De onde vem nossa Alma?

Qual a origem da alma? Ao longo da história bíblica, e especial­mente na era cristã, tem sido difícil determinar de onde se origina a nossa alma. Várias teorias acerca do assunto merecem a nossa apreci­ação. Pelo menos são mais conhecidas nos meios teológicos e filosóficos quatro teorias interessantes, as quais podem nos dar uma visão mais precisa para sabermos como a alma humana passou a existir. Onde está o ponto de partida da alma de cada indivíduo? Como se dá a propagação da alma na espécie humana?

A criação das almas racionais foi o último ato de criação de Deus (Gn 1.26-28) na terra. Ele estabeleceu um princípio de multiplicação e frutificação para todas as coisas vivas, inclusive para Adão e Eva. Era uma ordem que seria obedecida naturalmente pelo casal, porque Deus o dotou da capacidade de procriação, isto é, propagação da espécie humana. Assim como os animais foram dotados da capacidade reprodutiva, também o homem. A diferença está no fato de que alma humana é racional, isto é, não age apenas por mera ação instintiva. Ele planeja sua vida, porque possui o elemento moral e espiritual. Por causa desse fato, existe a indagação: na procriação, o homem propaga aos filhos somente o elemento material, ou também o imaterial?

Por esta indagação surgiram várias teorias com a intenção de acla­rar a questão: a teoria pré-existencialista, a teoria traducionista, a teo­ria criacionista e a teoria da cooperação mútua.

A teoria do pré-existencialismo. Naturalmente essa teoria não encontra respaldo na Bíblia Sagrada porque os seus defensores advo­gam a ideia de que, “independente da origem imaterial da alma, seja criada ou eternamente existente, é sujeita à reencarnação ou transmigração de um corpo para outro, estendendo até as formas mais inferiores de vida”19. Portanto, a ideia básica dessa teoria é que a alma de cada pessoa tinha existência consciente e pessoal num estado prévio. Essas almas pecam em vários graus nesse estado preexistente, e por isso são condenadas a “nascer neste mundo num estado de pecado e em conexão com um corpo material”, segundo o teólogo Origines, teólogo de Alexandria (185-254 d.C.). Outro teó­logo, Hodges, apoia a teoria quando diz: “Tem passado por inúmeras outras épocas e formas de existências anteriores, e ainda há de passar por incontáveis épocas semelhantes no futuro”. Certamente não po­demos aceitar nenhuma dessas ideias que ferem frontalmente o po­der e o ato criador de Deus. Defendem a ideia advinda de um concei­to pagão de que o corpo é inerentemente mau e, portanto, a reencarnação ou transmigração, torna-se uma forma de castigo para a alma. Outro detalhe curioso é que os adeptos dessa teoria nunca apresen­taram outros seres humanos anteriores a Adão e Eva. Está inserida neste teoria que “as almas dos homens, consequentemente, existiram antes da criação de Adão. A vida preexistente era pré-adâmica. Os homens foram espíritos angelicais antes de tudo. Por causa da apostasia deles na esfera angelical, foram transferidos, como uma punição pelo seu pecado, para corpos materiais nesta esfera mundana, e agora todos eles, sem exceção, passam por um processo de disciplina, a fim de serem restaurados, para a sua condição angelical, de preexistentes”. Em síntese, esta teoria faz do corpo algo acidental para a alma huma­na. A Bíblia refuta veementemente esta teoria que desacredita a dou­trina do pecado original e do ato criador de Deus. A nossa presente condição jamais foi atribuída a alguma causa anterior ao pecado de nossos primeiros pais (Rm 5.12-21; 1 Co 15.22).

A teoria do traducionismo. O termo traduciano, donde deriva o traducianismo, provém de um verbo latino traducere que significa “levar ou trazer por cima”; “transportar” e “transferir”. Daí a ideia dessa teoria de que “a raça humana foi criada imediatamente em Adão, no que diz respeito à alma como também ao corpo, e que ambos são propagados da parte dele para a geração natural”. Inici­almente, Tertuliano propôs a teoria e Agostinho a sustentou implicita­mente. Esta teoria nega a declaração bíblica de que o “homem foi feito à imagem e semelhança de Deus”, porque ensina que Deus outorgou a Adão e Eva os meios pelos quais eles teriam descenden­tes à sua própria imagem”. Em outras palavras, a teoria “afirma que o homem transmite aos filhos todo o seu ser, como corpo e alma, reproduzindo-se, conforme todos os animais, segundo a sua espécie. Esta teoria, melhor explicada, diz que as almas se propagam junta­mente com os corpos mediante a geração. Este ato gerador é transmi­tido pelos pais aos filhos. Seus argumentos começam por afirmar que Deus soprou uma só vez o fôlego de vida, e depois capacitou ao homem a multiplicação da espécie (Gn 1.28; 2.7). Segundo essa teo­ria, a criação da alma de Eva estava incluída à alma de Adão, e usam como argumento o texto de 1 Coríntios 11.8. Entendem ainda que o ato da criação cessou completamente depois que foi criado o homem (Gn 2.2). Dizem ainda que as peculiaridades mentais e das tendênci­as familiares herdada dos pais, além das semelhanças físicas, fortale­cem a ideia de que os pais transmitem a alma aos filhos. Esta teoria, porém, é infeliz em algumas afirmações. Por exemplo: se a alma é transmitida pelos pais (homem e mulher), qual deles doou a alma recebida pelo filho?

A teoria do criacionismo. “O criacionismo ensina que Deus cria direta e imediatamente uma alma e um espírito para cada corpo no tempo da concepção, e que somente o corpo é gerado pela fecun­dação do óvulo através do espermatozóide. O traducionismo ensina que a alma e o espírito do homem são gerados com o corpo”. Em síntese, o criacionismo defende a ideia de que a alma individual não é transmitida pelos pais, mas que é criação imediata de Deus no momento da concepção (Is 57.16; Ec 12.7; Hb 12.9; Zc 12.1). Esta teoria, muita aceita entre um bom número de evangélicos, afir­ma que pelo fato ser chamado Pai dos espíritos, somente Ele pode criar uma nova alma. Afirma ainda que a alma é pura ao ser criada primeiramente fora do corpo, porém, unida ao corpo torna-se de­pravada. Esta hipótese expõe a ideia de que a alma é criada primei­ramente fora do corpo, e posteriormente, é contaminada pela união com o corpo. O perigo dessa ultima ideia é que o pecado é tornado um ato meramente físico, pondo o próprio Deus como o seu res­ponsável. A sustentação da doutrina do criacionismo torna-se mais forte em relação as demais teorias, principalmente em relação ao traducionismo. Note a diferença! O Salmista inspirado declarou o seguinte: “Herança do Senhor são os filhos; o fruto do ventre, seu galardão” (SI 127.3), indicando que não só a alma, mas também toda a pessoa da criança, incluindo seu corpo, é dádiva do Senhor. Nesse sentido entende-se que não é aceitável a ideia de que o pai e a mãe sejam responsáveis isoladamente pela existência do filho ge­rado. Davi declarou em sua oração: “Entreteceste-me no ventre de minha mãe. Eu te louvarei, porque de um modo terrível e tão mara­vilhoso fui formado; maravilhosas são as tuas obras, e a minha alma o sabe muito bem” (SI 139.13,14). A declaração de Davi fortalece o fato de que na geração de cada ser humano há uma participação direta e inequívoca de Deus, o Criador. É Ele quem cria nosso espí­rito e nossa alma por um ato imediato no momento da concepção. O profeta Zacarias apresenta a Deus como aquEle que “formou o espírito do homem dentro dele” (Zc 12.1).

A teoria da cooperação mútua. O leitor já deve ter percebido que esse assunto está envolto num certo mistério, mas concluímos que uma explicação ponderável é a da cooperação mútua, tanto da parte de Deus como dos pais. Quando os pais pelo ato sexual concebem e geram uma criança, naquele mesmo ato da concepção, automatica­mente, o ato criativo de Deus entra em ação com a criação imediata da alma e do espírito. Tanto o Criador quanto os pais cooperam mutua­mente. O homem gera outro homem em cooperação com o Pai dos espíritos. No momento da concepção, quando o óvulo feminino é fe­cundado pelo espermatozoide masculino, nem antes, nem depois, a alma e o espírito são criados e acompanham o desenvolvimento natu­ral da vida física da criança concebida. Entretanto, não devemos polemizar desnecessariamente sobre o assunto, e sim cuidar para evi­tarmos especulações anti-bíblicas e filosóficas, ou conceitos desprovi­dos de consistência bíblica (Ec 11.5; SI 139-13-16; Jó 10.8-12).

Ao tratarmos sobre questões relacionadas com a origem da alma temos a preocupação em destacar o fato de que a alma humana pertence ao campo imaterial e, como tal, devemos tratá-la como um bem precioso, que precisa ser administrado para a glória de Deus.

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LIVRO : MORDOMIA CRISTÃ  – CPAD, ELIENAI CABRAL

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