Algumas situações são complicadas de se entender, pois a realidade apesar de evidente não encontra a percepção humana capacitada para o discernimento do real. Verificamos que a realidade é percebida por outros, mas para aquele que é atingido por uma espécie de encanto, não lhe é possível decidir, pois o seu direito de escolha já está sendo executado por outro, que no controle de sua mente estabelece as escolhas que infelizmente nunca serão as melhores, pois ocorreram em função de uma influência que intimida sem se declarar, que aprisiona sem algemar, que escraviza sem se manifestar.
Algumas pessoas mudam completamente quando são aprisionadas por um grande amor. Agem de acordo com os interesses daquele que o manipula. Como marionete, pensa que é Senhor dos movimentos, mas a sua vida é reflexo de outra vida, que de maneira egoísta brinca com o destino da outra, apenas como algo que lhe é interessante, não por um amor verdadeiro, mas por interesses provenientes do uso do poder.
O ser enjaulado tem a sua dimensão geográfica limitada, pois está aquém do seu potencial. Na jaula ele é alimentado, contudo já não tem o prazer de ir ao encontro do alimento, pois o sabor da liberdade não é mais reconhecido, pois o máximo que percebe de liberdade é encontrado na jaula imaginária, que o aprisiona em um estado de transe, que a vontade própria não pode interferir.
A princípio entendemos que este fato ocorre por uma ação maligna, nunca esperamos que tal situação ocorra conosco, contudo aquele que se vê neste estado, assim se encontra, quando permitiu a sua privacidade averiguada por alguém que lhe inspirou confiança. As coisas foram acontecendo com um aprofundamento no relacionamento, até o momento que se torna uma dependência, onde se encontra no enjaulado, o prolongamento da vontade alheia.
Relacionar-se ou não? É um perigo que corremos, entendendo que relacionamento é fazer-se conhecido pelo outro, é baixar a guarda e mostrar-se sem hipocrisia. É trabalhar para o sucesso do outro, zelando por sua imagem. Quando agimos desta maneira travamos relacionamentos saudáveis, pois não precisamos de máscaras e não temos medo de sermos vistos como pensamos que somos.
Gostaria de trazer este tema para a vida espiritual, quando estaremos servindo a homens, mas crendo verdadeiramente servir a Deus. Quando a palavra de Deus, não encontra respaldo para corrigir, pois aquilo que é abominação é interpretado por uma nova visão, onde aquilo que se prega fala do pecado do outro, mas nunca da nossa real necessidade de voltar para o centro da palavra, onde Deus é quem rege a história e não o homem, o mundo, ou o diabo.
Em um dado momento da vida dos apóstolos eles se viram amedrontados com as figuras dos doutores da lei. Homens que de uma forma inquestionável, dominavam a religião em Israel. A igreja estava crescendo e pregar o evangelho, era se levantar contra a lei de Moisés, pois para os religiosos a figura de Moisés era insuperável, eles já possuíam o seu ícone, Jesus não poderia competir com a história de Moisés, pois nesta estória, outros já haviam feito doutorado e não estavam dispostos ao questionamento da sua teologia. Normalmente é assim, estamos sujeitos a uma teologia e a teólogos experimentados, quando questionamos a teologia encontramos homens que lutam mais pelo controle das pessoas, do que pelo desejo de expor a sua verdade, pois de uma forma ou de outra elas aprendem a controlar mentes através daquilo que as pessoas passam a defender como correto.
Verificamos que os apóstolos não se sujeitaram à escola farisaica, mas a escola do Espírito Santo, onde a revelação de Deus precisa ser verificada pelas escrituras, sendo o indicador de controle de qualidade, uma palavra que nunca vai além daquilo que está escrito e aquilo que está escrito nunca se submete à tradição que invalida as escritura.
A figura do líder religioso é tão forte quanto a figura de Deus, pois aquilo que se conhece da divindade é projetado na figura daquele que se coloca como profeta e arauto da revelação superior, pois o indivíduo religioso espera a manifestação do alto por aqueles que ministram diante do altar.
A mística da religião, como um passe de mágica conduz as massas, indiferente a classe social, nível intelectual ou raça, as atitudes coletivas mais bizarras ou louváveis. Verificamos atitudes inconcebíveis biblicamente sendo realizadas por pessoas inteligentes e cultas tanto quanto por pessoas limitadas intelectualmente e com pouco nível de conhecimento apreendido. Estes líderes exercem uma espécie de domínio que move as massas inclusive a intolerância e as guerras e tudo isto sendo feito em nome de Deus.
Os apóstolos lutaram contra a verdade estabelecida pela religião do Estado. Quando isto aconteceu foram enjaulados e provaram no cárcere o livramento de Deus, mostrando que nem as cadeias podem impedir a liberdade da pregação da palavra, pois esta não se submete à intimidação dos líderes que escravizam a massa popular ignorante. As escrituras mostram que o dito popular que diz ser a voz do povo a voz de Deus, não é correto, pois o povo pediu a crucificação de Jesus em detrimento da liberdade de Barrabás.
Os líderes da época açoitaram os apóstolos e proibiram que eles pregassem no nome de Jesus, mas os apóstolos deixaram claro que antes importa obedecer a Deus do que os homens.
Acredito que o homem enjaulado na religião, não percebe esta característica do servo de Deus: Antes se submete a Deus do que aos homens. Não estou estabelecendo a rebelião diante dos profetas do Senhor, mas o averiguar da profecia, pois a meditação naquilo que sai da boca daquele que profere o assim diz o Senhor, precisa ser uma atitude de maturidade, pois o Senhor mesmo nos admoesta a averiguar as escrituras e provar o espírito da profecia, precisamos valorizar o homem de Deus, mas sem colocá-lo no patamar da mentira, pois o único infalível , segundo as escrituras é o Senhor Jesus, este não tem quem possa acusar de pecado.
Os apóstolos não deixaram se enjaular pelos profetas da lei, antes tiveram as suas vidas ameaçadas, mas não cederam a intimidação causada pelos fariseus. As pessoas presas às religiões não percebem mais a verdade das escrituras, pois aprenderam a pensar pela religião e não segundo aquele que diz que nós não seríamos como a mula que necessitássemos de cabrestos, mas que seríamos instruídos pelo próprio Deus.
Paulo declara que a nossa atitude não deve ser para as vistas, como se estivéssemos mostrando a homens a nossa fé, mas como servos de Cristo, fazendo de coração para agradar a Deus e neste ponto precisamos definir até onde a religião tem enjaulado as pessoas ao agrado dos homens, mas nada sendo feito para o louvor e a glória de Deus. Tudo que não é feito por fé é pecado, portanto o agir precisa ser movido por uma atitude que muito embora transcenda o natural, também é racional, pois não elimina a investigação das escrituras, que é lâmpada para os nossos pés e luz para os nossos caminhos. A fé não exclui a inteligência e a razão, pois é por raciocinar nas verdades de Deus, que percebemos o quanto à pessoa humana é falha e sujeita a síndrome que se estabeleceu com lúcifer primeiramente.
Que Deus possa livrar os profetas da atualidade da tentação de querer agradar aos homens ao deixar-se iludir pela mídia, pelas luzes dos mega eventos, pelos dízimos e ofertas. Que não se aproveitem da fragilidade das ovelhas, para influenciarem o inconsciente daqueles que se abriram por completo, por reconhecerem em seus guias a pessoa infalível de Deus. Que a glória seja do Senhor, que a honra seja do Senhor e principalmente, que as ovelhas sejam apascentadas para o Senhor.
por Carlos Alberto Siqueira