Resposta ao artigo “A Profetisa que não Falhou”
“Ellen White com suas visões confirmou a marcação de datas para a volta de Jesus?”
A análise deste artigo será dividida em dois momentos: primeiro analisaremos o contexto histórico em que viveu Ellen White; e num segundo momento faremos uma análise contextual literária do livro “Primeiros Escritos”, onde se encontra a menção sobre a data da volta de Jesus recebida na primeira visão, e só então volveremos nossa atenção às objeções de Leandro Quadros.
O contexto histórico geral
Para entender o contexto histórico no qual viveu EGW, faz-se necessário verificar o Zeitgeist (espírito da época) religioso do século dezenove. “Cada século tem um espírito que o caracteriza”, dizia Diderot.
O imaginário religioso popular dos EUA em 1800 ajudará a entender mais claramente as implicações diretas para a marcação de datas pelos adventistas, lançando luz nas declarações de EGW sobre o “dia e a hora” da vinda de Cristo.
Massachussets: o berço do messianismo e millerismo popular
William Miller nasceu em Massachussets, EUA, em 1782. Das 13 colônias americanas, Massachussets, foi a primeira e a mais importante das 4 colônias do norte, chamadas de Nova Inglaterra. Essas colônias foram povoadas por pregadores religiosos. Especialmente Massachussets, fora ocupada por colonos puritanos (calvinistas) que fugiam da perseguição religiosa na Inglaterra. Os puritanos que povoaram Massachussets instalaram uma verdadeira teocracia.
Para Henri Desroche (1957 Apud QUEIROZ, 1976), a grande crise de 1837 foi a responsável pelo surgimento da efervescência religiosa na época de Miller. Esse contexto histórico conturbado, econômica e socialmente irá afetar diretamente o campo religioso e refletir na fundação de comunidades messiânico-milenaristas.[1]
Desroche assinala ainda algumas características gerais desse movimento:
- a) Reivindicavam certa primazia de iluminação interior e do Espírito Santo, predominando não apenas sobre a Tradição, mas também sobre as próprias Escrituras;
b) Pregavam que a Revelação não poderia estar terminada e que, portanto, uma nova era, a era do Espírito, reclamava novos profetas e os forneceria;
c) Propunham, finalmente, realizar a Igreja como um mundo dentro do mundo, e sua recusa de relações com os poderes estabelecidos tinha por corolários a obrigação, para a sua Igreja, de se transformar mais ou menos numa autarquia econômico-política. [2]
O contexto histórico de Ellen White: videntes e profetas
Os EUA, entre os séculos dezessete e dezenove, serviram como um grande laboratório de experiências espirituais de várias comunidades religiosas. Nesta época, surgiram vários videntes, profetas, sonhadores e curadores populares que atraíam muita atenção. Alguns nomes proeminentes são: Emanuel Swedenborg (1688-1772); Ann Lee e os Shakers (1736-1784); Sra Joanna Southcott (1750-1814); Joseph Smith (1805-1844); Mary Baker Eddy (1821-1910); Rebecca Jackson; Jemima Wilkinson; John Starkweather e John Alexander Dowie.
Em meados de 1800 a atmosfera da Nova Inglaterra ainda respirava o “entusiasmo” religioso do século passado e o efeito dos seus dois grandes avivamentos.
O Tratado de Teologia Adventista do Sétimo Dia (2011) confirma que “O princípio do século 19 na América do Norte foi um tempo de grande fervor religioso […] ‘A profecia era a força motivadora por trás de grande parte do pensamento e da atividade religiosa’ do período (PFOF, 4:85)” (Tratado de Teologia: Adventista do Sétimo Dia. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2011, p. 2)
A “profetisa” dos adventistas nasceu e cresceu nesta atmosfera de videntes e profetas. William Foy, o profeta negro, era um dos visionários que EGW admirava. Seu pai a levou para ouvi-lo algumas vezes. As visões de Foy devem tê-la impressionado muito, pois algumas das visões relatadas por ele se assemelham muito às da Sra. White. Havia muitos outros profetas e visionários contemporâneos de EGW, como Hazen Foss (irmão de seu cunhado), a Sra. Clemons; a Sra. Mary Woodworth-Etter e mais tarde a jovem Ana Rice Philips, que rivalizou por algum tempo com EGW na posição de profetisa da denominação.[3]
É interessante notar que justamente o grupo da “porta fechada” na cidade natal de Ellen Harmon, Portland (Maine), do qual ela mesma fazia parte por anos, era o mais fanático a ponto de Joshua Himes, um adventista, escrever uma carta a Miller mencionando sobre como as coisas estavam perdendo o controle naquela região. Um negro por nome Houston e a Sra. Clemons, que alegavam que Deus falava com eles por meio de visões, eram de lá. Miller, por causa do fanatismo prevalecente, migrou para o grupo adventista da “porta aberta”.
EGW era só mais uma no turbilhão de visionários: “Para eles, ela não passava de uma garota de 17 anos que alegava ter visões no meio das vozes conflitantes de um adventismo da porta fechada literalmente devastado por uma multidão de pessoas afirmando terem dons carismáticos” (Knight, 2011, p. 66 – grifo nosso)
Esses visionários geralmente apresentavam algumas das seguintes características:
- sentiam que Deus os haviam chamado para uma missão;
- recebiam visita de seres angelicais;
- tinham visões e sonhos prognósticos e;
- algumas vezes colocavam estas revelações em forma escrita.
É difícil não imaginar que uma menina de 17 anos, com complexo de inferioridade, não se espelharia nestes personagens carismáticos. É quase certo que ela via na “carreira” profética uma chance de ascender a status maiores dentro do movimento e assim compensar sua baixa autoestima.[4]
A marcação de datas como característica do movimento milerita
Se a função de profetas e videntes servia como status para a dominação carismática, a marcação de datas era um dos bens simbólicos mais legitimadores dessa dominação. Marcar datas conferia ao profeta domínio sobre os mistérios divinos e captava o fascínio dos leigos. O frenesi para marcação de datas encontrado em meados de 1800 nos EUA foi algo jamais visto na história da América, talvez a popularização da matemática nessa época tenha contribuído para tanto (Knight).
Seja como for, o certo é que tanto os de fora do movimento; quanto os de dentro da fileira daqueles que formariam a coluna dorsal do adventismo do sétimo dia, inclusive EGW, fizeram suas profetadas em cima da marcação de datas.[5]
George R. Knight, historiador adventista, confirma nosso ponto de vista ao dizer que “Marcar datas não era um costume novo na América do Norte. Alguns de seus mais proeminentes teólogos haviam estabelecido datas para o início do milênio. Jonathan Edwards (1703-1758) havia predito o acontecimento para 1866; e Cotton Mather (1663-1728) havia sugerido 1797, depois 1716 e finalmente 1736.” (Knight, 2011, pp. 37,38)[6]
A questão é tão evidente que não há mais como ser honesto com os fatos e negar que os adventistas, mesmo depois do fiasco 1843/1844, continuaram a marcar datas para a volta de Jesus! Observe o que escreveu Knight há pouco citado:
“H.H. Gross, Joseph Marsh e outros marcaram datas em 1846 e, quando o ano passou, Gross descobriu novas razões para esperar Cristo em 1847 […] Tiago White também foi seduzido pela marcação de datas. Até setembro de 1845, pelo menos ele cria que Jesus voltaria em outubro. Bates também participou da marcação do tempo […] Ele [Jesus] voltaria em outubro de 1851” (Ibidem, pp. 83,84 – grifo nosso)
Knight não disse, mas dentro destes muitos “outros” que marcaram datas, podemos citar o nome de George Storrs que introduziu a heresia do aniquilacionismo e ajudou a formular o arranjo para 1844, mas ele também foi mentor e amigo de outro famoso marcador de datas – Charles Russell – fundador das Testemunhas de Jeová.[7]
A senhora EGW estava entre esses marcadores de datas. Mas há outros fatores que ajudaram a estimular as visões de EGW para a marcação de datas, um deles tem a ver com a famigerada doutrina da “porta fechada”.
O problema da porta fechada
Outro fator que corrobora com o argumento de que EGW, com suas visões, ajudou a marcar datas para a volta de Jesus é sua crença na doutrina da porta fechada.
A doutrina da porta fechada, ao que parece foi propagada primeiro por Guilherme Miller. Essa crença surgiu da interpretação equivocada da parábola das virgens, em que no final narra que o noivo entrou e “fechou a porta” (cf. Mt 25.10), deixando de fora as virgens néscias. A expressão indicava então que o tempo da graça havia acabado. As pessoas, mesmo se quisessem, não poderiam mais se salvar. A única obra a fazer era reunir os crentes do advento de 1844 e fortificá-los (um número restrito de 144 mil) e esperar a volta de Jesus. A tarefa então era ir atrás daqueles crentes de 1844 até formar um grupo de 144 mil adventistas e então trabalhar neles as novíssimas “revelações” recebidas sobre o sábado, o juízo investigativo, a imortalidade condicional, etc.
A própria profetisa admite que fez parte do grupo da porta fechada: “Por algum tempo depois da decepção de 1844, mantive, juntamente com o corpo do advento, que a porta da graça estava para sempre fechada para o mundo. Este ponto de vista foi adotado antes de minha primeira visão.”(Mensagens Escolhidas. Vol 1, 1985, p.63)
Essa doutrina era tão ardorosamente defendida que a Associação Geral dos Mileritas, reunida em Boston em 1842, chegou a declarar que “a ideia de um tempo de graça após a vinda de Cristo é um engodo para destruição…” (Knight, 2011, p.56)
EGW admite que o grupo esperava a volta de Jesus para aquela época: “É verdade que o tempo tem prosseguido mais do que esperávamos nos primeiros tempos desta mensagem. Nosso Salvador não apareceu tão depressa como esperávamos”. (Mensagens Escolhidas. Vol 1, 1985, p.67)
É fato que, tanto James White quanto Joseph Bates e outros, continuaram a acreditar na “porta fechada da graça” até a década de 1850.
Em 1847 Bates escreve o seguinte: “A porta aberta de Paulo, então, era a pregação do evangelho aos gentios. Feche-se esta porta, e a pregação do evangelho não terá nenhum efeito. Isto é exatamente o que dissemos que ocorre. A mensagem do evangelho terminou no tempo assinalado com a terminação dos 2300 dias [em 1844]; e quase todos os crentes honestos que estão observando os sinais dos tempos o admitirão.” (Joseph Bates, Second Advent Waymarks, 1847, pp. 97-110)
Referindo-se à questão da crença da porta fechada, Knight (2011) afirma que “Foi somente no início da década de 1850 que eles chegaram a uma posição harmônica sobre o assunto” (p. 85)[8]
Apesar de EGW negar as acusações de ter tido um visão de que a porta havia se fechado, ela não desmente a acusação da senhora Burdick, sua contemporânea, que escreveu uma carta formal e aberta relatando as falsas visões e marcação de datas pela “luz menor”.
Veja como EGW nega ter tido visões sobre a porta fechada: “Nunca, porém tive uma visão de que não se converteriam mais pecadores. E acho-me limpa e livre para declarar que ninguém me ouviu nunca dizer ou leu de minha pena declarações que os justifiquem nas acusações que eles me têm feito quanto a esse ponto.” (Mensagens Escolhidas, Vol. 1, p. 70 – e-book)
Mas observe a forma sutil com que o Centro de Pesquisas Ellen G. White admite que EGW teve a visão da porta fechada, contradizendo sua profetisa: “Mesmo que a jovem Ellen Harmon aparentemente cresse a princípio que suas visões confirmavam a posição da porta fechada, ela mais tarde percebeu que este não era o caso. No entanto, ela continuou afirmando consistentemente que a porta fora fechada para aqueles que resistiram às suas convicções honestas rejeitando a mensagem de advertência.” (A Verdade sobre The White Lie, p. 24 – grifo nosso)[9]
Não é para menos, veja o que ela mesma afirmou: “O Senhor me mostrou em visão, que Jesus se levantou e fechou a porta, e adentrou o Santo dos Santos, no [décimo dia do] sétimo mês de 1844”. (A Word to the Little Flock, p. 12, maio de 1847)
Dois anos depois ela escreveu: “A excitação e a falsa reforma deste dias não nos atraem, pois sabemos que o mestre da casa se ergueu em 1844 e fechou a porta do primeiro compartimento do tabernáculo celestial. E agora nós aguardamos com certeza que eles virão com seus rebanhos, para buscar o Senhor, mas não o acharão. Ele se ocultou deles. O Senhor me mostrou que o poder deles é uma mera influência humana, e não o poder de Deus” (The Present Truth – março de 1850, p. 8)
A doutrina da porta fechada serve como pano de fundo e fortalece a evidência de que EGW com suas visões ajudou a marcar datas para a volta de Jesus. É fácil entender: já que a porta da graça havia se fechado não restava mais nada a fazer a não ser esperar a volta de Jesus para aqueles dias.
O problema da omissão das visões originais
Há o problema de omissões inteiras ou em parte dos verdadeiros “primeiros escritos” e visões de EGW que mencionavam as visões da porta fechada.
Em 1951, Tiago White manda publicar um livretinho de 64 páginas com as supostas primeiras visões de Ellen White, intitulado A Sketch of the Christian Experience and Views of Mrs. E. G. White. Entretanto, ele fez uso seletivo das visões de EGW e deixou de fora justamente aquelas visões comprometedoras que diziam respeito ao tema da porta fechada.
É claro que essas omissões não passariam despercebidas. EGW conta como seu marido resolveu a questão.
“…o Pastor Hart referiu-se a um folhetinho que fora publicado com as visões da irmã White, e disse que, ao que sabia com certeza, algumas visões não haviam sido incluídas. Perante grande auditório, ambos esses irmãos falaram vigorosamente quanto a perderem a confiança na obra.[…] Meu marido passou o folheto ao Pastor Hart, e pediu-lhe que lesse o que estava escrito na página do titulo. ‘Esboço da Experiência Cristã e das Visões da Sra. E. G. White’, leu ele […] meu marido explicou que havíamos estado com muita escassez de meios, e só pudéramos publicar a princípio um folhetinho, e prometeu aos irmãos que quando fossem arrecadados recursos suficientes, as visões seriam publicadas mais completamente, em forma de livro […]O pai Butler disse: “Irmão White, perdoe-me; temi que nos estivésseis ocultando parte da luz que devíamos ter.” (Mensagens Escolhidas, Vol. 1 2005, p. 53 – grifo nosso)
É claro que essa promessa nunca foi cumprida. O livro intitulado atualmente de “Primeiros Escritos” é uma versão expandida deste folheto. Mais tarde ela mesma confessa que havia “perdido” seus primeiros escritos verdadeiros:
“…perdi todos os vestígios das obras primeiramente publicadas. Quando se decidiu publicar Early Writings em Oakland no ultimo outono, fomos obrigados a mandar tomar emprestado em Michigan um exemplar de Experience and Views. E assim fazendo julgávamos obter uma cópia exata das primeiras visões como haviam sido publicadas a princípio. Esse exemplar reeditamos, como se declara no prefácio de Primeiros Escritos, apenas com mudanças verbais da obra original. E detenho-me aqui para declarar que quem quer que entre nosso povo esteja de posse de um exemplar de qualquer ou de todas as minhas primeiras visões, tais como foram publicadas antes de 1851…” (ibidem, p. 60)
Essas obras possivelmente seriam Word to the Little Flock e Present Truth, onde constavam suas visões sobre a porta fechada.
Mais tarde um pastor por nome A. C. Long publicou um tratado de dezesseis páginas intitulado Comparison of the Early Writings of Mrs. White with Later Publications [Comparação dos Primeiros Escritos da Sra. White com Publicações Posteriores]. Nessa publicação, o Pr. Long mostra, linha após linha, que partes dos escritos da Sra. White foram eliminadas.
Omissões se tornaram um método muito eficaz quando se desejava eliminar ensinamentos polêmicos de seus livros “inspirados”. Observe o que ela fez com o comprometedor ensinamento sobre o amálgama:
“Quanto aos dois parágrafos que se encontram em Spiritual Gifts e também em Spirit of Prophecy, relativamente ao amálgama e a razão por que foram omitidos dos livros posteriores, e a questão de quem assumiu a responsabilidade de omiti-los, posso falar com perfeita clareza e convicção. Eles foram omitidos por Ellen G. White […] Em todas as questões desse tipo, pode-se ter toda a certeza de que a irmã White foi responsável pela omissão ou pelo acréscimo de assuntos dessa natureza nas edições posteriores de nossos livros.” (Mensagens Escolhidas, vol.3 p. 421)
Por que escritos contendo as verdadeiras “primeiras visões” de EGW precisariam ser eliminados? Simples: a visão da porta fechada colidia frontalmente com o novo ensinamento adventista e novas visões recebidas sobre a “porta aberta”. Ora, como Deus poderia dar uma visão sobre a “porta fechada” e tempos depois falar que na verdade essa porta nunca esteve fechada? Deus não é Deus de confusão! A solução encontrada foi negar e omitir escritos que continham as primeiras visões que confirmavam a porta fechada.
O problema de não ser reconhecida como profetisa no começo do movimento.
Muitos não sabem, mas EGW não obteve muito êxito como vidente nos primeiros anos pós 1844. Na verdade, ela enfrentou oposição tanto dos de fora quanto dos de dentro do movimento. Observe as declarações a seguir:
“Nenhum escritor do Review nunca se referiu a elas [as visões] como autoridade sobre nenhum ponto. Por cinco anos, a Review não publicou nenhuma delas.”(Tiago White, “The Gifts of the Gospel Church,” Review 4 (9 June 1853): 13; J. W., “A Teste,” Review 7 (October 1855): 61.)
Em uma reunião do movimento em 1845 ficou resolvido que “não confiamos em quaisquer novas mensagens, visões, sonhos, línguas, milagres, dons excepcionais, revelações, impressões, discernimento de espírito ou ensinos, que não estejam de acordo com a imutável palavra de Deus.” (Conference Of Adventists At New York. Commencing May 6th. Adventist Herald, 21 de maio de 1845, p. 118)
“Não posso respaldar as visões da irmã Ellen como se fossem de inspiração divina, como o irmão e ela creem …. Creio que o que ela e o irmão consideram visões do Senhor são apenas sonhos religiosos, nos quais sua imaginação corre solta sobre temas nos quais ela está sumamente interessada. Enquanto assim absorta nesses sonhos, permanece alheia a tudo o que lhe ocorre ao redor.” (Tiago White, Word to the Little Flock, p. 22, 1847)
Isaac Wellcome, um ministro adventista que presenciou várias das primeiras visões, descreve-as como segue:
“Ellen G. Harmon… estava estranhamente inquieta em corpo e mente… caindo sobre o soalho… (recordamos que a seguramos duas vezes para impedir que caísse sobre o piso)… Nas reuniões falava com grande veemência e rapidez até que caía; nesse momento, como ela afirmava, eram-lhe mostradas maravilhosas cenas do céu e o que sucedia ali. Afirmava haver visto que Cristo tinha deixado o ofício de mediador e assumido o de Juiz, havia fechado a porta da misericórdia, e estava apagando os nomes do livro da vida…. Vimo-la em Poland, Portland, Topsham e Brunswick durante o começo de sua carreira, e a ouvimos falar amiúde, e a vimos cair várias vezes, e a ouvimos relatar maravilhas que dizia que seu Pai celestial lhe permitia ver. Suas visões sobrenaturais ou anormais não foram entendidas em seguida como visões, mas como cenas espirituais de coisas invisíveis, o que era bastante comum entre os metodistas…. Essas visões não eram senão os ecos do Pr. [Joseph] Turner e a pregação de outros, e as consideramos como resultado da sobre-excitada imaginação de sua mente, e não como fatos”. – Isaac Wellcome, History of the Second Advent Message (Yarmouth, Maine: Advent Christian Publication Society, 1874); Jacob Brinkerhoff, The Seventh-day Adventists and Mrs. White’s Visions (Marion, Iowa: Advent and Sabbath Advocate, 1884), 4-6.
Ela mesma confirma as objeções ao seu ministério de vidente ao dizer: “Não demorou muito, se espalhou ao redor que as visões eram resultado de mesmerismo […] Se eu tinha uma visão em reuniões, muitos diziam que era uma perturbação e que alguém me havia magnetizado” (Primeiros Escritos p. 44)
E ainda: “Estou ciente da incredulidade existente no espírito das multidões com respeito às visões, como também de que muitos que professam estar aguardando a Cristo e ensinam que estamos vivendo “nos últimos dias” consideram-nas como vindas de Satanás.” (Primeiros Escritos p. 95)
Ellen White não havia ainda ganhado fama entre os adventistas da primeira fase, portanto vivia na sombra de seu esposo. Suas visões refletiam apenas as doutrinas que seu esposo ensinava. São visões post facto, servindo como confirmações de doutrinas já existentes como, por exemplo, a do santuário e do juízo investigativo.
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[1] QUEIROZ, Maria Isaura Pereira de. O messianismo no Brasil e no mundo. 2. ed. São Paulo: Alfa-Omega, 1976.
[2] Ver ainda José Jeremias de Oliveira Filho. A Obra e a Mensagem: Representações simbólicas e organização burocrática na Igreja Adventista do Sétimo Dia, FFLCH-USP, 1972, cap. 1. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142004000300012 .
[3] Ver Rebok. Crede em seus profetas. 1998, p. 100.
[4] Ver ainda a declaração de que “Atualmente o Patrimônio White tem conhecimento de cerca de 35 a 40 supostos profetas no seio da Igreja Adventista ao redor do mundo, mas certamente há muito mais” (Espírito de profecia: orientações para a Igreja remanescente / Renato Stencel, (org.). Engenheiro Coelho, SP: Unaspress – Imprensa Universitária Adventista, 2012. p. 42).
[5] É bom frisar que nem todos que marcaram datas se denominavam profetas ou possuía todas as características descritas acima e vice-versa.
[6] Acrescento ainda os nomes de Benjamin Keach, pregador batista, que previu o fim do mundo para 1689 e o fundador metodista, Charles Wesley, que marcou o fim para 1794 e depois 1836.
[7] A IASD continuou tendo seus marcadores de datas durante muito tempo como Anna Garmire na década de 1880 que marcou a volta de Jesus para 1884 e Margareth Rowen que esteve influente nessa igreja de 1910 a 1920, marcou a volta de Jesus para 06 de fevereiro de 1925 (Espírito de profecia: orientações para a Igreja remanescente / Renato Stencel, (org.). Engenheiro Coelho, SP: Unaspress – Imprensa Universitária Adventista, 2012. pp. 41,42). A própria EGW declara “com relação a um homem que estava marcando tempo em 1884” (Mensagens Escolhidas vol. 1 p. 181) Ver ainda “Sonhos e Visões” sobre a adventista francesa Jeanine Sautron que marcou a volta de Jesus para 2005.
[8] Veja ainda as declarações de Tiago White e Joseph Bates em Present Truth, vol. 1, nº 10, maio 1850; Advent Review extra, novembro 1850, Vol. 1. No. 5 e Palavra ao Pequeno Rebanho,p. 21.
[9] Disponível em: http://centrowhite.org.br/perguntas/perguntas-sobre-ellen-g-white/a-verdade-sobre-the-white-lie-a-mentira-branca/
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