Dízimo, um ato de fé

A teologia dos dízimos é muito clara nas Escrituras, principalmente no Velho Testamento. Jesus validou os dízimos uma única vez, quando exortou os fariseus a não somente darem o dízimo, mas também a praticarem os preceitos mais importantes da Lei. “Dais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho, e desprezais o mais importante da lei, o juízo, a misericórdia e a fé; deveis, porém, fazer essas coisas e não omitir aquelas”, Mt 23.23.

Quando Jesus diz “não omitir aquelas”, Ele está va­lidando o dízimo como sendo algo que deve ser nor­malmente praticado pela fé à luz da revelação da Pa­lavra de Deus.

Muitos dizem que o dízimo era o padrão do VT e as ofertas são o pa­drão do NT. A razão pela qual sus­tentam esse argumento é o fato do NT não tratar especificamente dos dízimos, mas apenas das ofertas.

A revelação bíblica, em qualquer área que se pense, nunca foi dada de uma vez só. Deus foi dando doses e, no decorrer da História, esteve acres­centando revelação sobre revela­ção. A teologia das contribuições para Deus foi um caso desses. A razão pela qual o dízimo é tratado no VT (e Jesus no NT o fortalece), é porque essa revelação teve ali o seu ponto culminante. Em relação às ofertas, sua revelação é melhor tratada no NT pela mesma razão de que, ali, encontrou o seu ápice. Em linhas gerais, ambas as revelações, dízimos e ofertas, pertencem à mes­ma doutrina e não são de maneira nenhuma excludentes. Pelo contrá­rio, fazem parte de um mesmo bojo, ainda que em categorias diferencia­das e propósitos comuns.

O que é dízimo?

O dízimo quer dizer dez por cen­to ou a décima parte. Há quem ensi­ne que dízimo é um tipo de partilha, que a pessoa possuidora de recursos deve dar de um a três por cento, e que o pobre nada deve contribuir. Ora, isso não é um ensino que possa ser sus­tentado em nenhuma passagem bíbli­ca. O dízimo foi instituído por Deus e indica a mesma proporcionalidade tanto ao que tem muito como ao que tem poucos recursos. O dízimo será sempre dez por cento. Ninguém po­derá dar o dízimo de vinte por cento. Se alguém contribuir com vinte por cento de sua renda, dez por cento irá corresponder ao dízimo e os outros dez serão correspondentes à oferta, e assim por diante.

O dízimo deve ser sempre dado a partir do salário bruto, de tudo quan­to ganhamos, nunca do líquido. Essa é a orientação bíblica de antes, du­rante e depois da Lei, como está escrito: “Deu-lhe o dízimo de tudo…”, Gn 14.20; “Certamente darás o dízimo de toda a novidade da tua semente…”, Dt 14.22; e ain­da, “Abraão deu o dízimo de tudo…”, Hb 7.2.

Algumas pessoas podem fa­ cilmente identificar o quanto ganham, bastando para isso olhar no contrache­que. Para outras, principalmente pe­quenos empresários que não dispõem de uma eficiente contabilidade, isso é mais difícil. Estes que não sabem e não têm como saber o quanto ganham, podem e devem saber pelo menos o quanto gastam. Tal procedimento seria então o padrão, dar o dízimo do total dos gastos da família.

Há situações que requerem al-guma explicação adicional. No caso de alguém que tem, para efei­to contábil e fiscal, um pró-labore de X, mas gasta 3X, com certeza o referencial a ser utilizado para a contribuição do dízimo não será o pró-labore, e sim o total de gastos. Além do mais, essa pessoa deverá consertar essa situação dian­te de Deus. No caso de poupança, o dízimo deve ser calculado sobre os rendimentos, considerando já ter sido dado o dízimo sobre o principal.

Soberania de Deus

O dízimo se refere à soberania de Deus sobre as nossas vidas. Deus nos ordena que separemos dez por cento de todas as nossas rendas para si, e não fazê-lo significa que a pessoa está não somente em estado de re­belião contra Deus, mas tam­bém está roubando o Senhor. Para se ter apenas uma ideia de como é grave o pecado de rebe­lião, veja o que Samuel diz a res­peito: “Porque a rebelião é como o pecado de feitiçaria”, I Sm 15.23. Veja também o que Deus 1 disse à nação de Israel: “Roubará o homem a Deus? Todavia, vós me roubais, e dizeis: Em que te rou­bamos? Nos dízimos e nas ofertas alçadas”, Ml 3.8. O dízimo perten­ce unicamente a Deus porque, con­forme Levíticos 27.32,”o dízimo será santo ao Senhor”.

Sempre que Deus separa alguma coisa para si, o que está em evidência é a sua soberania sobre aquela área. O exemplo do Éden ilustra ligeiramente isto. O Senhor dera a Adão o domínio sobre todas as coisas, com exceção de uma. Deus disse a Adão: “De toda árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore da ciência do bem e do mal, dela não comerás”, Gn 2.16-17. Aquela árvo­re do conhecimento do bem e do mal era o sinal visível da soberania de Deus sobre a vida na Terra e, conse­quentemente, sobre a vida do pri­meiro casal. Sempre que Adão olhasse para aquela árvore, se lembraria de que Deus é soberano so­bre a vida.

É bom observar que a única rela­ção deste fato com o dízimo diz res­peito ao quesito da soberania de Deus, nada mais. Deus não separou dez por cento das árvores do jardim; apenas uma árvore. O mesmo prin­cípio se aplica ao dia do Senhor, o dia de descanso. Assim, no caso da separação do dízimo, o que está em evidência é a soberania de Deus so­bre nossas vidas e finanças. O nos­so dinheiro é o nosso suor, o nosso esforço, enfim, a nossa vida. Gasta­mos a maior e a melhor parte de nos­sa vida para ganhá-lo.

Onde dar o dízimo?

O dízimo deve ser levado à Casa do Senhor. “Trazei todos os dízimos à casa do tesouro, para que haja mantimento na minha casa”, Ml 3.10. No VT isso se referia ao templo de Jerusalém. No NT, a Casa do Senhor se refere à igreja, como podemos ob­servar em ITimóteo 3.15: “…para que saibas como convém andar na casa de Deus, que é a igreja do Deus vivo”.

Muitas pessoas pensam que o dízimo lhes pertence e que pode ser objeto de sua administração pessoal. Em vez de levarem o dízimo à Casa do Senhor, como orienta a Bíblia, elas próprias administram o dízimo como bem lhes parece, dando uma parte aqui, outra acolá. O dízimo não nos pertence e tampouco deve ser admi­nistrado por nós. Ele deve ser administrado tão somente pelo sacerdote responsável pela administração da Casa de Deus. Da mesma forma como o dízimo era levado à Casa de Deus em Jerusalém, que era o centro espiritual da nação, devemos levá-lo no lugar do nosso compromisso de fé, no lugar onde nos alimentamos espiritualmente, que é a igreja local onde nos congregamos e com a qual somos comprometidos.

Ato de fé

O dízimo é um ato de fé e por isso tem a ver com a nossa fidelidade a Deus. Ele tem como consequências imediatas a bênção financeira e a se­gurança contra os devoradores. “Trazei todos os dízimos… e depois fazei prova de mim, diz o Senhor dos Exércitos, se eu não vos abrir as ja­nelas do céu e não derramar sobre vós uma bênção tal, que dela vos advenha a maior abastança. E, por causa de vós, repreenderei o devora­dor, para que não vos consuma o fru­to da terra”, Ml 3.10-11. Encontra­mos nessa passagem, Deus se dis­ponibilizando a ser provado, exatamente na área de finanças investidas no Reino.

Finalmente, o dízimo é o menor padrão de investimento financeiro no Reino. Os dizimistas que são só dizimistas estão apenas se igualan­do aos fariseus, que davam fielmen­te seus dízimos como parte do cum­primento da justiça divina. Mas Je­sus acrescenta: “Porque vos digo que, se a vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus, de modo nenhum entrareis no Reino dos céus”, Mt 5.20.

Para Deus, não basta ser apenas fiel, é necessário agir generosamente em nossa fidelidade. Isso nos remete ao princípio regente das contribuições, e nos coloca vários passos à frente dos fariseus. Porque ser dizimista não é uma questão de posse ou de lei, é um ato de fé e gratidão.

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Fonte: Benjamin Lima de Souza (Revista Pentecostes – CPAD – Junho/2000).

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