por uma amiga enferma quando começou a cantar e a profetizar fluentemente em inglês, para espanto dela e de sua amiga.

Um outro caso em especial ocorreu na Armênia, em 1880. Membros da Igreja Presbiteriana da vila de Kara Kala pediram a Deus um derramamento do Espírito Santo e vivenciaram um vivenciaram um avivamento com línguas estranhas, revelações e profecias. Nesse avivamento, é profetizado um grande mover de Deus para o final do século, atingindo todo o mundo. Essa profecia se cumpre com o advento do Movimento Pentecostal.

Todos esses casos foram apenas um prelúdio do que aconteceria em dezembro de 1900 e que deu início ao Movimento Pentecostal.

III – O AVIVAMENTO DA MANSÃO DE STONE

Já vimos que surgiram no século 19 os pregadores da “segunda bênção”. Homens de Deus como Dwight Lyman Moody, R. A. Torrey, A. B. Simpson, Andrew Murray, A. J. Gordon, F. B. Meyer e Charles Grandison Finney passaram a ensinar, à luz da Bíblia, que a nomenclatura bíblica “batismo no Espírito Santo” não era sinônimo de conversão, mas uma experiência subsequente à conversão e que se caracterizava por ser um revestimento de poder do Alto para dinamizar o serviço cristão.

Moody, Simpson e principalmente Torrey enfatizavam que todo cristão deveria buscar esse revestimento de poder. Porém, nessa época, os cristãos evangélicos ainda não entendiam que as línguas estranhas eram a evidência externa do batismo no Espírito. Os pregadores da segunda bênção criam na contemporaneidade dos dons espirituais. Era comum ouvir registros de que em algumas reuniões havia línguas estranhas, profecia, cura divina etc., mas nunca se vinculava as línguas ao batismo no Espírito.

Dowie, Lake e Woodworth

Nesse período, grandes servos de Deus começaram a se destacar, principalmente manifestando dons de cura. Alguns deles foram os norte-americanos John Alexander Dowie, John Graham Lake e Maria Woodworth Etter. Lake foi curado em 1886, aos 16 anos, após oração de Dowie em seu Divine Healing Home (Lar de Cura Divina), em Chicago. Ele se convertera em uma reunião do Exército da Salvação, mas passou a congregar na Igreja Metodista ainda adolescente.

Em 1891, John Lake casou com Jennie Stevens, e dias depois descobriu que sua esposa estava com tuberculose e uma incurável doença do coração. Durante anos ele orou por ela, até que, depois de ler Atos 10.38, orou pela cura de sua esposa com fé na Palavra de Deus e viu o milagre acontecer. Era 28 de abril de 1898. A partir dessa data Lake não seria mais o mesmo.

Em 1907, sabendo do Avivamento da Rua Azusa (que abordaremos mais adiante), Lake jejuou pedindo a Deus o batismo no Espírito com a evidência da glossolalia. Ao final do jejum, recebeu a bênção e iniciou seu ministério evangelístico com manifestação da cura divina. Direcionado pelo Espírito, foi para a África do Sul. Antes de morrer, voltou aos Estados Unidos, onde continuou pregando até partir para a eternidade em 1935. Quando isso ocorreu, as igrejas sul africanas Missão de Fé Apostólica e Cristã Sião, ambas fundadas por ele naquele país, já contavam, juntas, com mais 100 mil membros e 600 congregações na África do Sul.

Maria Woodworth Etter converteu-se a Cristo em 1857, na Igreja dos Discípulos. Passou um tempo com os Quakers e depois voltou à Igreja dos Discípulos. Quando pregava em uma congregação da sua igreja, foi batizada no Espírito Santo com Evidência de línguas estranhas. Como essa doutrina ainda não havia sido popularizada por Charles Parham, Etter entendera apenas que o revestimento de poder do Alto que recebera viera, nesse caso, acompanhado de línguas. compreender a experiência que vivenciara posteriormente. Sua pregação era acompanhada por visões, profecias, milagres, línguas e libertações. Quando o Avivamento de Azusa começou, Etter se juntou a ele.

Charles Parham e a Mansão de Stone

Foi só com Charles Fox Parham que a Doutrina do Batismo do Espírito Santo passou a ser entendida como é hoje. Foi ele quem resgatou a compreensão, bastante clara nos tempos apostólicos, de que as línguas estranhas eram evidência externa do batismo no Espírito.

Tudo ocorreu quando Parham, um professor de Teologia pertencente à Igreja Metodista, resolveu abrir um seminário em Topeka, Kansas. Ele abriu a Escola Bíblica Betel, como passou a ser conhecida, em uma casa que pertencera a um tal de Stone, que fizera um trabalho mal feito ao construir o lugar. Por isso, o casarão passou a ser chamado a “tolice de Stone”. Era outubro de 1900 quando ele começou as aulas para cerca de 40 estudantes. Alguns deles já haviam estudado em outros institutos bíblicos.

O que atraiu esses alunos foi o fato de a proposta de Parham consistir em promover um ano de estudos onde ele e os demais alunos estudariam sobre “como descobrir o poder que capacitará a Igreja a enfrentar o desafio do novo século”. Seria um ano de treinamento com estudo da Palavra, oração e evangelismo. Cada aluno teria um período de três horas do dia dedicadas exclusivamente à oração. Conta-se que alguns passavam a noite orando. Era também uma “escola de fé”, como se chamava, já que nenhuma taxa seria cobrada para moradia e alimentação. O objetivo da escola era, em síntese, preparar-se para a obra do Senhor e clamar a Deus por um novo avivamento para as igrejas.

O Avivamento Começa

Em 25 de dezembro de 1900, depois de estudarem sobre Arrependimento, Conversão, Consagração, Santificação, Cura Divina e Segunda Vinda de Jesus, Parham precisou viajar, mas deixou uma tarefa para seus alunos. Disse ele: “Em nossos estudos, nos deparamos com um problema: E o segundo capítulo de Atos? (…)Tendo ouvido tantas entidades religiosas reivindicarem diferentes provas para a evidência do recebimento do batismo recebido no Dia de Pentecostes, quero que vocês estudem diligentemente qual é a evidência bíblica do batismo no Espírito, para que possamos apresentar ao mundo alguma coisa incontestável, que corresponda de forma absoluta com a Palavra”. Três dias depois, Parham retorna e seus alunos apresentam a seguinte resposta: a prova irrefutável em cada ocasião era que eles falavam em línguas, e mesmo nas passagens bíblicas onde as línguas não são citadas na experiência do batismo no Espírito, elas estão claramente implícitas. Parham concordou com a resposta e passou a sistematizar a doutrina.

Porém, em 1 de janeiro de 1901, a Escola Bíblica Betel saiu da teoria para a prática. Em um período de oração, a aluna Agnes Ozman, de 18 anos, pediu para que Parham e os demais alunos impusessem as mãos sobre ela pedindo o batismo no Espírito Santo. Eram 11horas daquele dia quando Ozman se tornou a primeira pessoa, depois do período apostólico, a receber o batismo no Espírito consciente de que as línguas eram sua evidência externa. O poder sobre ela foi tamanho que passou três dias sem conseguir falar em inglês. Ozman transbordava no Espírito toda hora, louvando a Deus em línguas em todos os momentos. Nos demais dias, todos os outros receberam o batismo, inclusive o próprio Parham, que foi um dos últimos.

O Significado das Línguas

Conta Parham que as línguas de Ozman pareciam com chinês, língua que ela não conhecia. No dia seguinte, um tcheco presente confirmou que Ozman falou em boêmio. Por isso, inicialmente Parham pensou que as línguas estranhas tinham um propósito missionário. Ele cria que, assim como as línguas de Atos 2, a glossolalia consistia sempre em línguas existentes que eram desconhecidas para quem as recebia pelo Espírito, mas que tinham um propósito evangelístico.

Essa precipitação de Parham teve um efeito positivo e outro negativo. Primeiro, porque o Movimento Pentecostal começou enfatizando muito o trabalho missionário, que tinha tudo a ver com o revestimento de poder do Alto (Atos 1.8). Porém, nem sempre as línguas correspondiam a uma língua existente, o que frustraria Parham e seus companheiros mais à frente, até que compreenderam que as línguas estranhas não são necessariamente alguma língua existente.

Um pastor negro leigo, chamado William Joseph Seymour, compreendeu isso logo. Ele foi aluno de Parham, quando este começou a viajar pelo país ensinado a descoberta que fizera.

IV – SEYMOUR E O AVIVAMENTO DA RUA AZUSA

Com o derramamento do Espírito Santo na Escola Bíblica Betel, em Topeka, Kansas, a doutrina bíblica do batismo no Espírito Santo com evidência externa de falar em outras línguas foi redescoberta e sistematizada. Porém, apesar de Charles Fox Parham e seus alunos se dedicarem à divulgação desse ensinamento nos Estados Unidos, não foi com eles que o Movimento Pentecostal ganhou notoriedade. O mundo só foi dar conta desse movimento espiritual em 1906, por meio da instrumentalidade de um homem negro e simples, amante da Palavra de Deus: William Joseph Seymour. Foi ele o homem que Deus usou para dar início ao célebre Avivamento da Rua Azusa.

Tudo começou quando Neely Terry, uma moradora de Los Angeles que frequentava uma pequena Igreja da Santidade, fez uma viagem a Houston, Texas, em 1905. Ela frequentou a igreja que William Seymour estava pastoreando. Embora Seymour não tivesse recebido ainda o batismo no Espírito Santo com a evidência do falar em outras línguas, estava convencido que era bíblico e pregava esta mensagem com grande fervor.

Seymour aprendeu a doutrina do batismo no Espírito Santo assistindo às aulas que Parham ministrava no país sobre o assunto. Quando Parham chegou em sua região, ele foi até lá ouvi-lo. Porém, como as leis de segregação nos Estados Unidos ainda eram fortes nessa época, Seymour não pôde assistir às aulas dentro da sala. Nessa época, as leis determinavam que os negros não podiam assistir a uma aula na mesma sala dos alunos brancos. Por isso, ele teve que colocar uma cadeira no corredor, diante da porta da sala e, dali, assistiu atentamente a todas as aulas de Parham. Após o curso, inflamado pelo que aprendera, William Seymour passou a pregar a mensagem pentecostal no Texas.

Impressionada com o caráter e a mensagem de Seymour, ao retornar à Califórnia, Neely Terry relatou à sua igreja sobre as mensagens avivadas de Seymour e convidaram-no para visitá-los. Ele concordou em ir. Só que o empreendimento evangelístico, que havia sido inicialmente previsto para durar um mês, acabou durando anos. Os planos de Deus eram diferentes.

Seymour chegou a Los Angeles em 22 de fevereiro de 1906, e dentro de dois dias estava pregando na Igreja da Santidade de Los Angeles. Ele pregou sobre regeneração, santificação, cura divina e o batismo no Espírito Santo com a evidência do falar em outras línguas. Julia Hutchins, líder da igreja, rejeitou o ensino de Seymour e, dentro de poucos dias, fechou as portas da igreja para ele. O presbitério da igreja rejeitou o ensino de Seymour. No entanto, em meio à perseguição, Seymour continuou firme e inabalável em seu trabalho para o Senhor. Os membros daquela igreja que creram na pregação de Sewmour começaram a realizar reuniões com ele em suas casas. Alguns sentiram-se compelidos a passar horas em oração e outros tiveram visões confirmando que Deus iria abençoá-los em Los Angeles com um derramamento espiritual.

O grupo continuou a se reunir para oração e adoração, realizando cultos na casa de Richard e Ruth Asbery na 214 Bonnie Brae Street. Outros tiveram informações a respeito dos cultos e começaram a frequentá-los, incluindo algumas famílias brancas que moravam próximas de Igrejas da Santidade.

Assim, em 9 de abril de 1906, o derramamento teve início quando Edward Lee foi batizado no Espírito Santo e começou a falar em línguas, após Seymour ter orado com ele. Os dois então se dirigiram à casa dos Asbery. Lá cantaram um hino, oraram e testemunharam, seguindo-se uma pregação de Seymour usando Atos 2.4 como texto-chave. Após a mensagem, Lee levantou suas mãos e começou a falar em línguas. O Espírito de Deus se moveu sobre aqueles crentes reunidos e seis outras pessoas começaram a falar em línguas naquela mesma noite. Jennie Moore, que mais tarde se casaria com William Seymour, estava entre elas. Foi a primeira mulher em Los Angeles a receber o batismo no Espírito Santo. Ela começou a cantar em línguas e a tocar piano sob o poder de Deus, sem nunca antes ter aprendido a tocar esse instrumento.

Poucos dias mais tarde, em 12 de abril, William Seymour finalmente recebeu o batismo no Espírito Santo, aproximadamente às quatro horas da manhã, depois de ter orado a noite toda.

Uma testemunha ocular, Emma Cotton, mais tarde relembrou aquelas experiências: eles clamaram durante três dias e três noites. As pessoas vinham de todas as partes. Perto da manhã seguinte, não havia como entrar na casa. Conta-se que algumas pessoas que conseguiam entrar na casa caíam sob o poder de Deus sem que houvesse alguém que as sugestionasse a isso, e toda a cidade ficou agitada. Clamaram ali até o chão da casa ceder, mas ninguém ficou ferido. Durante aqueles três dias, muitas pessoas que tinham vindo só para ver o que estava acontecendo receberam o batismo no Espírito Santo. Os doentes ficaram curados e muitos aceitavam Jesus ao entrarem na casa.

Após o derramamento inicial do Espírito Santo em Los Angeles, cresceu o interesse pelos cultos de oração. As multidões tornaram-se tão grandes para a casa dos Asbury em Bonnie Brae Street, que foram levadas para o quintal da casa. Logo este espaço também se tornou pequeno. O grupo descobriu então um prédio disponível na Azusa Street, número 312, que tinha sido construído originalmente como uma Igreja Metodista Africana. Tendo sido abandonado, o galpão foi usado como um estábulo para abrigar feno e animais. No entanto, foi consertado e limpo em preparação para os cultos.

Dentro poucos dias, a imprensa de Los Angeles tomou conhecimento sobre os cultos de avivamento realizado na Azusa Street Mission e por reportagens em jornais publicadas por todo os Estados Unidos e no mundo. Milhares tomavam conhecimento do avivamento e eram atraídos para os cultos em Azusa. Todos se reuniam em adoração: homens, mulheres, crianças, negros, brancos, hispânicos, asiáticos, ricos, pobres, analfabetos e graduados. Foram arrebanhados para Los Angeles tanto céticos como famintos espirituais.

Em setembro 1906, um repórter de um jornal local desaprovou os eventos ocorridos e escreveu que a Azusa Street Mission era uma “vergonhosa mistura de raças (…) eles clamavam e faziam grande barulho o dia inteiro e noite adentro. Essas pessoas parecem ser loucas, com problemas mentais ou enfeitiçadas. Elas afirmam estar cheias do Espírito. Elas têm um caolho, analfabeto e negro como seu pregador que fica de joelhos a maior parte do tempo com a sua cabeça escondida entre engradados de leite feitos de madeira. Não fala muito, mas às vezes pode ser ouvido gritando ‘Arrependendei-vos'(…) Eles cantam repetidamente a mesma canção, ‘O Consolador Chegou’”.

Em poucos meses, a Azusa Street Mission, que passou a se chamar Apostolic Faith Mission (Missão de Fé Apostólica), mesmo nome que Gunnar Vingren e Daniel Berg deram à igreja fundada por eles no Brasil, e que só passou a se chamar Assembleia de Deus oficialmente em 1918), tornou-se a maior igreja da cidade, com cerca de 1,3 mil pessoas frequentando os cultos diariamente, e o fervor do avivamento continuou por três anos.

Os cultos eram realizados de domingo a domingo, três vezes por dia: pela manhã, à tarde e à noite, com o prédio sempre lotado. A mensagem era o amor de Deus, e a unidade e a igualdade eram prioridades. O historiador Frank Bartleman observou sobre Azusa: “A ‘linha da cor’ foi removida pelo sangue de Jesus”. Também às mulheres eram dadas posições de liderança na Missão. O jornal The Apostolic Faith, publicado pela missão, alcançou a distribuição mundial, com tiragem de mais de 50 mil exemplares por edição.

V – O MOVIMENTO PENTECOSTAL SE ESPALHA

Vimos que foi em Topeka que o Movimento Pentecostal foi encetado, mas foi no Avivamento da Rua Azusa que ele ganhou notoriedade. Jornalistas, crentes e líderes cristãos de todo o mundo vinham a Azusa para ver o que estava acontecendo. Ali, os não-crentes se convertiam a Cristo e os cristãos eram incendiados, voltando às suas cidades trazendo a boa nova. Dessa forma, o movimento espalhou-se para todo o mundo.

Falaremos resumidamente sobre alguns dos principais pioneiros do Movimento Pentecostal no mundo.

Pentecostes na Europa

Um dos pioneiros do Movimento Pentecostal na Europa foi Thomas Barratt, um pastor norueguês metodista que teve contato com Azusa e trabalhou no florescimento de igrejas pentecostais na Noruega, Suécia e Inglaterra. Barratt influenciou o pastor batista sueco Lewi Pethrus, que foi o pioneiro do Movimento Pentecostal naquele país.

Pethrus atentou para a realidade do batismo no Espírito Santo como uma segunda bênção, subsequente à aalvação, lendo os escritos de A. J. Gordon, um dos pregadores da segunda bênção no século 19. Porém, foi Barratt quem convenceu Pethrus a buscar o batismo no Espírito Santo. A Igreja Filadélfia, pastoreada por Pethrus, enviaria missionários para a nascente Assembleia de Deus no Brasil. Ele esteve presente nas convenções gerais da AD brasileira em 1930 (quando foi criada a CGADB), em Natal, e em 1951, em Porto Alegre.

Na Inglaterra, um dos maiores nomes do pentecostalismo nascente foi o pastor Donald Gee. Gee e o teólogo judeu pentecostal Myer Pearlman, da AD nos EUA, foram os dois nomes que sistematizaram as doutrinas pentecostais. Charles Parham foi quem sistematizou a Doutrina do Batismo no Espírito Santo, mas foram Gee e Pearlman que sistematizaram toda a Teologia pentecostal. Gee, por exemplo, foi o primeiro a sistematizar a doutrina acerca do uso correto dos dons espirituais.

Na Alemanha, um dos líderes do Movimento da Santidade naquele país, Jonathan Paul, semeou a mensagem pentecostal. Na Itália, um forte pentecostalismo brotou por meio dos parentes de imigrantes italianos nos Estados Unidos. Muitos desses imigrantes tiveram contato direto com o Avivamento de Azusa e retornaram à sua terra para pregar a mensagem pentecostal aos seus parentes.

O pioneiro do Movimento Pentecostal na Rússia foi Ivan Voronaev, um imigrante russo nos Estados Unidos. Em 1919, ele fundou a primeira Igreja Pentecostal Russa em Manhattan, Nova Iorque. Em 1920, Voronaev, de volta à Rússia, começou um ministério em Odessa. Após nove anos, depois de incrivelmente fundar nesse curtíssimo período de tempo 350 congregações na Rússia, Polônia e Bulgária, Voronaev foi preso pela polícia soviética. Acabou morrendo na prisão.

Na Holanda, após lerem exemplares do jornal Apostolic Faith (da Missão de Azusa) falando sobre o Avivamento em Azusa e notícias nos jornais seculares de 1906 sobre o assunto, alguns cristãos holandeses resolveram clamar pela mesma bênção. Assim, em 1907, Deus batizou a esposa do pastor G. R. Polman. No ano seguinte, foi a vez do próprio Polman. Em 1912, foi inaugurado o primeiro templo pentecostal em Amsterdã. Depois foi a vez de Roterdã, Hilversum, Utrecht, Ilha Terschelling e Haarlem.

O pastor Smith Wigglesworth, um dos grandes nomes da história do Movimento Pentecostal, foi um dos instrumentos de Deus para levar a mensagem pentecostal à Suíça. Ele trabalhou principalmente na cidade de Berne. Wigglesworth foi batizado no Espírito Santo em um trabalho dirigido pelo pastor Thomas Barratt, de quem já falamos. Também trabalhou na África do Sul.

No País de Gales, o pastor Alexander A. Boddy foi um poderoso arauto divino, fazendo conferências pentecostais naquele país e depois pela Europa. Boddy tomou conhecimento do avivamento lendo os primeiros exemplares do jornal Apostolic Faith.

Pentecostes na Ásia

O Movimento Pentecostal na China começou em 1907, com a chegada dos irmãos A. G. Garr, vindos da Califórnia, Estados Unidos, e acesos pelo fogo de Azusa. Suas conferências evangelísticas alcançaram centenas de pessoas em Macau, Hong Kong e Cantão, com dezenas de conversões e batismos no Espírito Santo.

Mas, um dos grandes nomes do pentecostalismo na China em seu início é, sem duvida, Nettie Noorman. Ela já era missionária naquele país quando soube do Avivamento da Rua Azusa. Resolveu, então, em vez de só ouvir falar, conferir o que estava acontecendo. Assim, em outubro de 1906, Noorman deixou a China rumo a Los Angeles. Ali, certifícou-se de que Azusa tratava-se mesmo de obra divina. Então, clamou pelo batismo no Espírito Santo, recebendo-o. De volta à China, os sinais se seguiram: curas divinas, milagres, batismos no Espírito Santo e muitas conversões a Cristo. Depois de Noorman, muitos outros missionários na China receberam o batismo no Espírito Santo, sendo igualmente usados por Deus para a expansão do Evangelho de Cristo.

O Movimento Pentecostal chegou à Índia também devido ao Avivamento da Rua Azusa. Alguns evangélicos ali receberam notícias do que Deus estava fazendo em Los Angeles. Um deles, chamado Max Wood Morehead, afirmou na época: “Se esta notícia do que Deus está fazendo em Los Angeles é verdadeira, o dom de línguas será visto na Igreja em todo o mundo, assim como hoje, em todos os lugares, os crentes já creem em cura divina”.

O estopim do avivamento foi uma conferência realizada em Calcutá, Índia, reunindo missionários e obreiros. Lá a doutrina concernente ao batismo no Espírito Santo com evidência externa de línguas estranhas foi exposta pela primeira vez. Não houve batismos no Espírito Santo, mas alguns dos presentes abriram seu coração para a importância dessa mensagem para a Igreja.

No mesmo ano, a missionária S. C. Easton abriu as portas para os irmãos Garr, testemunhas oculares de Azusa e batizados no Espírito Santo. Pessoas que foram até lá para corrigir os pentecostais acabaram saindo tocados pelo Espírito Santo. Um deles conta: “Comecei a crer que eu era a pessoa que necessitava de endireitar-se, e não o evangelista” (Testemunho dos Séculos, Emílio Conde, CPAD). Nos anos seguintes a mensagem pentecostal espalhou-se entre os cristãos na Índia.

Na Coreia do Sul, depois da guerra entre as duas Coreias, um jovem pastor assembleiano chamado Paul Yonggi Cho, formado em Teologia em um curso do Instituto Bíblico das Assembleias de Deus na Coreia, foi usado por Deus para um grande avivamento naquele país, com muitos sinais, principalmente curas divinas. Hoje, sua igreja, a Igreja do Evangelho Pleno em Seul, é uma das maiores do mundo.

Pentecostes na África

O pentecostes chegou ao Egito em 1907. Um jovem chamado Alexander Paul, natural do Egito, foi batizado no Espírito Santo nos Estados Unidos. Quando seus amigos cristãos no Egito receberam a notícia do que havia acontecido, pediram que alguém fosse até eles instruí-los acerca dessa bênção. O evangelista G. S. Breslford foi enviado e, com o apoio de missionários em Jerusalém que já haviam recebido o batismo no Espírito Santo, fundou o primeiro trabalho pentecostal em Assiout, no Egito.

Em 1911, foi fundado um orfanato mantido pelos irmãos pentecostais em Assiout, que atendia cerca de 700 órfãos. Em poucos anos, havia congregações também em Alexandria e Cairo, algumas com centenas de crentes.

O Movimento Pentecostal chegou no Congo em 1915, por meio dos missionários pentecostais William Burton e James Salter. O trabalho começou na vila de Mwanza. Em dez anos, a obra se desenvolveu tanto que, nesse período já havia alcançado três tribos, sete estações centrais, estava com 17 missionários como auxiliares e cem evangelistas nativos, todos batizados no Espírito Santo.

A África do Sul também recebeu a chama do Movimento Pentecostal, por meio do trabalho incansável e fervoroso de homens como o norte-americano Johh Lake. Direcionado pelo Espírito, ele foi para a África do Sul. Antes de morrer, voltou aos Estados Unidos, onde continuou pregando até partir para a Eternidade em 1935. Quando isso ocorreu, as igrejas sul africanas Missão de Fé Apostólica e Cristã Sião, ambas fundadas por ele naquele país, já contavam, juntas, com mais 100 mil membros e 600 congregações na África do Sul. Nos anos 60, esse número já havia subido para mais de 120 mil.

VI – BRASIL: O MAIOR MOVIMENTO PENTECOSTAL DO MUNDO

No início do século 20, apesar da presença marcante de imigrantes europeus de origem protestante e do valoroso trabalho de missionários de igrejas evangélicas tradicionais dos Estados Unidos, nosso país era ainda quase que totalmente católico romano. Foi só com o advento do Movimento Pentecostal que aconteceu uma explosão de crescimento do Evangelho no Brasil. O avanço da evangelização do nosso país se deve, sem dúvida, ao pentecostalismo, e especialmente a sua vertente mais tradicional, a Assembleia de Deus.

A origem das Assembleias de Deus no Brasil está intimamente ligada ao reavivamento espiritual que varreu o mundo no início do século 20, encetado na América do Norte, e que teve como seu maior expoente o Avivamento da Rua Azusa.

Azusa e o Evangelho no Brasil

Quando os missionários Gunnar Adolf Vingren e Daniel Hõgberg fundaram a primeira igreja pentecostal no Brasil em 18 de junho de 1911, denominaram-na Missão da Fé Apostólica. A escolha do nome foi inspirada no Avivamento de Azusa, sob a liderança do pastor afro-americano William J. Seymour.

O nome do jornal de Azusa era Apostolic Faith (Fé Apostólica), que acabou dando nome àquela abençoada igreja de Los Angeles, que passou a se chamar Missão da Fé Apostólica. A igreja, bem como seu periódico, muito conhecidos por Vingren e Berg, eram tão populares por pregar a restauração para os nossos dias da manifestação do Espírito conforme os tempos apostólicos, que quando Bennet Freeman Lawrence escreveu a primeira história do Movimento Pentecostal em 1916, não pensou duas vezes em dar à sua obra o nome de The Apostolic Faith Restored.

O avivamento na Rua Azusa era famoso em todo o mundo. Não era à toa que os jornais seculares da época chamavam aquele lugar de “O endereço mundial do Movimento Pentecostal”. Apesar de terem sido incendiados pela chama pentecostal em Chicago, foi em Azusa que Berg e Vingren naturalmente se inspiraram ao escolherem o nome da igreja que fundavam no Brasil.

Entretanto, sete anos depois, Gunnar Vingren e Daniel Berg, agora acompanhados dos missionários Otto Nelson e Samuel Nyström, acharam por bem mudar o nome da igreja de Missão da Fé Apostólica para Assembleia de Deus. Por que essa mudança? A inspiração também veio dos Estados Unidos

Quando o Movimento Pentecostal se espalhou pelos Estados Unidos, a primeira reação das igrejas evangélicas tradicionais, assustadas com aquilo que lhes era novo, foi excluir os crentes que abraçavam a mensagem pentecostal. Foi assim que, de 1901 a 1914, surgiram em profusão, em todos os cantos dos EUA, denominações pentecostais com os nomes mais variados. Porém, em 1914, os líderes dessas jovens e fervorosas igrejas resolveram unir-se. Foi assim que, em 2 de abril daquele ano, em um ato histórico, a maioria esmagadora das denominações pentecostais norte-americanas se fundiu fundando uma única igreja, denominada Assembleia de Deus. Esse encontro, realizado de 2 a 12 de abril, reuniu cerca de 300 ministros pentecostais e delegados de todos os EUA, e foi conhecido como o primeiro Concílio Geral das Assembleias de Deus.

A primeira resolução do Concílio Geral, proferida pelo seu líder, o ex-pastor batista do Texas, E. N. Bell (que foi presidente do Concílio até 1925, quando faleceu), objetivava deixar clara a posição dos pentecostais em relação à ortodoxia bíblica: “Essas Assembleias opõem-se a toda Alta Crítica radical da Bíblia, a todo o modernismo, a toda incredulidade na igreja e à filiação a ela de pessoas não-salvas, cheias de pecado e de mundanismo; e acreditam em todas as verdades bíblicas genuínas sustentadas por todas as igrejas verdadeiramente evangélicas”.

Quando os missionários suecos no Brasil souberam do ocorrido, acharam por bem admitir o mesmo nome para a igreja pentecostal brasileira, como uma demonstração de sintonia com os irmãos pentecostais norte-americanos, já que, oficialmente, o Movimento Pentecostal nascera nos Estados Unidos, espalhando-se rapidamente por todo o mundo.

Daniel Berg e Gunnar Vingren chegaram a Belém do Pará em 19 de novembro de 1910, e ninguém poderia imaginar que aqueles dois jovens suecos estavam para iniciar um movimento que alteraria profundamente o perfil religioso e até social do Brasil por meio da pregação de Jesus Cristo como o único e suficiente Salvador da Humanidade, do Batismo no Espírito Santo como uma bênção subsequente à Salvação e da atualidade dos dons espirituais.

Em poucas décadas, a Assembleia de Deus, a partir de Belém do Pará, onde nasceu, começou a penetrar em todas as vilas e cidades até alcançar os grandes centros urbanos como São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Porto Alegre. Em virtude de seu fenomenal crescimento, os pentecostais começaram a fazer diferença no cenário religioso brasileiro. De repente, o clero católico despertou para uma possibilidade jamais imaginada: o Brasil poderia vir a tornar-se, no futuro, uma nação protestante.

Hoje, estima-se que os evangélicos no Brasil sejam quase 20% da população brasileira, mais de 30 milhões de pessoas, sendo praticamente metade deles assembleianos. Isso faz da Assembleia de Deus no Brasil o maior Movimento Pentecostal do mundo.

Principais Ondas do Pentecostalismo

Desde a chegada do Movimento Pentecostal no Brasil, três ondas já se passaram. A Primeira Onda foi de 1910 a 1950, quando a Assembleia de Deus e a Congregação Crista do Brasil (CCB) eram as únicas igrejas de caráter pentecostal no país. Esta última, porém, anos depois de sua fundação, passou a manifestar crenças que fazem com que hoje muitos evangélicos não a considerem evangélica, mas, sim, uma seita.

Antes de apresentar essas peculiaridades, Gunnar Vingren foi amigo de Luigi Francescon, fundador da CCB. Antes de vir ao Brasil, Francescon pertencia à comunidade italiana em Los Angeles, tendo recebido o batismo no Espírito Santo em um trabalho fruto do Avivamento de Azusa.

A segunda onda foi de 1950 a 1975 e foi marcada pelas cruzadas de evangelismo e cura divina. A inspiração veio dos EUA. Ali, nesse período, grandes nomes surgiram com ministérios de cura divina, tais como William Branham, que começou bem-sucedido ministério em 1946, mas terminou mal, pois começou a ensinar heresias em meados dos anos 50. Faleceu em 1965. Hoje existe uma seita em torno de seu nome – Tabernáculo da Fé. Outros nomes foram os então pastores assembleianos T. L. Osborn e Oral Roberts. Ambos começaram seus ministérios em 1947. Kathleen Kulman foi outro grande nome. Em 1949, o pastor batista Billy Graham começa suas famosas cruzadas, mas nelas não há orações por cura divina.

No Brasil, influenciados por esses movimentos, nasceram movimentos evangelísticos- itinerantes, que se tornaram igrejas. O primeiro foi a Cruzada Nacional de Evangelização (1950), que se tornou a Igreja do Evangelho Quadrangular, denominação que já existia nos EUA. Depois surgiram O Brasil para Cristo, fundado em 1955 pelo ex-diácono assembleiano Manoel de Melo; a Igreja de Nova Vida, fundada no Rio de Janeiro por um descendente de pioneiros do Avivamento de Azusa; a Igreja Deus é Amor, fundada pelo ex-assembleiano Davi Miranda; e Casa da Bênção (1964) e Sinais e Prodígios (1970). Todos esses movimentos começaram como cruzadas de cura divina e exorcismo.

Nessa época, também surgem as primeiras grandes cruzadas evangelísticas nas Assembleias de Deus e o movimento de renovação nas igrejas tradicionais: Convenção Batista Nacional (1965), com Enéas Tognini, e Igreja Presbiteriana Renovada (1975). Até o Movimento Católico Carismático surge nessa época (1967).

A Terceira Onda, que também é chamada de neopentecostalismo, começou no final dos anos 70 e perdura até hoje, influenciando muitas igrejas. Seus grandes expoentes são as comunidades evangélicas e as igrejas Universal do Reino de Deus (1977), saída da Igreja de Nova Vida; Igreja Internacional da Graça (1980), dissidente da Universal; igreja Renascer em Cristo (1986). Além destas, há dezenas de outras, surgidas nos anos 90 e início deste século.

Publicado pelo Jornal Mensageiro da Paz – 1º Semestre de 2006

 

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