Relata o fato o ex-membro do Corpo Governante, Raymond Franz:
A filial (da STV) do México perguntou ao presidente da Sociedade (N Knoor) sobre o pagamento de subornos em troca de um documento militar falsificado (as Testemunhas não servem o exército).
Que resposta foi dada à indagação deles? A resposta da Sociedade veio numa carta de duas páginas, datada de 2 de junho de 1960. A segunda página tratava da questão militar sobre a qual se escreveu. Esta é a página da carta que a comissão da filial me apresentou, contendo o conselho da Sociedade sobre suas perguntas.
Tradução do segundo parágrafo, referente ao serviço militar:
Com relação aos que são isentos do treinamento militar por meio de uma transação monetária com os funcionários nela envolvidos, assemelha-se ao que é feito em outros países latino-mericanos, nos quais os irmãos têm gratificado algum funcionário militar pela isenção, a fim de preservar sua liberdade para atividades teocráticas. Se os membros da instituição militar estiverem dispostos a aceitar tal arranjo, com base no pagamento de uma gratificação, então isso é responsabilidade destes representantes da organização nacional. Em tal situação, o dinheiro pago não vai para a instituição militar, mas fica na posse do indivíduo encarregado do arranjo. Se a consciência de certos irmãos os permite participar de tal arranjo visando continuar em liberdade, não temos nenhuma objeção. Evidentemente, caso se envolvam em quaisquer dificuldades por causa de seu modo de agir, então terão de arcar eles mesmos com tais dificuldades, e nós não poderemos prestar-lhes nenhuma assistência. Mas, se o arranjo é comum aí e é aceito pelos fiscais, os quais não fazem nenhuma investigação sobre a veracidade do assunto, então o problema pode ser ignorado pelas suas vantagens de crescimento. Caso surja uma emergência militar e sejam estes irmãos confrontados com sua carteira de marcha, serão obrigados a tomar uma decisão da qual não poderão safar-se por meio de pagamento em dinheiro e a sua integridade será provada, tendo de demonstrar prontamente qual é a sua posição e provar que são a favor da neutralidade cristã num teste decisivo.
Lealmente a seu dispor no ministério do Reino,
Sociedade Torre de Vigia de B. e T. de Pensilvânia
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Embora a carta da filial fosse dirigida ao presidente Knorr, a resposta, que leva a assinatura carimbada da corporação, foi evidentemente escrita pelo vice-presidente Fred Franz, que, conforme dito anteriormente, era regularmente consultado pelo presidente Knorr a fim de formular princípios sobre assuntos desta natureza. A linguagem é típica do vice-presidente.
As declarações contidas nesta carta são dignas de nota. Seria útil deter-se um pouco para voltar atrás e compará-las com as declarações anteriormente relacionadas dos membros do Corpo Governante ao debaterem a questão do serviço alternativo, declarações feitas então sem rodeios e sem pautar-se por uma linguagem amena, mas que eram muitas vezes duras e até agressivas.
Nesta resposta à indagação do México, evita-se a palavra “suborno”, substituindo-a pelas referências a “uma transação monetária”, a “pagamento de uma gratificação”. A ênfase recai sobre o fato de que o dinheiro vai para um indivíduo em vez de ir para a “instituição militar”, indicando aparentemente que isto realça, de alguma maneira, o aspecto moral do “negócio”. A carta fala do arranjo como sendo “comum aí” e diz que, enquanto os fiscais não investigarem a “veracidade do assunto”, pode ser “ignorado” em função das “vantagens de crescimento”. Encerra mencionando a manutenção da integridade em algum possível “teste decisivo” no futuro.
Se esta mesma mensagem fosse colocada no mesmo tipo de linguagem dos membros do Corpo Governante ouvida nas sessões em que se debatia o serviço alternativo, creio que sua leitura se pareceria mais com a seguinte:
Pagar subornos a funcionários corruptos é prática das Testemunhas de Jeová em outros países latino-americanos. Se os homens da máquina de guerra estiverem dispostos a ser subornados, o risco é deles. Pelo menos, não se está pagando o suborno à própria máquina de guerra em si — simplesmente a um coronel ou oficial que embolsa o suborno para si. Se a consciência dos irmãos lhes permitir fazer um ‘negócio’ com algum funcionário encarregado da ‘receptação’, não faremos objeção alguma. Evidentemente, se houver problema, não deverão voltar-se para nós em busca de ajuda. Já que todo mundo lá está fazendo isso e os fiscais não fazem nenhuma questão quanto aos documentos falsificados, então vocês do escritório da filial podem simplesmente desviar também a sua vista. Se vier uma guerra, haverá tempo suficiente para ficarem apreensivos quanto a enfrentar corajosamente a questão da neutralidade.
Lealmente ao seu dispor no ministério do Reino
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Não é minha intenção ser sarcástico e não creio que essa colocação constitua sarcasmo. Creio que seja uma apresentação razoável do conselho da Sociedade ao escritório da filial do México posta em linguagem realista, livre de eufemismos; linguagem mais parecida com a usada nas mencionadas reuniões do Corpo Governante.
Um motivo pelo qual esta informação é pessoalmente tão chocante para mim é que, no exato momento em que a carta afirmava que a Sociedade não tinha “nenhuma objeção” caso as Testemunhas no México, confrontadas com a convocação para treinamento militar, achassem conveniente “safar-se por meio de pagamento em dinheiro”, havia dezenas de jovens na República Dominicana gastando anos preciosos de sua vida na prisão; porque tinham se recusado a um tipo idêntico de treinamento. Alguns, tais como Leon Glass e seu irmão Enrique, foram condenados duas ou três vezes devido à sua recusa, desperdiçando um total de até nove anos de sua juventude na prisão. O presidente e o vice-presidente da Sociedade tinham visitado a República Dominicana durante esses anos e fizeram-se até visitas à prisão onde muitos destes jovens estavam detidos. Eu não podia compreender como se podia estar ciente da situação destes prisioneiros dominicanos e, ainda assim, aplicar tal critério duplo.
O Corpo Governante não tem escrúpulos!
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O presente texto foi extraído do Livro CRISE DE CONSCIÊNCIA de R Franz, Edição 2002, pgs 152-154
o argumento deles seria : “tudo é comercio” logo o pagamento da “vantagem” seria licita, pois tudo é um comércio.
Olá! Gostaria de ler esse livro,crise de consciência,em pdf.
Obrigado!