Cultos aberrantes

A proliferação de manifestações religiosas exóticas

O que você diria de pessoas que adoram legumes, bebem sua própria urina, se alimentam de luz e/ou ainda adoram astros da mídia? Que perderam a razão? Que são visionárias ou devotas? Independente do que sejam, o certo é que todos os anos milhares de pessoas em todo o mundo trocam sua religião oficial por cultos estranhos. Essas novas seitas caminham paralelamente com as grandes religiões e possuem objetivos pouco claros,

provocando desvios comportamentais autênticos e atitudes patológicas extremamente preocupantes.

O último censo do IBGE mostrou que 2,3% da população brasileira professa uma “outra religiosidade”. Fanáticos religiosos não faltam no mundo atual, por isso um grupo de autoridades do Chile, comissionadas para investigar o fenômeno, chegou à conclusão de que o perfil de uma seita envolve fanatismo, obediência incondicional, exclusividade do grupo e liderança messiânica. Mas há alguns grupos (ou seitas) que se destacam devido às suas práticas anômalas, promovendo cultos com elementos que se afastam dos padrões convencionais.

Sabemos que devemos respeitar aqueles que pensam e crêem diferente de nós, afinal, a liberdade religiosa é uma questão que toca a todos, indistintivamente. No entanto, não podemos confundir as coisas, a ponto de sermos ingênuos e tolerar as ações irracionais de tais grupos e seus cultos excêntricos.


Culto

O termo “culto” denota basicamente dois possíveis significados inter-relacionados:

1) Adoração ou homenagem a uma divindade.

2) Ritual ou liturgia; ou seja, o modo de exteriorizar esta adoração.
A primeira significação refere-se à natureza do culto propriamente dito, enquanto a segunda traduz a formalização que pode ou não estar associada com o pensamento e doutrina que emerge dele.

O culto está essencialmente ligado à religião, e como esta possui uma conotação de ligação do indivíduo à divindade (do latim religare), o culto atua então como o meio pelo qual se consegue pôr em prática a religião.

Também se enquadram neste contexto a adoração devotada às forças da natureza, aos animais e aos astros celestes.

Quando um culto gera uma seita

Um culto pode gerar uma seita quando determinado grupo de pessoas se reúne de modo organizado, ou, talvez, quando parte desse grupo se desintegra, formando subgrupos dissidentes. Neste caso, temos, na acepção do termo, uma seita.

A terminologia sofreu várias modificações morfológicas em sua etimologia através dos tempos. De partido ou facção, recebeu uma conotação pejorativa de não-ortodoxia, doutrina falsa, crença heterodoxa. No contexto cristão, refere-se a toda e qualquer doutrina (pensamento ou prática) que contraria a Palavra de Deus.

À psicoteologia das seitas, encontra-se ligado o fenômeno do fanatismo, conseqüência da contracultura pregada por elas. Nestas últimas décadas, tem havido uma superpromoção desses cultos. Enquanto uns são amplamente aceitos na sociedade, outros são marginalizados. Enquanto alguns causam grande sofrimento, outros são aparentemente benéficos ou até patéticos.


Absurdos teológicos

Os absurdos ou aberrações são o mesmo que distorções, anormalidades, defeitos que se apresentam. As seitas produzem incessantemente tais desvios teológicos e muitas delas podem até conduzir seus fiéis ao suicídio coletivo. Steve Hassan, ex-membro da seita do reverendo Moon (Igreja da Unificação), hoje pesquisador de cultos e seitas que realizam algum tipo de controle mental, explica o porquê de as pessoas aceitarem facilmente uma doutrina aberrante.

Segundo ele, “as seitas operam na personalidade da pessoa, desligando-a de sua vida anterior, fazendo-a redefinir suas crenças e valores de acordo com as normas estipuladas pelo grupo”.1

A seguir, breves exemplos dos cultos anômalos desses novos movimentos religiosos.


Cultos excêntricos

É incrível como as pessoas estão propensas a exercer fé nos mais estranhos tipos de deuses. Quando tocamos neste assunto, obviamente nos vem à mente alguns exemplos de cultos anormais, porém, os exemplos que seguem são tão excêntricos que desafiam os limites do que consensualmente denominamos de anormal. Vejamos:


Culto à cebola 

Existe um grupo em Paris, França, que cultua a cebola. É isso mesmo. Estamos falando de um legume, considerado pelos adeptos como “bulbo divino”. A liturgia do culto é a seguinte: as pessoas se reúnem em volta de uma cebola e vão descascando-a lentamente, camada após camada, até chegarem ao talo, que, segundo crêem, é a parte mais importante do ritual. O indivíduo que estiver em concentração e contemplar a sagrada gastronomia, alcançará a pureza espiritual.2


Adoradores do umbigo

Este culto também gira em torno da meditação, sendo que, desta vez, o deus venerado é o ventre, ou melhor, o umbigo. Dentro do templo, com as portas fechadas e um ambiente repleto de incenso, sob um calor quase insuportável, o grupo (também francês) se concentra em seus próprios umbigos. Acreditam que, pela meditação profunda, poderão regredir, por meio do seu próprio cordão umbilical, até o umbigo de Adão, onde, dizem, encontrarão a paz do paraíso original.3


Ingestão de excrementos

Algumas seitas esotéricas, para adquirirem o que chamam de qualidades místicas (como, por exemplo, poder, força física e espiritual), ensinam a beber a própria urina. Até mesmo o padre Joseph Dillon, 53 anos, da Paróquia Nossa Senhora Aparecida (SP), ficou conhecido por dizer em entrevistas que a urina seria a “água da vida”. Essas práticas irracionais, do ponto de vista bíblico e científico, têm levado muitos a crer que ingerindo urina conseguirão força espiritual. Inclusive, há até congressos internacionais sobre o assunto. Mas muitos não se contentam em “deliciar-se” somente com sua própria urina, preferindo também comer as próprias fezes, como é o caso de algumas seitas hindus.4


Veneradores do sexo 

“Nós temos um deus sexy, uma religião sexy e um líder muito sexy, com um grupo de jovens seguidores extremamente sexy. Se você não gosta de sexo, que vá embora enquanto pode”. Esta é uma das doutrinas centrais da seita que ficou conhecida por muito tempo como Meninos de Deus, hoje Família do Amor. Seu líder, que se identifica como MO, pregava o sexo livre, inclusive para a prática de um evangelismo que denominam de “pesca coquete”. Defendem a prática homossexual e a prostituição. É o “vale-tudo” do sexo no recrutamento de adeptos. Por isso, a seita foi denunciada e perseguida em vários países e continua sob investigação da Polícia Federal.5


Igreja da Eutanásia

De acordo com este grupo religioso, os problemas do mundo são todos causados pelo excesso de população. Então, a solução “óbvia” proposta seria a redução da população. Mas como? Pelo suicídio, eutanásia, sodomia, aborto e canibalismo. Como não poderia deixar de ser, esse grupo também professa fé em elementos extravagantes. Crêem em extraterrestres e se dedicam a práticas mórbidas.6


Adoradores da luz 

Tal grupo possui um corpo de crenças doutrinárias essencialmente esotérico. Acreditam que não precisam mais comer. Segundo eles, “comida é veneno”, por isso se “alimentam” exclusivamente da luz do Sol. Por outro lado, a rejeição ao nosso tipo de alimentação, como dizem, pode provocar um poder espiritual capaz de fazê-los ter visões de seres espirituais, além de viagens astrais. Este ascetismo fanático tem levado alguns praticantes à morte. O pior de tudo é que tentam mesclar essa doutrina perigosa com os ensinamentos bíblicos, dizendo que Jesus também a praticava. Tais ensinamentos, contudo, são alheios à doutrina cristã.7


Os seguidores da “Bíblia Branca” 

A Igreja Mundial do Criador é um grupo racista fundado em 1971, na Flórida, por Ben Klassen, ex-corretor de imóveis. É um dos movimentos que mais crescem nos EUA, segundo o jornal The New York Times. São partidários da filosofia de Adolf Hitler e possuem um livro chamado White Bible [Bíblia Branca], no qual pregam o ódio contra os judeus e os negros, e defendem a supremacia da raça branca. Baseado nesta nefasta ideologia, Benjamin Nathaniel Smith, membro ativo de extrema direita da seita, que chegou a alterar seu nome para August Smith porque considerava seu nome “excessivamente judeu”, assassinou um coreano, cinco judeus e três negros. A justificativa? Ele os considerava “pessoas sujas”. A seita possui sites espalhados pela Internet, onde convida crianças para seu evangelho de horror.


Cultos às celebridades

Os termos “adorar” e “ídolo” possuem uma conotação estritamente religiosa. Contudo, em seus significados clássicos, foram sendo gradativamente alterados, pela mente popular, com o surgimento da mídia televisiva. Muitos fãs fanáticos de astros do cinema e do esporte têm mesclado a devoção pelo artista com a fé religiosa. Alguns destes ídolos estão sendo literalmente adorados nos altares de templos religiosos que lhes são dedicados. Vejamos alguns exemplos:


Idólatras de Elvis Presley

Parece que a frase “Elvis não morreu” é muito mais que um simples chavão, pelo menos para os fãs religiosos da “Igreja Presleyteriana”. A home page do grupo mostra desde testemunhos de graças recebidas de adeptos até os 31 mandamentos de Elvis. Tal igreja foi fundada em 1998, na Austrália, após a líder e fundadora, Anna, ter tido uma experiência mística com o rei do rock. E, hoje, conta com algumas congregações espalhadas pelos EUA e possui até um “teólogo”, o dr. Edwards, responsável pela parte doutrinária.

Entre as muitas práticas esdrúxulas exigidas pelo grupo, destacamos as seguintes:

• Pelo menos uma vez na vida os adeptos deverão peregrinar até Graceland.8

• Todos devem possuir em casa os 31 preceitos de Elvis, que incluem receitas de comida.

• Devem incentivar, diariamente, as crianças a elogiar o cantor já falecido.

Mas os disparates não param por aí. Determinado sacramento, uma paródia da santa ceia, é feito com carne moída e pudim de banana. Os hinos, é claro, são alusões ao ex-roqueiro, e tudo isso recheado de muito rock-and-roll.9


Veneradores de Raul Seixas

Talvez não tão organizado como o do roqueiro norte-americano, o raulseixismo é um movimento que está ganhando cada vez mais perfil de grupo esotérico. Em muitos fãs-clubes, já se perdeu o limite entre a admiração e a veneração. E não é para menos, pois Raul Seixas tinha tudo a ver com religião. Suas músicas só começaram a fazer sucesso quando o compositor, hoje bruxo (é assim que ele se autodenomina), Paulo Coelho passou a compô-las. Noventa por cento das músicas de Raul faziam alusão a temas religiosos, principalmente esotéricos. Seu último trabalho recebeu o título de “A panela do diabo”.

“Chegar a ser parecido com religião é uma coisa meio sobrenatural”, avalia a socióloga Juliana Abonizio. “Os raulseixistas realizam quase uma peregrinação rumo ao autoconhecimento […] Para a Cidade das Estrelas, uma pousada terapêutica coordenada pelo Instituto Imagick, vão alguns dos fãs de Raul. Não se trata de religião, mas as obras do cantor estão entre as bases do Imagick, segundo o presidente do instituto, Arsênio Hipólito Jr. Na pousada, o objetivo é intensificar a luz de cada pessoa, inclusive por meio da reprogramação mental”.10


Discípulos de Jedi 

Mais de 70 mil pessoas na Austrália declararam ser seguidoras de Jedi. A religião foi criada baseando-se nos filmes de Star Wars, o famoso Guerra nas estrelas, de George Lucas, o “papa” da ficção científica hollywoodiana. Talvez tudo não passe de uma brincadeira de fanáticos cinematográficos, que promoveram uma enxurrada de e-mails incentivando os fãs a votarem no censo religioso como seguidores de Jedi.

Para que se tornasse uma doutrina, era preciso que dez mil pessoas professassem a “fé Jedi”. Mas o caso vem surpreendendo as autoridades, já que 0,30% da população australiana diz acreditar em tal “força”, a fonte de poder dos cavaleiros “Jedis”. O jedaísmo prega os princípios de algumas religiões, como, por exemplo, a busca pelo autocontrole e pela iluminação. Sua estrutura assemelha-se às filosofias orientais, mas com valores cristãos. Por isso, não será estranho se algum dia ouvirmos alguém orar a “Saint Luke Skywalker”!


Adoradores de Maradona

Torcedores argentinos fanáticos resolveram radicalizar. Promoveram o ex-jogador Diego Maradona, ainda em vida, de “rei” do futebol a “deus” de uma seita denominada “Igreja Maradoniana”, também conhecida como “A Mão de Deus”, uma referência ao gol que o atleta marcou em 1986 contra a Inglaterra.

O grupo possui menos de mil adeptos. Foi fundado em outubro de 2002, em Paso Sport, na cidade do Rosário. O único objetivo é a exaltação de Maradona. Já possuem um templo, um calendário religioso para marcar os eventos principais da vida do craque, que se dividem em a.D (antes de Diego) e d.D (depois de Diego), e alguns hinos. Para não se sentirem inferiores às outras igrejas, resolveram criar também sua própria “bíblia”, intitulada “Eu sou o Diego do povo”, uma biografia do ex-jogador.


Como é possível alguém exercer fé nestes absurdos?

Como são possíveis tamanhos absurdos? Devem estar se perguntando os leitores de Defesa da Fé. Haveria alguma explicação plausível concernente à tendência megalomaníaca dentro desses caóticos grupos religiosos e seus cultos aberrantes? Alguns estudiosos do assunto, como o professor Moraleda, que, entre outras matérias, leciona antropologia religiosa, dizem que essa tendência é fruto da aplicação de técnicas de controle mental.

Quanto a essa questão, declarou o professor: “… há nelas (nas técnicas mentais) uma tendência bem visível de constituir-se em organizações autoritárias e fortemente estruturadas. O passo para o fanatismo é fácil de se dar. A seita destrutiva se organiza como agrupamento totalitário, no qual se utilizam técnicas de persuasão coercitiva (que constrange alguém a fazer algo) e controle mental, para conseguir a total submissão dos indivíduos ao líder e a entrega sem reservas à idéia coletiva; por seu caráter alienante, são grupos potencialmente destruidores da personalidade dos membros”.11

Cremos, portanto, que a origem de todas essas heresias está fincada no âmbito espiritual. As pessoas estão cansadas da fé que professam e, para a maioria, sua religião tem-se tornado fria e impessoal. Não há vida, não preenche a necessidade básica de seus membros. O modo alternativo de crença e prática das seitas é extremamente atrativo para alguns. As seitas oferecem um mundo alienado, porém, personalizado. Lembre-se, o homem é “incuravelmente religioso” (Paul Sabatier), portanto, “precisa ter um Deus, ou, então, criará um ídolo” (Martinho Lutero).

O que expomos foram apenas alguns exemplos que pesquisamos, entre muitos, os quais não caberiam neste artigo. Os grupos apontados satisfazem às solicitações, por e-mails, que o ICP recebe diariamente em seu Departamento Teológico.

Devemos ficar atentos ao perigo que as seitas e seus cultos representam para a sociedade, de modo geral. Felizmente, muitos governos já estão tomando providências a respeito. Como cristãos, temos a tarefa de alertar sobre toda e qualquer manifestação religiosa que contrarie as verdades bíblicas. Eis o motivo deste texto!

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Notas de referências:

1 http://www.malagrino.com.br/online/olmwaco.html

2Porque Deus condena o espiritismo, Jefferson Magno Costa, CPAD, p. 216-7.

3 Ibid.

4 Revista Defesa da Fé, nº 40.

5 www.cacp.app.br

6 http://www.churchofeuthanasia.org/

7 Revista Defesa da Fé, nº 43.

8 Nome da mansão que Elvis Presley comprou para seus pais, em 1957, na cidade de Menphis, no Estado do Tennessee, EUA.

9 http://www.geocities.com/presleyterian_church/home.html

10 http://www.correiodabahia.com.br/2004/03/24/noticia.asp?link=not000090074.xml

11 As seitas hoje, José Moraleda, Ed. Paulus, p. 10-1

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