Todos sabemos que Jesus foi equivocadamente condenado à cruz. O Filho de Deus é santo, nunca pecou. Ele só aceitou essa sentença para cumprir a vontade do Pai e salvar a Humanidade dos seus pecados. Porém, há algo que destaca ainda mais o amor de nosso Senhor por nós. É o fato de que também o julgamento do Mestre foi feito de forma equivocada. Além da injusta sentença, o desenvolvimento do julgamento foi iníquo, tanto se analisado conforme os padrões legais de hoje como da própria época (Mt 26-27; Mc 14-15; Lc 22-23 e Jo 18-19). Porém, Jesus não questionou e se submeteu a tudo por amor a nós.
Erros sobre erros
O primeiro erro do processo foi a sua realização noturna. Jesus foi interrogado à noite por Anás e Caifás, quando na realidade deveria sê-lo durante o dia, para que fosse obedecido o preceito da ampla defesa e publicidade processual. Para parecer legal, o Sinédrio esperou o amanhecer do dia, quando “legalizaram” uma decisão ilícita tomada à noite e levaram Jesus a Pilatos (Mt 27.1-2).
O segundo erro foi o das testemunhas. Testemunhas falsas depuseram contra Cristo. A acusação baseou-se predominantemente nesta frase: “Destruí este templo e eu o reedificarei em três dias“. Jesus, entretanto, referia-se ao próprio corpo e não ao templo de Salomão. As testemunhas torceram as palavras de Jesus (Mt 26.60-61 eJo 2.18-19).
O terceiro erro foi fazer com que o réu voltasse imediatamente a julgamento depois de já ter sido absolvido. Jesus foi absolvido por Pilatos (Lc 23.4), mas acabou voltando a julgamento horas depois, até a condenação final. Em quarto lugar, o Sinédrio era suspeito. Membros do Sinédrio pagaram trinta siclos de prata a Judas Iscariotes para que entregasse o réu (Mt 26.14-16).
Temos ainda o equívoco na duração do processo. O processo de Jesus durou menos de um dia. Ele foi iniciado e encerrado em tempo recorde. O Filho de Deus foi acusado, julgado, absolvido, julgado de novo, condenado e executado em não mais que doze horas. Preso pela meia-noite, foi crucificado ao meio-dia, morrendo às três da tarde.
Não há amor igual
O julgamento foi irregular e inteiramente viciado para levar Jesus à condenação. Foi um dos mais injustos da História. Os judeus são culpados pela condenação de Jesus moralmente e os romanos, juridicamente, já que o Sinédrio tinha jurisdição para julgar, mas não para condenar à morte. Sua competência para tanto fora perdida durante a dominação romana. Só a autoridade romana podia impor a pena capital. No caso, só Pilatos poderia absolver ou condenar Jesus.
Apesar de seu julgamento ter sido feito de forma irregular, o Mestre não reclamou, mas deliberadamente permaneceu em silêncio para cumprir a profecia bíblica. Ele se permitiu sofrer esse processo injusto por amor a nós. Não há amor igual.
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Fonte: Márcio José Schalli (Revista Pentecostes – Janeiro/2001 – CPAD).