Hinduísmo: A Religião dos Deuses

Hinduísmo, mais do que uma simples religião, é um complexo conjunto de doutrinas e práticas religiosas que surgiram na Índia cerca de 4.000 anos atrás. Em sânscrito a palavra hinduísmo escreve-se “sanatana dharma”, que significa “a lei permanente”. As estimativas falam entre 650 milhões e 750 milhões de adeptos dessa religião no mundo.

A base do hinduísmo está nos chamados Quatro Livros Sagrados dos Vedas (Rigveda, Samaveda, Yajurveda e Artharvaveda). O conhecimento que deu origem a esses livros possivelmente veio pela tradição oral e, talvez, até mesmo pela pintura. No século 10, foram compilados por vários estudiosos e religiosos.

Acredita-se que a origem dos Vedas, um povo ário, seja indo-européia. Esse grupo teria chegado à região dos rios Indo e Ganges por volta de 1.500 a.C. e lá se estabelecido de forma definitiva, com sua vasta cultura religiosa.

O hinduísmo é uma das primeiras religiões a ter como fundamento a crença na reencarnação e no carma, bem como na lei de ação e reação –que milhares de anos depois, no século 19, seria encampada pelo espiritismo (só que, esta, uma religião “positivista”). Para os hindus, tudo reencarna. Não só pessoas, mas animais também. Um homem pode reencarnar num animal, inclusive, segundo a religião. Pode ser uma forma de punição ou de purificação, diz a teoria.

Assim como o islamismo (atualmente) e o cristianismo (entre os séculos 14 e parte do 19), o hinduísmo também ganhou status de ordem política, já que essa religião ensina que a lei (dharma) criou os humanos e a própria natureza sob um sistema de castas. Cada indivíduo pertence à casta que merece. Quanto mais alta a casta, em tese, maior evolução espiritual a pessoa tem.

O advento e estabilização da democracia na Índia a partir do século 20 (e, por consequência, o maior poder de questionamento intelectual da sociedade) têm gerado bastante desconforto social em relação a dogmas como esse das castas.

De forma geral, o hinduísmo não busca a felicidade neste mundo material e primitivo. Sua principal orientação é para que o homem se liberte de todo o carma e das reencarnações (sansara) e atinja um estado conhecido como nirvana. O “Paraíso”, para os hindus, é esse: o nirvana. Para atingir esse “lugar” (na mente) é necessário praticar ioga e meditação diariamente, por toda a vida.

“Vertentes” e mesmo seitas originárias do hinduísmo grassam hoje por todo o mundo, inclusive pelo Brasil.

Trata-se de uma religião politeísta (com vários deuses e deusas). Entre eles, Brahma, o deus principal e criador, que, com Shiva e Vishnu, formam a tríade divina (traduzindo para os cristãos: Pai, Filho e Espírito Santo). Além desses também há o importante Varuna, o deus dos deuses; Agni (patriarca dos homens e deus do fogo); e muitos outros, como a deusa Maya (ilusão), que comanda este mundo “ilusório”.

Ratos, vacas e serpentes são animais considerados sagrados. Justamente por isso, os ratos se transformaram hoje em uma praga indestrutível na Índia. Em 2000 calculava-se existir 3,5 bilhões deles (mais de três vezes a população do país, de cerca de 1,04 bilhão de habitantes).

Segundo a tradição, Brahma teve quatro filhos que deram origem às quatro castas: brâmanes (os que saíram da boca de Brahma) são a mais elevada; os xátrias (os que saíram dos braços de Brahma) são os guerreiros; os vaicias (os que saíram das pernas de Deus ou Brahma) são os camponeses e comerciantes; os sudras (aqueles que saíram dos pés de Brahma), são os servos e escravos.

Os párias, a quinta categoria, nem são considerados uma casta. São pessoas que ou cometeram “crimes” e desobedeceram às leis sagradas ou tiveram ascendentes “acusados” disso. Portanto, filho de pária, pária é. Socialmente são considerados um “nada”. A eles, em tese, é proibido viver nas cidades e até mesmo ler qualquer um dos livros sagrados. Em alguns pontos da Índia, essa determinação tem sido rejeitada mesmo por membros de castas mais elevadas.

RICARDO FELTRIN – Editor da Folha Online

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