A doutrina da “expiação limitada” ocorre mais como uma consequência dos outros pontos da TULIP do que como uma doutrina essencialmente “calvinista”. Isso porque o próprio Calvino nunca creu nela, e escrevia expressamente o contrário. Algum tempo após a morte de Calvino, um de seus principais discípulos, Teodoro de Beza, acrescentou a expiação limitada ao perceber que ela era uma consequência lógica e irredutível dos outros pontos da doutrina calvinista.
Basicamente, este ensino consiste na tese de que Jesus, acredite quem quiser, não morreu por todos os homens. Cristo morreu, segundo eles, apenas pelos eleitos. A expiação, portanto, foi “limitada” a eles. Isso surgiu porque, pela lógica calvinista, se Deus não oferece salvação a todos, Jesus não podia ter morrido por todos. Para que morrer por alguém que não teria a mínima chance de salvação? Isso seria um nonsense. Assim, a expiação limitada surgiu como uma forma de complementar os outros pontos da TULIP, não propriamente como um ensino baseado nas Escrituras.
Os calvinistas posteriores a Calvino tiveram, é claro, um enorme trabalho para rever todos os vários textos bíblicos que pareciam deixar claro que Cristo morreu por todos, e mais ainda para reinterpretarem a maneira histórica de se ler tais textos, sem implicar em uma expiação universal. Desta forma, os inúmeros textos bíblicos que explicitamente dizem que Cristo morreu por todos teriam, de qualquer jeito, que significar o oposto disso. Foi aí que Edwin Palmer sugeriu que “todos não são todos”[1].
E, por mais absurdo que isso possa parecer, é isso o que é sustentado pela maioria dos calvinistas. É importante acrescentar que essa doutrina, por parecer tão repugnante, é descrida até mesmo por alguns calvinistas, à exemplo do próprio Calvino. Foram vários os que ao longo da história mostraram seu parecer contrário à expiação limitada, e até rejeitaram com veemência aqueles que se mostraram favoráveis a tal doutrina. Arno Gaebelein, por exemplo, exclamou:
“O Sr. Pink era um contribuidor para a nossa revista. Seus artigos sobre Gleanings on Genesis são bons, e os imprimimos no formato de livro. Mas quando ele começou a ensinar sua doutrinas assustadoras que transformavam o Deus de Amor em um monstro rompemos a sociedade com ele. O livro que você leu é totalmente anti-bíblico. Ele beira à blasfêmia. Ele apresenta Deus como um Ser de injustiça e difama Seu caráter santo. O livro nega que nosso bendito Senhor morreu pelos ímpios. De acordo com as perversões de Pink, Ele morreu apenas pelos eleitos. Você não é o único que foi levado para a escuridão por este livro. Quem quer que seja o editor, e quem quer que esteja por trás da circulação dessa coisa monstruosa tem uma grave responsabilidade. É exatamente este tipo de ensino que transforma pessoas em ateístas”[2]
Os calvinistas, contudo, ainda insistem em manter a doutrina da expiação limitada, pois ela ainda parece ser uma sugestão mais fácil de se aceitar do que responder à questão levantada por Olson: “Por que Deus iria querer que Cristo sofresse para expiar a culpa daqueles que Ele já havia determinado que não seriam salvos?”[3]
• Calvino contra a expiação limitada
Como dissemos na introdução, Calvino não cria na expiação limitada. Além de jamais ter escrito qualquer linha sobre ela, ele ainda se mostrava claramente favorável à crença ortodoxa e histórica de que Jesus Cristo morreu por todos os homens – o que significa uma expiação ilimitada ou universal. Ele disse:
“Estou de acordo com o entendimento comum, de que ele somente suportou a punição de muitos, porque sobre ele foi colocada a culpa do mundo inteiro. Torna-se evidente, por outras passagens, especialmente o capítulo 5 de Romanos, que ‘muitos’ algumas vezes denota ‘todos’”[4]
Como vemos, ele não apenas se posiciona ao lado da doutrina histórica de que Cristo morreu pelo mundo inteiro, como também refuta aqueles que pensavam que o texto de Romanos 5:19 implicava em uma expiação limitada, ao invés de uma expiação universal. Para eles, o “muitos” do texto significava “todos”, pois estava em contraste com “poucos”. Ele declarou:
“Devemos observar, contudo, que Paulo não contrasta aqui o número maior com os muitos, pois ele não está falando de grande número da raça humana, mas argumenta que, visto que o pecado de Adão destruiu muitos [todos], a justiça de Cristo não será menos eficaz para a salvação de muitos [todos]”[5]
Era assim também que ele interpretava o texto de Marcos 14:24:
“A palavra ‘muitos’ [Mc 14.24] não significa uma parte apenas, do mundo, mas toda a raça humana”[6]
E também o texto de Hebreus 9:28:
“Tomar sobre si os pecados significa libertar, porque ele quer libertar os que pecaram por culpa própria. Ele diz ‘muitos’ significando ‘todos’, como em Romanos 5.15. É óbvio que nem todos desfrutam a morte de Cristo, mas isso acontece por causa da incredulidade deles, que os impede”[7]
Ele também foi claro em dizer que “sobre ele [Jesus] foi posto a culpa de todo o mundo”[8], e que “Paulo diz que esta redenção foi obtida pelo sangue de Cristo, pois pelo sacrifício de sua morte todos os pecados do mundo foram expiados”[9]. Para ele, a expiação universal era uma doutrina incontestável:
“Marcos 14.24: ‘Isto é o meu sangue’. Já tenho advertido, quando é dito que o sangue é derramado (como em Mateus) pela remissão de pecados, como nestas palavras, somos dirigidos para o sacrifício da morte de Cristo, e negligenciar esse pensamento torna impossível qualquer celebração devida da ceia. De nenhum outro modo as almas fieis podem ser satisfeitas, se não podem crer que Deus está contente com elas. A palavra ‘muitos’ não significa uma parte do mundo apenas, mas toda a raça humana. Jesus contrasta ‘muitos’ com um, como se dissesse que não seria Redentor de uma pessoa apenas, mas iria à morte para libertar muitos de sua culpa maldita. É incontestável que Cristo veio para a expiação dos pecados do mundo todo”[10]
Em seu Comentário sobre Gálatas, ele disse:
“Mas essa maldição não parece se encaixar na brandura de um apóstolo, que deveria desejar que todos pudessem ser salvos e que, portanto, nenhum perecesse. Eu replico que isso é verdadeiro quando temos os homens em mente; porque Deus recomenda-nos a salvação de todos os homens, sem exceção, mesmo porque Cristo sofreu pelos pecados do mundo inteiro”[11]
Segundo Calvino, as almas que perecem também foram compradas pelo sangue de Cristo:
“Não é pouca coisa ver perecendo as almas que foram compradas pelo sangue de Cristo”[12]
Jesus carregou o fardo dos que ofendem a Deus mortalmente:
“Uma vez que Jesus Cristo tem esse ofício, e ele carrega o fardo de todos estes que ofenderem a Deus mortalmente, é por isso que ele se mantém em silêncio”[13]
Mas, ainda que Cristo tenha morrido por todo o gênero humano, essa expiação é ineficaz enquanto estamos separados dele:
“Devemos, agora, ver de que modo nos tornamos possuidores das bênçãos que Deus concedeu ao seu Filho unigênito, não para uso particular, mas para enriquecer o pobre e o necessitado. E a primeira coisa em que devemos prestar atenção é que, enquanto estamos sem Cristo e separados dele, nada do que ele sofreu e fez pela salvação do gênero humano é de mínimo benefício para nós”[14]
A conclusão que se chega através da leitura de textos como estes é que a crença de Calvino no concernente à expiação era exatamente a mesma dos arminianos clássicos. Cristo morreu por todos, mas a morte dele só tem efeito na vida do indivíduo se ele crê. É claro que os calvinistas dirão que o calvinismo não se resume somente a Calvino. Contudo, será bom examinarmos os motivos pelos quais o principal expoente do calvinismo rejeitava uma doutrina que hoje é parte essencial da TULIP.
• Um amor limitado
A primeira razão pela qual os arminianos rejeitam a visão de uma expiação limitada é porque ela limita o amor de Deus, restringindo-o aos eleitos. Se textos como João 3:16 não falam que Deus amou o mundo todo e se entregou por ele, mas apenas pelo “mundo dos eleitos”, então o amor de Deus é limitado a eles. Deus não poderia verdadeiramente amar alguém sem nem ao menos oferecer uma oportunidade de salvação a ele. Deus não amaria alguém por quem ele não quis morrer. Morrer pelo próximo é um ato de amor (Jo.10:11-16), que os calvinistas negam aos não-eleitos.
Talvez essa não fosse a principal objeção de Calvino à expiação limitada, mas é a primeira conclusão que qualquer arminiano chega ao ouvir que Deus limita a expiação de Cristo. Vários calvinistas reconhecem que a expiação limitada também limita o amor de Deus, como William Ames, que disse que “Deus odeia os não-eleitos. Esse ódio é de negação ou de privação, porque nega a eleição, mas tem um conteúdo positivo, porque Deus deseja que alguns não possuam a vida eterna”[15].
John Owen, que foi provavelmente o maior defensor da expiação limitada, também disse que “Deus, tendo ‘feito alguns para o dia do mal (…) odiou-os antes que fossem nascidos’ (…) e ‘ordenou-os de antemão para a condenação’”[16]. Essa visão que limita o amor de Deus e que o restringe aos eleitos é condenada tanto filosoficamente como biblicamente. Foi exatamente este conceito distorcido do amor de Deus que levou o filósofo cristão William Lane Craig a rejeitar a visão de Deus no islamismo em um debate com o muçulmano Jamal Badawi.
Ele disse:
“Além de ser todo-poderoso, onisciente, onipresente, etc, o maior ser que pode ser concebido deve ser também todo-amoroso, pois obviamente é melhor ser amoroso do que ser não-amoroso, e Deus é um ser moralmente perfeito. Portanto Deus, como o ser moralmente perfeito, deve ser todo-amoroso, e isto é exatamente o que a Bíblia afirma. A Bíblia diz: ‘Deus é amor, e nisto consiste o amor: não fomos nós que amamos a Deus, mas foi ele que nos amou, e nos enviou o seu Filho para ser sacrificado pelos nossos pecados’. E ainda: ‘Deus demonstra seu amor por nós porque, quando ainda pecadores, Cristo morreu por nós’”[17]
Após dizer isso, ele passou a criticar a visão de amor limitado que o Alcorão oferece sobre Deus:
“De acordo com o Alcorão, Deus não ama pecadores. Escute as seguintes passagens: ‘Deus não ama os não-crentes’; ‘Deus não ama quem pratica o mal’; ‘Deus não ama o orgulhoso’; ‘Deus não ama os transgressores’; ‘Deus não ama os pródigos’; ‘Deus não ama os traidores’; ‘Deus é inimigo dos não-crentes’. Vez após vez o Alcorão declara que Deus não ama as pessoas sobre as quais a Bíblia diz que Deus as amou tanto que Ele enviou seu Filho para morrer por eles. Assim, na concepção islâmica, Deus não é todo-amoroso, Seu amor é parcial e precisa ser merecido”[18]
Então ele conclui:
“Mas vocês não acham que esta é uma concepção inadequada sobre Deus? Um Deus que diz: ‘se você se adequar a estes padrões, então eu te amarei’. Como o maior ser que pode ser concebido, o ser mais perfeito, a fonte de toda bondade e amor, o amor de Deus deve ser incondicional e imparcial. Portanto, a concepção islâmica sobre Deus parece ser moralmente inadequada”[19]
O mais interessante é que tudo o que Craig falou sobre o Deus islâmico também se aplica ao Deus calvinista. Assim como o Alá do Alcorão, o Deus dos calvinistas não ama a todos igualmente, mas limita seu amor ao “mundo dos eleitos”, através de uma manipulação textual de João 3:16. Assim como o Alá do Alcorão, o Deus dos calvinistas odeia os não-eleitos da mesma forma que “odiou” Esaú.
Assim como o Alá do Alcorão, o Deus dos calvinistas é marcado por um amor condicional à eleição. E, assim como na concepção islâmica, a concepção calvinista é a de um Deus que não é todo-amoroso, que possui um amor parcial, limitado e que não morreu por todos. Até parece que Craig estava descrendo o calvinismo, e o descrevendo muito bem.
Norman Geisler também percebe a fragilidade do calvinismo neste ponto e escreve:
“Um Deus que ama parcialmente é menos que um Deus supremamente bom a ideia que os calvinistas extremados fazem de ‘Deus’ não é o Bem supremo, ela não representa Deus de forma alguma. O Deus da Bíblia é infinitamente amoroso, isto é, todo-benevolente. Ele deseja o bem de toda a criação (At 14.17; 17.25) e a salvação de todas as almas (Ez 18.23,30-32; Os 11.1-5,8,9; Jo 3.16; lTm 2.4; 2Pe 3.9)”[20]
Ele também mostra a ilógica calvinista nas seguintes palavras:
“É lógico que esta perspectiva parece negar a ‘onibenevolência’ (amor total) de Deus. A Bíblia diz que ‘Deus é amor’ (1 João 4:16) e que Ele ama o mundo (João 3:16). De fato, ‘para com Deus não há acepção de pessoas’ (Rom. 2:11), não apenas no que concerne à Sua justiça, mas em todos os Seus atributos, inclusive Seu amor (Mat. 5:45). De fato, se Deus é simples, Seu amor estende-se por toda Sua essência, e não apenas em parte. Daí decorre que Deus não pode amar parcialmente. Mas, se Deus é todo-amor, de que maneira pode Ele amar apenas a alguns, de modo a conceder-lhes, e somente a eles, o desejo de salvar-se?”[21]
No calvinismo, Deus pode limitar seu amor, mas não pode limitar sua glória. Essa é uma enorme contradição à luz do esvaziamento da glória de Cristo descrita em Filipenses 2:5-8. Olson observa isso e diz:
“Aparentemente, Deus pode (ou deve) limitar seu amor, mas ele não pode limitar sua autoglorificação. Eu inverteria a ordem das coisas e diria que, à luz do autoesvaziamento de Cristo (Fp 2), Deus pode limitar sua glória (poder, majestade, soberania), mas não seu amor (porque Deus é amor; ver 1 João 4!)”[22]
Além disso, para um calvinista ser sincero, ele não pode anunciar a todos que Jesus morreu por eles, pois isso seria falso. Ele não pode chegar a um pecador e dizer: “Jesus te ama e ele morreu por você”, quando crê que Jesus morreu apenas pelos eleitos e que a grande maioria das pessoas no mundo não são “eleitas”.
Consequentemente, para qualquer descrente que ele anunciar o evangelho há sempre uma possibilidade maior de ele não ser um eleito, de Jesus não ter morrido por ele e de Deus não amá-lo. É algo de outro mundo em se tratando de evangelismo, mas é o que deveria ser feito caso os calvinistas levassem seu calvinismo a sério. Olson também abordou isso quando disse:
“Como que um calvinista, pregador do evangelho, isso sem mencionar Deus, pode dizer a uma congregação ou a outro ajuntamento de pessoas: ‘Deus te ama e Jesus morreu por você para que você possa ser salvo, isso se você se arrepender e crer no Senhor Jesus Cristo’, sem acrescentar a advertência, ‘se você for um dos eleitos de Deus’? O pregador calvinista não pode fazer isso com a consciência limpa”[23]
Assim sendo, um calvinista não pode dizer para qualquer pessoa que Jesus morreu por ela. Ele no máximo pode dizer que Jesus pode ter morrido por ela. Se ela não é uma pessoa eleita, dizer que Jesus morreu por ela seria uma mentira e uma enganação. Iria iludir alguém que pode até pensar que Jesus a ama incondicionalmente – o que seria a pior das heresias. Como Gary Schultz afirmou, “se a expiação foi apenas para os eleitos, pregar esta mensagem aos não eleitos seria, no seu melhor, dar a eles uma falsa esperança e, no seu pior, falso”[24].
O evangelismo calvinista então deveria ser feito dizendo ao pecador ainda não-convertido que Jesus pode ter morrido por ele, que ele o ama se ele for um eleito, e que ele tem uma chance de ser salvo contanto que tenha a sorte de não ter sido rejeitado desde antes da fundação do mundo. É um evangelismo que nos faz gelar o sangue nas veias. Isso difere de forma gritante do ensino bíblico, onde alguém como Paulo desejava até ser amaldiçoado e separado de Cristo por amor dos descrentes de Israel:
“Digo a verdade em Cristo, não minto; minha consciência o confirma no Espírito Santo: tenho grande tristeza e constante angústia em meu coração. Pois eu até desejaria ser amaldiçoado e separado de Cristo por amor de meus irmãos, os de minha raça, o povo de Israel” (Romanos 9:1-4)
Será que Paulo estava querendo ser mais bondoso que Deus, ao desejar abrir mão de sua própria salvação por amor aos não-salvos? Se o próprio Deus não os escolheu, não morreu por eles, não deseja a salvação deles nem lhes dá a mínima oportunidade de salvação, por que Paulo queria fazer o que o próprio Deus não fez, ao amá-los a tal ponto de negar a si mesmo?
Se Jesus morreu por todos, dá oportunidade a todos e deseja a salvação de todos, faz sentido que Paulo os ame tanto e deseje tanto a salvação deles. Mas se eles não podem ser salvos de nenhuma maneira e nem o próprio Deus os ama, o apóstolo estaria querendo expressar um sentimento que, além de impossível de se concretizar, ainda bateria de frente com o que o próprio Deus já tinha reservado a eles. Para que desejar a salvação de alguém que Deus já decidiu soberanamente que iria ser condenado? Estaria Paulo se opondo aos decretos de Deus?
Ele também diz sobre os israelitas incrédulos:
“Irmãos, o desejo do meu coração e a minha oração a Deus pelos israelitas é que eles sejam salvos” (Romanos 10:1)
Por que Paulo oraria pela salvação de pessoas que Deus decretou que fossem ao inferno e seriam condenadas sem ter a mínima chance de salvação enquanto em vida? Paulo estava orando no sentido contrário aos decretos divinos? A oração de Paulo pela salvação dos israelitas incrédulos só é razoável se Cristo morreu por todos e, portanto, todos eles têm uma oportunidade de salvação. Sem Cristo ter morrido por eles e sem ter lhes dado uma chance de vida eterna, a oração seria não apenas inútil, mas contrária à vontade de Deus.
O próprio Senhor Jesus disse claramente que não veio para destruir a vida dos homens, mas para salvá-los:
“E enviou mensageiros à sua frente. Indo estes, entraram num povoado samaritano para lhe fazer os preparativos; mas o povo dali não o recebeu porque se notava em seu semblante que ele ia para Jerusalém. Ao verem isso, os discípulos Tiago e João perguntaram: ‘Senhor, queres que façamos cair fogo do céu para destruí-los?’ Mas Jesus, voltando-se, os repreendeu, dizendo: ‘Vocês não sabem de que espécie de espírito são, pois o Filho do homem não veio para destruir a vida dos homens, mas para salvá-los’; e foram para outro povoado” (Lucas 9:52-56)
Tiago e João queriam acabar com tudo. Por algum momento, eles pensaram que Jesus tinha vindo salvar alguns poucos e condenar os demais. Eles queriam ver logo o fogo caindo do céu e acabando com todos os incrédulos samaritanos. Mas Jesus não apenas repudiou essa atitude, como também declarou que veio para salvar a vida daqueles homens – sim, daqueles mesmos incrédulos samaritanos que os discípulos queriam ver mortos. Jesus não veio na intenção de salvar alguns e condenar outros, mas para salvar todos. Sua morte na cruz foi uma expiação universal.
O que faz alguém ser condenado não é a omissão de um sacrifício expiatório de Cristo, mas uma resistência das próprias pessoas em não aceitarem o que Jesus fez em favor delas. Mais uma vez, insisto: Cristo não veio para destruir uma parte e salvar outra, mas para salvar todos. Sua missão era expiar os pecados de toda a humanidade. Como ele mesmo disse, “Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para condenar o mundo, mas para que este fosse salvo por meio dele” (Jo.3:17). E também:
“Se alguém ouve as minhas palavras, e não lhes obedece, eu não o julgo. Pois não vim para condenar o mundo, mas para salvá-lo” (João 12:17)
Ele sempre demonstrou compaixão com todos, incluindo com uma multidão de “não-eleitos”, que mais tarde contribuiu para a sua crucificação:
“Jesus chamou os seus discípulos e disse: Tenho compaixão desta multidão; já faz três dias que eles estão comigo e nada têm para comer. Não quero mandá-los embora com fome, porque podem desfalecer no caminho” (Mateus 15:32)
Para os calvinistas, Jesus tinha suficiente compaixão de todos daquela multidão para oferecer alimento físico a todos eles, mas não tinha suficiente compaixão de todos daquela multidão para oferecer salvação espiritual a todos eles. Jesus não queria ver aquela multidão passando fome, mas queria vê-los no inferno, para onde já tinha predestinado muitos deles. Sua compaixão por todos da multidão era limitado ao aspecto físico e alimentar, pois, quando chegava ao mais importante de tudo (a salvação eterna), ele decidia morrer só por alguns poucos, e ignorar muitos daquela tão grande multidão.
Como acreditar em um Deus assim, que tem tanta compaixão para com o menos importante, mas que não se importa com o mais importante? E o que podemos dizer de um Deus que apenas morre pelos eleitos e ignora os desobedientes, quando foi o próprio Senhor Jesus que disse para fazermos o bem não apenas aos que nos fazem o bem, mas a todos, indistintamente? Ele disse:
“E se fizerdes bem aos que vos fazem bem, que recompensa tereis? Também os pecadores fazem o mesmo” (Lucas 6:33)
Todo o sermão da montanha é repleto de citações como essa. Somos constantemente incentivados a amar não apenas os nossos amigos, mas até mesmo os nossos inimigos e aqueles que nos perseguem (Mt.5:44), e que se fizermos o bem apenas aos que nos fazem o bem estaremos sendo como os pagãos (Mt.5:47). Por isso, devemos amar e fazer o bem a todos, indistintamente (Mt.5:48):
“Vocês ouviram o que foi dito: ‘Ame o seu próximo e odeie o seu inimigo’. Mas eu lhes digo: Amem os seus inimigos e orem por aqueles que os perseguem, para que vocês venham a ser filhos de seu Pai que está nos céus. Porque ele faz raiar o seu sol sobre maus e bons e derrama chuva sobre justos e injustos. Se vocês amarem aqueles que os amam, que recompensa receberão? Até os publicanos fazem isso! E se vocês saudarem apenas os seus irmãos, o que estarão fazendo de mais? Até os pagãos fazem isso! Portanto, sejam perfeitos como perfeito é o Pai celestial de vocês” (Mateus 5:43-48)
Seria absurdo se Deus nos ordenássemos algo moral que não é praticado nem por ele próprio. Seria absurdo se Cristo dissesse para amar os inimigos se Deus não amasse os inimigos. Seria absurdo se Cristo dissesse para fazer o bem a todos se Deus só faz o bem a alguns, os eleitos. Seria absurdo se Cristo exigisse de nós um amor ilimitado se o próprio Deus tem apenas um amor limitado. Para que Jesus pregasse algo moral, ele deveria ser o maior exemplo disso. Mas como ele seria o exemplo, se ele não morreu por todos nem ama todos da mesma maneira, como ele diz para nós fazermos? Poderíamos nós amarmos incondicionalmente se o próprio Deus ama apenas condicionalmente?
Alguém poderia alegar que não podemos pautar as atitudes divinas à luz do que ele ordena aos homens. É verdade. Deus não é apenas aquilo que ele ordena que os homens façam, ele é muito mais do que isso. Ele ama muito mais, ele é muito mais exemplar, ele é muito mais santo, ele é muito mais bom. Tudo aquilo que ele diz ao homem, ele diz porque é a imagem daquilo que disse. É por isso que o salmista disse que “o Senhor é bom para todos; a sua compaixão alcança todas as suas criaturas” (Sl.145:9), e que Jesus afirmou:
“Se vós, pois, sendo maus, sabeis dar boas coisas aos vossos filhos, quanto mais vosso Pai, que está nos céus, dará bens aos que lhe pedirem?” (Mateus 7:11)
“Quanto mais” é uma linguagem que nos mostra que Deus está muito acima em bondade do padrão imposto aos homens. Ele não é “menos” do que “amem os inimigos”; ele é “mais” do que “amem os inimigos”. Ele ama mais os inimigos do que ordena que nós os amemos. No próprio sermão da montanha, fica claro que Jesus toma o padrão divino como um referencial para a mensagem que estava sendo transmitida por ele naquele momento:
“Amem os seus inimigos e orem por aqueles que os perseguem, para que vocês venham a ser filhos de seu Pai que está nos céus. Porque ele faz raiar o seu sol sobre maus e bons e derrama chuva sobre justos e injustos” (Mateus 5:44-45)
“Porque ele” remete ao padrão. Nós devemos amar a todos indistintamente porque Ele (o nosso Pai celestial) faz o mesmo. Para isso, Cristo cita como exemplos o sol e a chuva que ele derrama sobre todos, sem distinção. Seria trágico se tudo isso se perdesse no principal, naquilo que é o mais importante: a expiação. Deus ama a todos indistintamente, faz raiar o sol sobre todos indistintamente, derrama a chuva sobre todos indistintamente… mas só morre exclusivamente pelos eleitos? Isso iria contra toda a mensagem que é transmitida, contra todo o caráter moral de Deus.
É como disse Olson: “Na verdade, para dizer sem rodeios, o calvinismo necessariamente implica, quer qualquer calvinista diga ou não, que Deus exige uma melhor qualidade de amor de nossa parte do que o amor que ele mesmo exerce! Em Lucas 6.35 e em passagens paralelas, Jesus pede para que amemos nossos inimigos; não há uma única sugestão de qualquer exceção. Mas, de acordo com o calvinismo, Deus não faz isso”[25]
Em outras palavras, o que Cristo sempre fez foi dizer: “faça isso, porque o seu Pai celestial faz assim”, e o que os calvinistas fazem é dizer: “faça isso, embora o seu Pai celestial faça o contrário”.
• Analisando os “textos calvinistas”
Os calvinistas tem pouquíssimos textos que eles encontraram na Bíblia para defenderem a expiação limitada, até porque esta doutrina nunca surgiu através da descoberta de textos bíblicos, mas apenas para dar sentido ao restante do calvinismo. E o pior é que nenhum dos versículos utilizados por eles dizem qualquer coisa parecida com: “eu morro somente pelos eleitos”, ou então: “eu não morro pelos não-eleitos”. No máximo, no melhor dos cenários, o que eles têm são textos que dizem que Deus morreu pelos eleitos, o que nenhum arminiano nega:
“Assim como o Pai me conhece e eu conheço o Pai; e dou a minha vida pelas ovelhas” (João 10:15)
“Maridos, amem suas mulheres, assim como Cristo amou a igreja e entregou-se a si mesmo por ela” (Efésios 5:25)
Estes textos, assim como outros análogos, dizem que Cristo morreu pelas ovelhas/Igreja, o que absolutamente nenhum arminiano neste mundo nega. Para que estes textos provem alguma coisa em favor do calvinismo, eles teriam que acrescentar a palavra somente neles, ficando assim:
“Assim como o Pai me conhece e eu conheço o Pai; e dou a minha vida somente pelas ovelhas” (João 10:15)
“Maridos, amem suas mulheres, assim como Cristo amou a igreja e entregou-se a si mesmo somente por ela” (Efésios 5:25)
Logicamente, os textos não dizem isso. Qualquer calvinista que use textos como esses na tentativa de colocar a expiação limitada na Bíblia está explicitamente adulterando as Escrituras, acrescentando uma palavra que simplesmente não se encontra ali, mas que é absolutamente necessária para dar peso aos argumentos deles. Estarão incorrendo na maldição que João lançou: “Declaro a todos os que ouvem as palavras da profecia deste livro: se alguém lhe acrescentar algo, Deus lhe acrescentará as pragas descritas neste livro” (Apocalipse 22:18)
Para deixarmos ainda mais claro a desonestidade de se usar versos como esses na defesa de uma expiação limitada, podemos usar Gálatas 2:20 e, com a mesma lógica calvinista, concuir que Jesus morreu somente por Paulo, pois ele disse:
“Fui crucificado com Cristo. Assim, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim. A vida que agora vivo no corpo, vivo-a pela fé no filho de Deus, que me amou e se entregou por mim” (Gálatas 2:20)
A estrutura do texto é exatamente igual a dos anteriores. O texto diz que Cristo se entregou por Paulo, como os outros que dizem que Cristo se entregou pelas ovelhas e que Cristo se entregou pela Igreja. Mas ninguém que não seja um herege seria capaz de dizer que Cristo morreu somente por Paulo. Eles teriam que acrescentar uma palavra que não se encontra no original grego.
A conclusão lógica é que um texto dizer que Jesus morreu por Paulo não significa dizer que Jesus morreu somente por Paulo, da mesma forma que os textos que dizem que Cristo morreu pela Igreja não significam que Cristo morreu somente pela Igreja.
Roger Olson fala sobre isso nas seguintes palavras: “Que Cristo morreu por eles [a saber, os cristãos] de forma alguma exige que ele tenha morrido apenas por eles. O crítico David Allen corretamente enfatiza que o fato de que muitos versículos falam de Cristo morrendo por suas ‘ovelhas’, sua ‘igreja’ ou seus ‘amigos’ não prova que Ele não tenha morrido por outros não incluídos nestas categorias”[26]
Norman Geisler também observa:
“Quando a Bíblia usa termos como ‘nós’, ‘nossos’ ou ‘nos’ com referência à expiação, diz respeito somente àqueles a quem a expiação foi aplicada, não a todos a quem ela foi proporcionada. Fazendo assim, ela não limita a expiação em sua aplicação possível a todas as pessoas. Antes, fala de alguns a quem a expiação já foi aplicada”[27]
Sendo que os calvinistas não têm mais qualquer texto que minimamente implique em uma expiação limitada, passaremos aos nossos[28].
• João 3:16 e o “mundo”
Uma vez que os calvinistas não têm mais textos, analisaremos agora os vários versículos bíblicos que foram usados pelos Pais e doutores da Igreja cristã por quinze séculos até Teodoro de Beza, na defesa da doutrina da expiação universal, a qual nem o próprio Calvino tinha a mínima dúvida a respeito. O primeiro e mais famoso texto é o de João 3:16, que diz: “Porque Deus tanto amou o mundo que deu o seu Filho Unigênito, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna” (João 3:16)
Os calvinistas interpretam o termo “mundo” como se referindo apenas aos eleitos. Isso tem tanta cara de distorção bíblica que até o calvinista Arthur Pink, um dos maiores defensores da expiação limitada, admitiu: “Pode parecer para alguns de nossos leitores que a exposição que demos de João 3:16 no capítulo sobre ‘Dificuldades e Objeções’ é forçada e não natural, na medida em que nossa definição do termo ‘mundo’ parece estar fora de harmonia com o significado e escopo desta palavra em outras passagens, onde, fornecer o mundo de crentes (os eleitos de Deus) como uma definição de ‘mundo’ parece não fazer sentido”[29]
A verdade é que qualquer pessoa que ler o Evangelho de João, pelo menos uma vez na vida, irá facilmente se deparar com o fato de que a palavra “mundo” ali nunca significa somente os eleitos. A palavra “mundo” aparece 57 vezes em João, e em lugar nenhum tem esse significado. Tente, por exemplo, interpretar “mundo” como se referindo somente aos eleitos nestas passagens:
“Jesus fez também muitas outras coisas. Se cada uma delas fosse escrita, penso que nem mesmo no mundo inteiro haveria espaço suficiente para os livros que seriam escritos” (João 21:25)
“Disse Jesus: ‘O meu Reino não é deste mundo. Se fosse, os meus servos lutariam para impedir que os judeus me prendessem. Mas agora o meu Reino não é daqui’” (João 18:36)
“Pai justo, embora o mundo não te conheça, eu te conheço, e estes sabem que me enviaste” (João 17:25)
“Eles não são do mundo, como eu também não sou” (João 17:16)
“Dei-lhes a tua palavra, e o mundo os odiou, pois eles não são do mundo, como eu também não sou” (João 17:14)
“Eu rogo por eles. Não estou rogando pelo mundo, mas por aqueles que me deste, pois são teus” (João 17:9)
“Já não lhes falarei muito, pois o príncipe deste mundo está vindo. Ele não tem nenhum direito sobre mim” (João 14:30)
“Se o mundo os odeia, tenham em mente que antes me odiou” (João 15:18)
“Se vocês pertencessem ao mundo, ele os amaria como se fossem dele. Todavia, vocês não são do mundo, mas eu os escolhi, tirando-os do mundo; por isso o mundo os odeia” (João 15:19)
“Digo-lhes que certamente vocês chorarão e se lamentarão, mas o mundo se alegrará. Vocês se entristecerão, mas a tristeza de vocês se transformará em alegria” (João 16:20)
“O Espírito da verdade. O mundo não pode recebê-lo, porque não o vê nem o conhece. Mas vocês o conhecem, pois ele vive com vocês e estará em vocês” (João 14:17)
“Disse então Judas (não o Iscariotes): ‘Senhor, mas por que te revelarás a nós e não ao mundo?’” (João 14:22)
“Deixo-lhes a paz; a minha paz lhes dou. Não a dou como o mundo a dá. Não se perturbe o seu coração, nem tenham medo” (João 14:27)
“O mundo não pode odiá-los, mas a mim odeia porque dou testemunho de que o que ele faz é mau” (João 7:7)
Interpretar “mundo” nestas e em outras passagens similares no Evangelho de João como significando “os eleitos” seria um delírio. Um exame mais detido deste evangelho nos mostra que a palavra “mundo” só possui dois significados: o natural (o mundo geográfico) e o espiritual (os perdidos). Em nenhum texto há o significado intrínseco de “mundo dos eleitos”, como uma referência exclusiva aos crentes. Afirmar que João 3:16 e textos similares que estendem a expiação ao mundo todo são exceções à regra geral é algo infundado e oriundo puramente dos próprios pré-conceitos calvinistas, onde a exegese é deixada de lado para dar luz à interpretações fantasiosas que se encaixem na sua teologia.
João também escreveu sobre a expiação ilimitada de Cristo ao mundo inteiro em sua primeira epístola, em dois momentos diferentes:
“Ele é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas também pelos pecados de todo o mundo” (1ª João 2:2)
“Nós temos visto e testificamos que o Pai enviou a seu Filho como Salvador do mundo” (1ª João 4:14)
Ele não diz que Cristo era somente salvador dos eleitos, ou que expiou somente os nossos pecados. Ele diz que ele é o salvador do mundo e que propiciou não somente os nossos pecados, mas também os pecados do mundo todo. João usou a palavra “mundo” em sua primeira epístola 16 vezes, e, mais uma vez, ela nunca teve o sentido de “eleitos”, como podemos ver nestes textos:
“Sabemos que somos de Deus e que o mundo todo está sob o poder do Maligno” (1ª João 5:19)
“Quem é que vence o mundo? Somente aquele que crê que Jesus é o Filho de Deus” (1ª João 5:5)
“O que é nascido de Deus vence o mundo; e esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé” (1ª João 5:4)
“Eles vêm do mundo. Por isso, o que falam procede do mundo, e o mundo os ouve” (1ª João 4:5)
“Filhinhos, vocês são de Deus e os venceram, porque aquele que está em vocês é maior do que aquele que está no mundo” (1ª João 4:4)
“Meus irmãos, não se admirem se o mundo os odeia” (1ª João 3:3)
“Vejam como é grande o amor que o Pai nos concedeu: sermos chamados filhos de Deus, o que de fato somos! Por isso o mundo não nos conhece, porque não o conheceu” (1ª João 3:1)
“O mundo e a sua cobiça passam, mas aquele que faz a vontade de Deus permanece para sempre” (1ª João 2:17)
“Pois tudo o que há no mundo – a cobiça da carne, a cobiça dos olhos e a ostentação dos bens – não provém do Pai, mas do mundo” (1ª João 2:17)
“Não amem o mundo nem o que nele há. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele” (1ª João 2:15)
Substituir “mundo” por “eleitos” nestas passagens seria cômico. João sempre usava a palavra “mundo”, quando em sentido espiritual, para se referir aos incrédulos. Portanto, pelo mesmo critério e coerência, o “mundo” de 1ª João 2:2 e de 1ª João 4:14 deve ser estendido aos próprios descrentes. Cristo também morreu por eles e expiou seus pecados. Paulo diz que “Deus em Cristo estava reconciliando consigo o mundo, não lançando em conta os pecados dos homens, e nos confiou a mensagem da reconciliação” (2Co 5:19).
O calvinista tem todo o direito de interpretar a palavra “mundo” do jeito que bem entender. Só não tem o direito de dizer que a interpretação de “eleitos” é séria, exegética ou criteriosa, porque não é. À luz de uma exegese criteriosa, tal interpretação soa mais como um deboche.
• Todos não são todos?
Por mais forçada que seja a interpretação deles do “mundo”, nada se compara à explicação sobre o “todos”. Como Palmer disse, para os calvinistas “todos não são todos”. “Todos” pode significar qualquer coisa, menos todos. Observe, por exemplo, os textos abaixo:
“Vemos, porém, coroado de glória e de honra aquele Jesus que fora feito um pouco menor do que os anjos, por causa da paixão da morte, para que, pela graça de Deus, provasse a morte por todos” (Hebreus 2:9)
“Pois há um só Deus e um só mediador entre Deus e os homens: o homem Cristo Jesus, o qual se entregou a si mesmo como resgate por todos. Esse foi o testemunho dado em seu próprio tempo” (1ª Timóteo 2:5-6)
Limitar o “todos” aos eleitos é no mínimo subestimar a capacidade dos escritores bíblicos em usarem a palavra “alguns”, que passaria este sentido com muito mais exatidão, uma vez que nem todos são eleitos, mas alguns são eleitos. A palavra grega para “alguns” é tis, que foi empregada 526 vezes no NT, mas que, curiosamente, não foi empregada nestes textos e em nenhum outro que fala da extensão da expiação. Em lugar disso, Paulo dizia que a expiação foi por pas, que significa todos, no sentido completo da palavra. Simplesmente não existe outra palavra no grego que transmita um grau maior de extensão do que essa.
Além disso, os calvinistas encontram problemas pela frente quando são obrigados a interpretarem como “alguns” os textos que dizem “todos”, em especial quando eles mesmos fazem coisa diferente quando o assunto é a extensão do pecado. Pois Paulo disse que “todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus” (Rm.3:23), e todo bom calvinista crê que o texto se refere a todas as pessoas, individualmente, sem exceção.
Mas quando o mesmo apóstolo emprega a mesma palavra em contextos semelhantes acerca da expiação de Cristo, a palavra imediatamente e como em um passe de mágica ganha um sentido oposto que significa qualquer coisa, menos “todos”. Geisler observa essa contradição e diz que, “se ‘todos’ não significa ‘todos’ os seres humanos caídos, então o que o termo significa em Romanos 3.23: ‘Todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus’? Significa que somente os eleitos que pecaram?”[30]
Contra os calvinistas que dizem que “todos não é todos”, ele diz que “isso não carece de resposta, mas de um lembrete moderado de que Deus repetidamente nos exorta a não acrescentar ou subtrair nada de suas palavras (Dt 4.2; Pv 30.6; Ap 22.18,19)”[31]. Vernon Grounds vai além e diz que “é exigido uma ingenuidade exegética, que não é nada mais do que virtuosidade aprendida para evacuar estes textos de seus significados óbvios; é preciso uma ingenuidade exegética beirando a sofisma para negar sua explícita universalidade”[32].
O fato da palavra “todos” ser em raríssimas ocasiões utilizada de maneira figurada ou hiperbólica, como quando os fariseus disseram que “o mundo todo vai atrás dele [Jesus]” (Jo.12:19), de modo nenhum justifica aplicar o mesmo sentido em passagens dentro de contextos teológicos, como ocorre em Hebreus 2:9 e em 1ª Timóteo 2:5-6.
É comum que em nossa linguagem informal do dia-a-dia usemos a expressão “todo mundo” em sentido figurado, como quando dizemos que “todo mundo gosta de chocolate”, o que na verdade não significa cada pessoa do planeta. Foi isso o que ocorreu na conversa dos fariseus registrada em João 12:19, que em absolutamente nada tem a ver com os contextos puramente teológicos de Hebreus 2:9 e de 1ª Timóteo 2:5-6, que de modo nenhum admitiam uma linguagem vulgar como a conversa informal registrada no outro texto.
Da mesma forma que nenhum calvinista admite que em Romanos 3:23 o “todos” seja interpretado como “alguns” (porque sabem que está em um contexto teológico e não informal), nós também sabemos que a exceção de João 12:19 não se aplica a Hebreus 2:9 e a 1ª Timóteo 2:5-6, pela mesma razão que também não se aplica a Romanos 3:23 – o contexto. Tomar uma exceção como regra, ainda mais em contextos completamente diferentes, é ridículo.
• 2ª Pedro 2:1
“E também houve entre o povo falsos profetas, como entre vós haverá também falsos mestres, que introduzirão encobertamente heresias de perdição, e negarão o Senhor que os resgatou, trazendo sobre si mesmos repentina destruição” (2ª Pedro 2:1)
O texto fala de falsos profetas e de falsos mestres, tão satânicos que negam a Cristo e propagam heresias destrutivas ao ponto de levar à perdição, e que não teriam como fim a vida eterna, mas repentina destruição. Obviamente, o texto está falando de ímpios, de hereges que serão condenados. Mas observe que Pedro diz que eles negarão o Senhor que os resgatou. Isso significa que, mesmo eles sendo ímpios e hereges, Cristo os resgatou também. Este texto sozinho coloca por terra toda a teologia que diz que apenas os eleitos foram resgatados por Cristo.
A palavra agorazo também significa “comprar ou redimir”[33]. Aquelas pessoas, por mais ímpias que fossem, haviam sido compradas, redimidas, resgatadas por Cristo na cruz. Essa palavra aqui utilizada por Pedro é exatamente a mesma palavra usada por Paulo quando ele disse que os cristãos de Corinto foram comprados por alto preço:
“Vocês foram comprados [agorazo] por alto preço. Portanto, glorifiquem a Deus com o corpo de vocês” (1ª Coríntios 6:20)
“Vocês foram comprados [agorazo] por alto preço; não se tornem escravos de homens” (1ª Coríntios 7:23)
Portanto, agorazo se refere à obra de redenção de Cristo na cruz, quando os “comprou” (agorazo) por um alto preço. Paulo diz que os coríntios foram comprados por Cristo na cruz, mas Pedro vai além e diz que até os falsos mestres e hereges foram comprados (agorazo) pelo Senhor (2Pe.2:1). Sendo assim, o emprego de agorazo em 2ª Pedro 2:1 deixa claro que não apenas os eleitos, mas até mesmo os ímpios foram comprados (redimidos) pelo Senhor Jesus na cruz do Calvário.
• 1ª Timóteo 4:10
“Se trabalhamos e lutamos é porque temos colocado a nossa esperança no Deus vivo, o Salvador de todos os homens, especialmente dos que crêem” (1ª Timóteo 4:10)
O texto é claro em dizer que Deus é o salvador de todos os homens, especialmente dos que creem, e não somente dos que creem. Como disse Robert Picirilli, “que ele [Jesus] é o salvador de todos os homens, fala de provisão; que Ele é o salvador especialmente dos que creem, fala de aplicação”[34]. Este texto nos leva a crer que a expiação de Cristo na cruz foi para a salvação de todos os homens, embora ela tenha sido aplicada apenas àqueles que creem. Um versículo semelhante empregado pelo mesmo apóstolo diz:
“Portanto, enquanto temos oportunidade, façamos o bem a todos, especialmente aos da família da fé” (Gálatas 6:10)
Logicamente, o que Paulo estava dizendo não era que nós só temos que fazer o bem aos da família da fé e que tenhamos que fazer o mal aos demais; ao contrário, diz que devemos fazer o bem a todos (salvos e não-salvos), em especial aos da fé. Da mesma forma, o texto de 1ª Timóteo 4:10 não diz que Cristo é o salvador somente dos que creem e que não morreu pelos demais, e sim que ele é o salvador de todos (salvos e não-salvos), em especial dos que creem. “Especial” é diferente de “somente”, o que entraria em contradição com o “todos”. A expiação, portanto, foi para todos (ilimitada).
• 2ª Pedro 3:9
“O Senhor não demora em cumprir a sua promessa, como julgam alguns. Pelo contrário, ele é paciente com vocês, não querendo que ninguém pereça, mas que todos cheguem ao arrependimento” (2ª Pedro 3:9)
É difícil acreditar que Deus queira mesmo que ninguém pereça, se ele nem sequer propiciou uma oportunidade de salvação a eles, que seria através da expiação de Jesus Cristo na cruz. As tentativas calvinistas em afirmar que este texto se refere apenas aos cristãos falha em inúmeros aspectos. Primeiro, porque o texto emprega a expressão “ninguém” em relação a quem ele quer que pereça, e “todos” em relação a quem ele quer que chegue ao arrependimento. Tais expressões passam a ideia de totalidade, e não de uma parte de pessoas (os cristãos).
Segundo, porque o texto fala que o desejo de Deus é que todos cheguem ao arrependimento. Se Deus quer que eles cheguem ao arrependimento, é porque eles não se arrependeram ainda. Da mesma forma que alguém que deseja chegar a São Paulo ainda não está em São Paulo, aquele que tem que chegar ao arrependimento ainda não se arrependeu. Mas o arrependimento é o resultado imediato da regeneração, e sem ele não há salvação (Lc.13:3; At.17:30). Consequentemente, o texto tem que estar se referindo a pessoas que ainda não se arrependeram, e que, portanto, ainda não eram regeneradas e salvas.
O sentido, então, é que Deus deseja que todos – até mesmo os não-regenerados – venham a alcançar o arrependimento. Este sentido fica mais claro à luz de textos do Antigo Testamento que passam explicitamente essa ideia. Em Ezequiel, por exemplo, é o próprio Deus que diz que “não quer a morte do pecador, mas, antes, que se converta e viva” (Ez.33:11), que “não me agrada a morte de ninguém; palavra do Soberano Senhor. Arrependam-se e vivam!” (Ez.18:32), e também:
“Desejaria eu, de qualquer maneira a morte do ímpio? Diz o Senhor Jeová; não desejo, antes, que se converta dos seus caminhos e viva?” (Ezequiel 18:23)
Assim sendo, o que Pedro estava dizendo não era nada além daquilo que o próprio Deus já havia dito há muito tempo. Ele deseja que todos – incluindo os ímpios – cheguem ao arrependimento e sejam salvos. Mas isso só poderia acontecer se Cristo tivesse expiado seus pecados também. Sem a expiação de Cristo não há perdão de pecados e, consequentemente, não há salvação. Portanto, é necessário que a expiação de Cristo tenha sido universal e ilimitada.
• 1ª Timóteo 2:4
“Isso é bom e agradável perante Deus, nosso Salvador, que deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade” (1ª Timóteo 2:3-4)
Este texto é tão claro quanto o anterior, pois Paulo diz basicamente o mesmo que Pedro: que Deus deseja que todos os homens sejam salvos. A evidência de que o “todos” inclui também os não-regenerados é que o apóstolo diz desejar que eles cheguem ao conhecimento da verdade, o que implica que tais pessoas ainda não conheciam a verdade. Portanto, dentro da expressão “todos”, estão incluídos também aqueles que ainda estão nas trevas, afastados da verdade, precisando ainda conhecê-la e serem libertos por ela (Jo.8:32).
As tentativas de corromper o significado da palavra “todos” neste texto têm sido tão frustradas quanto nos demais, chegando ao ponto de um dos maiores pregadores calvinistas na história, Spurgeon, tê-las repudiado vigorosamente. Ele reconheceu:
“Nossos amigos calvinistas mais antigos tratam esse texto. ‘Todos os homens’, dizem eles – isto é, ‘alguns homens’: como se o Espírito Santo não pudesse ter dito ‘alguns homens’ se quisesse dizer ‘alguns homens’. ‘Alguns homens’, dizem eles, como se o Senhor não pudesse ter dito ‘todos os tipos de homens’ se quisesse dizer isso. O Espírito Santo, por meio do apóstolo, escreveu ‘todos homens’, e é inquestionável que ele quer dizer todos os homens”[35]
Ele era tão firme neste ponto que chegou a zombar dos calvinistas que interpretavam o “todos” como não sendo “todos”, dizendo que, se fosse assim, seria melhor e mais fácil que Paulo tivesse dito o contrário:
“Eu pensei, quando li sua exposição, que teria sido um comentário muito bom sobre o texto se esse dissesse: ‘Que não quer que todos os homens sejam salvos nem venham ao conhecimento da verdade’”[36]
De fato, se o texto dissesse o contrário daquilo que diz, expressaria perfeitamente a opinião da maioria dos calvinistas acerca dele. Spurgeon, portanto, rejeitava a interpretação calvinista tradicional deste texto pelas seguintes razões:
Se Paulo quisesse dizer “alguns” onde ele disse “todos”, ele poderia e teria feito isso, dizendo “alguns homens” no lugar de “todos os homens”.
Se Paulo estivesse falando dos tipos de homens, ele poderia e teria feito isso, dizendo “todos os tipos de homens” ao invés de “todos os homens”.
Se o texto estivesse dizendo o contrário do que diz, afirmando que Deus não quer que todos os homens sejam salvos, estaria expressando com muito mais exatidão a interpretação calvinista do que do jeito que ele está escrito.
Resumidamente, o que Spurgeon se recusava a fazer era lutar contra o óbvio do texto bíblico, corrompendo o significado daquilo que está claro. Mas isso não entra em contradição direta com a tese calvinista da expiação limitada? Sim, enta. E ele reconhecia isso. Mesmo assim, ele preferia parecer inconsistente com sua própria teologia do que com o texto bíblico:
“Eu preferiria centenas de vezes parecer incoerente comigo mesmo que ser incoerente com a Palavra de Deus”[37]
Roger Olson também observa que “a mesma palavra grega para ‘todos’ é utilizada em 2ª Timóteo 3.16 para dizer que ‘toda’ a Escritura é inspirada. Se a palavra não significar literalmente ‘todos’ em 1ª Timóteo 2.4, então ela também não significa ‘toda’ em 2ª Timóteo 3.16 (‘toda a Escritura é inspirada’)”[38]. Seria mais honesto que os calvinistas fizessem como Spurgeon e reconhecessem o óbvio do texto de 1ª Timóteo 2:4, mesmo conflitando com sua própria teologia, do que insistirem em interpretar um texto diferente do seu significado evidente.
• 1ª Coríntios 8:11
“Pois, se alguém que tem a consciência fraca vir você que tem este conhecimento comer num templo de ídolos, não será induzido a comer do que foi sacrificado a ídolos? Assim, esse irmão fraco, por quem Cristo morreu, é destruído por causa do conhecimento que você tem” (1ª Coríntios 8:10-11)
O texto em questão fala de um cristão fraco, por quem Cristo morreu, que pode ser destruído. Como Olson observa, “uma pessoa por quem Cristo morreu não pode ser destruída”[39]. A palavra grega aqui traduzida por “destruído” é apothnesko, que, de acordo com a Concordância de Strong, significa:
599 αποθνησκω apothnesko
de 575 e 2348; TDNT – 3:7,312; v
1) morrer;
1a) de morte natural do ser humano;
1b) de morte violenta de seres humanos ou animais;
1c) perecer por meio de algo;
1d) de árvores que secam, de sementes que apodrecem quando plantadas;
1e) a morte eterna.
Como vemos, sempre quando apothnesko aparece aplicada a seres humanos ela tem o sentido de morte, seja em relação à morte natural ou à morte eterna. Neste texto Paulo obviamente não estava falando da morte natural, pois ele fala da consciência da pessoa, e ninguém “morre” por comer algo sacrificado aos ídolos. Portanto, o texto se refere à morte eterna, o que foi traduzido por “destruição”. Essa palavra aparece em 112 ocorrências no NT e sempre quando é aplicada a humanos tem este sentido. Vejamos algumas ocorrências:
“Disse: ‘Saiam! A menina não está morta [apothnesko], mas dorme’. Todos começaram a rir dele” (Mateus 9:24)
“Mestre, Moisés disse que se um homem morrer [apothnesko] sem deixar filhos, seu irmão deverá casar-se com a viúva e dar-lhe descendência” (Mateus 22:24)
“Finalmente, depois de todos, morreu [apothnesko] a mulher” (Mateus 22:27)
“Mas Pedro declarou: ‘Mesmo que seja preciso que eu morra [apothnesko] contigo, nunca te negarei’. E todos os outros discípulos disseram o mesmo” (Mateus 26:35)
“Enquanto Jesus ainda estava falando, chegaram algumas pessoas da casa de Jairo, o dirigente da sinagoga. ‘Sua filha morreu [apothnesko]’, disseram eles. ‘Não precisa mais incomodar o mestre!’” (Marcos 5:35)
“O espírito gritou, agitou-o violentamente e saiu. O menino ficou como morto [apothnesko], a ponto de muitos dizerem: ‘Ele morreu [apothnesko]’” (Marcos 9:26)
“Havia sete irmãos. O primeiro casou-se e morreu [apothnesko] sem deixar filhos” (Marcos 12:20)
“Pilatos ficou surpreso ao ouvir que ele já tinha morrido [apothnesko]. Chamando o centurião, perguntou-lhe se Jesus já tinha morrido [apothnesko]” (Marcos 15:44)
“Mas eu não tenho usado de nenhum desses direitos. Não estou escrevendo na esperança de que vocês façam isso por mim. Prefiro morrer [apothnesko] a permitir que alguém me prive deste meu orgulho” (1ª Coríntios 9:15)
“Entretanto, não há comparação entre a dádiva e a transgressão. Pois se muitos morreram [apothnesko] por causa da transgressão de um só, muito mais a graça de Deus, isto é, a dádiva pela graça de um só homem, Jesus Cristo, transbordou para muitos!” (Romanos 5:15)
“Pois se vocês viverem de acordo com a carne, morrerão [apothnesko]; mas, se pelo Espírito fizerem morrer os atos do corpo, viverão” (Romanos 8:13)
“Esteja atento! Fortaleça o que resta e que estava para morrer [apothnesko], pois não achei suas obras perfeitas aos olhos do meu Deus” (Apocalipse 3:2)
Qualquer leitor que desejar pode conferir todas as 112 ocorrências do termo[40] e perceberá que em todas as ocasiões, sem exceção, o significado é sempre o mesmo: morte. Essa morte pode ter três conotações: (a) a morte natural ao término da vida terrena; (b) a morte eterna após a ressurreição; (c) a morte dos cristãos para o pecado e o mundo. Diante do contexto de 1ª Coríntios 8:10-11, a única alternativa plausível é a segunda, pois Paulo não está falando da morte natural (a) nem de uma coisa boa (c).
Consequentemente, o termo implica na morte eterna, independentemente de como cada um a entende. Essa morte eterna, biblicamente, é o oposto à vida eterna (Rm.6:23; 8:13), o que significa que essas pessoas por quem Cristo morreu, que foram induzidas a comer a comida sacrificada aos ídolos, seriam condenadas. O que Paulo estava dizendo é que a pessoa que come o alimento oferecido aos ídolos corre risco de morte eterna, e ele diz também que Cristo morreu por essa pessoa (1Co.8:11). Por conseguinte, Cristo morreu por todos, não somente pelos que herdarão a vida eterna, mas também pelos que cairão em apothnesko.
• 2ª Coríntios 5:14-15
“Pois o amor de Cristo nos constrange, porque estamos convencidos de que um morreu por todos; logo, todos morreram. E ele morreu por todos para que aqueles que vivem já não vivam mais para si mesmos, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou” (2ª Coríntios 5:14-15)
Não há muito o que acrescentar sobre este texto. Cristo morreu por todos (pas), e não apenas por alguns (tis). Mais uma vez, negar que o todos seja todos é lutar contra a clareza do texto bíblico e subestimar a capacidade do apóstolo em escrever “alguns” em vez de “todos”, o que definiria bem a expiação limitada do calvinismo.
• 1ª João 2:2
“Ele é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas também pelos pecados de todo o mundo” (1ª João 2:2)
João diz que Cristo é a propiciação não apenas dos nossos pecados (dos cristãos), mas pelos pecados do mundo inteiro, estendendo a expiação a um grau universal e ilimitado, exatamente como é crido no arminianismo. Ao invés de João dizer que Jesus é a propiciação somente dos nossos pecados, ele faz questão de estender essa expiação a todos. Foi a negação da clareza de um texto como este que levou Geisler a dizer:
“Isso parece tão evidente que, se não fosse pela afirmação distorcida dos calvinistas extremados, nenhum comentário seria necessário (…) isso é um caso óbvio de eisegese (ver no texto o que não está nele), que não merece um tratamento extensivo”[41]
Um calvinista que nega a expiação universal à luz de um texto como este teria que corromper o significado de “mundo”, de “todos” e de “não somente”. Em termos simples, teria que corromper tudo e esquecer este texto.
• Romanos 5
É em Romanos 5 que encontramos uma das mais perfeitas descrições de Jesus morrendo pelos ímpios, ao analisarmos todo o contexto. Paulo diz que, “no devido tempo, quando ainda éramos fracos, Cristo morreu pelos ímpios” (Rm.5:6). Os calvinistas entendem que este texto se refere apenas aos eleitos enquanto eles ainda eram ímpios, mas Paulo segue dizendo que a graça veio sobre todos os homens da mesma forma que o pecado veio sobre todos os homens:
“Pois assim como por uma só ofensa veio o juízo sobre todos os homens para condenação, assim também por um só ato de justiça veio a graça sobre todos os homens para justificação de vida” (Romanos 5:18)
O texto fala do pecado como condenação natural a todos os homens e da graça de Cristo como justificação a todos os homens. O calvinista consegue crer que realmente todos caíram em pecado e mereceram a condenação, mas não consegue crer que a graça da justificação também foi para todos os homens. Em outras palavras, dentro de um mesmo verso bíblico, eles entendem o primeiro “todos” como sendo “todos”, e o segundo “todos” como sendo “alguns”. Se isso não é a mais grosseira deturpação exegética, eu não sei o que pode ser.
Paulo acentua este paralelismo mais adiante, ao dizer:
“Portanto, da mesma forma como o pecado entrou no mundo por um homem, e pelo pecado a morte, assim também a morte veio a todos os homens, porque todos pecaram” (Romanos 5:12)
E depois:
“Entretanto, não há comparação entre a dádiva e a transgressão. Pois se muitos morreram por causa da transgressão de um só, muito mais a graça de Deus, isto é, a dádiva pela graça de um só homem, Jesus Cristo, transbordou para muitos!” (Romanos 5:15)
A mensagem é clara: a morte veio sobre todos os homens, porque todos os homens pecaram. Isso todo bom calvinista interpreta como sendo todos mesmo, sem exceção. Mas o texto segue dizendo que a graça de Deus muito mais transbordou sobre muitos. Como que o pecado por ter tido uma extensão universal e limitada e a graça não teve uma extensão ilimitada e universal, se ela transbordou muito mais do que o pecado? Em outras palavras, se o “todos” em relação ao pecado é “todos” mesmo, por que o “todos” em relação à graça não é todos, se Paulo coloca a graça sobre transbordando sobre a vida de muitos, em uma medida maior do que a transgressão?
E Paulo segue dizendo:
“Conseqüentemente, assim como uma só transgressão resultou na condenação de todos os homens, assim também um só ato de justiça resultou na justificação que traz vida a todos os homens” (Romanos 5:18)
Este verso resume bem toda esta linha de pensamento. Paulo diz que o pecado resultou na condenação natural de todos os homens. Os calvinistas creem que todos, sem exceção, pecaram e se fizeram merecedores da condenação. Então, eles interpretam “todos os homens” na primeira parte do verso como sendo literalmente todos os homens. Mas Paulo prossegue dizendo que o ato de justiça de Cristo resultou em justificação para todos os homens, e isso os calvinistas interpretam como sendo “alguns homens”.
Isso, além de corromper tudo aquilo que conhecemos por critério e bom senso, ainda invalidaria a lógica empregada por Paulo, pois ele compara o pecado com a graça, e em ambos os casos ele coloca a expressão “todos os homens”. Se o pecado tivesse vindo realmente sobre todos os homens mas a graça apenas sobre alguns, toda a lógica de pensamento dele cairia por terra e seria derrubada por um calvinista.
Além disso, o “assim também” que ele acentua no verso 18 perderia completamente o sentido, pois ele só teria lógica caso “todos os homens” do início do verso fosse o mesmo que “todos os homens” da continuação do verso. Se todos os homens é todos os homens em sentido completo em ambas as vezes, o “assim também” tem sentido, pois iguala ambos. Mas se na primeira parte do verso significa “todos” e na segunda parte significa apenas “alguns”, o “assim também” perde completamente o sentido, pois não seriam iguais, mas diferentes.
Um estaria em oposição ao outro, e não em igualdade. Seria mais um contraste do que uma analogia, como ocorre no texto. Portanto, o emprego do “assim também” exige uma igualdade de interpretação sobre o “todos os homens”. Uma vez que os calvinistas creem que realmente todos os homens caíram em pecado, são obrigados a crerem também que todos os homens são recipientes do “ato de justiça” (v.18) de Cristo na cruz, em trazer justificação através de sua morte expiatória.
• Romanos 11:32
“Porque Deus a todos encerrou na desobediência, a fim de usar de misericórdia para com todos” (Romanos 11:32)
O princípio passado aqui é o mesmo do texto anterior. Deus colocou todos sobre a desobediência, para usar de misericórdia sobre todos. O texto perderia a força e o sentido caso estivesse na verdade dizendo que Deus colocou todos sobre a desobediência para exercer misericórdia sobre alguns. A concordância no texto exige uma equivalência entre os que desobedeceram (todos, pois todos pecaram) e os que Deus usou de misericórdia (todos, através da cruz). Interpretar arbitrariamente o primeiro “todos” como “todos” e o segundo “todos” como “alguns” é aleijar a concordância e ignorar o critério.
• Mateus 18:14
“Da mesma forma, o Pai de vocês, que está nos céus, não quer que nenhum destes pequeninos se perca” (Mateus 18:14)
Os “pequeninos” que Jesus dizia eram as crianças (v.5), sobre quem ele afirmou:
“Quem recebe uma destas crianças em meu nome, está me recebendo. Mas se alguém fizer tropeçar um destes pequeninos que crêem em mim, melhor lhe seria amarrar uma pedra de moinho no pescoço e se afogar nas profundezas do mar” (Mateus 18:5-6)
Ele diz que não quer que nenhuma destas crianças se perca (v.14), o que seria impossível de acontecer caso Jesus não tivesse expiado os pecados de todos, indistintamente. Caso contrário, existiriam crianças eleitas que cresceriam e manteriam a salvação, e crianças não-eleitas que inevitavelmente se perderiam. Para que houvesse a possibilidade de nenhuma daquelas crianças se perder era necessário que Cristo morresse por todas, o que daria uma chance de salvação para todas.
Seria irônico se Jesus quisesse que nenhuma daquelas crianças se perdesse, sem ter feito nada para salvar muitas delas, e ainda já tendo pré-determinado que muitas delas se perderiam, recusando-se a morrer por elas e restringindo a possibilidade da salvação aos eleitos. O “querer” de Cristo só tem sentido caso ele morresse por todos e, assim, garantisse uma chance de salvação, com a condição de crer. Um querer destituído de ação seria, na melhor das hipóteses, um desejo hipócrita.
• João 5:34
“Não que eu busque testemunho humano, mas menciono isso para que vocês sejam salvos” (João 5:34)
A finalidade de Jesus naquela conversa com os judeus incrédulos era salvá-los. Ele disse claramente que lhes pregava o evangelho com esta finalidade. Contudo, sabemos que muitos deles não foram salvos, pois continuaram sem crer em Cristo. Assim, temos duas possibilidades: ou eles não foram salvos porque Jesus se recusou a morrer por eles, ou eles não foram salvos porque eles se recusaram a crer. À vista do desejo de Cristo de que eles fossem salvos, a primeira opção se torna improvável, e a morte de Jesus por eles muito mais aceitável.
• João 11:42
“Eu sabia que sempre me ouves, mas disse isso por causa do povo que está aqui, para que creia que tu me enviaste” (João 11:42)
À exemplo do anterior, o texto afirma que Jesus disse aquilo com a finalidade de que o povo cresse, que é o precedente necessário para a salvação. Mas como Jesus poderia querer que eles fossem salvos, se não fez o mínimo necessário para a salvação deles, que é morrer por eles para expiar seus pecados? Sem a ação, o desejo por si só é nulo. Querer a salvação de alguém e ao mesmo tempo impedir a salvação de alguém é uma contradição que só pode ser solucionada se ele realmente morreu pelos pecadores, proporcionando-lhes uma oportunidade de salvação.
• Refutando objeções
Uma objeção comum dos calvinistas contra a expiação universal é que, se Cristo pagou o preço por todos, por que nem todos são salvos? A resposta que os próprios calvinistas encontram é que Cristo não pagou o preço por todos, e por isso nem todos são salvos. Os arminianos, sabendo que a explicação de que Cristo não pagou o preço por todos é antibíblica, respondem que a razão pela qual nem todos são salvos é porque é preciso se apropriar da salvação através da fé.
O preço pago por Cristo na cruz proporciona a possibilidade de salvação para todos, o que não haveria caso ele não tivesse pago o preço por nós. Mas é necessário que nós creiamos no que ele fez por nós, para nos apropriarmos pela fé da promessa da vida eterna. A expiação, portanto, é universal, no sentido de que Cristo morreu por todos para disponibilizar salvação a todos, mas nem todos são salvos, porque nem todos creem. Mesmo com Cristo tendo morrido por nós, a fé ainda é completamente necessária para a salvação. Orton Wiley explica isso nas seguintes palavras:
“A expiação é universal. Isto não quer dizer que toda a humanidade será salva incondicionalmente, mas que a oferta sacrificial de Cristo, até certa extensão, atendeu às reivindicações da lei divina, de modo a tornar a salvação possível a todos. A redenção, portanto, é universal ou geral no sentido provisional, mas especial ou condicional em sua aplicação ao indivíduo”[42]
Assim sendo, é verdade que Cristo morreu para a justificação de todos, que a graça de Deus abundou sobre todos e que Ele exerceu misericórdia sobre todos. Contudo, o homem pode rejeitar a graça e recusar-se a crer, o que torna nulo na vida dele o que Cristo fez por ele. Olson fala sobre isso por meio de uma analogia:
“Imagine uma pessoa que é multada por uma corte em mil reais por um mau comportamento e alguém entra e paga a multa. E se a pessoa multada se recusar a aceitar aquele pagamento e insistir que ela mesma pague a multa? A corte irá automaticamente restituir os primeiros mil reais? Provavelmente não. É o risco que a primeira pessoa corre em pagar a multa de seu amigo(a) por ele(a)”[43]
Geisler também usa uma analogia semelhante para chegar ao mesmo ponto:
“Se um benfeitor compra um presente e o oferece livremente a uma pessoa, isso não significa que ela tem de recebê-lo. Igualmente, se Cristo pagou pelos nossos pecados, isso não significa que tenhamos de aceitar o perdão dos pecados pagos com seu sangue”[44]
Olson ainda cita como exemplo a anistia do governo norte-americano aos que fugiram da guerra do Vietnã:
“Apenas um dia após a posse do presidente Jimmy Carter, ele deu prosseguimento à sua promessa de campanha e concedeu perdão total a todos os que resistiram ao recrutamento durante a Guerra do Vietnã ao fugir dos EUA para o Canadá e outros países. O momento em que ele assinou aquela ordem executiva, cada exilado estava livre para retornar aos EUA com a garantia legal de que ele não seria processado. ‘Todos estão perdoados, voltem para casa’, foi a mensagem para cada um deles (…) Ainda que houvesse uma anistia e perdão total, todavia, muitos exilados escolheram permanecer no Canadá ou outros países para os quais eles fugiram. Alguns morreram sem sequer fazer uso da oportunidade de estar em casa com os familiares e amigos novamente. O custoso perdão não lhes fez bem algum, pois ele precisava ser subjetivamente apropriado a fim de ser usufruído objetivamente. Colocando de outra forma, embora o perdão era objetivamente deles, para que pudessem se beneficiar dele, eles precisavam tê-lo aceitado subjetivamente. Muitos não o fizeram”[45]
Da mesma forma que a anistia concedida pelo governo norte-americano precisava ser aceita para ter efeito na vida daquelas pessoas, a expiação precisa ser aceita através da fé por aqueles que desejam ser salvos. É por isso que é a fé que nos justifica (Gl.2:16; Ef.2:8-9; Rm.4:5; Fp.2:9), e não somente o ato da morte de Cristo na cruz. A morte de Cristo possibilita a fé, mas sem a fé não há salvação. A morte de Cristo em nosso lugar não nos salva automaticamente; é preciso se apropriar pela fé dos benefícios dessa expiação.
Geisler também aborda isso, dizendo:
“O pagamento que Cristo fez pelos pecados de toda a humanidade não a salva automaticamente; apenas a tornou passível de ser salva. Ela não aplicou automaticamente a graça salvadora de Deus à vida das pessoas; apenas satisfez a Deus, tornando-o favorável (propício) a eles (Jo 2.2), à espera da fé da parte deles para poderem receber a salvação como dom incondicional de Deus, o que foi tornado possível”[46]
Olson acrescenta:
“Estas objeções presumem que a morte de Cristo, por si só e em qualquer aceitação, automaticamente salva algumas pessoas. Isto não sugere que o arrependimento humano e a fé são supérfluos? Por que Deus exige fé e arrependimento? Os eleitos, presumidamente, são salvos pela cruz antes e à parte de suas respostas ao evangelho”[47]
É por isso que somos salvos a partir de quando cremos, e não a partir de quando Jesus morreu. O fato de Jesus ter morrido nos possibilita a salvação e torna a fé possível, mas, se nos recusarmos a crer, estaremos tão perdidos quanto estávamos antes de crer. Até mesmo os eleitos estavam mortos em seus pecados antes de Cristos os vivificar (Ef.2:1-2), mesmo à luz do fato de que Jesus já tinha morrido por eles. Essa morte só passou a ter valor e aplicação na vida deles a partir de quando eles creram, e se alguém se recusa a crer durante toda a vida não terá essa aplicação por toda a vida.
A consequencia disso é que o que faz com que uma pessoa não seja salva é a resistência dela em crer no que Cristo fez por ela, e não porque Cristo não fez nada por ela. Como disse Paulo César Antunes, “a Bíblia em nenhum lugar afirma que as pessoas se perdem porque Cristo não morreu por elas, mas elas se perdem por causa da incredulidade, por rejeitarem o que Cristo fez na cruz em seu favor”[48].
Por tudo isso, a objeção calvinista de que a expiação universal leva ao universalismo (a crença de que todos serão salvos) é uma falácia. Olson foi preciso quanto a isso quando escreveu:
“Os calvinistas temem que a ênfase humana na universalidade da expiação resulte inexoravelmente em universalismo; se Cristo, na verdade, padeceu os pecados de todas as pessoas, por que é que alguém iria para o inferno? Todos não seriam salvos pela morte expiatória de Cristo? O inferno não seria uma punição redundante? Os arminianos respondem que é exatamente isto que torna o inferno tão trágico – ele é absolutamente desnecessário. As pessoas vão para lá não porque suas punições não foram sofridas por Cristo, mas porque rejeitam a anistia fornecida por Cristo por intermédio da morte substitutiva de Cristo”[49]
• Últimas considerações
A crença na expiação limitada nunca surgiu através de um exame detido das Escrituras, razão pela qual eles possuem quase nenhuma fonte de apoio acerca disso, exceto alguns versículos que, como mostramos, nem de longe favorecem a visão limitada da expiação. Se a expiação limitada é verdadeira, ela passou despercebida pela Bíblia, por todos os Pais da Igreja, por Lutero e até pelo próprio Calvino. Até que um homem, sucessor de Calvino, percebeu que limitar a extensão da expiação era totalmente necessário para dar sentido e ligação às demais crenças calvinistas.
Por isso, a Bíblia não apenas foi revista, mas muitas vezes manipulada, corrompida e flagrantemente adulterada nas tentativas de reinterpretação de textos históricos que sempre foram usados na defesa da expiação universal e que claramente atestam que Cristo morreu por todos. Lutar contra eles, tentando forçar os textos a dizer algo diferente daquilo que eles explicitamente dizem, não melhoram nada – apenas demonstra como alguém é capaz de lutar contra o óbvio.
Como resultado das interpretações manipuladas, o “mundo” não é mundo, o “todos” não é todos, o “querer” não é querer, o “redimir” não é redimir, o “destruir” não é destruir e a palavra “alguns” não existia no vocabulário de Paulo e dos demais escritores neotestamentários. Foi um trabalho árduo a revisão de textos que claramente apontam para a expiação universal, mas, infelizmente, foi onde eles tiveram que chegar para assumir as consequencias de uma doutrina que começa errada, e que termina pior ainda.
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[1] PALMER, Edwin H. Grand Rapids: Baker, 1972, p. 53.
[2] Arno Gaebelein, citado em Fisk, Divine Sovereignty, p. 24.
[3] OLSON, Roger. Teologia Arminiana: Mitos e Realidades. Editora Reflexão: 2013, p. 99.
[4] Comentários sobre Is 53.12.
[5] Comentários sobre Rm 5.15.
[6] Calvin’s New Testament Commentaries, 3:139.
[7] Comentários sobre Hb 9.28.
[8] Kevin Kennedy, “Was Calvin a ‘Calvinist’? John Calvin on the extent of the atonement,” em Whosoever Will: A Biblical-Theological Critique of Five-Point Calvinism, ed. David L. Allen and Steven W. Lemke (Nashville, TN: Broadman & Holman, 2010), p. 198.
[9] Calvins Commentaries: The Epistles of Paul the Apostle to the Galatians, Ephesians, Philipians, and Colossians, p. 308.
[10] Etemal Predestination of God, IX. 5.
[11] Comentários sobre Gl 5.12.
[12] The Mystery of Godliness, p. 83.
[13] Kevin Kennedy, “Was Calvin a ‘Calvinist’? John Calvin on the extent of the atonement,” em Whosoever Will: A Biblical-Theological Critique of Five-Point Calvinism, ed. David L. Allen and Steven W. Lemke (Nashville, TN: Broadman & Holman, 2010), p. 200.
[14] Institutas, 3.1.1.
[15] AMES, William. The Marrow of Theology, p. 156.
[16] John Owen, The Death of Death in the Death of Christ, p. 115.
[17] CRAIG, William Lane. Debate Cristão x Muçulmano. Disponível em: <http://apologiacrista.com/index.php?pagina=1079980198>
[18] CRAIG, William Lane. Debate Cristão x Muçulmano. Disponível em: <http://apologiacrista.com/index.php?pagina=1079980198>
[19] CRAIG, William Lane. Debate Cristão x Muçulmano. Disponível em: <http://apologiacrista.com/index.php?pagina=1079980198>
[20] GEISLER, Norman. Eleitos, mas Livres: uma perspectiva equilibrada entre a eleição divina e o livre-arbítrio. Editora Vida: 2001, p. 158.
[21] GEISLER, Norman. Predestinação e Livre-Arbítrio: Quatro perspectivas sobre a soberania de Deus e a liberdade humana. Editora Mundo Cristão: 1989, p. 90.
[22] OLSON, Roger. Contra o Calvinismo. Editora Reflexão: 2013, p. 180.
[23] OLSON, Roger. Contra o Calvinismo. Editora Reflexão: 2013, p. 221.
[24] Gary L. Schultz, Jr., “Why a Genuine Universal Gospel Call Requires an Atonement That Paid for the Sins of All People”, Evangelical Quarterly 82:2 (2010), p. 115.
[25] OLSON, Roger. Contra o Calvinismo. Editora Reflexão: 2013, p. 259.
[26] OLSON, Roger. Contra o Calvinismo. Editora Reflexão: 2013, p. 226.
[27] GEISLER, Norman. Eleitos, mas Livres: uma perspectiva equilibrada entre a eleição divina e o livre-arbítrio. Editora Vida: 2001, p. 90.
[28] Se alguém tiver mais algum argumento bíblico em favor da expiação limitada, escreva-me para lucas_banzoli@yahoo.com.br. Eu sinceramente tenho expectativas de encontrar mais algum argumento algum dia, para que possa ser refutado.
[29] Arthur Pink. A Soberania de Deus. Editora Fiel. Disponível em: <http://www.monergismo.com/textos/comentarios/joao3_16_pink.htm>
[30] GEISLER, Norman. Eleitos, mas Livres: uma perspectiva equilibrada entre a eleição divina e o livre-arbítrio. Editora Vida: 2001, p. 228.
[31] GEISLER, Norman. Eleitos, mas Livres: uma perspectiva equilibrada entre a eleição divina e o livre-arbítrio. Editora Vida: 2001, p. 229.
[32] GROUNDS, Vernon, in PINNOCK, Clark H. Grace Unlimited. Minneapolis: Bethany House, 1975. p. 27.
[33] De acordo com o léxico da Concordância de Strong, 59.
[34] PICIRILLI, Robert. Grace, Faith, Free Will, p. 136.
[35] SPURGEON, Charles H, apud, Murray, Spurgeon v. Hyper-Calvinism, p. 150.
[36] SPURGEON, Charles H, apud, Murray, Spurgeon v. Hyper-Calvinism, p. 151.
[37] SPURGEON, Charles H, Apud Murray, Spurgeon v. Hyper-Calvinism, p. 150.
[38] OLSON, Roger. Contra o Calvinismo. Editora Reflexão: 2013, p. 210.
[39] OLSON, Roger. Contra o Calvinismo. Editora Reflexão: 2013, p. 230.
[40] Pode ser conferido em: <http://biblehub.com/greek/strongs_599.htm>
[41] GEISLER, Norman. Eleitos, mas Livres: uma perspectiva equilibrada entre a eleição divina e o livre-arbítrio. Editora Vida: 2001, p. 230.
[42] WILEY, H. Orton. Christian Theology. Kansas City, Mo.: Beacon Hill, 1941. v. 2, p. 295.
[43] OLSON, Roger. Contra o Calvinismo. Editora Reflexão: 2013, p. 233.
[44] GEISLER, Norman. Eleitos, mas Livres: uma perspectiva equilibrada entre a eleição divina e o livre-arbítrio. Editora Vida: 2001, p. 93.
[45] OLSON, Roger. Contra o Calvinismo. Editora Reflexão: 2013, p. 232.
[46] GEISLER, Norman. Eleitos, mas Livres: uma perspectiva equilibrada entre a eleição divina e o livre-arbítrio. Editora Vida: 2001, p. 99.
[47] OLSON, Roger. Teologia Arminiana: Mitos e Realidades. Editora Reflexão: 2013, p. 289.
[48] ANTUNES, Paulo César. Objeções à Expiação Ilimitada. Disponível em: <http://www.arminianismo.com/index.php/categorias/diversos/artigos/29-paulo-cesar-antunes/586-paulo-cesar-antunes-objecoes-a-expiacao-ilimitada>
[49] OLSON, Roger. Teologia Arminiana: Mitos e Realidades. Editora Reflexão: 2013, p. 84.
Extraído do Livro: “Calvinismo & Arminianismo”, cedido pela comunidade de arminianos do Facebook.