De onde veio a primeira inclinação para o mal?

O que segue é a resposta de um blogueiro visitante a questão do meu blog aos calvinistas sobre a fonte da primeira inclinação ao mal. A resposta veio de Allan Steel que eu suponho, é um calvinista (porque o meu desafio foi aos calvinistas):

Uma grande quantidade de assunto está sendo abordado aqui. Eu acho que é muito bom ver esse engajamento ativo em temas tão pesados – e de forma tão graciosa e recíproca. Eu gostaria de responder a excelente questão do Dr. Olson, “De onde veio a primeira inclinação ao mal?” Alguém uma vez colocou essa questão para mim durante um pequeno grupo de discussão sobre o pecado. Até aquele momento, eu tinha normalmente deixado de lado a questão com respostas superficiais como “Grande questão. Essa pode ser a primeira questão que eu vou perguntar quando me encontrar com meu Salvador face a face”. Era uma resposta honesta, mas naquela ocasião eu senti essa resposta terrivelmente inadequada e eu senti que devia a pessoa e ao grupo, uma resposta melhor. Eu também senti que era tempo finalmente de confrontar essa questão e dar uma resposta aprofundada. Eu acho que os períodos de crescimento são geralmente acompanhados por uma boa dose de desconforto pessoal. É necessário cuidado ao explorar este tema desde que, até onde sei, a Bíblia não aborda a esta pergunta diretamente.

Vamos iniciar com o pecado, desde que o pecado pareceria ser o elemento central dessa discussão. O pecado existia em Adão quando ele foi criado? A resposta, creio eu, é “não”. Deus não é o criador do mal. Deus não é suscetível ao mal. Então, se Adão estava sem pecado, como o pecado entrou nele? Outra forma de expressar a pergunta é “como Adão, não possuindo uma natureza pecaminosa, deslizou ou ‘caiu’ em pecado?”

Nós também devemos relembrar que havia um “tentador” presente com Adão no Jardim. Descrito como a serpente, o relato em Gênesis não menciona especificamente Satã, embora a maioria dos interpretes fazem essa suposição. Os esforços do tentador parecem ter uma má intenção, definida como estando contra os comandos de Deus e em oposição a vontade de Deus. Então, a próxima questão é “Começando com a suposição de que o tentador não foi criado mau, pela mesma razão que Adão não foi criado mau, como o tentador caiu em pecado?” Se o tentador caiu em pecado, parece tão lógico, segue que ele teve uma vontade como parte de sua natureza criada que era livre o suficiente para permiti-lo pecar.

Eu acho que é seguro concluir que ambos, Adão e Satã receberam de Deus uma vontade como parte de suas naturezas criadas. Como eu iniciei logo atrás, desde que Deus criou ambas as criaturas, Satã e Adão, nós podemos seguramente concluir que eles foram criados sem uma natureza inerentemente pecaminosa. Então, dessa forma, a vontade deles, como atributos criados, era livre – quer dizer, livre em um sentido que eles não estavam sem restrições pela influência corrupta do pecado – mas, não livre da possibilidade de corrupção. Aparentemente, o último atributo pertence somente a Deus. Minha melhor tentativa de uma explicação dessa diferença entre nós e Deus é dizer que o Criador é infinito e nós, os seres criados somos finitos – querendo dizer, nós somos limitados. Parte dessa natureza finita de Satã e Adão era a suscetibilidade deles a corrupção.

Então, os seres criados, Satã e Adão eram criaturas finitas com vontade e eram suscetíveis a possibilidade de corrupção como parte de suas naturezas criadas. Então, o que causou os seres criados, Satã e Adão, caírem em pecado e se tornarem corrompidos?

Uma tentativa que li procura responder que esse assunto tem a ver com outro atributo criado: o desejo. Deus também tem esse atributo. Ele deseja, por exemplo, que nós coloquemos toda a nossa confiança nele e que nós obedeçamos aos seus mandamentos. O desejo de Deus não é corruptível. O desejo de Satã e Adão era. Essa teoria postula que foi por meio do desejo que ambos, Satã e Adão, eventualmente, caíram em pecado e se tornaram corrompidos. O desejo deles por uma coisa comum, poder e glória em uma similaridade com Deus, eventualmente superou o desejo deles de confiar em Deus completamente, para obedecer aos comandos de Deus e estar feliz com seus status, causando assim a queda em pecado. Isso foi o que eu ofereci aos garotos no pequeno grupo e resultou realmente em uma discussão interessante.”}}

Aqui está a minha resposta [do Olson]:

“Isso é construtivo e útil. Obrigado. Minha primeira questão (não para você necessariamente) é porque John Piper não respondeu com essa mesma visão Agostiniana quando eu coloquei a questão para ele. Antes, sua resposta foi que ele não sabia. A maioria dos calvinistas que eu pergunto simplesmente evitam responder. Então eu acho que essa resposta é um bom inicio para um diálogo. Claro, eu concordo com tudo isso. É uma resposta Arminiana muito boa! Mas eu presumo que foi oferecida por um calvinista. O que me admira é o quão consistente essa resposta está com a doutrina calvinista/Reformada Clássica da providência. Certamente que os calvinistas querem que a doutrina deles seja consistente umas com as outras. Eu demonstrei em Against Calvinism que muitos, eu diria a maioria, dos calvinistas clássicos tem sido e são o que eu chamo de teólogos deterministas que creem em uma providência meticulosa. (eu compreendo que eles não gostam do termo “determinismo”, mas eu não posso pensar em qualquer termo melhor para o que eles dizem que eles creem). Sproul, por exemplo, adora falar às audiências (e tem escrito em alguns de seus livros) que (parafraseando) se existe uma molécula autônoma no universo, Deus não é Deus. O contexto deixa claro que ele não está falando somente sobre moléculas; ele está falando sobre todas as coisas. Paul helm prega dizendo (parafraseando novamente) que todo pensamento é controlado por Deus. Eu tomo isso (e tenho argumentado em Against Calvinism e em outros lugares) que a doutrina calvinista clássica da providência divina não admite nenhum evento não determinado por Deus. Para ser claro, todos os tipos de explicações são dadas de uma maneira em que Deus determina sem causar diretamente (e.g., causas secundárias). Contudo, a ideia é (e alguém pode encontrar isso claramente explicita nas Institutas de Calvino) que Deus nunca observa meramente o que acontece e nunca acha que o que acontece não é o que planejou acontecer. Deus é, por assim dizer, a realidade toda determinante. Assim, a primeira inclinação mau (e o que se seguiu dela) DEVE ter sido determinada por Deus. Claro, a criatura (Satã, Adão) formaram a intenção má dentro de si mesmos, mas a questão é por quê? Ele forma a intenção independentemente da intenção e vontade de Deus? foi uma permissão de Deus que ele formasse a intenção antecedente ou conseqüente em relação ao livre arbítrio das criaturas? A permissão de formar a intenção foi eficaz? Isto é, Deus (como Edwards diz) reteve ou retirou a influência divina necessária a criatura para não pecar?

Essas são questões que se levantam da resposta bem Agostiniana do Sr. Steele. Como eu a entendi, qualquer declaração que a criatura que pecou primeiro, que formou primeiro uma intenção má, fez tão independentemente da vontade de Deus, plano, propósito e controle entra em conflito com a doutrina calvinista clássica da soberania de Deus como expressada na doutrina calvinista clássica da providência divina. Em outras palavras, me parece, que a resposta que o Sr. Steele nos dá é inconsistente com o calvinismo, mas consistente com o Arminianismo. Claro, um calvinista pode manter esse esquema, ajustando sua doutrina da providência, mas que estaria fazendo uma enorme concessão ao Arminianismo. (Eu estou usando o “calvinismo” e o “Arminianismo” por meio dessa resposta com espaços reservados para crenças mais amplas. Lutero e Zwinglio, por exemplo, ambos acreditam no determinismo divino, mas dificilmente podem ser chamados de “calvinistas”, sem anacronismo. Da mesma forma Erasmo e Menno Simons parecem ter negado o determinismo divino, mas dificilmente podem se chamados de “arminianos” sem anacronismo”).

Fonte: http://evangelicalarminians.org/from-where-did-the-first-evil-inclination-come-a-dialogue-with-a-calvinist/

Por Roger E. Olson, PhD – Tradução Walson Sales.

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