Um caso interessante é o de Caim e Abel. Deus aceitou a oferta de Abel e rejeitou a de Caim, porque este não deu das primícias, como seu irmão[1]. Então, a Bíblia diz:
“Por isso Caim se enfureceu e o seu rosto se transtornou. O Senhor disse a Caim: Por que você está furioso? Por que se transtornou o seu rosto? Se você fizer o bem, não será aceito? Mas se não o fizer, saiba que o pecado o ameaça à porta; ele deseja conquistá-lo, mas você deve dominá-lo” (ARC – Gênesis 4.6,7).
“Então o SENHOR disse: — Por que você está com raiva? Por que anda carrancudo? Se tivesse feito o que é certo, você estaria sorrindo; mas você agiu mal, e por isso o pecado está na porta, à sua espera. Ele quer dominá-lo, mas você precisa vencê-lo”.(BLH – Gênesis 4.6,7).
“Se você fizer o que é certo, não será aceito? Mas se você agir mal e não obedecer, saiba que o pecado está à sua espera; ele deseja destruí-lo, mas está na sua mão o poder de dominá-lo” (Bíblia Viva, Gn 4.7)
Moody explica assim o caso: “… Jeová pronunciou uma advertência severa, insistindo com o pecador a que controlasse seu gênio e tomasse cuidado para que uma besta pronta a saltar sobre ele (o pecado) não o devorasse. O perigo era real… A palavra de Deus exigia ação imediata e forte esforço para refletir o provável conquistador. Caim não deveria permitir que esses pensamentos agitados e esse impulsos o conduzisse a atitudes ruinosas. Deus apelou fortemente para a VONTADE de Caim. A vontade tinha de ser posta em ação para se obter a vitória completa sobre o pecado (Hatt’at). Dependia do próprio Caim vencer o pecado em si mesmo, para controlar e não ser controlado. O seu destino estava em suas mãos. Não era tarde demais pra escolher o caminho de Deus” (Comentário Moody de Gênesis à Deuteronômio, 2001, pg 13)
Wiersbe corrobora que “… O Senhor advertiu Caim de que a tentação é como uma besta feroz que jazia à porta de sua vida e que era melhor não abrir essa porta (decisão de Caim)… Se não tomarmos cuidado, poderemos servir de tentação para nós mesmos e causar nossa própria destruição”. (Comentário Bíblico Expositivo Pentateuco, WW Wiersbe, Ed. Geográfica, Pg. 44)
Tudo isso nos passa claramente a ideia de que Caim possuía livre-arbítrio diante do alerta divino. Ele não foi obrigado a pecar. Ele pecou porque ele quis. Deus não determinou o pecado de Caim, senão de modo nenhum teria dito que poderia fazer o bem e seria aceito.
Da mesma forma, Deus diz que o pecado (o desejo pelo pecado, a tentação) “está à porta”, mas que Caim teria que ter controle sobre esse desejo. Isso mostra, em primeiro lugar, que há a possibilidade de agir diferente do desejo mais forte, contra o que ensina alguns fatalistas[2]. Em segundo lugar, isso nos mostra mais uma vez que Caim tinha uma opção real. Ele, de fato, poderia ter dominado aquele desejo pecaminoso, e a única forma de ele dominá-lo é se ele possuía livre-arbítrio para poder optar pelo bem ou pelo mal, pelo pecado ou pela santidade. Sem o livre-arbítrio, Caim não tinha escolha e nada neste texto faria sentido algum.
É importante observarmos que Deus procura Caim – vemos aqui o seu amor e graça colaborando com ele para que o certo, e não o errado, fosse feito pelo homem. Entretanto, ele escolhe equivocadamente e resiste a oferta graciosa de Deus e assim o primeiro homicídio acontece!
Fontes de pesquisa:
– Livro “Calvinismo X Arminianismo” cedido pela comunidade de arminianos do facebbok
– Apostila “Leia e Compreenda Melhor a Bíblia”.
– Comentário Moody de Gênesis à Deuteronômio, 2001
– Comentário Bíblico Expositivo Pentateuco, WW Wiersbe, Ed. Geográfica
[1] As primícias eram os “primeiros frutos”, os mais importantes. O verso 4 diz que Abel ofereceu “as partes gordas das primeiras crias do seu rebanho”, ou seja, aquilo que ele tinha de melhor. Caim, por sua vez, apenas “trouxe do fruto da terra uma oferta ao Senhor”, não a mais importante, mas uma qualquer. É por isso que Deus aceitou a oferta de Abel, que colocou Deus em primeiro lugar, e rejeitou a de Caim, que colocou Deus em segundo plano.
[2] pesquise o determinismo de Edwards.