EUA pedem investigação por ‘crimes de guerra’ em Alepo
O enviado especial da ONU para a Síria, Staffan de Mistura, expressou preocupação por uma possível destruição total dos bairros rebeldes até o fim do ano
Os Estados Unidos reivindicaram nesta sexta-feira uma investigação por “crimes de guerra” contra o governo sírio e seu aliado russo, após um novo bombardeio a um hospital em Alepo, onde o exército avança lentamente e a situação humanitária é catastrófica.
“A Rússia e o regime sírio devem ao mundo mais do que uma explicação sobre os contínuos bombardeios a hospitais, instalações médicas e crianças”, disse o secretário de Estado americano, John Kerry, lembrando que um hospital voltou a ser atacado na noite de ontem pelo governo sírio, deixando 20 pessoas morreram e 100 feridas. “Estes atos exigem uma investigação apropriada de crimes de guerra”, disse.
Cidade dividida
Apoiado pela aviação russa, o governo de Damasco lançou há duas semanas uma ofensiva de grande potência para recuperar os bairros rebeldes de Alepo, cidade dividida desde 2012 em setores controlados pelos rebeldes (leste) e forças do governo (oeste).
Segundo o Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH), as tropas governamentais tomaram nesta sexta-feira uma colina no bairro de Sheij Said, ao sul da cidade. Mas, paralelamente, os rebeldes recuperaram áreas que haviam perdido há alguns dias. Segundo uma emissora de TV estatal, quatro pessoas morreram por disparos de rojões de grupos insurgentes na parte governamental de Alepo.
O enviado especial da ONU para a Síria, Staffan de Mistura, expressou sua preocupação por uma possível destruição total dos bairros rebeldes até o fim do ano.
Propostas de cessar-fogo
De Mistura sugeriu que os combatentes extremistas da Frente Fateh al-Sham (ex-Frente Nusra, facção síria da Al Qaeda) abandonem o leste de Alepo e, em seguida, a Rússia declare os bombardeios suspensos.
O governo russo, que mandou um navio de guerra rumo ao Mediterrâneo para reforçar sua operação militar na Síria, se mostrou disposto a falar com Damasco se os extremistas abandonarem o leste de Alepo “com todas as suas armas” em direção à cidade de Idlib.
Em uma entrevista à emissora de televisão dinamarquesa TV2, o ditador sírio Bashar Assad considerou na quinta-feira que “a melhor opção” para Alepo era “a reconciliação”, mas caso contrário, as forças pró-governo continuarão “combatendo os rebeldes até que abandonem Alepo”.
Assad negou que suas forças tenham atacado de forma deliberada infraestruturas de saúde ou dificultado a ajuda a civis em Alepo.
A situação nesta cidade tem endurecido as relações entre Estados Unidos e Rússia, que suspenderam sua negociações para um cessar-fogo na Síria, onde a guerra já deixou mais de 300.000 mortos.
Uma proposta francesa de resolução na ONU para estabelecer o cessar-fogo em Alepo e proibir o voo de aviões de guerra sobre a cidade síria pode ser vetada pela Rússia. “Não vejo de que maneira poderíamos deixar que esta resolução fosse aprovada”, disse à imprensa o embaixador russo ante a ONU, Vitaly Churkin.
Extraído da Revista Veja em 08/10/2016