Definindo ortodoxia e heresia

estudando-bibliajpg13223070458pm

Até aqui tenho argumentado que devemos distinguir entre a verdade e o erro na doutrina. Examinaremos agora mais diretamente a questão da ortodoxia e da heresia. O que é doutrina ortodoxa? O que é doutrina herética? Qual a diferença?

Métodos Inadequados

Poderíamos simplesmente dizer que qualquer doutrina que é bíblica é ortodoxa, e qualquer doutrina que não é bíblica é herética. Isto, entretanto, é não somente simples, mas também demasiadamente simplista. Por exemplo, ao presumir que uma das teorias sobre o milênio é bíblica (e há pelo menos quatro delas), não podemos dizer que as outras, não sendo bíblicas, são heréticas. Há doutrinas que, ainda que em desacordo com a Bíblia, não estão tão longe do alvo que possam ser consideradas heréticas.

Outro método usado é o de medir as doutrinas pelas confissões doutrinárias de determinadas denominações. Não há problema nisso, contanto que esteja claro que o que se está determinando não é a ortodoxia, mas fidelidade confessional. Em outras palavras, se alguém pretende ser ordenado por uma determinada denominação, essa denominação tem todo o direito de requerer que o candidato concorde com suas doutrinas. Se o candidato discorda, por exemplo, com a posição da denominação com respeito a línguas ou predestinação, ele não deve procurar ordenação naquela denominação. Devido à atual diversidade de denominações, isso é normal.

Por outro lado, é lamentável que a Igreja tenha se permitido dividir por causa de questões não essenciais. Assim, adesão à confissão de uma determinada denominação não pode ser necessariamente um teste de ortodoxia cristã. É claro que alguns dos pontos doutrinários defendidos por uma denominação podem ser básicos à ortodoxia (e.g., a confissão da divindade de Jesus Cristo). Neste caso, a confissão da denominação coincide com a ortodoxia.

Qual, então, deve ser nosso padrão de ortodoxia? Como dever ser determinado? Talvez a questão mais difícil seja: Quem determina esse padrão?

Eu não tenho nenhuma autoridade em particular para determinar por qual padrão a ortodoxia deve ser julgada. Não tenho nenhuma unção além daquela dada a todo cristão (1 Jo. 2:20; 27). Tampouco tenho autoridade apostólica ou profética. Não sou nem um ministro ordenado. Quem sou eu, então, para julgar quem é ou não ortodoxo? Quem sou eu para chamar alguém de herege?

Minha resposta a essas questões tem duas partes. Em primeiro lugar, eu sou um cristão e, como tal, tenho a responsabilidade de combater a heresia. Tenho também a responsabilidade, como parte da Igreja, de alertar outros acerca da falsa doutrina. Não teria como fazê-lo se não tivesse ideia do que é heresia.

Em segundo lugar, eu sou um mestre, chamado por Deus ao ministério de ensino da sã doutrina a meus irmãos em Cristo. Isso não me dá nenhuma autoridade especial, ou manto de sanção divina – e, portanto, não quero que ninguém suponha que tudo que digo, seja o que for, é a verdade infalível. Porém, o chamado que tenho implica que Deus me deu uma responsabilidade especial e, se eu for fiel, Ele me usará para guiar outros crentes a um entendimento mais completo e exato da verdade. Se eu realmente for fiel, aqueles que estão abertos à verdade de Deus saberão que o que digo é verdade – não porque eu o digo, mas simplesmente porque eu os terei guiado ao entendimento do que é, na verdade, a Palavra de Deus, a Bíblia.

Buscando Definições

O que é, então, a ortodoxia, e o que é a heresia? Em primeiro lugar, quero salientar que o termo ortodoxia não se encontra na Bíblia. Isso não significa que o conceito não é bíblico, mas que não podemos buscar a definição da palavra no texto bíblico.

O conceito de heresia se encontra na Bíblia na forma de divisões entre cristãos, mais especificamente com relação a doutrinas ou práticas que destroem a fé genuína, e que são dignas de condenação (e.g., 2 Pe. 2:1). No sentido mais amplo da palavra, ela pode significar as divisões vistas nas denominações modernas, ao passo que, no sentido mais estrito, ela se aplica a grupos que rejeitam as doutrinas cristãs básicas, e se separam da Igreja histórica em seus muitos aspectos. Nesse sentido mais exato, heresias podem, em princípio, aparecer dentro da Igreja. Deus chama os cristãos a se separarem daqueles que as abraçam.

Assim, podemos definir “heresia”, no sentido mais estrito, como uma doutrina que diretamente se opõe aos pontos básicos da fé cristã, sendo, portanto, necessário que os verdadeiros cristãos se separem daqueles que a defendem. Note que há uma importante distinção: uma “facção” ou heresia no sentido mais amplo diz respeito às lamentáveis divisões que separam cristãos entre si; eles devem fazer todo o possível para acabar com tais divisões (1 Co. 1:10). Entretanto, heresia no sentido mais estrito é uma divisão que separa os cristãos daqueles que não são cristãos (ou, no mínimo, daqueles cristãos que estão persistindo em grave erro), e os cristãos têm a responsabilidade de estabelecer um limite que impeça sua comunhão espiritual com aqueles que o ultrapassem. Isso não quer dizer que cristãos não devam demonstrar amor e compaixão genuínos, bem como respeito pessoal aos hereges; infelizmente, na história da Igreja, a palavra herege foi quase sempre usada como um termo de ódio.

Como devemos, então, definir “ortodoxia”? Da seguinte maneira: ortodoxia é o corpo de doutrinas essenciais que devem ser adotadas por todos que queiram ser considerados cristãos. De maneira simples, quaisquer ensinamentos e práticas religiosas que não são heréticos são ortodoxos, e vice-versa.

Note que não estamos afirmando aqui que todos os membros de igrejas que ensinam heresia estão perdidos. Isso seria tão falso quanto afirmar de que todos os membros de igrejas que ensinam doutrinas ortodoxas são salvos. Ao dizer que alguém é um herege, ou que está seguindo heresia, não pronunciamos julgamento com relação a sua alma eterna. O que afirmamos é que se tal pessoa seguir a heresia consistentemente, certamente se perderá. De maneira semelhante, ao afirmarmos que alguém é ortodoxo, não estamos afirmando que tal pessoa é um cristão verdadeiro e que possui segurança da vida eterna. O que afirmamos é que se essa pessoa seguir a doutrina ortodoxa como base de sua vida, depositando sua confiança em nada mais do que Cristo para sua justificação perante Deus, ela será salva.

Publicado por:

Agência de Informações Religiosas (AGIR)

Centers for Apologetics Research (CFAR)

Sair da versão mobile