A intimidade com o Espírito Santo proporciona ao cristão a experiência pentecostal. Jesus proveu sua Igreja com os dons espirituais como recursos para que ela realize as obras de Deus. “Porque a um, pelo Espírito, é dada a palavra da sabedoria…. e a outro, a operação de maravilhas; e a outro, a profecia; e a outro, o dom de discernir os espíritos; e a outro, a variedade de línguas; e a outro, a interpretação das línguas”, ICo 12.8-10. O discernimento de espíritos é um dos nove dons espirituais mencionados pelo apóstolo Paulo.
A palavra grega para “discernir” usada nessa passagem é diakrisis, que aparece três vezes no Novo Testamento grego, com o sentido de julgar entre o certo e o errado (Hb 5.14) e com o entido de discussão (Rm 14.1). No contexto dos dons espirituiais, discernimento é a capacidade de distinguir a presença de espíritos malignos em uma pessoa e de reconhecer a fonte dessas manifestações. Não se deve, porém, confundir com telepaia nem com a arte de ler a mente de outras pessoas e muito menos tomar uma postura de “detetive espiritual”. O dom de discernir os epíritos não é monopólio de ninguém, mas é dado a cada crente conforme a vontade do Espírito Santo, que reparte a cada um como quer e para o que for útil (lCo 12.7,11).
A área de atuação desse dom na vida cristã é muito abrangente. Muitos pensam que ele é restrito às profecias, já que é citado logo em seguida ao dom de profecia e à exortação paulina: “E falem dois ou três profetas, e os outros julguem”, ICo 14.29. A advertência do apóstolo João serve para confirmar essa abrangência: “Amados, não creiais em todo espírito, mas provai se os espíritos são de Deus”, Jo4.1.
Deus ou Satanás?
Visto que as manifestações podem vir de três fontes – Deus, Satanás e o próprio homem -, o Senhor conferiu à sua Igreja a capacidade de identificar essas fontes com o dom de discernir os espíritos. É correto, pois, afirmar que esse dom é a capacidade que o Espírito Santo dá ao crente para discernir com segurança a origem ou a fonte da manifestação sobrenatural na vida de uma determinada pessoa, de modo que não seria possível por outros meios.
Um exemplo clássico disso pode ser visto na estada de Paulo em Filipos, quando uma jovem o acompanha elogiando seu trabalho: “Estes homens, que nos anunciam o caminho da salvação, são servos do Deus Altíssimo”, At 16.17. O apóstolo, no entanto, repreendeu o espírito dizendo “Em nome de Jesus Cristo, te mando que saias dela”, vl8.
Pela ótica humana, dificilmente alguém recusaria um elogio dessa maneira. Satanás age, muitas vezes, de maneira sutil, não sendo possível detectar seus ardis apenas com os recursos dos órgãos sensoriais. Uma profecia ou previsão se cumprir e a operação de maravilhas ocorrer não são fatos suficientes para reconhecer a legitimidade dessas manifestações e nem saber a origem da mensagem ou do mensageiro. Os magos do Egito imitaram Moisés diante de Faraó (Ex 7.10-11 e 8.6-7). Jesus disse que o anticristo virá fazendo sinais, prodígios e maravilhas (Mc 13.22). O apóstolo Paulo afirma que os falsos profetas e os obreiros fraudulentos se transfiguram em apóstolos de Cristo, e Satanás em anjo de luz (2 Co 11.13-15). Em Apocalipse 13.2-4, lemos que a besta será adorada e admirada por todos os moradores da Terra, em virtude dos seus sinais sobrenaturais.
Não é somente a operação de maravilhas que vai autenticar a manifestação. A chave principal para se descobrir se vem de Deus é saber se está de acordo com a Bíblia. Mas como a vida cristã apresenta seu lado prático e nem só de teologia vive o cristão, a comunhão com o Espírito Santo é essencial. O apóstolo Paulo era teólogo por excelência, profundo conhecedor da Palavra de Deus, mas no exercício do seu ministério o Espírito Santo estava sempre atuante. A adivinha falava a verdade – Paulo e Silas eram servos do Deus Altíssimo, anunciavam aos homens a salvação. Somente com os recursos espirituais é possível identificar esse paradoxo, de uma fonte estranha vir uma mensagem verdadeira.
Atualidade
Essa experiência do apóstolo Paulo é vista ainda hoje na vida da Igreja. Longe de uma fé teórica, a crença pentecostal é fundamentada na Palavra e cada crente vive essa experiência. O dom de discernir os espíritos continua sendo uma necessidade, um dom indispensável para o povo de Deus. A Bíblia diz que os dons espirituais vão desaparecer na vinda de Cristo. “Havendo profecias, serão aniquiladas; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, desaparecerá… quando vier o que é perfeito, então, o que é em parte será aniquilado”, ICo 13.8-10. Se a Igreja é a mesma, se servimos ao mesmo Deus, se somos discípulos do mesmo Jesus e vivemos na mesma dispensação, torna-se claro que essas bênçãos são para os nossos dias. Ao descobrir a finalidade desses dons, o cristão estará consciente dessa realidade.
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Fonte: Esequias Soares (Revista Pentecoste – cpad – Junho/2000).