D. Mariquinha estava sentada na sala, aguardando o melhor horário noturno para se ligar na Internet, quando, de repente, apareceu-lhe na frente um sujeito esquisito, trajando camisa branca, calça preta e uma capa vermelha, a qual quase lhe cobria os hirsutos pés de cabra.
A velhinha ficou surpresa, mas não perdeu a pose e foi logo indagando, sem dar tempo do visitante responder.
Como foi que você entrou aqui, se a porta está trancada
Você veio fazer propaganda do Flamengo, pra ver se eu compro alguma ação desse clube? Pois, fique sabendo que eu detesto futebol!
Ou você pensa que ainda estamos no carnaval dos 500 anos?
O visitante olhou para ela com uma cara de deboche e respondeu:
Entrei pela porta fechada porque tenho um corpo imaterial, isto é, sou um “espírito de luz” e não me detenho diante de obstáculos materiais.
Torço pelo Flamengo, sim, porque, graças à idolatria dos “flamenguistas”, tenho levado muita gente para o meu reino infernal. O bom do futebol é que ele impede, até mesmo os crentes, de olhar para o meu “Inimigo Maior”, aquele que morreu na cruz por esse bando de ingratos, que agora são 6 bilhões e nem dão bola pra ele!
O carnaval dos 500 anos até que me agradou. Primeiro foi aquela violência tremenda praticada no local dos festejos, contra índios e trabalhadores, coisa que me deu um frenesi de alegria. Depois foi a idolatria dos festejos, inclusive a “missa” do dia 26, na qual os padres diziam estar invocando o meu ‘Inimigo Maior’, mas na realidade estavam me prestando um culto idolátrico, exatamente como na época do descobrimento.
Porque ‘missa’, é comigo mesmo! Você deve se lembrar que a tal de “Carta aos Hebreus”, que aquele enxerido do John Wesley garantia ter sido escrita pelo ‘traidor’ Paulo de Tarso, condena a ‘missa’, mas eu simplesmente adoro esse tipo de ‘sacrifício’, porque ele repete ‘mesmo de mentirinha’, e por ganância financeira, o sacrifício do meu ‘Inimigo Maior’, com a desculpa de ser ‘incruento’, e isso me alegra demais. Esses meus servidores romanos fazem tudo errado com respeito à tal da Bíblia, mas me agradam muito e por isso é que tenho dado à Igreja deles a maior fortuna do globo. Pio XII, meu “filho” predileto, já está morando comigo há 42 anos. Ah! Como temos nos divertido juntos!
Nesse ponto, D. Mariquinha já estava enjoada do cheiro de jasmim misturado com enxofre, que emanava do visitante e pediu-lhe, gentilmente, que se retirasse da sala, pois tinha muito o que fazer.
O visitante disse que iria ficar ali o tempo que desejasse, pois estava com a velhinha pelo “gogó”, porque ela andava mexendo muito com os “amiguinhos” dele, isto é, os pastores kakangélicos, que estão fazendo um belíssimo trabalho, ensinando as pessoas a cair de costas, andar de quatro nos cultos, urrar como leão, latir como cachorro, dar estrondosas gargalhadas e até vomitar em nome do “espírito santo”, que não é outro senão ele mesmo. Disse que a velhinha se cuidasse porque ele iria mandar-lhe uma porção de projéteis violentos, através da Internet e de alguns pastores da cidade. E completou: “Você foi considerada ‘persona non grata’ no ‘Capeta’, porque muitos dos meus ‘amiguinhos’, que lá estão, morrem de medo de sua língua de trapo, sabia? Por que não fica vendo TV e fazendo crochê, como as velhinhas da sua idade e me deixa em paz, hem, sua ‘alemã falsificada? ’ Outro aviso. Deixe essa mania de mexer com a “minha igreja” favorita, que há 16 séculos vem me servindo fielmente. Não foi à toa que dei aos papas idéias maravilhosas como a ‘Doação de Constantino’, os ‘Decretos de Isidoro’, as ‘Aparições de Maria’, o purgatório, a infalibilidade papal, etc. Enquanto a Igreja deles enriquece com essas lorotas, eu vou enriquecendo o meu reino de almas, o que se torna uma permuta ‘do outro mundo’!
Ah! Já ia me esquecendo de um detalhe importante: viu aquela cena do ‘pedido de perdão’ que a minha igreja fez (hoje) diante dos índios e negros? Elementar, minha “inimiga”! Ela anda conforme os meus ditames e quando dei a idéia daquela cena de “contrição” foi para que ela escondesse as suas verdadeiras intenções quanto ao futuro, quando estiver no comando mundial! Aí o pau vai comer pesado contra todos os hereges. Legal, hem?”
D. Mariquinha respondeu-lhe que não tinha medo dele, nem dos seus hierarcas favoritos, nem dos pastores kakangélicos. E que só teme “cair nas mãos do Deus vivo, que é Fogo Consumidor”. E acrescentou: “Visitante, você parece muito poderoso, nessas igrejas kakangélicas, que falam mais em você do que em Jesus. Mas a verdade é que você tem um poder limitadíssimo diante de Jesus Cristo e dos verdadeiros crentes, que lêem a Palavra e levam uma vida pura e reta diante de Deus e dos homens. Se todos os crentes lessem a Bíblia com espírito de fé e humildade, desejando se tornar realmente santos como Deus exige que sejamos, jamais iriam se preocupar tanto com você e o seu inferno, porque saberiam que a sua batalha já está perdida, que o Senhor Jesus deve estar voltando, que pouco tempo lhe resta e que você, como todas as demais criaturas, vai ter de dobrar o seu joelho diante dele, mesmo que não queira, confessando que ele é o Senhor! Agora, retire-se daqui, depressa, em nome de Jesus, porque eu preciso trabalhar, pois a seara é grande, mas os trabalhadores são poucos!”
O visitante saiu em disparada e atravessou a porta trancada com uma “Papaiz” da melhor qualidade e garantia!