Da Dúvida À Certeza: O Espírito Santo É Deus!

ERRAIS POR NÃO TER CONHECIMENTO

Lembro-me de quando decidi seguir a Cristo e o aceitei como meu Senhor e Salvador. Nestes primeiros dias de fé não tinha em mim uma definição clara a respeito do Espírito Santo e da sua obra em nossas vidas. Lia a Seu respeito tanto em algumas literaturas para novos convertidos quanto nas Escrituras, especialmente no Evangelho de João, mas confesso que não compreendia bem quem era essa Pessoa Divina, afinal era uma força ativa de Deus? Seria um ser celestial inferior ao Pai e ao Filho? Ou como disse um certo pregador que ouvi: “é o caçulinha’ da Trindade”? Para piorar o meu entendimento, não encontrava cristãos que esclarecessem as dúvidas que tinha, pois em sua maioria apresentavam respostas evasivas ou simplistas demais para mim. Em oposição a esta situação, apareciam várias ideias que me deixavam ainda mais confuso, tais como as propagadas pelo grupo Testemunhas de Jeová.

O tempo passou e pude perceber que a falta de conhecimento teológico da Terceira Pessoa da Santa Trindade é, infelizmente, comum no círculo pentecostal ao qual pertence. Parece incoerente tal afirmação, pois como pode um grupo cristão que se esmera em buscar os dons do Espírito Santo não conhecê-lo como as Escrituras O apresenta? Na verdade, este desconhecimento se deve a vários fatores, tais como: a) a negligência em relação à formação teológica existente em muitos arraias pentecostais; b) O predomínio de ideias baseadas apenas em experiências místicas; c) A falta de materiais que aprofundem no conhecimento do Espírito Santo.

A respeito deste terceiro ponto, vemos claramente que até mesmo na teologia tradicional o ensino a respeito do Espírito Santo foi negligenciado ou pouco explorado. Um exemplo que podemos apresentar sobre esta questão é a excelente obra de Teologia Sistemática de Norman Geisler. Nesta exaustiva “teologia apologética” vemos poucas páginas serem dedicadas a Pneumatologia (ou Parakletologia), na verdade trata-se de 3 páginas (pp.l 141-1143). Esta dificuldade é evidenciada nas palavras de Mark D. McLean que ressalta a dificuldade de compressão da tarefa do Espírito Santo na teologia, vejamos:

A tarefa tem-se complicado ainda mais pelo mal entendimento a respeito da obra e da Pessoa do Espírito Santo que tem circulado (consciente ou inconscientemente) na Igreja em geral. Trata-se, entre outras coisas, de conceitos errôneos do papel do Espírito Santo no Antigo Testamento, do relacionamento dos crentes com Ele antes e depois da conversão e do Batismo no Espírito Santo. 1

Não obstante a esta situação de pouco esclarecimento, temos visto surgir obras que são de suma importância para o conhecimento do Espírito Santo e fundamentais para todo cristão. Destacamos a obra lançada em 1984 por Roger Stronstad The charismatic theology of St. Luke (versão em espanhol: “La teologia Carismática de Lucas”, de 1994), onde ele faz uma leitura exegética do Evangelho de Lucas e Atos dos Apóstolos, para provar sua tese de que Lucas registrou a história com teologia, contrariando autores cessacionistas que rejeitam o caráter pedagógico de Atos, afirmando que tal Livro serve apenas como um relato e não como paradigma doutrinário.

Além desta obra, destacamos ainda: A doutrina do Espírito Santo e Teologia Sistemática: uma perspectiva pentecostal, ambas do mestre Stanley Horton. No cenário brasileiro é válido destacar a coletânea de autores organizada pela Casa Publicadora das Assembleias de Deus: Teologia Sistemática Pentecostal (2008), tendo como organizador o erudito pentecostal Antônio Gilberto. Estes entre outros são trabalhos2 que mostram que o interesse e a pesquisa em cima da Doutrina do Espírito Santo têm sido renovados, especialmente a partir da década de 1960. Todavia tais obras ainda são quase restritas aos círculos acadêmicos, sendo de pouco conhecimento do público leigo na maioria das igrejas locais de matrizes pentecostais.

Neste capítulo buscaremos apresentar o Espírito Santo como realmente Ele é: Deus todo poderoso, igual ao Pai e ao Filho; uma pessoa independente e ativa no meio da Igreja. Enfim, reafirmamos o que foi descrito pela Igreja cristã nos séculos IV e V através do Credo de Atanásio. Este credo foi elaborado para combater o arianismo e reafirmar a doutrina cristã tradicional da Trindade. Em seus 27 artigos iniciais vemos uma declaração majestosa a respeito do Espírito Santo e de sua divindade junto com o Pai e o Filho, vejamos o que nos diz este documento: “1. Todo aquele que quiser ser salvo, é necessário acima de tudo, que sustente a fé universal. 2. A qual, a menos que cada um preserve perfeita  e inviolável, certamente perecerá para sempre. 3. Mas a fé universal é esta, que adoremos um único Deus em Trindade, e a Trindade em unidade. 4. Não confundindo as pessoas, nem dividindo a substância. 5- Porque a pessoa do Pai é uma, a do Filho é outra e a do Espírito Santo outra. 6. Mas no Pai, no Filho e no Espírito Santo há uma mesma divindade, igual em glória e co-etema majestade. 7. O que o Pai é, o mesmo é o Filho, e o Espírito Santo. 8. O Pai é não criado, o Filho é não criado, o Espírito Santo é não criado. 9. O Pai é ilimitado, o Filho é ilimitado, o Espírito Santo é ilimitado. 10. O Pai é eterno, o Filho é eterno, o Espírito Santo é eterno. 11. Contudo, não há três eternos, mas um eterno. 12. Portanto não há três (seres) não criados, nem três ilimitados, mas um não criado e um ilimitado. 13. Do mesmo modo, o Pai é onipotente, o Filho é onipotente, o Espírito Santo é onipotente. 14. Contudo, não há três onipotentes, mas um só onipotente. 15- Assim, o Pai é Deus, o Filho é Deus, o Espírito Santo é Deus. 16. Contudo, não há três Deuses, mas um só Deus. 17. Portanto o Pai é Senhor, o Filho é Senhor, e o Espírito Santo é Senhor. 18. Contudo, não há três Senhores, mas um só Senhor. 19. Porque, assim como compelidos pela verdade cristã a confessar cada pessoa separadamente como Deus e Senhor; assim também somos proibidos pela religião universal de dizer que há três Deuses ou Senhores. 20. O Pai não foi feito de ninguém, nem criado, nem gerado. 21. O Filho procede do Pai somente, nem feito, nem criado, mas gerado. 22. O Espírito Santo procede do Pai e do Filho, não feito, nem criado, nem gerado, mas procedente. 23. Portanto, há um só Pai, não três Pais, um Filho, não três Filhos, um Espírito Santo, não três Espíritos Santos. 24. E nessa Trindade nenhum é primeiro ou último. Nenhum é maior ou menor. 25. Mas todas as três pessoas co-etemas, são co-iguais entre si; de modo que em tudo o que foi dito acima, tanto a unidade em trindade, como a trindade em unidade devem ser cultuadas. 26. Logo, todo aquele que quiser ser salvo deve pensar desse modo com relação à Trindade. 27. Mas também é necessário para a salvação eterna, que se creia fielmente na encarnação do nosso Senhor Jesus Cristo? […]”

Para efeitos didáticos apresentaremos este capítulo com base em algumas questões indispensáveis para se compreender o Espírito Santo e sua obra, a saber: A divindade do Espírito Santo; A pessoalidade do Espírito Santo e Sua obra na vida do Cristão.

Pela proposta, em um capítulo não será possível explorar exaustivamente o tema proposto, porém indicamos aos leitores que busquem uma maior compreensão da Pa rakletologia (doutrina do Espírito Santo) em uma das Teologias Sistemáticas contidas e expostas no referencial bibliográfico no final deste livro, especialmente aquelas de caráter Pentecostal.

 ———-

Fonte : Livro – Escudo Pentecostal – Uma visão panorâmica das principais doutrinas pentecostais, Jefferson Rodrigues, Editora Reflexão, 1ª Edição – Setembro/2017.

 

Sair da versão mobile