Enézio E. de Almeida Filho é pioneiro em TDI (Teoria do design inteligente) no Brasil. Com um pequeno grupo de pessoas, inaugurou em 1998 na UNIMEP de Piracicaba, trabalhos voltados para a divulgação de uma teoria que já havia começado a abalar os alicerces do evolucionismo nos EUA – o Design Inteligente. Enézio é Bacharel em Letras, pela UFAM (Universidade Federal do Amazonas), especializado em Inglês e Literatura Estrangeira, e Mestrado em História da Ciência – PUC-SP. Foi Coordenador do NBDI – Núcleo Brasileiro de Design Inteligente. Presidente emérito da SBDI – Sociedade Brasileira do Design Inteligente, Campinas, SP. Escreve artigos e dá palestra sobre as dificuldades teórico-empíricas das atuais teorias da origem e evolução da vida, divulgando também a Teoria do Design Inteligente como a melhor inferência científica às evidências encontradas na natureza no seu blog Desafiando a Nomenklatura científica (http://pos-darwinista.blogspot.com/). De sua residência ele concedeu essa entrevista ao CACP para falar sobre a TDI e a controvérsia com o evolucionismo.
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CACP: Você testemunha em seu blog que era ateu marxista e evolucionista. O que fez você mudar de ideia?
ENÉZIO: A leitura do livro “A Caixa Preta de Darwin: O desafio da bioquímica à teoria da evolução”, de Michael Behe, em 1998 em Piracicaba, SP.
CACP: O que chamou mais sua atenção na TDI?
ENÉZIO: O seu aspecto teórico minimalista: há sinais de inteligência e eles são detectados na natureza.
CACP: Mas o que dizer de muitos que alegam que ciência e fé cristã estão em conflito?
ENÉZIO: Eu diria que por detrás dessa polarização há uma agenda ideológica blindando a ciência nas suas limitações e o descompasso dos paradigmas colapsantes da origem e evolução do universo e da vida. A ciência moderna é consequência do trabalho de muitos homens religiosos como Bacon (precursor do método científico); Sir Charles Bell; Robert Boyle (precursor da química moderna); Cuvier; Dalton; Joule (o descobridor da primeira lei da termodinâmica); Kelvin; Kepler; Lineu (precursor da taxonomia moderna); Maxwell (formulador da teoria eletromagnética de luz);Mendel (precursor da genética); Newton (o descobridor das leis universais da gravitação);Pascal; Pasteur (formulador da teoria do gérmen) e outros gigantes científicos. A ideologia não faz o cientista, pois há ateus que são bons cientistas!
CACP: Por que uma Teoria do Design Inteligente (TDI)? Qual a relevância dela como proposta científica? Outras teorias não dão conta de explicar a origem da vida?
ENÉZIO: Muita gente pensa que a TDI seja uma teoria antievolucionista. Não é. Por que uma TDI? Porque da falência epistêmica das atuais teorias e modelos sobre a origem e evolução do universo e da vida – elas não explicam aquilo que se propõem explicar. A relevância da TDI é que ela se propõe, como terceira via, demonstrar que as atuais teorias e modelos científicos com seus mecanismos aleatórios e não guiados não são responsáveis por toda a complexidade e diversidade do universo e da vida. A explicação mais plausível é de que há inteligência por detrás desses fenômenos.
CACP: Você acha que a evolução é uma teoria ultrapassada para explicar as origens? Por quê?
ENÉZIO: A teoria da evolução de Darwin através da seleção natural e n mecanismos evolucionários desde a sua incipiência em 1859 não explicou ainda a origem das espécies. Muito menos as variações. Veio o upgrade Darwin 1.0 – Síntese Evolutiva Moderna no século 20 que uniu a genética mendeliana com a proposta darwinista de seleção natural e a genética populacional. Todavia, em 1980 foi considerada uma teoria ortodoxa somente nos livros didáticos, pois no meio acadêmico havia muitos questionamentos sobre sua robustez epistêmica no contexto de justificação teórica. Em agosto de 2015 veio o upgrade Darwin 2.0 – a Síntese Evolutiva Ampliada/Estendida que relegou a seleção natural a segundo plano e incorporou teses neolamarckistas. Uma teoria científica natimorta, pois não considerou a origem da informação genética, aspecto vital para quaisquer teorias evolucionárias.
CACP: Em 2008 o documentário Expelled: No IntelligenceAllowedcaiu como uma bomba demonstrando o “caça às bruxas” que havia no meio acadêmico estadunidense contra quem ousava desafiar a teoria da evolução. Esse episódio tem alguma relação com o nome do seu blog “Desafiando a Nomenklatura Científica”?
ENÉZIO: Essa “caça às bruxas” ainda continua no mundo inteiro contra aqueles que questionam a teoria da evolução em base científica como aqueles foram e são perseguidos academicamente nos Estados Unidos. Eu sugiro aos estudantes e professores simpáticos à TDI a voar abaixo do radar da Nomenklatura científica para não sofrerem sanções e destruição de carreiras como alguns nos Estados Unidos. O nome de meu blog não tem nenhuma relação com esse episódio. É um desafio que faço à Nomenklatura científica desde 1998 apontando as insuficiências epistêmicas fundamentais da teoria da evolução, e propondo e defendendo a TDI.
CACP: Por que a maioria dos cientistas não aceita a TDI. O maior obstáculo é científico-metodológico ou é mero preconceito?
ENÉZIO: Há muita coisa em jogo, prestígio, poder e especialmente a questão paradigmática. Mesmo que uma teoria tenha dificuldades, a comunidade científica continua operando na expectativa de que essas dificuldades sejam sanadas no correr do tempo. Eu não diria que o obstáculo seja científico-metodológico, pois sendo a TDI uma teoria científica histórica de longo alcance, ela tem as mesmas características da teoria da evolução de Darwin. Logo, uma crítica à TDI é, indiretamente e sem conhecimento das teorias históricas, uma crítica à teoria da evolução. Se houver preconceito, ele deve ser motivado por uma agenda ideológica e não científica: se o design na natureza é ilusão é considerado uma proposição científica, afirmar que o design na natureza é real e pode ser detectado também é uma proposição científica que merece ser considerada.
CACP: Críticos da TDI como Richard Dawkins acusam-na de ser “criacionismo disfarçado”. Quais são as semelhanças e diferenças com o chamado “criacionismo bíblico”?
ENÉZIO: Dawkins afirmou no seu livro “O relojoeiro cego” que antes de Darwin era possível ser ateu e que depois de Darwin é possível ser um ateu intelectualmente realizado. Isso não é uma afirmação científica, mas ideológica. O darwinismo pode ter implicações ateístas, mas não depende disso para sua cientificidade. O mesmo se dá com a TDI – pode ter implicações teístas, mas não depende disso para sua cientificidade. Não há semelhanças com a TDI e quaisquer criacionismos: esses se fundamentam em relatos sagrados de criação, a TDI se fundamenta em evidências encontradas na natureza.
VideA Teoria do Design Inteligente não é criacionismo
http://www.comciencia.br/dossies-1-72/presencadoleitor/artigo15.htm
CACP: Se por um lado a TDI não pode ser considerada Criacionismo, ela está mais perto do chamado evolucionismo teísta ou teísmo evolucionário?
ENÉZIO: Pereça tal pensamento! O teísmo evolucionista é péssima teologia e péssima ciência. A TDI é uma terceira via: os processos cegos, aleatórios e não guiados, não explicam a origem e evolução do universo de vida.
CACP: Proponentes da Teoria evolucionista dizem que ela é testável. Há alguma evidência concreta e prática do Design Inteligente. Pode citar alguma área em que se faz pesquisas partindo da TDI?
ENÉZIO: De qual evolução eles estão falando? Microevolução? Sem dúvida nesse sentido a teoria da evolução é testável. Todavia, no tocante à macroevolução – um Australopithecusafarensis se transmutar em Antropólogo amazonense – descendência com modificação/ancestralidade comum, o que há é a aceitação a priori de que isso seja fato, Fato, FATO da evolução, quando as evidências são circunstanciais e frágeis.
Quanto às evidências da TDI, as mais conhecidas são a complexidade irredutível de sistemas biológicos (flagelo bacteriano) de Michael Behe e a informação complexa especificada (DNA) de William Dembski. Essas duas proposições desses teóricos da TDI não foram refutadas, pelo contrário, a literatura científica especializada cada vez mais confirma essas proposições.
São diversas áreas científicas que se pode criar grupos de estudos e pesquisas usando a TDI como referencial teórico:
Detecção de design intencional; Informação biológica; Capacidade evolutiva; Computação evolucionária; Evolução tecnológica (TRIZ); Complexidade irredutível forte de máquinas moleculares e caminhos metabólicos; Design biológico natural e artificial (Engenharia de genética bioterrorista); Design do ajuste fino do ambiente e ecológico; Estratificação Esteganográfica de Informações Biológicas; Ajuste fino cosmológico e coincidências antrópicas; Astrobiologia, SETI, e a busca por uma biologia geral; Estudos da consciência, livre arbítrio e a relação mente-cérebro e Autonomia vs. Direção.
CACP: Como a Igreja pode responder ao desafio atual de trabalhar com temas tão complexos e importantes como a relação entre fé e ciência com os jovens evangélicos?
ENÉZIO: Nas minhas participações em conferências, seminários e workshops Brasil a fora, eu evito abordar questões de fé e ciência, por entender que a questão hoje não deve ser polarizada. A questão é estritamente científica: as atuais teorias e modelos da origem e evolução do universo e da vida são corroboradas no contexto de justificação teórica? Todavia, já que me perguntou, eu sugiro: a Igreja deve dar espaço para uma apologética científica a fim de edificar os jovens, especialmente os ingressantes nas universidades, e demonstrar que há algo muito importante que a Academia não quer debater: seus paradigmas colapsantes!
Os argumentos científicos do DI são tecnicamente corretos, mas como movimento o DI tem pontos negativos, e os cristãos devem estar cientes disso. Sugiro especialmente aos apologistas lerem o que criacionistas reputados (Jonathan Sarfati, Jason Lisle,…) têm escrito sobre esse assunto.