“E disse-lhes: Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura”. Marcos 16.15
Esta incoerência calvinista, em “chamar” alguém que ele já preordenou à morte, também causou indignação aos renomados autores antigos e contemporâneos. O filósofo cristão Dr. William Lane Craig, por exemplo, afirmou:
“A chamada ao arrependimento e salvação na visão calvinista é insincera. Trata-se de um fingimento, pois mesmo que Deus envie um chamado universal, ele mesmo não deseja que todos respondam a este chamado e não dá a sua graça salvadora às pessoas para habilitá-las a responderem a este chamado”[1]
John Wesley, em seu conhecido sermão “Graça Livre”, também não poupou palavras ao se referir a esta incongruência. Ele disse:
“Isso postulado, que seja observado que essa doutrina representa nosso abençoado Senhor Jesus Cristo, o virtuoso, ‘o único legítimo Filho do Pai, cheio de graça e verdade’, como um hipócrita, um fraudador do povo, um mentiroso. Porque não pode ser negado que ele, em todo lugar, fala como se desejasse que todo homem pudesse ser salvo. Então, dizer que ele não deseja isso, é representá-lo como um mero hipócrita, um dissimulador. Não pode ser negado que as graciosas palavras que saem de sua boca é cheia de convites a todo pecador. Dizer, então, que ele não pretende salvar todos os pecadores, é representá-lo como um mentiroso vulgar. Você não pode negar que ele diz ‘Venham até mim, todos vocês que estão cansados e oprimidos’”[2]
Ele ainda declarou:
“Se, então, você diz que ele chama aqueles que não podem vir; aqueles que ele sabe, são incapazes de vir; aqueles que ele pode tornar capazes de vir, mas não fará isso; como é possível descrever insinceridade maior? Você o representa como um escarnecedor de suas impotentes criaturas, oferecendo o que ele nunca pretendeu dar. Você o descreve como dizendo uma coisa, e significando outra; como fingindo um amor que ele nunca teve. Ele, em ‘cuja boca não estava a malícia’, você torna cheia de decepção, insinceridade; então, especialmente, quando a cidade se fez noite, Ele lamentou sobre ela e disse: ‘Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os que te são enviados! Quantas vezes quis eu ajuntar os teus filhos, e tu não quiseste’. Agora, se você diz, eles poderiam, mas, ele não poderia, você o representa (o qual, quem pode ouvir?) como lamento de crocodilos chorões; lamentando sobre a vítima que ele mesmo tinha condenado à destruição!”[3]
É realmente difícil exaurir do Deus calvinista uma visão de complexo de bipolaridade, pois ele “chama” quem já condenou antes da criação do mundo (tornando o chamado inútil e insincero) e diz que deseja a salvação de pessoas que não tem a mínima oportunidade de serem salvas, pois ele já predeterminou o contrário a respeito delas. Também é difícil conciliar isso com um Calvino que dizia repetidamente que Deus ignora, amaldiçoa, cega e endurece os não-eleitos precisamente para que eles não alcançassem a salvação, para depois “chamar” um não-eleito e “desejar” a salvação dele.
Sem as aspas no chamar e no desejar, tal chamado e desejo no calvinismo não tem sentido algum. Se Deus chama, é porque ele deu uma chance do pecador correspondender ao chamado, recebendo a graça. Se Deus “não quer a morte do pecador, mas, antes, que se converta e viva” (Ez.33:11), é porque ele dá oportunidade de salvação a todos. Sem essa oportunidade, qualquer chamado ou desejo para a salvação se torna frívolo, inútil, fútil e inconsistente, além de falso, irracional, ilógico e insincero.
Extraído do livro “Calvinismo X Arminianismo: quem está com a razão?”, cedido pela comunidade de arminianos do Facebook
[1] CRAIG, William Lane. Doutrina da Salvação – Parte 3 – Arminianismo. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=NIshOGmcl5k#t=123>
[2] WESLEY, John. Graça Livre, XIV.
[3] WESLEY, John. Graça Livre, XIV.