De acordo com a visão hiper-calvinista Deus, segundo a sua Soberania, decretou antes da fundação do mundo quem seriam os eleitos e quem seriam os perdidos ou réprobos e, uma das passagens bíblicas escolhida para fundamentar essa assertiva é a passagem de Pv 16.4 que diz:
“O Senhor fez todas as coisas para os seus próprios fins e até ao ímpio, para o dia do mal” (Pv 16:4 – ARC)
Diante de tal afirmação, surge uma dúvida: Como conciliar a ideia de que Deus fez o ímpio para o dia do mal, uma vez que, de acordo com Rm 5.6, Cristo morreu pelos ímpios?
Ora, se Cristo morreu pelos ímpios, segue-se que ele morreu por todos os homens e não apenas pelos eleitos. Mas dirá um calvinista: “Cristo morreu apenas pelos eleitos, pois todo o eleito antes de ser salvo era um ímpio. Logo, os ímpios pelos quais Cristo morreu, na verdade, eram os eleitos e não todos os ímpios”.
Apesar dessa lógica calvinista continuamos diante de um sério problema: Pois se todo eleito antes de ser salvo era um ímpio, como explicar o fato de que Deus fez o ímpio para o dia do mal uma vez que o eleito era um ímpio? Ora, se todo o eleito antes de ser salvo era um ímpio, não há como negar que ele também, na qualidade de ímpio, foi feito para o dia do mal. Agora, se realmente Deus fez o ímpio para o dia do mal, como o ímpio pode ser eleito e salvo, e ao mesmo tempo ter sido feito para o dia do mal, ou seja, um réprobo ou destinado ao inferno? Como pode alguém ser eleito e reprovado ao mesmo tempo? Como uma pessoa pode ser eleita para a salvação e, ao mesmo tempo, ser eleita para o inferno? Das duas uma, ou você é um eleito para a salvação ou você é um réprobo, eleito para o inferno. Deus não é Deus de confusão. Diante desse dilema, nos encontramos diante de um grande desafio: Como harmonizar essa gritante contradição?
Só existem duas opções: a) ou interpretamos a expressão, “para o dia do mal” em Pv 16.4 como “para o dia da calamidade”, pois a palavra hebraica para o substantivo mal é Ra‘, e significa: “mal, calamidade, infortúnio”, tradução essa que favorece a visão arminiana de que Deus não elegeu alguns e reprovou os demais, mas, sim, que Cristo morreu por todos e Deus, segundo a sua presciência, elegeu alguns, como diz o apóstolo Pedro em sua primeira carta (I Pe 1:2); ou b) insistimos na primeira opção de que Deus fez o ímpio para o dia do mal e, levando em conta que todo eleito antes de ser salvo era ímpio e colocamos todos no fogo do inferno. Visto que está última opção não tem o amparo das Escrituras, pelo fato dela afirmar de forma clara que existe e existirão tanto os salvos como os perdidos (Mt 25:34-41,46; Ap 20:11-15), deferimos que Cristo morreu por todos (I Jo 2:1,2) e que os que foram eleitos o foram segundo a presciência de Deus.
Os que são salvos, não são salvos por seus próprios méritos, pois o homem por si mesmo não pode operar a sua própria salvação, uma vez que ela é fruto exclusivo da graça de Deus a qual é recebida, pelo homem, por meio da fé.
“A SALVAÇÃO VEM DO SENHOR, POR MEIO DA SUA GRAÇA, MAS O HOMEM SÓ A RECEBE QUANDO EXERCE A FÉ” (Jn 2.9; Ef 2.8).
Conclusão
A interpretação mais provável para o texto seria dizer que a intenção do autor de provérbios é mostrar que Deus usa até mesmo o ímpio para castigar o seu povo. Deus faz todas as coisas de acordo com o seu propósito, Ele até mesmo criou as nações ímpias para castigar, trazer calamidade ao seu povo por sua desobediência. Essa interpretação é coerente, por exemplo, com a declaração de Jeremias 51.20-23 ou Amós 6.14. Há ainda muitos outros textos em que Deus claramente diz que faz uso de nações ímpias para cumprir os seus propósitos: Is 44.28; 45.1-8; 48.14-15 e Jr 27.5-7; 50.9 só para citar alguns versículos.
Fontes: – Elias Soares de Moraes 18/05/2014
– http://bereianos.blogspot.com.br/