Alguns estudiosos têm confundido a ira justa e santa de Deus com o ódio justiceiro. Eles tomam como base versículos isolados de alguns Salmos que tratam da justiça divina, nos quais se mencionam, dependendo da tradução, os verbos “aborrecer” ou “odiar”.-Leia e seja abençoado(a) em Nome de Jesus… Entretanto, essas passagens devem ser estudadas à luz dos contextos imediato e remoto, histórico e cultural, etc. Afinal, a Bíblia é análoga. Ela interpreta a si mesma. Não é por acaso que João 3.16 é considerado o texto áureo da Bíblia Sagrada. Deus, de fato, amou e ama a humanidade. Ele não odeia pessoas.
O Senhor Jesus não é um sádico vingador. Ele é justo e perdoador! E, por isso, dá ao ser humano, por pior que ele seja, a oportunidade de se arrepender de seus pecados e crer no Evangelho. Deus não tem prazer na morte do ímpio (Ez 33.11); deseja que todos se arrependam (2 Pe 3.9). E nivelou a todos debaixo do pecado (Rm 3.23; Gl 3.22), depois da Queda, “para com todos usar de misericórdia” (Rm 11.32).
Quem defende a tese de que Deus odeia os pecadores geralmente confunde a ira justa de Deus — que é baseada em seu caráter justo e santo — com o ódio justiceiro. E, por isso, apega-se a textos isolados, como Salmos 5.5 e 11.4, visto que estes mencionam o suposto ódio divino a pessoas de modo objetivo. Entretanto, os termos originais para odiar ou aborrecer — tanto no Antigo como no Novo Testamentos — apresentam, de modo geral, várias acepções, como: sentimentos maldosos e injustificáveis para com os outros; preferência relativa de uma coisa sobre outra; um correto e justo sentimento de aversão ao que é mau, etc.
O termo hebraico empregado nos Salmos mencionados e outros “representa uma emoção que varia de ‘ódio’ intenso à mais fraca ‘indisposição com’ alguém ou algo” (VINE, W.E., Dicionário Vine, p.198, CPAD). Um bom exemplo de “ódio” com o sentido de preferência aparece em Romanos 9.13: “Amei a Jacó e aborreci Esaú”. Qual é o sentido original da palavra usada para “aborreci”, “odiei” ou “rejeitei”? No hebraico, esses verbos denotam “amar menos”. Trata-se do mesmo termo original usado para descrever o sentimento de Jacó por Leia. Ele a “desprezava” porque amava mais a Raquel (Gn 29.30,31). O sentimento de Jacó por Leia não era de ódio; ele não queria vê-la sofrer. E até teve filhos com ela! Mas Raquel era a sua preferida.
No Novo Testamento, esse hebraísmo também ocorre em Lucas 14.26 e Mateus 10.37, textos pelos quais aprendemos que, para seguirmos ao Senhor Jesus, amando-o acima de tudo, devemos amar menos (ou “aborrecer”) a nossa família. O que o Senhor aborrece ou odeia são as obras dos ímpios, e não as pessoas dos ímpios. “Ah, mas é impossível dissociar o pecado do pecador” — alguém argumentará. Isso é óbvio. Mas dizer que o Senhor odeia o pecador, como se Ele fosse um justiceiro com sede de vingança, é torcer o que a Bíblia ensina a respeito do amor incondicional do Salvador. Se Deus é Verdade, não pode ser, ao mesmo tempo, Mentira. Se Ele é Luz, não pode ser, de modo concomitante, Trevas. Se Deus é Amor, não pode ser, ao mesmo tempo, Ódio.
Lembra-se do rei Manassés? A sua biografia está em 2 Crônicas 33 e 2 Reis 21. Ele começou a reinar em Judá com 12 anos, reinou por 55 anos e fez o que era mau aos olhos do Senhor, conforme a abominação dos gentios. O Senhor jamais teve ódio justiceiro de Manassés, porém a sua ira justa se ascendeu contra ele. Como assim? No seu reinado, Manassés tornou a edificar os altos derribados por Ezequias; levantou altares a Baalim; edificou altares na Casa do Senhor a todo o exército dos céus e prostrou-se diante deles; fez passar seus filhos pelo fogo (!); usou de adivinhações, agouros e feitiçarias; fez errar o povo de Judá, a ponto de este se tornar pior do que as nações que Deus destruíra; não deu ouvidos ao Senhor… Ufa! A folha corrida de Manassés sequer cabe aqui!
Deus ficou irado contra Manassés. Mas agora vem a distinção entre a ira justa e o ódio justiceiro. Depois de ter sido levado cativo pelos assírios, Manassés, angustiado, orou ao Senhor e humilhou-se muito. Sabe o que aconteceu? Deus — que, mesmo irado contra Manassés, sempre o amou, pois Ele ama os ímpios e pecadores — aplacou-se para com ele. E Manassés, ao sentir-se amado por aquEle contra quem havia pecado tanto, tirou da Casa do Senhor os deuses estranhos, reparou o altar e mandou que Judá servisse ao Senhor. O Senhor odeia o pecado. E os homens que permanecem no pecado experimentarão a ira divina. Manassés se arrependeu e foi poupado. Mas o rei de Judá que o sucedeu, Amom, provou do furor divino, baseado nas santidade e justiça do Justo Juiz: “E fez [Amom] o que era mau aos olhos do SENHOR, como havia feito Manassés, seu pai, […] Mas não se humilhou perante o SENHOR, como Manassés, seu pai, se humilhara; antes, multiplicou Amom os seus delitos” (2 Cr 33.22,23).
Diante do exposto, é evidente que a Palavra do Senhor, ao mencionar a ira justa e santa de Deus contra os ímpios (Rm 1.18-32), não alude a um sentimento de ódio justiceiro, como de alguém que, sem misericórdia, deseja destruir os pecadores impenitentes. Deus amou o mundo (Jo 3.16ss), isto é, a totalidade da humanidade. E, embora tenha de condenar ao Inferno parte dos pecadores, haja vista poucos quererem entrar pela Porta da Salvação (Jo 10.9; Mt 7.13,14), Ele enviou o seu Filho unigênito para provar a morte por todos os pecadores (Hb 2.9; 2 Co 5.14-21), a fim de igualmente propiciar salvação a todos que se arrependerem (At 17.30,31; 1 Jo 2.1,2).
post inforgospel.com.br – com informação CPADNews – Coluna pastor Ciro Sanches Zibordi