Como é a vida de mulheres jihadistas sob o autodenominado “Estado Islâmico”?
Um longo tratado foi publicado por mulheres que apoiam o Estado Islâmico (EI) no Iraque e na Síria, e que se denominam Brigadas Khansaa.
Seu objetivo principal é atrair mulheres da Arábia Saudita e do Golfo Pérsico para o EI, respondendo questões comuns e desfazendo supostos mitos.
Agora, o documento foi traduzido e publicado por uma organização contra-extremista sediada em Londres, a Quilliam.
“É considerado legítimo”, diz o documento, “que uma menina se case aos nove anos de idade”.
“A maioria das meninas”, acrescenta, “estará casada até os 16, 17 anos”.
A partir deste momento, a mulher deve permanecer escondida da visão alheia, apoiando o califado por trás de portas fechadas.
Mulheres, diz o texto, não devem ser atrasadas. De fato, devem ser educadas, especialmente quanto a aspectos da religião islâmica, mas apenas entre as idades de sete e 15 anos, acrescenta o documento.
O modelo ocidental da mulher emancipada, que sai de casa para trabalhar, falhou, dizem as Brigadas Khansaa, com as mulheres “ganhando nada da ideia de igualdade com os homens a não ser espinhos”.
Lojas de roupas e salões de beleza são coisa do diabo, afirma o documento.
Paraíso para imigrantes
O extenso documento foi publicado em 23 de janeiro, mas foi largamente ignorado pela mídia internacional.
O tom difere das mensagens extremas – relatando episódios de violência – postadas em mídias sociais por mulheres ocidentais associadas ao EI.
O documento afirma que a função primária das mulheres é “sedentária”, não a de guerrear. Elas devem apoiar os homens em casa e criar os filhos.
Boa parte do documento tem como objetivo reforçar a aparente normalidade da vida das mulheres em território controlado pelo EI.
“O estado não proíbe nada”, diz o texto, imediatamente acrescentando que o EI não vem fazendo esforços para separar homens e mulheres nas escolas.
Raqqa, a capital de fato do “Estado Islâmico”, é descrita como um “paraíso para imigrantes”, onde famílias vivem sem sofrer de fome e frio.
“Para o inferno com o nacionalismo”, conclama o documento, ao afirmar que em Raqqa tribos se juntam, e chechenos são amigos de sírios, e sauditas são vizinhos de cazaques.
‘Mulheres perdidas’
Em contraste, afirma o documento, mulheres dos Estados do Golfo, notadamente da Arábia Saudita, enfrentam “selvageria e barbárie”.
O texto cita mulheres que trabalham ao lado de homens no comércio, que mostram o rosto em documentos de identidade, que ganham bolsas para estudar no exterior, em “universidades da corrupção”.
A TV saudita, que reúne alguns dos mais conservadores canais da região, é descrita como “uma televisão de prostituição e corrupção”.
Mulheres escritoras, por sua vez, são chamadas de “perdidas” pelas Brigadas Khansaa.
Professores estrangeiros são rotulados como espiões, espalhando suas “ideias ateístas venenosas e corruptas”.
O texto não menciona, porém, crimes atribuídos ao EI, como a escravização em massa de civis de etnia yazidi, o tráfico de meninas menores de idade, as decapitações públicas e ainda o recente episódio de um homem supostamente gay que foi arremessado do sétimo andar de um prédio.
Há uma breve passagem mencionando os ataques aéreos em Raqqa e outras cidades dominadas pelo EI.
A mensagem principal é de que mulheres que vivem no Golfo Pérsico deveriam escapar de sua suposta vida de injustiças e migrar para a utopia do “Estado Islâmico”.
Extraído do site http://www.bbc.co.uk/portuguese/ em 06/02/2015