ELIANA: Boa noite. Hoje a apresentação do nosso seminário será no formato de entrevista, onde estaremos abordando um tema de fundamental importância dentro do estudo da Ética Cristã – O amor-próprio. No coração da ética cristã está o fato de que ao cristão é ordenado: “Ama teu próximo como a ti mesmo.”. Após este seminário teremos mais argumentos para responder as seguintes questões – diante da afirmação da citação bíblica em Mateus 22.39: O cristão deve amar a si mesmo e depois amar aos outros como a si mesmo? Se for assim, então por que o egoísmo e o amor-próprio são condenados na Escritura? O amor-próprio não é uma forma de orgulho, o pecado mais básico do homem?
Para nos ajudar a responder estas questões, abordaremos as opiniões de Ayn Rand, Erich Fromm, Paul Tillich, Soren Kierkegaard e finalmente analisaremos à luz das escrituras, qual é uma ética cristão do amor próprio?
Para isso quero chamar aqui a Teóloga Cida Martins formada no Cacp , Centro apologético cristão de pesquisas, onde cursa seu último ano de Bacharel em Teologia.
ELIANA: Boa noite, teóloga Cida Martins. Eu quero começar a nossa entrevista falando sobre Ayn Rand.
CIDA MARTINS: Boa noite, ELIANA. Alisa Zinov´yevna Rosembaum, vugo Ayn Rand, nasceu em Saint Petisburgo, em dois de fevereiro de 1905. Foi uma escritora, dramaturga, roteirista e controversa filósofa norte americana. Sua filosofia e ficção enfatizam sobre tudo, suas noções de individualismo, egoísmo racional e capitalismo. Ela defendia principalmente que o homem deve definir seus valores e decidir suas ações à luz da razão.
ELIANA: Já vi que esta mulher deu trabalho hein! E o que exatamente ela pensava sobre o Amor-próprio.
CIDA MARTINS: Bem, a opinião de Ayn Rand é bastante assustadora. Enquanto os moralistas discutiam se a pessoa devia sacrificar sua vida por Deus e por outros homens, ela apresenta o amor-próprio como um egoísmo radical, é a ética do auto interesse. Rand dizia: “E ninguém disse que sua vida lhe pertence e que o bem é vive-la. O homem é uma finalidade em si mesmo, existe por causa dele mesmo, e a realização da sua própria felicidade é seu propósito moral mais alto.”
ELIANA: Como assim, não temos obrigação de amar e ajudar nosso próximo?
CIDA MARTINS: É isso Eliana, Rand argumentava: “que obrigação moral a pessoa tem em relação aos outros?” Nenhuma. “Nada devo ao meu próximo e o meu próximo não me deve nada. Não somos obrigados, pelo dever, a ajudar uns aos outros.”
ELIANA: Como fica, então, a moral no pensamento de Rand?
CIDA MARTINS: Não fica. Não há moral em sacrificar sua felicidade em prol do outro. Para esta filósofa não há virtude no sacrifício como tal. O homem não é um animal sacrificial e que existe em prol do prazer do seu próximo. Ele deve lutar pelo valor da sua pessoa, pela virtude do seu orgulho.
ELIANA: Então para Rand “amar ao próximo como a ti mesmo” é uma conjectura que não existe.
CIDA MARTINS: Exato. O valor é a causa do amor para Any. As coisas e as pessoas devem ser amadas se tiverem valor, por suas virtudes e por nenhuma outra razão.
ELIANA: Rand, então, se importava apenas com seu ego?
CIDA MARTINS: Sim. O ego racional e autônomo da própria pessoa é seu valor mais básico. O amor a si mesmo não é somente moralmente certo como também moralmente exigido. Para ela o ego é bom e valioso e, portanto, deve ser amado. É esta a posição de Ayn Rand, sobre o amor-próprio, Eliana.
ELIANA: É bom conhecermos a opinião desta filósofa, realmente muito controversa, mas expressiva em se tratando de mulher no contexto filosófico da época.
CIDA MARTINS: Sim, sim.
ELIANA: Agora teóloga, gostaria que falássemos sobre Erich Fromm, que me parece opunha-se a ideia de Rand, mas lançou uma interpretação sobre o versículo em discursão que gera muita polêmica até hoje, inclusive no meio cristão.
CIDA MARTINS: A supervalorização da autoestima. Segundo David Hant, foi Erich Fromm quem lançou esta ideia.
ELIANA: E olha que David Hant sabe sobre o que fala.
CIDA MARTINS: Bem para começar, Erich Fromm era psicanalista alemão, filósofo e sociólogo, nascido em 23 de março de 1900. Humanista normativo acreditava na moldagem do indivíduo pela sociedade. Para Fromm a pessoa deve amar-se a si mesma como representante da humanidade.
ELIANA. Como assim, representante da humanidade?
CIDA MARTINS: Para From , esta ideia é a essência de uma religião humanista que afirma a humanidade do homem. Enquanto na religião tradicional, a qual ela chama de autoritária, o elemento essencial é a entrega a um poder que transcende o homem.
ELIANA: Um pouco confuso isso.
CIDA MARTINS: Vou explicar em outras palavras. Para Froom este autoritarismo não está ensinando a humildade, mas sim , a humilhação, e isso é incompatível com o amor próprio. Para ele, Deus não é um símbolo do poder sobre o homem, mas, sim, do próprio poder do homem. Enquanto a religião humanista vê Deus como um símbolo do ego superior do homem e não como um ser externo.
ELIANA: Então Deus é imagem do ego superior do homem
CIDA MARTINS: Um símbolo daquilo que o homem é potencialmente ou deve tornar-se.
ELIANA: Ou seja, o representante da humanidade.
CIDA MARTINS: Exatamente. O amor a Deus é um símbolo do amor ao homem como representante da humanidade. Amar a Deus é amar ao homem. Por isso devemos amar aos outros como amamos a nós mesmo. Se alguém não pode amar a si mesmo, neste caso não pode amar ao outro homem, porque a humanidade é achada, tão verdadeiramente nele mesmo, quanto em outros homens. A falta de amar a si mesmo esta na base da infelicidade e da doença mental.
ELIANA: Então para Fromm, diferente de Any Rand, o ego não é um fim ulterior em si mesmo, faz parte apenas, de uma totalidade coletiva, a mais alta da qual deve ser respeitada como sendo Deus.
CIDA.: Para este humanista é egoísta e errado para o individuo considerar-se um fim em si mesmo. A pessoa não deve amar a si mesmo só por cauda dela mesma, deve amar-se como representante da humanidade. O homem deve amar-se a si mesmo como exemplo correto do seu valor, porque se é uma virtude amar meu próximo como ser humano, deve ser uma virtude e não um vício amar a mim mesmo, visto que sou um ser humano também e represento a humanidade.
ELIANA: Bem teóloga, vejo que hoje aqui só temos opiniões polêmicas.
CIDA. Pois é Eliana, este tema sempre foi muito polêmico, e a interpretação errada do que Jesus realmente quis dizer, tem levado o homem a ruína.
ELIANA. Estou curiosa para saber como podemos interpretar este amor através das escrituras.
CIDA MARTINS: Mas antes eu quero falar sobre outro filósofo contemporâneo que influenciou muito o século XX. Aliás, além de filósofo ele foi um teólogo protestante de muita expressão, e deixou uma teologia sistemática que tem mexido com a teologia e filosofia mesmo agora no século XXI.
ELIANA. Você está falando de Paul Tillich, não é?
CIDA MARTINS: Sim, dele mesmo;
ELIANA: Realmente, ele ainda influencia toda a teologia liberal do nosso século.
CIDA MARTINS: Um dos mais competentes teólogos católicos norte-americanos. Coloca-se a meio caminho entre o protestantismo liberal e a neo-ortodoxia barthiana. Nasceu em 20 de agosto de 1886, na Alemanha. Foi um teólogo alemão-estado-unidense. Foi contemporâneo de Karl Barth e Rudolf Bultmann, morreu em 1965.
ELIANA: Tenho aqui um pensamento dele que faz referência ao amor-próprio: E ele disse: “O homem está dividido dentro de si. A vida volta-se contra si própria através da agressão, do ódio e do desespero. Estamos habituados a condenar o amor-próprio; mas aquilo que pretendemos realmente condenar é o oposto do amor-próprio. É aquela mistura de egoísmo e aversão por nós próprios que permanentemente nos persegue, que nos impede de amar os outros e que nos proíbe de nos perdermos no amor com que somos eternamente amados. Aquele que é capaz de se amar a si próprio é capaz de amar os outros; aquele que aprendeu a superar o desprezo por si próprio superou o seu desprezo pelos outros”.
CIDA MARTINS: Bem vindo este pensamento de Tillich, Eliana. Pois para compreendermos o que Paul pensava sobre o amor-próprio, primeiro precisamos saber qual a sua cosmovisão. O eixo em torno do qual gira toda a teologia deste teólogo é o princípio da correlação. Este afirma a necessidade de pensar qualquer realidade juntamente com outra realidade, na medida em que elas se encontram em relação de dependência recíproca.
ELIANA: Pode dar um exemplo:
CIDA MARTINS: Claro. Por exemplo: O eu não pode existir sem o mundo, nem o mundo sem o eu: a filosofia não pode existir sem a teologia, nem a teologia sem a filosofia; a fé não pode existir sem dúvida, nem a dúvida sem a fé, logo o amor a si mesmo não pode existir sem o amor ao próximo.
ELIANA: Como assim?
CIDA MARTINS: O amor próprio verdadeiro e o amor aos outros são interrrelacionados, porque é uma virtude afirmar-se a si mesmo. No entanto, Tillich olha para o “eu” neste contexto como um ser ontológico. Ou seja, o homem não está se afirmando como sendo o próprio ser. O indivíduo não é tudo quanto existe na realidade. O ser transcende o ser do homem. Neste caso, o homem está afirmando sua participação no próprio ser ontológico.
ELIANA: Mas uma vez está confuso.
CIDA MARTINS: Não, não está. Veja bem, o amor próprio correto é a autoafirmação, no sentido em que Deus nos vê, ou no sentido em que somos essencialmente criados. Noutras palavras, o tipo apropriado de amor-próprio a si mesmo como uma criatura de Deus, como um participante do ser.
ELIANA: Está ficando mais claro.
CIDA MARTINS: Mais um dado par poder clarear melhor. Tillich acha que a melhor maneira de se dizer, não é amor-próprio, mas sim, auto aceitação, porque é a aceitação de ser aceito. E ele ainda diz que isto não é galgado naturalmente, e sim, pela fé.
ELIANA: Então diferente de Erich Froom, Tillich acredita que o homem deve amar a si mesmo como um participante infinito do ser, mas não como o próprio Ser, ao qual Fromm chama de Deus.
CIDA MARTINS: Correto.
ELIANA: Parece que estamos chegando lá.
CIDA MARTINS: Acho cedo para dizer isso, Eliana. Vamos falar sobre mais um filósofo e teólogo importante dentro desta questão antes de analisarmos as Escrituras Sagradas.
ELIANA: Ah, sim, Soren Kerkegaard. Tenho aqui algumas informações sobre ele. Nascido em 05 de maio de 1813, filósofo e teólogo dinamarquês. A sua obra teológica incide sobre a ética cristã e as instituições da igreja. Os acadêmicos tem interpretado Kierkeggard de maneiras variadas, entre outras como: existencialista, neo-ortodoxo, pós-modernista, humanista, individualista. Cruzando as fronteira da filosofia, teologia, psicologia e literatura, tornou-se uma figura de grande influência para o pensamento contemporâneo.
CIDA MARTINS: Muito bem, apesar de ser um teólogo liberal, parece-me que sua linha de pensamento aproxima-se de uma interpretação mais lógica em relação aos demais filósofos.
ELIANA: E qual seria o argumento de Kierkegaard?
CIDA MARTINS: Ele trabalha com a pressuposição de que o “como a ti mesmo” do mandamento é para arrancar da nossa mão todo o egoísmo. Ou seja, quando Jesus diz: “amarás ao teu próximo como a ti mesmo” já estava pressupondo que todo ser humano é egoísta. Logo, quando o mandamento é corretamente entendido, a leitura que deve ser feita é esta: “Amarás a ti mesmo de modo certo”. Porque “amar a si mesmo de maneira certa e amar ao próximo” são conceitos absolutamente análogos, e no fundo é a mesmíssima coisa.
ELIANA: Ou seja, ele está falando de um amor altruísta.
CIDA MARTINS: Exatamente, o homem deve amar a si mesmo, porque este mandamento está inextricavelmente ligado com o mandamento no sentido de amar aos outros, para ele há somente um “tu” e dois objetos no mandamento.
ELIANA: Mas este amar aos outros como a pessoa deve amar a si mesma é, realmente, a forma mais sublime do amor? Não seria possível amar a um homem melhor do que a si mesmo?
CIDA. Para Kierkegaard. não. Para ele a um a quem um homem, pode amar melhor do que a si mesmo, e este é Deus. Amar a si mesmo e aos outros homens, conforme se deve amar, significa amar a si mesmo e aos outros como criaturas de Deus, não como seres ulteriores.
ELIANA: O pensamento parece lógico.
CIDA. Como consequência, Kierkegaard conclui que “como a ti mesmo” é um golpe fatal ao amor falso a si mesmo e aos outros. Impediria a pessoa de amar a si mesma mais do que às outras, e de amar as outras mais do que a Deus, É projetado de modo muito engenhoso para ensinar os homens a amarem de maneira que devem amar.
ELIANA: Bem, me parece que Kierkegaard é o mais coerente. Agora podemos fazer a análise bíblica.
CIDA MARTINS: É, a primeira vista parece, mas eu não gosto do pressuposto que utilizou.
ELIANA: Mas já ouvi dizer que o amor próprio é condenado na Escritura, pois o ego é um ego pecaminoso. E há várias passagens que retratam o homem como pecaminoso. Então Kierkegaad parece ter razão quando diz que há um pressuposto de que o homem é egoísta?
CIDA MARTINS: Sim, sim. O homem é pecaminoso por “Natureza”. Mas vamos por partes. Primeiro devemos compreender qual exatamente a condição do homem dentro do contexto desta fala. Realmente há vários versículos bíblicos que sugere a base para o ponto de vista de que naturalmente o homem é intrinsecamente mau. Por isso são conclamados a negar e até mesmo odiar este mal dentro deles mesmos.
ELIANA. Pode citar alguns.
CIDA MARTINS: Claro. Logo depois da queda do homem, Deus disse: Viu o Senhor que a maldade do homem se havia multiplicado na terra, e que era continuamente mau todo o desígno do seu coração: (Gn 6.5) e Paulo também nos diz: Éramos por natureza filhos da ira, como também os demais. (Ef 3.5). Jesus mesmo disse: Quem ama sua vida, perde-a: mas aquele que odeia a sua vida neste mundo, preservá-la-á para a vida eterna (João 12.25)
ELIANA: Mas teóloga, tendo em vista a depravação humana, como pode ser sustentado que os homens devam amar a si mesmo? Que papel o amor-próprio poderia ter numa ética bíblica?
CIDA MARTINS: Podemos sustentar porque há dois tipos de versículos que subentendem que a pessoa deve amar a si mesma.
ELIANA: Como assim?
CIDA MARTINS: Bem, a primeira classe de dados bíblicos que subentende um amor-próprio é o grupo que ensina que o homem é bom, e em certo sentindo, até mesmo o homem caído.
ELIANA: Então o homem tem valor intrínseco.
CIDA MARTINS: Correto. Por exemplo, depois de passar em revista o processo inteiro da criação, inclusive a criação do homem, viu Deus que tudo quanto fizera era bom (Gn 1.31). O homem era bom por natureza porque Deus o criou à sua imagem e semelhança. (Gn 1.27). Ainda depois de o homem ter pecado, a imagem de Deus permaneceu no homem. Sem dúvida, maculada com o pecado, mas ainda sobrou alguma coisa no homem que era boa e semelhante a Deus.
ELIANA: Você quer dizer que a imagem de Deus no homem caído esta obliterada, mas não esta completamente apagada?
CIDA MARTINS: É isso. Há alguns versículos que declaram que os homens são bons por natureza, por serem a criação de Deus. Por exemplo, em 1 Timóteo esta escrito: “Pois tudo que Deus criou é bom”. E ainda, Paulo testificou acerca do seu ego pecaminoso quando disse: “O querer o bem está em mim”, mas acrescentou, queixoso, “não, porém o efetuá-lo” (Rm. 7.18). Mesmo assim, sentiu uma boa vontade dentro dele, e acrescentou “Porque no tocante ao homem interior, tenho prazer na lei de Deus.” Noutras palavras, a despeito de suas tendências pecaminosas e da sua incapacidade de fazer todas as coisas boas que queria fazer, o apóstolo reconheceu dentro de si mesmo um “homem interior” que podia pelo menos “querer o bem”.
ELIANA: Ou seja, há alguns remanescentes da imagem de Deus, alguma tendência ou bem dos homens que deve ser chamado bom?
CIDA. Sim, e esta boa natureza ou tendência dentro do homem não deve ser desprezada ou negada, mas, sim, afirmada e amada.
ELIANA. Até ai tudo bem, mas porque o amor-próprio não é diretamente ordenado em qualquer parte da Escritura?
CIDA. Esta é a segunda classe de versículos, os quais não vemos assim, mas ele, este amor, é subentendido em muitos lugares. Primeiro, no próprio versículo, parece estar dizendo que o amor próprio é a base do amor aos outros e se a pessoa não respeitar o bem que Deus criou nela mesma, como será esperado dela que respeito o bem da criação de Deus noutros lugares? Decerto Paulo ensina em Efésio 5.29, “Pois ninguém jamais odiou a sua própria carne, antes a alimenta e cuida.” Nada há de errada com isso.
ELIANA. Quer dizer que cada um deve cuidar de si mesmo?
CIDA MARTINS: Sim Eliana, o respeito-próprio é moralmente necessário. O homem não tem o direito de odiar o bem criado por Deus nele mesmo.
ELIANA: Mas se os homens devem amar a si mesmo, por que Bíblia não os manda fazê-lo em palavras claras?
CIDA MARTINS: Na realidade, o homem está construído de tal maneira que é desnecessário ordenar o amor-próprio. Os homens devem respeitar suas vidas e a imagem divina dentro deles.
ELIANA: Bem teóloga, você está dizendo que através de dados bíblicos compreendemos que: de um lado os homens são condenados por serem amantes de si mesmos, e do outro, há um sentido em que devem amar a si mesmos. Como solucionamos isso? O que devemos exatamente amar e odiar no homem?
CIDA MARTINS: Vou lembrar uma defesa Agostinho, que nos ajudará a compreender este dilema. Agostinho dizia que a natureza do homem não está totalmente corrompida. O mal é um parasita ontológico. Como a ferrugem ou a podridão, o mal não pode viver por si só. O mal é uma falta daquilo que deveria estar ali, como a falta de vista nos cegos ou a falta de um membro nos mutilados.
ELIANA. Então, aquilo que é chamado uma natureza má, portanto, não é totalmente maligna, mas, sim, uma corrupção ou privação dalgum bem numa natureza perfeitamente boa que Deus originalmente criou?
CIDA MARTINS:. É isso. Há valor até mesmo no homem caído, que deve ser respeitado. Do outro lado, a influência corrompedora da natureza humana não deve ser amada. Os homens devem odiar aquilo que distorce e diminui seu valor como criaturas de Deus.
ELIANA. Concordo. O homem, pecador por natureza, coloca-se no lugar de Deus. Adora a criatura mais do que ao Criador. É isso que Erich Froom e Any Hand estão defendendo.
CIDA MARTINS: Exatamente. E este pensamento é um contrassenso. Esta tendência básica na natureza corrompida que o homem deve odiar, negar, e crucificar.
ELIANA: Bem, agora que ficou claro o que a bíblia nos exorta a odiar, ou seja, o “ego” maligno, acho que podemos concluir nossa reflexão, não é teóloga?
CIDA MARTINS: Sim, Eliana. Mas quero deixar claro que o amor impróprio a si mesmo não deve impedir o amor correto a si mesmo. Pois, amar a si mesmo com sendo ulterior (como Deus) é impróprio, ou seja, a ideia de Erich From, está totalmente descartada. Mas amar a si mesmo como criatura é apropriado e bom. Este amor-próprio legítimo está claramente subentendido no mandamento da Escritura.
ELIANA. Então Tillich chegou perto.
CIDA MARTINS: Sim, sim; Kierkegaard também. O que incomoda são seus pressupostos.
ELIANA: Para finalizar, eu gostaria que você desse algumas razões sobre por que os homens caídos devem amar a si mesmos.
CIDA MARTINS: Primeiro, porque são semelhantes a Deus. Segundo porque é a base do seu amor aos outros. Terceiro, a bíblia ensina que amar aos outros é amar a Deus e finalmente, o cristão deve amar-se a si mesmo porque Deus o ama e deseja redimi-lo e reconciliá-lo consigo mesmo.
ELIANA. Muito bom teóloga, é impressionante como a Palavra corretamente interpretada esclarece qualquer assunto polêmico.
CIDA MARTINS: É isso Elina, mas gostaria de acrescentar algo mais para finalizar.
ELIANA: Pois não.
CIDA MARTINS: Se tivermos a dimensão exata do sacrifício de Jesus pelos nossos pecados, e do grande amor de Deus pela humanidade, compreenderemos que Deus ama os homens pecaminosos pela seu valor redimível, logo devemos amar a estes homens também, inclusive a nós mesmos entre eles.
ELIANA. Bem, paramos por aqui. Foi um prazer recebe-la e espero numa próxima oportunidade falarmos sobre outros assuntos polêmicos.
CIDA MARTINS: O prazer foi meu.
TRABALHO REALIZADO NO 7º SEMESTRE DO BACHAREL EM TEOLOGIA DO CACP
POR: Maria Aparecida de Oliveira e Eliana Sabino Alves
JUNHO DE 2013