O governo do Egito decidiu cancelar o registro da Irmandade Muçulmana como uma ONG, segundo uma reportagem publicada ontem pelo jornal estatal “Al-Akhbar”.
A ação dá continuidade a uma série de medidas tomadas no país desde o golpe militar de 3 de julho, em que o presidente Mohammed Mursi, ligado à irmandade, foi retirado de seu cargo.
A decisão deve ser anunciada oficialmente na semana que vem, mas a mídia estatal citava como sua fonte, ontem, um porta-voz do governo interino de Adly Mansur, levado à Presidência após o golpe de Estado.
À rede britânica BBC um membro do governo negou a informação durante o dia.
A Irmandade Muçulmana havia sido registrada como uma ONU no Egito em março após uma ação que afirmava não haver status legal para a organização islamita. O cancelamento de seu registro, caso seja confirmado, será um forte golpe simbólico.
A medida reforçará as derrotas já amargadas pela Irmandade Muçulmana nos últimos meses, incluindo a detenção de Mursi, que responderá à acusação de incitar a violência contra manifestantes. Dezenas de outros membros da alta cúpula islamitas estão também detidos.
Na base popular, a repressão militar parece ter surtido efeito ao reduzir drasticamente as manifestações de islamitas. Em agosto, uma ação contra protestos pacíficos deixou centenas de mortos, no país. Em seguida, foi instituído toque de recolher.
O governo interino deve justificar a decisão de desmontar a Irmandade Muçulmana a partir da acusação de que o movimento, fundado em 1928 pelo professor Hassan al-Banna, age contra a segurança nacional. Armas teriam sido encontradas em escritórios da organização.
Não está claro qual será o efeito da medida em relação ao partido Liberdade e Justiça, braço político da irmandade. Os islamitas, reprimidos em outros períodos da história egípcia, têm experiência em conduzir suas operações na ilegalidade.
A decisão de desmantelar a Irmandade Muçulmana, que já havia sido proposta em agosto, ganhou força anteontem após a tentativa de assassinato contra o ministro do Interior Muhammad Ibrahim, em atentado a bomba.
Extraído do site da Folha em 06/09/2013