Os ensinamentos de Jesus atraíam as classes menos favorecidas, especialmente os pobres e desprezados. Isso fazia com que os líderes religiosos ficassem intrigados com o que Ele dizia, a ponto de planejarem sua morte. Depois de “calarem” o Rei dos Judeus, seus seguidores continuaram a espalhar sua mensagem. O que eles diziam sobre Ele deu início a um novo movimento, primeiro entre os judeus e depois entre os gentios, chamado de Cristianismo.
Impérios surgiram e se foram, civilizações inteiras desapareceram; revoluções militares, convulsões sociais e políticas mudaram a ordem do nosso mundo. Mas, a Igreja fundada pelo judeu Jesus da aldeia de Nazaré, que se iniciou naquela pequena comunidade de pescadores, permanece em pé até hoje como um rochedo firme no meio de um mar turbulento.
Os críticos da Bíblia alegam ou sugerem que os documentos do Novo Testamento não são confiáveis, pois foram escritos pelos discípulos de Jesus ou por cristãos posteriores. Mencionam como prova que não há confirmação da existência de Jesus em nenhuma fonte não-cristã.
A verdade é que não há mais dúvidas sobre a existência de Jesus. Além de toda a literatura produzida por seus seguidores, como os 27 livros do Novo Testamento, existe uma vasta documentação produzida por historiadores e governantes contemporâneos que atestam a historicidade da existência e missão de Jesus Cristo. Entre os quais conheceremos alguns:
FLÁVIO JOSEFO (37 – 100 d.C)
Josefo foi o mais importante historiador judeu do século I, e seus escritos são bastante utilizados nas mais diversas áreas que envolvem a história daquela época, mais especialmente à guerra entre Jerusalém e Roma em 70 d.C, narrada por Josefo com detalhes. Como judeu e historiador, ele não deixou de expor aquilo que notoriamente ocorreu na Palestina pouco antes de ele nascer: o homem chamado Jesus. Vejamos alguns trechos de seu texto mais conhecido e analisemos com outras cópias encontradas:
“Naquela época vivia Jesus, homem sábio, se é que o podemos chamar de homem. Ele realizava obras extraordinárias, ensinava aqueles que recebiam a verdade com alegria e fez-se seguir por muitos judeus e gregos. Ele era o Cristo. E quando Pilatos o condenou à cruz, por denúncia dos maiorais da nossa nação, aqueles que o amaram antes continuaram a manter a afeição por ele. Assim, ao terceiro dia, ele apareceu novamente vivo para eles, conforme fora anunciado pelos divinos profetas a seu respeito, e muitas coisas maravilhosas aconteceram. Até a presente data subsiste o grupo dos cristãos, assim denominado por causa dele”. [1]
Alguns críticos, na inexistência de qualquer contra-argumento satisfatório a este texto, afirmam que ele foi simplesmente falsificado, e que essa descrição de Jesus não passa de mera interpolação feita por algum escriba cristão primitivo. Ocorre, contudo, que a obra de Josefo nem cristã era. Josefo era judeu, não cristão. Sua obra não estava na posse dos cristãos com exclusividade. Elas eram dirigidas à comunidade judaica da Mesopotâmia, escritas em língua aramaica, posteriormente traduzida em outros idiomas.
Como é, então, que os judeus não-cristãos da Mesopotâmia (a quem suas obras eram dirigidas) iriam falsificar a obra de Josefo colocando o nome de Jesus ali? O que é que eles ganhariam com essa falsificação, se eles não eram cristãos? Ora, como todo escrito antigo, temos diversas cópias (manuscritos) da obra de Josefo, nas mais diversas línguas. Mas em nenhuma delas vemos a omissão da descrição de Jesus!
Se os judeus, para quem sua obra foi endereçada, não iriam fazer cópias falsificadas de seus escritos colocando Jesus ali (já que eles não teriam nada a ganhar com isso), então onde estão as cópias dos manuscritos judaicos de Josefo que omitem a menção a Jesus? Esperaríamos encontrar muitas delas, provavelmente a maioria, mas, ao invés disso, não encontramos nada!
Mas essa não foi a única menção de Josefo acerca de Jesus. Ele também disse:
“Mas o jovem Anano, que, como já dissemos, assumia a função de sumo-sacerdote, era uma pessoa de grande coragem e excepcional ousadia; era seguidor do partido dos saduceus, os quais, como já demonstramos, eram rígidos no julgamento de todos os judeus. Com esse temperamento, Anano concluiu que o momento lhe oferecia uma boa oportunidade, pois Festo havia morrido, e Albino ainda estava a caminho. Assim, reuniu um conselho de juízes, perante o qual trouxe Tiago, irmão de Jesus chamado Cristo, junto com alguns outros, e, tendo-os acusado de infração à lei, entregou-os para serem apedrejados” [2]
Temos aqui não apenas outra referência de Josefo sobre Jesus, mas também a confirmação de que tinha um irmão chamado Tiago que, obviamente, não era bem visto pelas autoridades judaicas. Não há sequer uma única pista que este outro texto possa ser forjado, tornando tais objeções dos críticos como mera tentativa de negar o óbvio que está diante dos seus olhos.
Na verdade, a Igreja Católica papal medieval não teria nenhuma razão para adulterar este texto, muito pelo contrário, pois ele diz claramente que Tiago era irmão, e não primo de Jesus, como a Igreja Católica alega. A Igreja Católica ensina o dogma da virgindade perpétua de Maria, segundo o qual os irmãos de Jesus não eram irmãos, mas primos. Portanto, que razão teria a Igreja Católica em adulterar um texto que iria contra os seus próprios dogmas? Quando muito, se tivesse falsificado algo teria obviamente dito “primo” de Jesus, e não “irmão” dele, o que vai contra os seus próprios dogmas!
Temos também várias menções de Josefo a outro personagem bíblico importante nas narrativas bíblicas, aquele que “abriu o caminho” para o ministério de Jesus Cristo na terra. Trata-se de João Batista, outro que é considerado um mito para os críticos. Primeiro há uma referência indireta a ele, podendo, com toda a probabilidade, tratar-se de João Batista:
“Vivia tão austeramente no deserto que só se vestia da casca das árvores e só se alimentava com o que a mesma terra produz; para se conservar casto banhava-se várias vezes por dia e de noite, na água fria; resolvi imitá-lo!” [3]
O texto em pauta faz irresistivelmente pensar em João Batista. A semelhança com João, o Batista, da Bíblia Sagrada, é notável:
“Naqueles dias, apareceu João Batista pregando no deserto da Judéia […] Usava João vestes de pêlos de camelo e cintos de couro; a sua alimentação eram gafanhotos e mel silvestre” (Mateus 3:1-4)
TÁCITO (55 – 120 d.C)
Públio Cornélio Tácito foi governador da Ásia, pretor, cônsul, questor, historiador romano e orador. Em seus “Anais da Roma Imperial” mencionou Cristo e os cristãos de seus dias. No ano de 64 d.C, o imperador Nero mandou incendiar Roma e colocou a culpa em cima dos cristãos. Isso culminou na primeira grande perseguição aos cristãos, que levou ao martírio milhares deles, incluindo Paulo e Pedro.
Durante os três séculos seguintes, vários imperadores promoveram perseguições, inclusive com os espetáculos de circo, onde os cristãos eram atirados para serem devorados pelos leões. Porém, quanto mais eram perseguidos e martirizados, mais aumentavam em número, como bem destacou Tertuliano (séc.II): sanguis martyrum est sêmen christianorum – “o sangue dos mártires é semente para fazer novos cristãos”.
Tácito narra a perseguição aos cristãos no primeiro século nas seguintes palavras:
“Para destruir o boato (que o acusava do incêndio de Roma), Nero supôs culpados e infringiu tormentos requintadíssimos àqueles cujas abominações os faziam detestar, e a quem a multidão chamava cristãos. Este nome lhes vem de Cristo, que, sob o principado de Tibério, o procurador Pôncio Pilatos entregara ao suplício. Reprimida incontinenti, essa detestável superstição repontava de novo, não mais somente na Judeia, onde nascera o mal, mas anda em Roma, pra onde tudo quanto há de horroroso e de vergonhoso no mundo aflui e acha numerosa clientela”[4]
Tácito não era cristão. Ele considerava o Cristianismo uma “detestável superstição”, como muitos o consideram hoje. Mas ele admitia sua existência histórica já naqueles dias. Em seus Anais, ele descreve o martírio desses cristãos nas seguintes palavras:
“Uma grande multidão foi condenada não apenas pelo crime de incêndio, mas por ódio contra a raça humana. E, em suas mortes, eles foram feitos objetos de esporte, pois foram amarrados nos esconderijos de bestas selvagens e feitos em pedaços por cães, ou cravados em cruzes, ou incendiados, e, ao fim do dia, eram queimados para servirem de luz noturna”[5]
Em todo este quadro, vemos como é incontestável a existência histórica de Jesus e dos cristãos, bem como da perseguição a estes, ainda no primeiro século da era cristã. A importância deste último livro de Tácito (Anais) e a sua autoridade são hoje reconhecidas no mundo inteiro. No 15º livro dos Anais, a partir do parágrafo XXXVIII, Tácito começa a narrar o terrível incêndio que quase destruiu totalmente Roma no ano 64 d.C. A seguir a citação integral do relato de Tácito:
“Mas nem todos os socorros humanos, nem as liberalidades do imperador, nem as orações e sacrifícios aos deuses podiam diminuir o boato infamatório de que o incêndio não fora obra do acaso. Assim Nero, para desviar de si as suspeitas, procurou achar culpados, e castigou com as penas mais horrorosas a certos homens que, já dantes odiados por seus crimes, o vulgo chamava cristãos. O autor desse seu nome foi Cristo, que no governo de Tibério foi condenado ao último suplício pelo procurador Pôncio Pilatos. A sua perniciosa superstição, que até ali tinha estado reprimida, já tornava a alastrar-se não só por toda Judeia, origem deste mal, mas até dentro de Roma, aonde todas as atrocidades do Universo, e tudo quanto há de mais vergonhoso vem enfim acumular-se, e sempre acham acolhimento. Em primeiro lugar se prenderam os que confessavam ser cristãos, e depois, pelas denúncias destes, uma multidão inumerável, os quais, além de terem sido acusados como responsáveis pelo incêndio, foram apresentados como inimigos do gênero humano. O suplício destes miseráveis foi ainda acompanhado de insultos, porque ou os cobriram com peles de animais ferozes para serem devorados pelos cães, ou foram crucificados, ou os queimaram de noite para servirem como archotes e tochas ao público. Nero ofereceu os seus jardins para este espetáculo, e ao mesmo tempo dava-se os jogos do Circo, misturado com o povo em trajes de cocheiro, ou guiando carroças. Desta forma, ainda que culpados e dignos dos últimos suplícios, mereceram a compaixão universal por se ver que não eram imolados à utilidade pública, mas aos passatempos atrozes de um bárbaro”[6]
À luz de mais essa confirmação do Jesus histórico, o grande historiador inglês Edward Gibbon (1737-1794) confessou:
“A crítica mais cética deve respeitar a verdade desse fato extraordinário e a integridade desse tão famoso texto de Tácito”[7]
Afirmar que todas essas citações de Tácito sobre Cristo e os cristãos ainda em pleno século I foram falsificadas é não apenas argumentar no vazio, sem nenhum fundamento para tanto, mas também desprezar todo o contexto. As citações aos cristãos permeiam todo o contexto, não são interpolações acrescentadas posteriormente, o que obviamente quebraria a sequência lógica de ideias.
PLÍNIO, O JOVEM(61 – 114 d.C)
Caio Plínio Cecílio Segundo, mais conhecido simplesmente como “Plínio, o Jovem”, foi um orador, jurídico e governador imperial na Bitínia. Em suas cartas ele confessa que já tinha matado muitos homens, mulheres e crianças, e, em função dessa grande carnificina, tinha dúvidas se deveria continuar matando. E aqui entra o detalhe que é a razão de todo o nosso foco: essas pessoas estavam sendo mortas por se dizerem cristãs.
Seu único erro, de acordo com Plínio, era terem o costume de se reunirem antes do amanhecer num certo dia determinado, cantando hinos a Cristo, tratando-o como Deus, e prometendo solenemente uns aos outros a não cometerem maldade alguma, não defraudarem, não roubarem, não adulterarem, não mentirem e não negarem a Cristo. Os cristãos estavam sendo incitados a amaldiçoarem a Cristo e a se prostrarem diante das imagens do imperador romano Trajano:
“Os fez amaldiçoarem a Cristo, o que não se consegue obrigar um cristão verdadeiro a fazer”[8]
Em suas 122 cartas trocadas com este imperador, ele aborda várias vezes o assunto sobre como lidar com a fé dos cristãos, e diz:
“É meu costume, meu senhor, referir a ti tudo aquilo acerca do qual tenho dúvidas… Nunca presenciei a julgamento contra os cristãos… Eles admitem que toda sua culpa ou erro consiste nisso: que se reúnem num dia marcado antes da alvorada, para cantar hino a Cristo como Deus… Parecia-me um caso sobre o qual devo te consultar, sobretudo pelo número dos acusados… De fato, muitos de toda idade, condição e sexo, são chamados em juízo e o serão. O contágio desta superstição invadiu não somente as cidades, mas também o interior; parece-me que ainda se possa fazer alguma coisa para parar e corrigir”[9]
Vale lembrar que naquela região em que Plínio governava estavam os “eleitos que são forasteiros da dispersão no Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia” (1Pe.1:1), a quem Pedro destinou sua primeira epístola. Este décimo volume de Plínio, em que ele fala sobre os cristãos e o Cristianismo, pode ser conferido em sua totalidade nas linhas que se seguem:
“Adotei, senhor, como regra inviolável recorrer às vossas luzes em todas as minhas dúvidas; pois quem mais apto a remover os meus escrúpulos ou a guiar-me nas minhas incertezas do que vossa pessoa? Nunca tendo assistido aos julgamentos de cristãos, ignoro o método e os limites a serem observados no processo e punição deles: se, por exemplo, alguma diferença deva ser feita com respeito à idade ou, ao contrário, nenhuma distinção se observe entre o jovem e o adulto; se o arrependimento admite perdão; se a um indivíduo que foi cristão aproveita retratar-se; se é punível a mera confissão de pertencer ao Cristianismo, ainda que sem nenhum ato criminoso, ou se só é punível o crime a ele associado. Em todos esses pontos tenho grandes dúvidas.
Por enquanto, o método por mim observado para com aqueles que me foram denunciados como cristãos tem sido o seguinte: pergunto-lhes se são cristãos; se confessam, repito duas vezes a pergunta, acrescentando uma ameaça de punição capital; se perseveram, mando executá-los; pois estou convencido de que, qualquer que seja a natureza do seu credo, uma obstinação contumaz e inflexível certamente merece castigo. Outros fanáticos dessa espécie me têm sido trazidos que, por serem cidadãos romanos, remeto para Roma. Essas acusações, pelo simples fato de estar sendo o assunto investigado, começaram a estender-se, e várias formas do mal vieram à luz.
Afixaram um cartaz sem assinatura, denunciando pelo nome grande número de pessoas. Aqueles que negaram ser ou ter sido cristãos, que repetiram comigo uma invocação aos deuses e praticaram os ritos religiosos com vinho e incenso perante a vossa estátua (a qual para este propósito mandei buscar juntamente com as dos deuses), e finalmente amaldiçoaram o nome de Cristo (o que não se pode arrancar de nenhum verdadeiro cristão), julguei acertado absorver. Outros que foram denunciados pelo informante confessaram-se a princípio cristãos, depois o negaram; de fato, haviam sido cristãos, mas abandonaram a crença (uns faz três anos, outros há muito mais tempo, sendo que alguns há cerca de vinte e cinco anos).
Todos prestaram culto à vossa estátua e às imagens dos deuses, e amaldiçoaram o nome de Cristo. Afirmaram, contudo, que todo o seu crime ou erro se reduzia a terem se encontrado em determinado dia antes do nascer do sol, cantando então uma antífona (pequeno versículo cantado, antes ou depois de um salmo) como a um Deus, ligando-se também por solene juramento de não cometer más ações, e de nunca mentir e de nunca trair a confiança neles depositada; depois do que, era costume se separarem, e então se reunirem novamente para tomarem em comum algum alimento – alimento de natureza inocente (inofensiva). Todavia, até esta última prática haviam abandonado após a publicação do meu edito, pelo qual, de acordo com as vossas ordens, proibira eu as reuniões políticas.
Julguei necessário empregar a tortura para ver se arrancava toda a verdade de duas escravas chamadas diaconisas. Nada, porém, descobri, senão excessiva superstição. Julguei por isso de bom aviso adiar qualquer resolução nesta matéria, a fim de pedir o vosso conselho. Porque o assunto merece a vossa atenção, especialmente se levar em conta o número de pessoas em risco: indivíduos de todas as condições e idades, e dos dois sexos, estão e serão envolvidos no processo. Pois esta contagiosa superstição não se confina nas cidades somente, mas espalha-se pelas aldeias e pelos campos.
Todavia parece-me ainda possível detê-la e curá-la. Os templos, pelo menos, que andavam quase desertos, recomeçaram agora a ser frequentados, e as solenidades sagradas, após uma longa interrupção, são de novo revividas; e há geral procura de animais para os sacrifícios, para os quais até bem pouco tempo poucos compradores apareciam. Por aí é fácil imaginar a quantidade de pessoas que se poderão salvar do erro, se deixarmos a porta aberta ao arrependimento”
Esta carta de Plínio a Trajano prova não apenas a existência dos cristãos no primeiro século d.C, como também nos fala a respeito de seu culto e retrata fielmente a perseguição que eles já sofriam desde aquela época, sendo tratados como ateus por não aceitarem o culto ao imperador romano.
SUETÔNIO (69 – 141 d.C)
Caio Suetónio Tranquilo, ou simplesmente Suetônio, foi um grande escritor latino que nasceu em 69 da era cristã, em Roma. Suetônio era o historiador romano oficial da corte de Adriano, escritor dos anais da Casa Imperial. Ele também faz referência a Cristo e aos seus seguidores. Na Vida dos Doze Césares, publicada nos anos 119-122, diz que o imperador Cláudio expulsou os judeus de Roma por causa de um certo Cresto [Cristo]:
“Judacos, impulsore Cresto, assidue tumultuantes Roma expulit”. Quer dizer: “O Imperador Cláudio expulsou de Roma os Judeus que viviam em contínuas desavenças por causa de um certo Cresto”.
“Cresto” é uma variante de “Cristo”, e também era um erro ortográfico comum naqueles dias. Também em outro texto, Suetônio cita a perseguição aos cristãos de sua época, que eram destinados ao suplício:
“Os cristãos, espécie de gente dada a uma superstição nova e perigosa, foram destinados ao suplício”[10]
E escreve novamente naquela mesma obra:
“Nero infligiu castigo aos cristãos, um grupo de pessoas dadas a uma superstição nova e maléfica”[11]
Tal ocasião se deu exatamente no reinado do imperador romano Nero, que sucedeu a Cláudio. Suetônio era outro que já mencionava a perseguição aos seguidores de Cristo em sua época, isto é, no primeiro século. Isso confirma os escritos bíblicos sobre a perseguição sofrida pelos cristãos já no primeiro século, e mostra-nos uma surpreendente semelhança com os relatos bíblicos sobre tais fatos.
MARA BAR SERAPION (73 d.C)
Mara Bar-Serapião foi um escritor sírio e filósofo estoico, que se tornou conhecido por uma carta que escreveu a seu filho, onde fornece uma das primeiras referências não-judaicas e não-cristãs sobre Jesus. No Museu Britânico está preservado um de seus manuscritos, sobre o qual F. F. Bruce assinala:
“No museu britânico um interessante manuscrito que preserva o texto de uma carta escrita um pouco depois de 73 A.D., embora não possamos precisar a data. Esta carta foi enviada por um sírio de nome Mara Bar-Serapião a seu filho Serapião. Na época Mara Bar-Serapião estava preso, mas escreveu para incentivar o filho na busca de sabedoria, tendo ressaltado que os que perseguiram homens sábios foram alcançados pela desgraça. Ele dá o exemplo de Sócrates, Pitágoras e Cristo”[12]
Na carta, ele compara Jesus Cristo aos filósofos Sócrates e Pitágoras. Ele escreveu para incentivar o filho na busca da sabedoria, tendo ressaltado que os que perseguiram homens sábios foram alcançados pela desgraça:
“Que vantagens os atenienses obtiveram em condenar Sócrates à morte? Fome e peste lhes sobrevieram como castigo pelo crime que cometeram”
“Que vantagem os habitantes de Samos obtiveram ao pôr fogo em Pitágoras? Logo depois sua terra ficou coberta de areia”
“Que vantagem os judeus obtiveram com a execução de seu sábio Rei? Foi logo após esse acontecimento que o reino dos judeus foi aniquilado”
E ele continua, dizendo:
“Com justiça, Deus vingou a morte desses três sábios:
- Os atenienses morreram de fome;
- Os habitantes de Samos foram surpreendidos pelo mar;
- Os judeus, arruinados e expulsos de sua terra, vivem completamente dispersos.
Mas…
- Sócrates não está morto; ele sobrevive nos ensinos de Platão.
- Pitágoras não está morto; ele sobrevive na estátua de Hera.
- Nem o sábio Rei está morto; Ele sobrevive nos ensinos que deixou.”
Essa relíquia de 73 d.C é outra prova da existência histórica de Jesus Cristo, e negá-la seria o mesmo que negar a existência histórica dos outros dois mestres citados por ele: Sócrates e Pitágoras. Uma vez que os críticos aceitam a existência destes últimos dois, por que deveriam negar a de Jesus, que é citado naquele mesmo contexto?
Alguns críticos dizem que este “Sábio Rei” poderia se tratar de outro que não fosse Jesus. Porém, qual a possibilidade de que até aquela época (73 d.C) tivesse surgido um outro homem que também:
- Foi executado.
- Era sábio.
- Morreu pouco antes da destruição de Jerusalém.
- Morreu antes da dispersão dos judeus.
- Teve os judeus como responsáveis pela sua morte.
- Ainda sobrevive por meio dos ensinos que deixou.
- Foi referido como rei.
Os críticos podem pesquisar à vontade a biografia de qualquer outro ser humano que se auto-proclamava “Messias” naqueles dias que não encontrará nenhum que preencha perfeitamente todos esses requisitos, como Jesus faz. A alusão de que os judeus foram destruídos “logo depois” da morte do Sábio Rei se encaixa perfeitamente dentro da descrição bíblica da morte de Jesus no primeiro século e na destruição de Jerusalém ainda dentro daquela geração.
Por isso, as propostas de que o Rei Sábio citado por Mara Bar-Serapião se trate de outro que não fosse Jesus, tais como Onias III e o essênio Judas, não possuem qualquer respaldo histórico. Se Onias fosse a referência, a dispersão dos judeus e a destruição de Jerusalém teria ocorrido 240 anos depois de quando realmente ocorreu (70 d.C), e se fosse o essênio Judas seria 170 depois. Portanto, a conclusão mais razoável é aquela que Habermas sugere:
“Dessa passagem aprendemos: (1) que Jesus era considerado um homem virtuoso; (2) Ele é apresentado duas vezes como um Rei Judeu, possivelmente em referência aos próprios ensinos de Cristo sobre si mesmo, ao qual os seguidores mencionavam, ou ainda da frase escrita sobre sua cabeça na crucificação; (3) Jesus foi executado injustamente pelos judeus que pagaram por seus atos errados sofrendo brevemente o julgamento posteriormente, provavelmente uma referência a queda de Jerusalém para o exército romano; (4) Jesus vive nos ensinamentos dos cristãos primitivos, que é um indicativo de que Mara Bar Serapião não era cristão”[13]
Talmude
O Talmude é outra fonte de origem judaica que confirma a existência histórica de Jesus. Ele é uma coleção de doutrinas e comentários sobre a lei dos judeus, que começou a ser escrita a partir do primeiro século d.C, por rabinos que decidiram colocar por escrito as tradições que eram pregadas oralmente pelos anciãos. Apesar de os judeus tratarem Jesus com mentiras e hostilidades, eles não negavam sua existência histórica. Uma dessas citações sobre Jesus (Yeshua) diz que ele foi pendurado na cruz na véspera da páscoa:
“Na véspera da páscoa, eles penduraram Yeshua (de Nazaré), sendo que o arauto esteve diante dele por quarenta dias anunciando (Yeshua de Nazaré) vai ser apedrejado por ter praticado feitiçaria e iludido e desencaminhado o povo de Israel. Todos os que sabiam alguma coisa em sua defesa vieram e suplicaram por ele. Mas nada encontraram em sua defesa e ele foi pendurado à véspera da páscoa”[14]
Para que esse Yeshua do Talmude seja outro Jesus que não o que conhecemos, teria que:
- Também ter vivido na mesma época de Jesus Cristo.
- Ter sido conhecido como “Yeshua de Nazaré” (Jesus de Nazaré).
- Ter praticado “feitiçaria” (que era como os judeus consideravam os milagres de Cristo).
- Ter sido condenado pelos romanos.
- Ter sido pendurado (na cruz) na véspera da páscoa.
É evidente que o Jesus de Nazaré que o texto trata é o mesmo Jesus de Nazaré que conhecemos. O Talmude não iria se referir a Jesus como sendo “Cristo”, pois tais judeus não criam que o Messias era Jesus. Mas a descrição de “Jesus de Nazaré” e todos os acontecimentos que o rodeiam já é mais que o suficiente para identificarmos Jesus Cristo no Talmude.
O Talmude Babilônico se refere a Jesus como “Ben Pandera” e “Jesus ben Pandera”, o que muitos estudiosos afirmam que é um jogo de palavras, pois “pandera” vem da palavra grega “panthenos”, que significa “virgem”. Em outras palavras: estaria chamando Jesus de “o filho da virgem”. O judeu Joseph Klauser afirmou que o nascimento ilegítimo de Jesus era uma ideia corrente entre os judeus. Ademais, o diálogo entre dois judeus registrado no Talmude também fala da existência de Jesus:
“Mestre, tu deves ter ouvido uma palavra de minuth (heresia); essa palavra deu-te prazer, e foi por isso que foste preso. Ele (Eliezer) respondeu: Akiba, tu fizeste-me recordar o que se passou. Um dia que eu percorria o mercado de Séforis, encontrei lá um dos discípulos de Jesus de Nazaré; Tiago de Kefar Sehanya era o seu nome. Ele disse-me: está escrito na vossa lei (Deuteronômio 23.18): Não trarás salário de prostituição nem preço de sodomita à casa do Senhor teu Deus por qualquer voto. Que fazer dele? Será permitido usá-lo para construir uma latrina para o Sumo Sacerdote? E eu não respondi nada. Disse-me ele: Jesus de Nazaré ensinou-me isto: o que vem de uma prostituta, volte à prostituta; o que vem de um lugar de imundícies, volte ao lugar de imundícies. Esta palavra agradou-me, e foi por tê-la elogiado que fui preso como Minuth (herege)”
Sobre o texto acima, Klausner comenta:
“Não resta dúvida de que as palavras ‘um dos discípulos de Jesus de Nazaré’ e ‘assim Jesus de Nazaré me ensinou’ são, nesta passagem, de uma data bem antiga e também são fundamentais no contexto da história relatada”
Estas referências no Talmude, assim como outras (como o Sanhedrim 43ª que menciona os discípulos de Jesus), mostram que nem mesmo os judeus que não eram cristãos questionavam a existência histórica de Cristo. Eles sabiam que ele era conhecido por “Jesus de Nazaré”. Eles sabiam que Jesus operava milagres, embora atribuíssem tais atos a “magia” ou “feitiçaria”. Eles sabiam que Jesus foi pendurado numa cruz na véspera da páscoa. Eles sabiam que ele tinha um discípulo chamado Tiago. E eles sabiam que qualquer um que o seguisse seria preso ou morto pelas mesmas razões que Yeshua de Nazaré foi.
Considerações finais:
As notícias sobre Jesus em autores judeus (Josefo) e pagãos (Tácito e Mara bar Serapion) mostram que, na antiguidade, a historicidade de Jesus era pressuposta. Os três autores, um aristocrata e historiador judeu, um filósofo sírio e um romano e historiador, de contextos distintos, utilizam informações sobre Jesus de maneira autônoma, todos sabem da execução de Jesus, ainda que de forma diferente: Tácito responsabiliza Pôncio Pilatos, Mara bar Separion o povo judeu e Josefo a aristocracia judaica e o governo romano.
Referências:
[1] Antiguidades, VIII, III.
[2] Antiguidades, 20.9.1.
[3] História dos Hebreus, p. 476.
[4] Tácito, Anais, XV, 44 trad. 1 pg. 311; 3.
[5] Tácito, Anais, XV.44.
[6] Tácito, Anais. Tradução de J.L. Freire de Carvalho. W.M. Jackson Inc. Rio de Janeiro. 1950. pp 405-409.
[7] Dialogus de Oratoribus.
[8] Epístolas X, 96.
[9] Epístola X, 97.
[10] Suetônio, Vida dos doze Césares, n. 25, p. 256-257.
[11] ibid.
[12] BRUCE, F.F., Merece Confiança o Novo Testamento, Vida Nova, 1965, pp.148.
[13] HABERMAS, Gary. Historical Jesus, College Press, 1996; pp.208.
[14] Sinédrio da Babilônia, 43ª.
As Provas da Existência de Deus (Banzoli, Lucas)
Doutrina de Cristo – Cristologia (Faculdade Teológica Betseda)
Autor> Mateus Costa