Resposta ao artigo “A Profetisa que não Falhou”
Leandro Quadros é surpreendente, um verdadeiro garoto prodígio. Não estou falando de algum tipo de originalidade teológica ou alguma genialidade apologética fora do comum. Obviamente não se trata disso. O que me surpreende em Quadros é sua coragem e insistência em defender o indefensável. Estou me referindo à sua pretensa refutação ao artigo do pastor Natanael Rinaldi “A profetisa que falhou”.[1]
Depois que as pesquisas esmagadoras da obra “The White Lie”, do ex-pastor adventista Walter Rea, demoliram por completo a credibilidade de Ellen White como pretensa “mensageira do Senhor”, é quase impossível qualquer tipo de defesa nessa direção. As verdades que vieram à tona trouxeram evidências incontestáveis sobre a falsa “inspiração” de seus escritos, desmascarando-os como plágios grosseiros.[2]
Somente por meio de uma retórica viciada é que mentes tão crédulas se aventurariam a resgatar de novo toda a mística de “profetisa” criada em torno dela.[3] Mas é compreensível a tentativa de defesa. Afinal, Ellen White dá muito lucro para a igreja adventista – lucro financeiro e ideológico.[4]
Ellen White funciona como um eixo agregador dos valores simbólicos criados historicamente dentro dessa igreja. É a figura da grande mãe, o amálgama do mito com o ídolo, quase indistinguível.
Leandro Quadros, com esteio no entendimento de seus antecessores, se engaja na heroica missão de defender sua profetisa, mas começa mal. Sua mira se move primeiramente contra o pastor Natanael Rinaldi, pessoa idônea, de honestidade inquestionável e moral ilibada.[5]
Mas não para Quadros. Ele joga com a hipótese de “desonestidade” e se queixa que houve “descontextualização” nas pesquisas de Rinaldi fruto de um pretenso “desconhecimento” da relação dos escritos de sua profetisa com a Bíblia e para provar, apresenta três motivos, os quais serão analisados separadamente no próximo artigo.
Particularmente, cada vez que leio os livros de líderes de seitas, tais como Kardec, Joseph Smith ou o Corpo Governante das TJ ou de alguns de seus prosélitos, aumenta a minha convicção de que estou diante de uma grande fraude e de um esforço enorme por parte de seus discípulos para esconder uma tremenda farsa. Em que pesem as evidências em contrário, eles prosseguem, camuflando a mentira, maquiando os fatos, cauterizando a consciência e alienando-se cada vez mais da verdade, construindo para si uma verdadeira dissonância cognitiva. Confesso que com Ellen White não é diferente.
Mas por que todo esse esforço e energia gastos na IASD para defender algo que se mostra falso desde os seus fundamentos? Por que se empenhar em defender Ellen White quando muitos já provaram a falsidade de suas pretensões? Creio que o livro “101 Perguntas sobre o santuário e Ellen White”, do escritor adventista Robert W. Olson, responde a pergunta. Olson coloca a questão na seguinte perspectiva: “Se Cristo não iniciou um ministério que consistia no juízo investigativo no Céu em1844, e se Ellen White não foi a mensageira escolhida por Deus, a Igreja Adventista do Sétimo Dia perderia dois ensinos que a identificam como um movimento profético, suscitado por Deus a fim de preparar o caminho para o segundo advento de Cristo.” (Olson, p.6 – grifo nosso)
Percebeu? É necessário defender Ellen White, pois sem ela a IASD desaba, não possui legitimidade profética. A identidade e provável sobrevivência da IASD dependem dela.[6] Ou como colocou muito acertadamente o pastor Natanael Rinaldi: “é a galinha dos ovos de ouro da Igreja Adventista”.
A figura dessa mulher exerce um domínio tão forte entre esse povo que muitos atrelam sua identidade denominacional à crença em sua pessoa. Observe o que disse certo adventista:
“Acredito ainda que ser adventista sem aceitar a autoridade profética de EGW em questões como adoração, alimentação, conduta pessoal ou qualquer área da vida cristã é não ser autenticamente adventista. Melhor seria adotar outra confissão cristã. Sei que se trata de uma decisão particular. Porém há um efeito dominó: quem rejeita os escritos de EGW, logo passará a descrer de outros aspectos da fé adventista (o juízo pré-advento se iniciando em 1844, o sábado, a reforma de saúde, etc). Até que ponto seria possível ser adventista sem crer nessas coisas?”[7]
Poderíamos falar sobre os plágios ou, como dizem, (sic) “empréstimos literários”, o tipo de inspiração que ela reivindicou para si, seus conselhos estranhos sobre saúde e moda, seus erros teológicos e contradições. Isto faremos em outra ocasião. Entretanto, o propósito deste estudo e objeto de nossa discussão aqui se resume na seguinte pergunta: Ellen White foi uma falsa profetisa? Ela fracassou em suas predições? Ou como colocou Leandro Quadros em uma das suas “defesas”: “Ellen White foi uma falsa profetisa ou os que a acusam é quem são falsos?”.
Antes de expormos o espírito (por trás) da profecia, precisamos saber se Ellen White reivindicou o título de profetisa. Pois bem, devo admitir que formalmente ela não reivindicou tal coisa. Fez pior. Foi mais longe, se autoproclamou “a mensageira do Senhor”. Algo que incorpora também a função de profetisa, mas que ultrapassa em muito o simples profetizar. Bem, deixemos que ela mesma nos diga:
“Eu disse que não pretendo ser profetisa. Não me pus perante o povo reclamando esse título, se bem que muitos me chamassem assim […] Por que não tenho eu pretendido ser profetisa? – Porque nestes dias muitos que ousadamente o pretendem são uma vergonha para a causa de Cristo e porque minha obra inclui muito mais que a palavra ‘profetisa’.” (The Review and Herald de 26 de junho de 1906, apud Rebok, 1998, p. 72)
O livro “Nisto Cremos” assevera que: “Ellen White jamais assumiu o título de profetisa, mas não se opunha a que os outros assim a identificassem.” (Nisto Cremos, p. 301)
Uma clara falsa modéstia, óbvio!
Muito embora a IASD se contente em acalentar tamanha condescendência quanto à sua função de profetisa, como ela encara os escritos de Ellen White? Admite que eles sejam inspirados? Vejamos:
“Embora os profetas da antiguidade fossem humanos, a mente divina e a vontade de um Deus infalível estão suficientemente representadas na Bíblia. E o mesmo Deus fala por meio dos escritos do espírito de profecia. Estes livros inspirados, tais como O Desejado de Todas as Nações, O Conflito dos Séculos e Patriarcas e Profetas, são certamente revelações divinas da verdade sobre as quais deveríamos depender completamente.” (Orientação Profética No Movimento Adventista, p. 45 – grifo nosso).
E mais: “Reafirmamos nossa convicção de que seus escritos são divinamente inspirados…” (Assembleia da Associação Geral de 2015, em San Antonio, Texas)[8]
Outro periódico denominacional testifica: “Somos gratos a Deus por nos conceder não somente as Santas Escrituras, mas também a manifestação do dom de profecia para os últimos dias na vida e obra de Ellen G. White. Seus escritos inspiradores têm sido inestimáveis para a igreja ao redor do mundo de incontáveis maneiras” (Adventist Review, 26/7 a 2/8/1990).
“Do nosso ponto de vista, uma pessoa não pode assumir uma posição neutra com relação à Sra. White e seus escritos. Ou a aceita como enviada por Deus ou a rechaça, considerando-a emissária de Satanás.” (Olson, p.164)
“Cabe-lhe uma espécie de comentário inspirado sobre a Bíblia” (Rebok, p. 87)
Apesar dos apologistas adventistas e a própria Ellen White despistar toda a questão para uma suposta fidelidade à Bíblia, dizendo que seus escritos são apenas uma luz menor que levaria à luz maior (a Bíblia), é inegável a dependência da teologia adventista pelos chamados “Testemunhos” (escritos de Ellen White). Não é difícil encontrar entre seus defensores confissões como as seguintes:
“Extirpai seus escritos e tirai do movimento dos adventistas do sétimo dia a vida e influência de Ellen G. White, e que vos restaria?” (Rebok, p. 92)
“Igualmente, se Deus enviar um profeta hoje, ou no futuro, ele deve concordar com os que vieram antes, isto é, com os profetas do Antigo Testamento, com os do Novo e com Ellen White. Se a sua mensagem for de oposição ao que eles ensinaram, então sabemos que não provém de Deus” (Nunes Alceu, L. O dia da sua vinda. Unaspress, 2008, p. 130)
E ela, o que dizia sobre isso?
“As instruções que tenho dado pela pena e de viva voz são uma expressão da luz que Deus Se dignou conceder-me.”(Testemunhos para a Igreja, Vol. V, p. 657 e-Book)
“Não é só os que abertamente rejeitam os Testemunhos ou os que alimentam dúvidas em relação a eles que estão pisando em terreno perigoso. Desprezar a luz é rejeitá-la.” .”(Testemunhos para a Igreja, Vol. V, p. 648 e-book)
“Não obstante, quando vos mando um testemunho de advertência e reprovação muitos de vós declarais ser simplesmente a opinião da irmã White. Tendes assim insultado o Espírito de Deus. Sabeis como o Senhor Se tem manifestado por meio do Espírito de Profecia.” (Mensagens Escolhidas, Vol I, p. 26/27 e-book)
Não satisfeita com tamanha prepotência, ela foi além e soltou o seguinte absurdo:
“Nos tempos antigos, Deus falou aos homens pela boca de Seus Profetas e apóstolos. Nestes dias Ele lhes fala por meio dos Testemunhos do Seu Espírito. Não houve ainda um tempo em que mais seriamente falasse ao Seu povo a respeito de Sua vontade e da conduta que este deve ter.” (Testemunhos Seletos,vol. II, p. 276, 2ª edição, 1956)
Como se pode ver, tanto ela como seus discípulos, acreditam na inspiração e na autoridade espiritual de seus escritos.
Mas qual o grau de inspiração é reivindicado para os seus escritos? Que luz é essa: menor ou igual à Bíblia?
O ex-diretor do White Estate representa a opinião geral da igreja quando afirma que“Nada existe nos escritos de Ellen White que autorizasse a conclusão de que ela possuía um ‘grau de revelação’ inferior ao de qualquer outro profeta.” (101 Perguntas sobre o santuário e sobre Ellen White, Olson, pp. 47,48)
E mais: “A Sra. White diz que algumas pessoas em Battle Creek estavam classificando a inspiração em dois graus: um inferior e outro superior. Então ela escreveu dizendo que não existe tal coisa. A Igreja Católica, a partir do Concílio de Trento, passou a admitir um grau inferior de inspiração nos livros apócrifos. Mas a Igreja Adventista não admite graus de inspiração. O assunto é inspirado ou não.” (Revista Adventista, junho 1982, CPB: Tatuí/SP, p.12)
Dois anos depois, o mesmo periódico da Igreja, a Revista Adventista, declara sem nenhum peso de consciência: “Negamos que a qualidade ou grau de inspiração dos escritos de Ellen White sejam diferentes dos encontrados nas Escrituras Sagradas”. (Revista Adventista, fevereiro de 1984, Ed. Casa Publicadora; Tatuí – SP. – p. 37).
“Ao passo que, apesar de nós desprezarmos o pensamento dos pioneiros, nós aceitamos como regra de fé a Revelação – Velho Testamento; Novo Testamento e Espírito de Profecia.” (A Sacudidura e os 144.000, p. 117).
Mas qual era a posição da própria EGW a esse respeito? Ela olhava a si mesma dessa maneira? O que ela pensava das suas mensagens?
“Disse o meu anjo assistente. ‘Ai de quem mover um bloco ou mexer num alfinete dessas mensagens’. A verdadeira compreensão dessas mensagens é de vital importância. O destino das almas depende da maneira em que forem elas recebidas.’” (Primeiros Escritos, p. 258).
Podemos testar a veracidade das profecias de EGW? Ela errou alguma vez?
“Um fracasso no cumprimento, tornar-se-ia claramente um fator na aceitação ou rejeição daquele que pretende ser profeta” […] “devemos perguntar-nos a nós mesmos com toda a sinceridade e honestidade: ‘Acaso fez a Sra. White algumas predições que não se cumprissem?” (Rebok, p. 79)
“Se quaisquer faltas, erros ou incoerências existissem [em seus escritos], seriam expostos com grande satisfação pelos adversários” (Rebok, p.89)
“Achava ela que estava certa em alguns lugares mas errada em outros? Não, certamente não era essa sua intenção. O que ela estava dizendo era: ou minha obra é de Deus ou do diabo. É uma coisa ou outra. Não tenteis fazer seleção do que é válido ou não. Aceitai minha obra em sua totalidade ou rejeitai-a em sua totalidade.” (Olson, p.57)
“Tudo quanto disse e escreveu foi puro, elevado, cientifìcamente correto e profeticamente exato.” (Subtilezas do Erro, p. 30).
Vamos resumir o que foi dito até aqui:
1) Apesar da falsa modéstia, EGW se considerava, sim, uma profetisa;
2) Todavia, seu ministério ia além de uma simples profetisa: se autointitulava a “mensageira do Senhor”;
3) Seus escritos têm origem na mesma fonte que produziu o cânon sagrado;
4) Os escritos de EGW não são de um grau de inspiração inferior aos dos profetas bíblicos;
5) Duvidar dos seus escritos equivaleria descrer do próprio Deus;
6) Não há possibilidade de erros em nenhuma de suas profecias;
Entretanto, as confissões acima em vez de explicarem a questão, suscitam uma série de novos questionamentos, tais como:
1) Se os “Testemunhos” estão em pé de igualdade com a Bíblia, o que impede que eles sejam considerados um segundo cânon inspirado?
2) Se a inspiração não possui gradações, por que seus escritos são considerados uma luz menor?
3) Por que eu precisaria de uma luz menor se posso ter uma luz maior? Em que uma luz menor ajudaria na claridade da luz maior?
4) Se, como dizem, a diferença está na função e não na essência da inspiração, por que a Bíblia nunca fez tal diferença entre seus profetas?
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[1] O artigo pode ser lido aqui https://www.cacp.app.br/ellen-gould-white-a-profetisa-que-falhou/
[2] Veja uma tradução livre para o português dessa obra disponível em: http://www.baptistlink.com/creationists/amentirabranca.htm
[3] Uma defesa oficial da IASD contra as acusações de Walter Rea pode ser lida aqui http://centrowhite.org.br/perguntas/perguntas-sobre-ellen-g-white/a-verdade-sobre-the-white-lie-a-mentira-branca/
[4] Antes dele o ex-adventista D. M. Canright que conviveu com o casal White, escreveu um livro denunciando a fraude Ellen G. White. Dudley M. Canright, Life of Mrs. E. G. White: Seventh-day Adventist Prophet; Her False Claims Refuted [Vida da Sra. Ellen G. White: Profetisa dos Adventistas do Sétimo Dia; Suas Falsas Afirmações Refutadas] .Cincinnati: Standard Publishing Company, 1919. Uma versão em inglês pode ser lida aqui: http://lifeassuranceministries.com/pdf%20files/LIFE%20OF%20MRS.%20E%20G%20WHITE.pdf
[5] Natanael Rinaldi, não precisa de defesa, ele já deu uma resposta eficiente ao Leandro Quadros que o internauta poderá conferir aqui https://www.cacp.app.br/pr-natanael-rinaldi-apologista-cristao-x-leandro-s-quadros-iasd/
[6] Há três colunas doutrinárias que sustentam o Adventismo do Sétimo Dia, são elas: a Doutrina do Santuário com seu Juízo Investigativo, o sábado e o Espírito de Profecia manifestado na pessoa de Ellen G. White.
[7] Citação de um blog adventista que você poderá conferir aqui http://questaodeconfianca.blogspot.com.br/2012/11/5-razoes-para-rejeitar-os-escritos-de.html
[8] Veja a declaração aqui: http://www.adventistas.org/pt/institucional/organizacao/declaracoes-e-documentos-oficiais/declaracao-de-confianca-nos-escritos-de-ellen-g-white/.
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L.Q, o filosofo adventista, simplesmente pulou do fogo para a frigideira ou vice-versa, pois o distinto antes era TJ. deixou de seguir charles taze russell para seguir eg-white; do paradigma dos “santuários de 1914 p/ o de 1844; da S.T.V para a “Ig.remanescente”.
hilário quando eles lá no programa da T.V “mirou e atirou no pé” quando vão fazer a replica do debate, começam a dar um sorriso largo, dando a “impressão” que tudo está sob controle.
até quando vai esse descaramento de mentir para as pessoas ?
Que Deus tenha misericórdia desse povo!
É tanta falsidade!
mais outro adventista como ator melodramático, responda isso dramaturgo, até agora nenhum adventista explica isso.
http://www.cacp.app.br/oracao-para-aceitar-a-profetisa-adventista/
Joia de artigo!!