Debate Entre o Pr. Jorge Pinheiro e o Sheik Jihad na Bienal do Livro

Síntese do Debate Entre o Pr. Jorge Pinheiro e o Sheik Jihad na Bienal do Livro

O debate entre o Pastor Batista Jorge Pinheiro (professor do Seminário Batista de Perdizes) e o Sheik Jihad Hassan Hammadeh (Vice Presidente da Juventude Islâmica da América Latina) ocorreu neste sábado, dia 25 de Maio de 2004 às 20 h no auditório da Bienal do Livro em São Paulo. Na verdade não foi realmente um debate, mas um convite para que cada um dos oradores palestrasse por 40 minutos sobre o tema “Paixão de Cristo”. O evento foi organizado pelo Instituto Cristão de Pesquisas – ICP, editor da Revista Defesa da Fé.

O Pastor Jorge discorreu sobre a problemática da distorção da Palavra Jihad e como o islã tem se encaminhado na direção do fanatismo e incoerência em prol da Guerra Santa. O Pastor classificou a atual teologia do Islã entorno da Jihad como sendo a “Teologia da Morte” e como o Novo Testamento chama os cristãos em Jesus Cristo a promover a “Teologia do Amor e da Paz” no embate com a falta de amor de algumas religiões. Citou vários líderes e teólogos muçulmanos de grande envergadura como responsáveis pela influência negativa, incitando a população ao martírio e terrorismo na promoção da fé islâmica! Encerrou apelando pela paz, a fraternidade e a liberdade religiosa a todos. Apertou a mão do sheik e congratulou-se amigavelmente, numa tentativa de suavizar as fortes conclusões feitas em sua palestra contra o islã. A meu ver foram brilhantes as colocações do pastor, apenas achei que faltou mais ênfase no assunto central que era acerca da Paixão de Cristo e como essa visão se contrasta com a muçulmana e vice e versa.

Vou me deter mais detalhadamente, daqui para frente, na pessoa do Sheik Jihad e sua exposição e respostas dadas à platéia. Também comentarei sobre a conversa que tive com ele após a palestra.
Confesso que desde a época da novela “O Clone” (da Rede Globo), tenho acompanhado o sheik em suas entrevistas pela televisão. Esperava muito encontrar-me com ele. Sinceramente, quando me deparei com o sheik vi nele um tipo de “Padre Marcelo Rossi” na versão islâmica; carismático, falante, gentil e bom orador, porém superficial.

Também achei que os organizadores do evento estavam muito preocupados no sentido de que ninguém fizesse perguntas que viessem a ofender o sheik. Acredito que qualquer palestrante que se habilite a ministrar a uma platéia laica tem que estar disposto a qualquer eventualidade, de ser louvado a ser vaiado, de receber perguntas agradáveis à indagações de mau gosto. Isso faz parte da vida de um palestrante que ministra em um auditório aberto como o da Bienal. Entendo que se os organizadores não quisessem que os seus palestrantes viessem a passar por um eventual constrangimento, então não deveriam abrir espaço para que o auditório fizesse perguntas.

O Sheik foi bastante aplausível em sua exposição e descreveu o fundamental da doutrina islâmica, apesar de ter sido parcial em favor do Islã quando apelou para fatos históricos. Bem, como o Pastor, ele também explicitou pouco do tema proposto. Acredito que isso tenha ocorrido pelo fato de ele ter se sentido obrigado a responder as afirmativas afiadas do Pr. Jorge, afinal de contas havia uma quantidade significativa de islâmicos naquele local e algumas das colocações feitas pelo pastor poderiam colocar dúvidas na cabeça de algum islâmico presente. Estava ansioso para ouvir sobre a questão da crucificação de Jesus da boca de um sheik islâmico. Sabia eu o que os islâmicos pensavam sobre o assunto, que para os teólogos muçulmanos Jesus não tinha sido crucificado (Alcorão, Sura 4:157). Apenas esperava uma forte argumentação, haja vista haver milhares de provas paleográficas de que Jesus realmente passou pelo suplício da cruz. Pensei que ele iria citar algum manuscrito da época de Jesus falando o contrário, mas apenas ouvi uma historinha engraçada – “Jesus, na última ceia… escolheu alguém para ser sacrificado em seu lugar… Deus fez com que as pessoas vissem sobre aquele indivíduo (que aceitou a missão) o rosto de Jesus, por isso as pessoas acreditaram que Jesus havia sido sacrificado, mas ele não passou por esse sacrifício…”, disse o sheik para minha profunda decepção!

Ao término da fala do sheik eu já estava com minha mão levantada e muito ansioso para indagá-lo. Havia tantas perguntas, tantos questionamentos, minha mente fervilhava e eu não sabia o que perguntar ou qual questionamento selecionar. O microfone me foi passado, disse que queria fazer pelo menos duas perguntas, mas o moderador do evento, de maneira muito gentil, pediu para que eu fizesse apenas uma e de maneira objetiva. Lembrei-me que um muçulmano tinha dito ao pastor Jorge, isso na sessão de perguntas do pastor, que o Alcorão não autoriza um muçulmano a matar um cristão, mas a ser amigo. Então, me apresentei ao sheik, e perguntei-lhe como ele explicaria o texto alcorâmico da sura 9:5. Peguei meu alcorão e li: “… matai os idólatras, onde quer que os acheis; capturai-os, acossai-os e espreitai-os…”. Argumentei que na sura 5:71 era dito também que acreditar na Trindade era iniqüidade e idolatria. Então indaguei, já que os cristãos em geral acreditam na doutrina da Trindade, se aquele texto significava que o Alcorão estava mandando matar os cristãos. O sheik muito educadamente e sempre com um sorriso no rosto, questionou-me sobre qual era a tradução do meu alcorão. Informei-lhe que era do romancista e escritor Challita, então ele me disse: “Ah, eu já imaginava, essa tradução não é muito boa”. Apesar de não poder dar réplica, questionei qual era a melhor tradução em português –“A de Samir El-Hayek”, disse ele (é a tradução que coloquei acima). Respondi que eram idênticas e que eu também possuía a tradução de Samir El-Hayek. Percebi então que o sheik não gostou muito do meu questionamento e posicionamento e um tanto constrangido explicou-me que esse mandamento era passado, e que o texto não se aplicava ao contexto atual – “… Esse mandamento Deus deu ao profeta devido a grande perseguição que os muçulmanos sofriam, e na condição de estado, o profeta montou um exército para a defesa… é como no Brasil, nós também temos um exército, mas não é para atacar ninguém e sim se defender… por exemplo, quando os muçulmanos atacaram os Romanos Bizantinos, o fez porque sabiam que o exército de Bizâncio estava pronto para atacar os islâmicos com 120 mil homens… O mandamento foi tão de Deus que com um exercito bem menor os muçulmanos venceram… Mas esse mandamento não é mais para hoje”, disse ele com ênfase. Foi difícil ouvir tudo aquilo e ter que ficar quieto. Eu me perguntava como esse mandamento não valia mais, se ele havia dito na sua palestra, poucos minutos antes, que o Alcorão era a última e única revelação para os muçulmanos, revogando as demais. E o que dizer do fato do próprio Alcorão afirmar que as palavras de Alá são imutáveis? – “Nossas decisões são inexoráveis” (Sura 6:34) e “as promessas de Deus são imutáveis” (Sura 10:64). Também me senti ultrajado quando o sheik arvorou que a expansão islâmica ocorreu sem haver ataque por parte do Islã, apenas contra-ataque – como isso seria possível?

Uma outra pessoa da platéia perguntou o que ele achava dos atentados terroristas de 11 de setembro de 2001 nos EUA e o que ele pensava de Osama Bin Laden – “Os muçulmanos condenam os atentados, como qualquer outra forma de atentado terrorista… Mas quem disse a você que foi Bin Laden que atacou os EUA ou que o atentado foi realizado por algum muçulmano…”, disse. Várias pessoas na platéia bradaram indignadas. Era fato, eu estava vendo um líder islâmico brasileiro defendendo Osama Bin Laden – “Eu mesmo fiz as traduções das fitas, ele não afirma ser o autor do atentado… não há nada que prove ser Bin Laden o autor dos atentados”. Isso foi o que mais me chocou, se o sheik estivesse na Arábia, ou no Afeganistão ou fosse alguém inculto, sem acesso à Internet ou jornais, isso justificaria sua argumentação infundada!

Depois do término das perguntas, que foram poucas, pois o sheik foi bastante prolixo nas suas respostas, tentei falar-lhe mais um pouco à parte. Disse a ele que tinha tanta coisa para falar sobre o tema, principalmente sobre algumas questões históricas que discordávamos, mas que devido ao tempo falaríamos sobre esse assunto via e-mail ou, quem sabe, se ele viesse a palestrar em minha faculdade. (Diante do sheik, achei melhor falar de teologia e não procurar abordar questões geopolíticas sobre o islã.). Mostrei-lhe o livro “O Islam e o Cristianismo” do autor Assamad, editora Makka e perguntei-lhe se o conhecia. Ele acenou que sim. Então lhe disse que esse livro, da página 1 até a 11, afirma categoricamente que os quatro evangelhos bíblicos são falsos, principalmente o de João que teria sido escrito no ano de 115 d.C. Então apontei a página 15 do mesmo livro, onde o autor usa o evangelho de João para argumentar que Jesus Cristo havia profetizado acerca do profeta Mohamed (João capítulo 16 versos 12,13). Questionei como pode um texto, que algumas páginas atrás fora exposto como falso, agora era usado como uma profecia verdadeira para defender a vinda do profeta Mohamed. ISSO NÃO É UMA FALTA DE COERÊNCIA? – Perguntei-lhe. O sheik novamente começou a criticar a tradução, mas mostrei-lhe na introdução do livro que a revisão e adaptação para o português fora feito pelo sr. El-Hayek, que ele havia elogiado como o melhor tradutor do Alcorão para o português. Então sorrindo, apontou o dedo no meu peito e disse: “O autor usou o texto do evangelho de João para convencer você, afinal de contas é verdadeiro para você” e desconversou. Ou seja, se alguma parte da Bíblia é útil para a teologia islâmica, então se passa como verdadeira, se não, argumenta-se que é falsa. Assim é muito fácil!

Devido ao acesso de outras pessoas que queriam conversar com o sheik, resolvi dar por encerrada a nossa conversa. Fiquei com o sentimento de que os muçulmanos carecem muito de fundamentação em sua teologia.

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