Existem várias expressões bíblicas que foram traduzidas por “inferno” (Lat. infernus), cada uma possuindo um significado que lhe é próprio. No Antigo Testamento hebraico encontramos a palavra sheol, traduzida no grego por hades. Essas palavras sempre apontam para um lugar de atividade e consciência e nunca para um lugar de inconsciência ou inatividade (Ez 32.21, 22; Lc 16.19-31), ambas possuindo significado semelhante a “o mundo dos mortos, mundo inferior” (SI 16.10 e At 2.27-31), que era o lugar de habitação das almas de todos os mortos, justos e ímpios (Lc 16.19-31) até a ascensão de Cristo aos céus (SÍ 68.18 e Ef 4.8, 9).
A palavra geena significa “um lugar de tormento e inutilidade, o lago de fogo”, que é usada para representar a futura punição dos ímpios que estão no sheol (hades) aguardando o juízo final (Ap 20.14, 15). Outra palavra, tártaro (“cadeias de escuridão”), também é usada para identificar um lugar de prisão semelhante ao hades (sheol), mas com referência somente aos “anjos que se rebelaram contra Deus” (2Pe 2.4; Jd 6).
A PALAVRA “INFERNO” NÃO EXISTE NAS LÍNGUAS ORIGINAIS DA BÍBLIA (HEBRAICO, GREGO E ARAMAICO). ANTES, SHEOL E HADES, QUE SÃO SINÔNIMAS, SIGNIFICAM “SEPULTURA”. POR ISSO, AS ESCRITURAS INDICAM CLARAMENTE QUE TANTO INJUSTOS (SI 9.17) COMO JUSTOS VÃO PARA O “INFERNO”, QUE É SIMPLESMENTE A SEPULTURA (Jó 14.13: Gn 37.35; Jn 2.1-6; SI VER. At 2. 23-27).
De fato a palavra “inferno” é de origem latina e não hebraica ou grega, mas o seu significado original denota “mundo inferior e isso está em harmonia com o significado das palavras “sheol e hades”. Tais palavras não significam “sepultura”, pois nas línguas hebraica e grega temos termos próprios para sepultura (hebraico quever e no grego mnemeion). Como poderíamos afirmar que sheol é a sepultura se a Bíblia afirma que disciplinar uma criança pode livrar a alma dela de ir ao sheol (inferno)? No entanto, uma pessoa corretamente educada vai para a sepultura (Pv 23.13, 14).
Conforme as Escrituras, antes da ascensão de Cristo aos céus, todos os mortos iam para o “mundo dos mortos”, “mundo inferior” e não para o céu (Jo 3.13). Assim, o sheol foi também o lugar temporário dos justos que morreram antes da subida de Jesus aos céus (SI 68.18 cumprido em Ef 4.7-10). Este é o motivo pelo qual vemos homens justos indo para lá conforme alguns textos bíblicos. Mas todos os justos e injustos não estavam no mesmo “compartimento” do hades (sheol), mas divididos por um abismo intransponível, como vemos na história do rico e Lázaro (Lc 16.19-31), o que é confirmado no livro de Deuteronômio acerca de um lugar mais alto e outro mais baixo no sheol (Dt 32.22). A própria Bíblia nos informa que os ímpios que continuam no sheol (inferno) estão em uma “prisão” temporária conscientes (Ez 32.21-32) e que no futuro o próprio sheol (hades) será lançado no “lago de fogo” (geena – Ap 20.14 15).
A HISTÓRIA DO RICO E LÁZARO É APENAS UMA PARÁBOLA, SENDO ASSIM, NÃO DEVE SER USADA PARA COMPROVAR A EXISTÊNCIA DO INFERNO (Lc 16.19-31).
Não existe razão para afirmarmos que o relato da história do “rico e Lázaro” seja apenas uma parábola. Temos pelo menos três bons motivos para não crer que seja: (1) A palavra “parábola” não aparece no texto da Bíblia para nomear o relato; foi apenas usada por algumas publicadoras bíblicas para intitular aquela história; (2) Não existe em nenhuma parábola a citação de alguém por nome, o que ocorre aqui (Lázaro e Abraão); (3) Se o mesmo fosse uma parábola não anularia a doutrina da existência do inferno, porque Jesus nunca contou uma parábola de um fato inexistente para os seus ouvintes. Todas eram histórias possíveis, pois parábola não é mito (Lc 15-3-32).
O DIABO E OS DEMÔNIOS HABITAM NO INFERNO?
As Escrituras Sagradas demonstram de forma clara que o local de habitação do Diabo e seus anjos não é o inferno, mas sim o mundo físico e as regiões celestiais (Jó 1.6,7; Ef 6.16; Ap 12.7-9). De acordo com a Bíblia não existem demônios no inferno (Sheol / Hades), sendo esta apenas na conjectura supersticiosa. Existe sim uma classe de demônios que se encontra numa prisão espiritual denominada “Tártaro” (2 Pe 2.4) e que foi traduzida pela ARA , ARC, NVI e outras versões como “inferno”, o que as vezes produz certa confusão por parte do leitor, pensando se tratar mesmo “inferno” retratado em Lucas 16.19-31, quando não o é.
SE AS PALAVRAS SHEOL E HADES NÃO SIGNIFICAM “SEPULTURA”, POR QUE ALGUMAS VERSÕES BÍBLICAS AS TRADUZIRAM ASSIM?
Algumas versões bíblicas traduziram as palavras sheol e hades por “sepultura” em virtude das aparentes semelhanças entre os dois lugares, não por serem sinônimas. No sheol ou hades as almas se encontram em uma prisão temporária (Lc 16.19-31); na sepultura os corpos se encontram “retidos” até a ressurreição dos mortos (Ap 20.5, 12, 13). No sheol ou hades, as almas dos mortos não podem ser vistas; na sepultura corpos não estão expostos à nossa vista. O sheol ou hades recebe as almas dos mortos; a sepultura os corpos. Por essas aparentes semelhanças encontradas entre os dois lugares, a maioria dos tradutores optou em usar as palavras como sinônimas mesmo não sendo.
SE O “INFERNO” (SHEOL, HADES) É UM LUGAR DE TORMENTO DE ÍMPIOS, POR QUE ALGUNS HOMENS PIEDOSOS FORAM OU DESEJARAM IR PARA LÁ (Jó 14.13; Gn 37.35; Jn 2.1-6; SI 16.10)?
Todos os mortos antes da ascensão de Jesus Cristo aos céus iam para o mundo dos mortos, e somente depois é que o lugar dos justos no sheol ou hades foi removido, cumprindo a profecia bíblica (Sl 68.18; compare com Ef. 4.7-10). Por isso, é comum lermos em textos bíblicos do AT homens justos desejando ou indo para lá. Por exemplo: Jó (Jó 14 Jacó (Gn 37.35); Jonas (Jn 2.1-6) e Jesus (SI 16.10). A palavra “inferno” significa “o lugar inferior”, o que está em harmonia com as palavras sheol ou hades, que se referem também a um lugar “abaixo” (Pv 15.24). Se lermos com bastante atenção a história do rico e Lázaro, percebemos que aquele relato aponta para este lugar e não ao céu e inferno como pensam alguns (Lc 16.19-31). As Escrituras são claras que o “inferno” (sheol / hades) seria um lugar temporário (até o dia do juízo quando os ímpios serão lançados no “lago de fogo” [Geena]) reservado no futuro para os ímpios e anjos rebeldes (Mt 25.41; Ap 20.13, 14).
O “LAGO DE FOGO” (GEENA) É UM SÍMBOLO DA DESTRUIÇÃO QUE SOFRERÃO OS ÍMPIOS, E NÃO UM LUGAR DE TORMENTO ETERNO?
O lago de fogo mencionado nas Escrituras é um símbolo de punição e ruína eterna, e não de destruição, como pensam alguns niilistas (os que pensam que após a morte não sobrevive nenhuma parte espiritual do ser humano). Jesus declarou que a geena (lago de fogo) era lugar preparado para o Diabo e seus anjos (Mt 25.41). O livro de Apocalispe declara que Satanás será lançado no lago de fogo mil anos após o Falso profeta e o Anticristo serem lançados ali, sem, contudo, terem sido destruídos (Ap 19.20; 20.7-10). Se “o lago de fogo” simboliza destruição iminente, por que o Anticristo e o Falso profeta não serão destruídos imediatamente quando lançados ali? Se eles não foram destruídos, por que os outros que ali forem lançados seriam?
Uma das palavras no original grego para se referir ao castigo eterno dos ímpios é apollumi (Lc 9.24), que significa em outros textos bíblicos “inutilidade” (odres estragados – Lc 5.37) e “perdição” (a ovelha perdida Lc 15.4) e não “destruição”. Outra é olethros (2Ts 1.9), que significa “inutilidade”, “ruína” (corpo sendo inútil ao Senhor – 1 Co 5.5; vida a arruinada pela cobiça – 1 Tm 6.9). Outra é kolasis (Mt 25.46), que ignifica “castigo” (o castigo de Jesus – Mc 14.65), “tormento” (tormento pelo medo – 1 Jo 4.18), e, por fim basanizo (Ap 14. 9-11), que significa “tormento consciente” (a aflição interior de Ló – 2Pe 2.8; tormento sentido pelo servo do centurião doente – Mt 8.6). Todas estas palavras podem indicar a não-destruição. Como já vimos, além disso, a mesma expressão grega para expressar a eternidade (aioonios) da vida dos que servem a Deus (Jo 10.28) aparece também para retratar a duração da punição dos ímpios (Ap 14.10, 11). Se a punição dos ímpios não fosse eterna, a bem-aventurança dos justos também não o seria.
O “lago de fogo” futuro possui estreita conexão com o “Vale de Hinom” que no AT se refere ao lugar onde eram feitos na antiguidade sacrifícios humanos vivos (2Cr 28.3; 33.6), indicando assim uma punição consciente.
A DOUTRINA DO INFERNO DE FOGO É CONTRÁRIA À JUSTIÇA DIVINA, POIS COMO UM DEUS JUSTO PODERIA PUNIR PECADOS DIFERENTES DA MESMA FORMA?
O patriarca Abraão, ao dialogar com Deus acerca da destruição de Sodoma e Gomorra, argumentou verdadeiramente que Deus é justo em seus juízos (Gn 18.25). Jesus Cristo afirmou que haverá bases diferenciadas no juízo de Deus, que não se julgará a todos de forma igual (Mt 10.14,15; Lc 712-14). Além disso, era de esperar que um Deus justo em seus juízos não punisse a todos os pecadores com um mesmo grau de punição. Isso é declarado nas Escrituras, que diferencia o nível de punição sofrida pelos pecadores perdidos após o juízo do grande trono branco (Lc 12.46-48). Certamente haverá graus de punição diferenciada no inferno.
COMO UM DEUS JUSTO E AMOROSO PODERÍA PUNIR ETERNAMENTE PESSOAS QUE NÃO O OBEDECERAM POR APENAS ALGUNS ANOS DE PECADOS COMETIDOS POR ELES? NÃO SERIA ABSURDA ESTA PUNIÇÃO DO PONTO DE VISTA HUMANO?
Todo crime realizado na sociedade possui uma punição temporal, por se tratar de um crime contra uma sociedade transitória e passageira. Diferentemente, Deus é um ser eterno (SI 90.2), e, consequentemente todo “crime” contra Ele é também de natureza permanente, merecendo uma punição atemporal (eterna). Ninguém é punido com base no tempo que levou para cometer determinado crime. Um juiz punirá um assassino pelo seu crime em si, e não pelo tempo que passou para realiza-lo. Devemos sempre nos lembrar que a nossa forma de ver algumas situações são totalmente diferentes da forma que o Senhor as vê, pois os nossos caminhos não são os mesmos de Deus (Is 55.8-9).
SE A BÍBLIA DECLARA QUE DEUS NUNCA DESEJOU LANÇAR ALGUÉM AO FOGO (Jr 7.31), COMO ELE PUNIRÍA ALGUÉM INFERNO DE FOGO?
O texto de (Jr 7.31) não declara que Deus alguma vez não desejou punir alguém com “fogo”, mas que os sacrifícios humanos realizados ao Deus pagão Moloque, por Judá, em seu auge de rebelião contra Deus, não foram ordenados pelo Senhor e não eram a sua vontade (v.30). No entanto, o próprio Deus enviou fogo do céu para punir o povo ímpio de Sodoma e Gomorra, demonstrando a possibilidade do juízo de Deus ser executado desta forma (Gn 19.23-28).
LIVRO: MANUAL DE RESPOSTAS BÍBLICAS, PAULO SÉRGIO BATISTA