“Ora para aqueles que uma vez foram iluminados, provaram o dom celestial, tornaram-se participantes do Espírito Santo, experimentaram a bondade da palavra de Deus e os poderes da era que há de vir, e caíram, é impossível que sejam reconduzidos ao arrependimento; pois para si mesmos estão crucificando de novo o Filho de Deus, sujeitando-o à desonra pública” (Hebreus 6.4-6)
Há dois meios pelos quais alguns tenta desmerecer a evidência deste texto. O primeiro é dizendo que estas pessoas nunca foram realmente salvas uma vez, e a segunda (defendida por aqueles que admitem que estas pessoas foram salvas) é dizendo que estas pessoas nunca perderam a salvação. A tese de que aquelas pessoas (independentemente se eram judeus ou não) não haviam alcançado a salvação é claramente falsa pelo contexto, que diz que elas:
• Foram iluminadas.
• Provaram o dom celestial.
• Tornaram-se participantes do Espírito Santo.
• Experimentaram os poderes da era que há de vir.
• Arrependeram-se.
Isso tudo é características de um salvo e não de um perdido. Os não-salvos, diz a Bíblia, estão em trevas (1Jo 2.11; Ef 5.11; Lc 11.35), e não “iluminados”, como diz o texto. Os não-salvos também não possuem dons espirituais, que são dados pelo Espírito Santo aos que creem (1Co.12:4-31). Os não-salvos também não são participantes do Espírito Santo, pois o Espírito Santo só habita naqueles que foram uma vez regenerados (Ef.4:30).
O texto também diz que eles caíram, e, se eles caíram, é porque estavam de pé antes. Mas o não-regenerado não está “de pé”, ele está caído. Ele ainda está morto em seus próprios pecados (Ef.2:1), e não “de pé”, vivo na corrida da fé. O homem ainda não-salvo está caído e morto em seus pecados, e não de pé e vivo. Quando se considera o caso cumulativo, teríamos que crer que um não-regenerado possui todas as características presentes em um regenerado, se o texto realmente faz menção a pessoas que nunca foram salvas (regeneradas).
Até mesmo Norman Geisler, o “arminiano de quatro pontos”, que crê que uma vez salvo está para sempre salvo, considera o caso cumulativo e afirma:
“Algumas dessas expressões são muito difíceis de tomar em outro sentido que não o de uma pessoa que foi salva. Por exemplo: 1) essas pessoas haviam experimentado ‘arrependimento’ (v. 6), que é a condição de aceitação da salvação (At 17.30); 2) foram ‘iluminadas’ e ‘provaram o dom celestial’ (v. 4); 3) tornaram-se ‘participantes do Espírito Santo’ (v. 4); 4) ‘experimentaram a bondade da palavra de Deus’ (v. 5); e 5) provaram ‘os poderes’ do mundo vindouro (v. 5)”[1]
Contra esta outra tentativa, temos que observar a parte final do texto, que diz que “é impossível que sejam reconduzidos ao arrependimento; pois para si mesmos estão crucificando de novo o Filho de Deus, sujeitando-o à desonra pública” (v.6). Se o texto diz que era impossível que elas sejam reconduzidas ao arrependimento, então elas caíram de tal forma que perderam toda a possibilidade de arrepender-se para a salvação. Concordando que sem arrependimento não há salvação, é consequencia lógica que essas pessoas, que não poderiam se arrepender novamente, não poderiam ser salvas.
Essa queda não foi algo superficial, mas tão profundo ao ponto de que elas crucificaram o Filho de Deus. Se isso não soa forte o suficiente ao ponto de perder a salvação, eu não sei que tipo de linguagem poderia ser expressa para representar isso. Teríamos que crer, por essa lógica de alguns, que pessoas que crucificam o Filho de Deus e o sujeitam à desonra pública nunca perdem a salvação. Isso é simplesmente ridículo.
Assim sendo, diante de todo o contexto, essa queda de quem antes estava de pé não foi uma queda pequena. Não foi simplesmente “um tropeço”. Foi algo tão forte e tão profundo que os fizeram crucificar de novo o Filho de Deus e sujeitá-lo à desonra pública, de forma tal que, por isso, um novo arrependimento para aqueles que caíram desta maneira é algo impossível. Eles não podem novamente se arrepender destes pecados cometidos que os fizeram crucificar Jesus espiritualmente.
E, se não podem se arrepender destes pecados, também não podem ser salvos, pois sem arrependimento não há salvação. Que o arrependimento é um precedente necessário à salvação, isso é de concordância mútua de todas as vertentes do protestantismo, e é um princípio bíblico básico e fundamental, presente em toda a Escritura (Ap 2.21; 3.19). Jesus claramente disse que, “se não se arrependerem, todos vocês perecerão” (Lc.13.15). Pessoas que se recusam a se arrepender não podem ser salvas, pois ainda estão mortas em seus pecados. Portanto, essa queda foi tão profunda que implicou em perda de salvação e impossibilidade de resgatá-la.
[1] GEISLER, Norman. Eleitos, mas Livres: uma perspectiva equilibrada entre a eleição divina e o livre-arbítrio. Editora Vida: 2001, p. 146.
[2] SPROUL, Robert Charles. Eleitos de Deus. Editora Cultura Cristã: 1998, p. 137.