Nota: O artigo é bastante complexo e é necessário a leitura complementar dos links distribuídos no texto, para uma maior compreensão.
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Aos calvinistas que argumentam que o Sínodo de Dort condenou o Arminianismo, eu tenho a dizer o seguinte:
Como as afirmações de Dort já tinham sido condenadas há mais de 1.000 anos, este Sínodo não tinha autoridade ou competência para julgar o Arminianismo.
“Agostinho recusou tirar de sua doutrina da predestinação a conclusão que Deus predestinou alguns para a vida eterna e outros para a condenação, ou a conclusão relacionada que Cristo morreu somente pelos eleitos. Estas conclusões, entretanto, seriam tiradas – e opostas! – com considerável frequência posteriormente. O primeiro teólogo que legitimamente pode ser chamado de “predestinacionista” é o sacerdote gaulês do séc. V – Lucidus, cujas opiniões foram condenadas no Concílio de Arles (473). De particular importância são suas afirmações que Cristo não morreu por todos os homens, que a graça divina é irresistível e que aqueles que se perdem, se perdem pela vontade de Deus. Esta condenação foi apoiada por Orange II (529), que especificamente anatemizou qualquer um que acreditava que alguns são predestinados ao mal por Deus. Embora alguns tenham argumentado que a condenação do concílio foi direcionada contra Agostinho, permanece o fato que Agostinho não ensinou explicitamente uma doutrina da dupla predestinação.” (Alister McGrath, Iustitia Dei: A History of the Christian Doctrine of Justification, p. 160)
Como podemos ver, três pontos do Calvinismo de Dort foram condenados em Arles:
- A Eleição Incondicional,
- A Graça Irresistível e a
- Expiação Limitada.
Poderíamos até dizer que todos os Cinco Pontos do Calvinismo foram negados, uma vez que a Depravação Total foi rejeitada e a Perseverança dos Santos não chegou a ser afirmada.
E visto que Arles adotou um Semipelagianismo (veja também o que é pelagianismo), que também é condenado pelo Arminianismo, pode-se levantar suspeita sobre a ortodoxia desse Concílio. Coube a Orange (529) condenar o Semipelagianismo, mas este Concílio manteve as condenações contra certas porções da teologia de Agostinho (os três pontos do Calvinismo).
“Que através do pecado do primeiro homem, a livre escolha ficou tão pervertida e enfraquecida que consequentemente ninguém é capaz de amar a Deus como deve, ou crer em Deus, ou fazer qualquer coisa para Deus que seja bom, exceto se a graça da misericórdia de Deus precedê-lo (praeveniret] (Fp 1.6, 29; Ef 2.8; 1Co 4.7; 7.25; Tg 1.17; Jo 3.27). Mas não apenas não cremos que alguns foram predestinados ao mal pelo poder divino, mas também, se há alguém que crê em algo tão perverso, dizemos a estes, com toda abominação, seja anátema.” (Documents of the Christian Church, ed. por Henry Bettenson e Chris Maunder, p. 65).
Enfim, o Arminianismo foi condenado por pessoas cujas crenças tinham sido condenadas um milênio antes. Ou de outra forma, o Arminianismo foi condenado por pessoas que o consenso cristão primitivo as classificou de heterodoxo.
Paulo Cesar Antunes do site arminiano.com em 03/09/2014