Há algum tempo, durante uma sessão de perguntas e respostas efetuada na Escola de Teologia de Harvard, um estudante se levantou e perguntou-me:
– Pode dizer-me em linguagem simples e clara o que devo fazer para ser salvo?
Essa pergunta me é feita repetidas vezes, nas faculdades e universidades onde freqüentemente faço palestras. Pode o alcoólatra, o ladrão, o assassino, o pervertido sexual ser transformado radicalmente e tornar-se um novo homem?
Numa universidade da costa ocidental dos Estados Unidos, um professor de ciências veio a meu quarto na União de Estudantes, e declarou:
– Vai ficar surpreso com a pergunta que lhe vim fazer.
Depois disso, fez-me uma longa descrição de sua luta íntima com questões morais, espirituais e intelectuais, e acrescentou:
– Chego cada vez mais à compreensão de que meu problema com o cristianismo na realidade não é intelectual: é moral. Não tenho querido atender às exigências morais do cristianismo. E eis minha pergunta: que posso fazer para receber Jesus Cristo?
Quando o governador de um de nossos Estados nos recebeu em sua casa, disse que queria conversar comigo em particular. Fomos para uma outra parte da casa, onde ele fechou a porta. Eu percebia que ele lutava com suas emoções. Disse finalmente:
– Estou no fim do caminho. Preciso de Deus. Pode-me dizer como encontrá-Lo?
Em outra ocasião, quando visitei um grupo de homens no corredor das celas dos condenados à morte, um deles, forte e de aspecto inteligente, ouviu o que eu tinha a dizer. Depois, perguntei-lhes se desejavam ajoelhar-se enquanto eu orava. Pouco antes de se ajoelhar, ele disse:
– Pode explicar outra vez o que devo fazer para ser perdoado dos meus pecados? Quero saber que estou indo para o céu.
São precisamente essas as mesmas perguntas feitas a Jesus Cristo, há quase dois mil anos. São as mesmas perguntas feitas aos Apóstolos, quando proclamavam o Evangelho em todo o Império Romano. As perguntas indicam que os anseios espirituais íntimos do homem mudaram muito pouco.
O jovem rico veio correndo ajoelhar-se diante de Cristo, e Lhe perguntou: “Bom Mestre, que farei para herdar a vida eterna?” (Marcos 10:17). Depois de Pedro ter pregado seu grande sermão no Pentecostes, diz a Bíblia que “compungiu-se-lhes o coração e perguntaram a Pedro: “Que faremos, irmãos?” (Atos 2:37). O nobre africano que dirigia sua carruagem pelo deserto falava com Filipe, o envangelista, e de repente deteve o veículo e disse: “Que me impede?” (Atos 8:36). À meia-noite o carcereiro filipense perguntou a Paulo e Silas: “Senhores, que devo fazer para que seja salvo?” (Atos 16:30).
O homem do século XX faz a mesma pergunta que os homens sempre fizeram. É uma pergunta antiga, mas sempre nova; mostra-se tão importante em nossos dias quanto o foi no passado.
O que deve fazer o homem para reconciliar-se com Deus? Que quer dizer a Bíblia com palavras tais como conversão, arrependimento e fé? São todas elas palavras de salvação, porém muito mal compreendidas.
Jesus tornou tudo tão simples, e nós complicamos tanto as coisas! Ele falou às pessoas em frases curtas e de uso diário, exemplificando Suas mensagens com parábolas que não se esquecem. Apresentou a mensagem de Deus com tanta simplicidade que muitos não podiam compreender o que Ele dizia.
No livro dos Atos, o carcereiro filipense perguntou ao Apóstolo Paulo: “Que devo fazer para que seja salvo?” Paulo lhe deu resposta bem simples: “Crê no Senhor Jesus, e serás salvo, tu e tua casa” (Atos 16:30, 31). Isso é tão simples que milhões de pessoas se confundem. A única decisão pela qual podemos converter-nos é nossa decisão de crer em Jesus como nosso Senhor e Salvador pessoal. Não é preciso arrumar as nossas vidas, primeiro. Não é preciso acertar antes as coisas em casa e nos negócios. Não é preciso tentar abandonar algum hábito que nos esteja impedindo de chegar a Deus. Já tentamos tudo isso e falhou muitas vezes.
Em nossas cruzadas; quando faço o convite de que recebam Cristo, cantamos o trino “Assim Como Sou”, e chegamos a Cristo exatamente como somos. O cego veio como era, o leproso como era, Maria Madalena com sete demônios veio como era, o ladrão na cruz veio como era. Você pode vir a Cristo como é.
CONVERSÃO
A palavra “conversão” significa simplesmente “voltar-se”. Do princípio ao fim, a Bíblia mostra Deus suplicando ao homem que se volte para Ele (Provérbios 1:23; Isaías 31:6; 59:20; Ezequiel 14:6; 18:32; 33:9; Joel 2:12; Mateus 18:3; Atos 3:19; Hebreus 6:1). É impossível ao homem, no entanto, voltar-se para Deus a fim de arrepender-se ou, mesmo, crer, sem a ajuda de Deus! Tudo o que podemos fazer é pedir a Deus que “nos volte”. Muitas vezes vemos registrado na Bíblia que os homens fizeram exatamente isso (Salmos 85:4; Cantares de Salomão 1:4; Jeremias 31:18; Lamentações 5:21).
Quando um homem apela para Deus, é-lhe concedido o verdadeiro arrependimento e a fé. Por esse motivo, o Apóstolo Paulo podia dizer: “Todo aquele que invocar o nome do Senhor, será salvo” (Romanos 10:13). A Bíblia nunca pede ao homem que se justifique, regenere e converta, ou salve a si mesmo. Só Deus pode fazer essas coisas.
Existem pelo menos dois elementos de conversão – o arrependimento e a fé. Jesus disse: “Se porém, não vos arrependerdes, todos… perecereis” (Lucas 13:3). O arrependimento traz consigo um reconhecimento do pecado que acarreta culpa e rebaixamento pessoal diante de Deus, mas não quer dizer um desprezo servil por si próprio. É um simples reconhecimento do que somos. Nós nos vemos como Deus nos vê, e dizemos: “Ó Deus, sê propício a mim pecador” (Lucas 18:13). Foi Jó quem disse: “Eu Te conhecia só de ouvir, mas agora os meus olhos Te vêem. Por isso me abomino, e me arrependo no pó e na cinza” (Jó 42:5, 6).
ARREPENDIMENTO
O arrependimento quer também dizer uma mudança de sentimentos, o que significa um pesar genuíno pelo pecado cometido contra Deus (Salmos 51). Como disse Paulo na Segunda Epístola aos Coríntios 7:9, 10: “Agora me alegro, não porque fostes contristados, mas porque fostes contristados para arrependimento… porque a tristeza segundo Deus produz arrependimento para a salvação”.
O arrependimento também quer dizer uma modificação de propósito e leva consigo a idéia de uma rejeição íntima do pecado, pelo exercício da vontade. No entanto, tudo o que temos a fazer é querer, e Deus nos ajudará.
Na Idade Média. o senhor de uma propriedade na Inglaterra estava à morte. Chamou um servo, que sabia ser cristão devoto, e disse:
– Jim, estou morrendo. Não tenho certeza de que irei para o céu. Podes dizer o que devo fazer?
O antigo e sábio serviçal conhecia bem o orgulho do amo, e respondeu:
– Senhor, se quiser salvar-se terá de ir ao chiqueiro, ajoelhar-se na lama e dizer: Meu Deus, tem piedade de mim, pecador.
– Eu não poderia fazer isso – respondeu o amo. – Que iriam pensar os vizinhos e serviçais?
Passou-se uma semana e ele chamou novamente o servo, a quem disse então:
– Jim, que disseste que eu devia fazer para salvar-me?
Respondeu o velho servidor:
– Senhor, terá de ir ao chiqueiro dos porcos.
– Tenho pensado nisso, Jim – disse o amo – e estou pronto a fazê-lo.
Foi quando o serviçal declarou:
– Senhor, não precisa ir até o chiqueiro. Basta querer fazê-lo.
É preciso querer. Muitas pessoas apresentam estranhas idéias sobre o arrependimento. Há quem pense no antigo banco dos penitentes, e talvez não fosse má idéia restabelecê-lo.
Um psicólogo de Beverly Hills, na Califórnia, declarou há pouco tempo: “Muitas pessoas estão precisando é de um antigo banco metodista de penitentes.” O arrependimento pode ser um dos fatos mais excelsos da nossa vida.
O arrependimento é a plataforma de lançamento da qual a alma é enviada à sua órbita eterna, tendo Deus ao centro do arco. Quando nossos corações se curvaram tão baixo quanto possível, e verdadeiramente reconhecemos e abandonamos nossos pecados, eis que Deus toma conta de tudo e, como o segundo estágio de um foguete, eleva-nos ao Seu Reino. O caminho da subida é a humilhação. O homem se meteu em dificuldades quando ergueu sua vontade contra a de Deus, e sairá dessas dificuldades quando se curvar à superioridade divina, quando se arrepender e disser com humildade: “Meu Deus, tem piedade de mim, pecador. ” A situação extremada a que chega o homem torna-se, então, a oportunidade de Deus.
Os psiquiatras sabem que existem poderes curativos na confissão. “Acalme-se e conte-me tudo a seu respeito”, dizem a seus clientes. A psicologia desse método é fazer com que o paciente conte tanta coisa a seu respeito que venha, afinal, a desembaraçar-se dos liames que o prendem. Há certamente grande valor em desabafar, revelar nossos pensamentos mais íntimos a alguma pessoa neutra, mas o arrependimento bíblico vai muito além disso.
É preciso que o psiquiatra possa descobrir, por sua técnica, o problema psicológico dentro da personalidade, mas para onde se dirige, a partir daquele ponto? Não basta localizar a falha no subconsciente. O pecado é uma doença da alma, e Cristo o único médico capaz de proporcionar a cura. Há problemas, encargos, responsabilidades e culpas que se encontram além da capacidade curativa do psiquiatra ou de qualquer médico. O arrependimento torna-se a chave, e o perdão o portão, para entrar no Reino de Deus.
FÉ
O segundo elemento da conversão é a fé. A fim de nos convertermos, precisamos tomar uma decisão. Diz a Escritura: “Quem nEle crê não é condenado; o que não crê já está condenado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus” (João 3:18). Ora, quem não está condenado? Aquele que crê. E quem já está condenado? Aquele que não crê. Nesse caso, que devemos fazer para não estarmos condenados? A resposta é simples: devemos crer.
Como é natural, devemos também compreender o que essa palavra “crer” implica. Significa “confiar” e “entregar-se”. A Bíblia ensina que, sem fé, não é possível agradar a Deus, e afirma: “É necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que Ele existe e que se torna galardoador dos que O buscam” (Hebreus 11:6). Crer é nossa resposta à oferta feita por Deus, de misericórdia, amor e perdão. Foi Ele quem tomou a iniciativa, e a salvação vem toda de Deus. Quando Cristo curvou a cabeça na cruz e disse “está consumado”, queria dizer exatamente isso mesmo (João 19:30). O plano divino da nossa reconciliação e redenção fora completado em Seu Filho. O homem, no entanto, deve corresponder, recebendo e confiando.
Na Bíblia a fé é descrita como “a certeza de coisas que se esperam, a convicção de ratos que não se vêem” (Hebreus 11:1). A fé não é apenas seguir a Cristo; é apoderar-se de Cristo, pois Ele é o objeto de nossa fé. Não é apenas um sentimento subjetivo, mas um ato objetivo.
As duas palavras, “crença” e “fé” são traduzidas da mesma palavra grega no Novo Testamento, sendo termo jamais usado ali no plural. A fé cristã não significa acreditar numa série de coisas, mas uma disposição singular e individual do espírito e coração em relação a Jesus Cristo.
A coisa mais óbvia sobre a fé salvadora é que ela crê em alguma coisa. Não crê em tudo ou apenas em qualquer coisa. É crença numa pessoa, e essa pessoa é Cristo. E tampouco a fé se mostra antagonizada com a razão ou o conhecimento. Não é antiintelectual, mas um ato do homem que se estende além dos limites de nossos cinco sentidos. É o reconhecimento de que Deus é maior do que o homem, o reconhecimento de que Deus proporcionou um modo de reconciliação que não poderíamos obter pelo esforço próprio.
O psiquiatra nos diz que, antes que ele possa auxiliar o seu paciente, este deve procurá-lo sinceramente, pedindo ajuda e seguindo sua orientação. O paciente não pode ser coagido ou forçado a isso. Espiritualmente, é o mesmo que sucede com a fé.
COMPROMISSO
A fé também é compromisso. Foi Leighton Ford quem declarou: “A crença não é fé sem provas, mas compromisso sem reservas.” A crença vem da inteligência, o desejo se relaciona com as emoções e o compromisso põe em jogo a vontade. Assina é que o homem se acha todo empenhado num ato de fé. Na verdade, a fé é o que sabemos, como nos sentimos e o que fazemos a respeito de Jesus Cristo, e assim ela se torna ação, e essa ação é fé e compromisso.
O Dr. Ernest White indica que o primeiro movimento a ser percebido no processo da conversão é a convicção, o que é obra do Espírito Santo. Constituir-se-á provavelmente de um período de conflito, que depende em grande parte do ambiente e do temperamento do indivíduo. Nem todos passam pelo mesmo tipo de experiência, no processo da conversão. Há pessoas que apresentam o que os psicólogos descrevem como um superego pronunciado, ou uma consciência hiper-sensível, sujeitos a longos períodos de acusação e condenação de si mesmas.
John Bunyan foi um indivíduo assim. Passou muitas semanas a ouvir vozes que o condenavam. Nesse período de medo e abatimento, teve o desejo intenso de ser aceito por Cristo e encontrar paz e perdão. Santo Agostinho passou por experiência semelhante no curso de seu longo período de convicção do pecado.
Por outro lado, existem aqueles que têm uma conversão muito mais tranqüila, quando aceitam alguma afirmação da Escritura ou recebem e aplicam a si próprios algum sermão, sem maiores tensões ou conflitos. Para essas pessoas tranqüilas, a conversão não é menos verdadeira do que acontece no caso daquelas outras, mais ativas.
No décimo sexto capítulo dos Atos temos a narração da conversão de duas pessoas. Uma era Lídia, negociante na cidade de Tiatira, que adorava a Deus e foi orar à beira do rio onde ouvira Paulo pregar. Abriu o coração, creu, e se converteu sem luta ou conflito. A outra foi o carcereiro filipense de quem já falamos, e que entrou em pânico quando um terremoto permitiu a fuga de alguns dos seus prisioneiros. Foi correndo para a prisão, desembainhou a espada para matar-se, quando ouviu as palavras de reconforto do Apóstolo Paulo. Pediu uma luz e, tremendo, lançou-se aos pés de Paulo e Silas, perguntando: “Que devo fazer para ser salvo?” Ouviu de Paulo o Evangelho com a instrução de que cresse, e rejubilou, crendo em Deus. Houve nisso drama, exaltação e crise.
EMOÇÃO
Em algumas pessoas pode ocorrer, na conversão, uma crise emocional cujos sintomas são semelhantes aos do conflito mental. Pode haver sentimentos profundos e explosões de lágrimas e ansiedade, e pode não haver nada disso. Existem os que sentem pouca emoção, ou mesmo nenhuma, aceitando a salvação sem qualquer crise ou sentimento. Na verdade, não conseguem especificar o momento definido em que chegaram pela primeira vez ao conhecimento de Cristo. Minha esposa é um dos melhores cristãos que conheci até hoje, mas não pode precisar o momento de sua conversão, embora tenha a certeza dela porque conhece Cristo pessoalmente na realidade da vida diária, e possui a alegria do Senhor.
Quando Jesus descreveu o novo nascimento ao intelectual e digno Nicodemos, disse também: “O vento sopra onde quer, ouves a sua voz, mas não sabes donde vem, nem para onde vai; assim é todo o que é nascido do Espírito” (João 3:8).
Jesus disse que era como o movimento do vento, que às vezes se mostra tão imperceptível quanto um zéfiro e, de outras, tão impetuoso quanto um ciclone. A conversão também é assim – às vezes tranqüila e terna, outras, desarraigando e remodelando a vida sob grande manifestação emocional.
UM ATO DA VONTADE
Existe também a resolução volitiva, pois a vontade se encontra obrigatoriamente em jogo no caso da conversão. As pessoas podem sofrer conflitos mentais e crises emocionais sem se converterem. Só quando exercem a prerrogativa de um agente moral livre e a vontade de se converterem é que realmente se convertem. Esse ato da vontade é um ato de aceitação e compromisso. Aceitam prazerosamente a misericórdia de Deus e recebem o Filho de Deus e então se comprometem a fazer a vontade de Deus. Em todas as conversões verdadeiras, a vontade do homem se ajusta à de Deus. Quase ao final da Bíblia encontramos o convite: “E quem quiser receba de paga a água da vida” (Apocalipse 22:17).
A decisão é sua! Precisa querer, para ser salvo. É a vontade de Deus, mas deve tornar-se a sua, também.
Todas as semanas recebo inúmeras cartas mandadas por aqueles que dizem ter dúvidas e incertezas sobre a vida cristã. Indagam se devem considerar-se cristãos, não tendo certeza de que se hajam convertido. Talvez pensem que se converteram, mas possuem pouca daquela alegria conferida pela fé cristã. Isso se mostra particularmente verdadeiro no caso daqueles que não tiveram uma experiência de crise no momento de sua conversão.
No começo deste século, o professor Edwin Starbuck, homem de destaque no terreno da psicologia, observava que os trabalhadores cristãos geralmente eram recrutados em meio àqueles que tinham tido uma conversão agitada e dramática. Em outras palavras, esses apresentavam conceito claro do que significa a conversão, pois haviam passado por ela.
Grande parte da filosofia da educação religiosa moderna se baseia na idéia de que uma pessoa pode tornar-se cristã mediante um processo educativo. Por esse motivo, arrebanhamos para a igreja dezenas de milhares de pessoas que nunca tiveram um encontro pessoal com Jesus Cristo. Falta a grande número de pessoas tidas como cristãs essa “experiência do encontro” com Cristo, havendo em seu lugar apenas o ensino religioso.
É raro que empreendamos uma cruzada sem que, na mesma, alguns estudantes seminaristas ou mesmo pastores façam uma profissão de conversão. Em cruzada recentemente empreendida, dezesseis eclesiásticos se apresentaram para receber Jesus Cristo como Salvador. Muitos desses homens haviam sido preparados teologicamente, mas alguns jamais haviam tido um encontro genuíno com a pessoa de Cristo. A um dos homens mais religiosos de Seu tempo Jesus disse: “Importa-vos nascer de novo” (João 3:7). Nicodemos não pedia substituir o renascimento espiritual por seu profundo conhecimento da religião, e nós também não o podemos fazer.
Já li um livro sobre o esqui aquático, e não foi preciso muito tempo para eu ver que jamais aprenderia a esquiar sobre a água mediante a leitura do livro; seria preciso ter experiência pessoal. Já li uma série de livros ensinando a jogar golfe, mas nenhum deles parece capaz de fazer-me melhorar nesse esporte. É preciso que eu vá para o campo e jogue. Podemos estudar teologia e religião, mas chega o momento em que é preciso sentir Cristo pessoalmente.
A lagarta tão feia, dentro de seu casulo, passa meses em crescimento e metamorfose quase imperceptíveis, mas por maior que seja esse crescimento, chega o momento em que passa por uma crise e aparece uma borboleta. As semanas de crescimento silencioso são importantes, mas não podem tomar o lugar daquele momento em que o antigo e feio ficam para trás e o novo e belo passam a existir.
É bem verdade que existem multidões de cristãos cuja vida e fé dão testemunho de que, consciente ou inconscientemente, eles se converteram a Cristo. Podem não saber qual foi o momento exato em que isso ocorreu, mas em minha opinião tal deve ser a exceção, e não a regra. Quer se lembrem ou não do momento, houve o instante em que atravessaram a linha da morte para a vida. Não se pode dizer o momento exato no qual a noite se torna dia, mas sabemos quando o sol despontou.
O Dr. Donald Grey Barnhouse disse, certa vez: “Não é presunção minha dizer que tenho tanta certeza de que estarei no Céu quanto tenho de que Cristo estará lá. Dizer que alguns dos meus atos tiveram participação nisso, seria presunção; mas quando digo que meus atos, os 2%, os 50% ou os 80%… estão todos postos de lado, e que os 100% de justiça de Deus são minha salvação, nesse caso certamente a jactância se acha excluída.” Como afirmou Paulo: “Onde, pois, a jactância? Foi de todo excluída. Por que lei? Das obras? Não, pelo contrário, pela lei da fé” (Romanos 3:27).
SEGURANÇA
Há três meios pelos quais posso saber que tenho vida eterna: objetivamente, porque a Palavra de Deus o afirma; subjetivamente, devido ao testemunho dado pelo Espírito interiormente; e experimentalmente, porque pouco a pouco, à medida que passa o tempo, vejo a obra experimental de Deus em minha vida. Trata-se de processo mais lento do que eu gostaria que fosse, mas é um processo. Por isso, posso dizer: “Eu sei. ”
COMO RECEBER CRISTO
A pergunta que surge em muitas mentes é a seguinte: Que devo exatamente fazer para receber Cristo? Gostaria que me fosse dado apresentar tudo numa fórmula e entregá-la a quem faz aquela pergunta, mas é impossível. Como já sugeri, a experiência de cada um é diferente da de todos os outros. Assim como não existem dois cristais de neve idênticos, não existem duas experiências com Cristo que sejam exatamente a mesma. Existem, no entanto, certas linhas de orientação na Bíblia, que nos ajudam para chegarmos à aceitação de Jesus Cristo como nosso Salvador. Seja-me permitido, por esse motivo, resumir o que devemos fazer.
Em primeiro lugar, devemos reconhecer que Deus nos amou tanto que entregou Seu Filho para morrer na cruz. “Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o Seu Filho unigênito, para que todo o que nEle crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (João 3:16). “O Filho de Deus… que me amou e a si mesmo se entregou por mim” (Gálatas 2:20).
Em segundo lugar, devemos arrepender-nos dos nossos pecados. Disse Jesus: “Se, porém, não vos arrependerdes, todos . . . perecereis” (Lucas 13:3). E disse, também : “Arrependei-vos e crede” (Marcos 1:15). Como afirmou John Stott, pastor da Igreja de Todas as Almas em Londres, “a fé que recebe Cristo deve ser acompanhada pelo arrependimento, pelo qual se rejeita o pecado”. O arrependimento não quer simplesmente dizer que devamos lamentar o passado. Lamentar não basta: é preciso que nos arrependamos, que voltemos as costas ao pecado.
Em terceiro lugar, devemos aceitar Jesus Cristo como Salvador e Senhor. “Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus; a saber: aos que crêem no Seu nome” (João 1:12). Isto quer dizer que aceitamos a oferta de amor, misericórdia e perdão feita por Deus, quer dizer que aceitamos Jesus Cristo como nosso único Senhor e único Salvador. Quer dizer que deixamos de lutar e tentar salvar-nos a nós mesmos. Confiamos nEle completamente, sem reservas, como nosso Senhor e Salvador.
Em quarto lugar, devemos confessar Cristo publicamente. Disse Jesus: “Portanto, todo aquele que me confessar diante dos homens, também eu o confessarei diante de meu Pai que está nos céus” (Mateus, 10:32). Essa confissão implica a idéia de uma vida vivida de tal modo diante de nossos semelhantes que estes nela percebam uma diferença. Quer também dizer que reconhecemos, por nossa boca, o Senhor Jesus. “Se com a tua boca confessares a Jesus como Senhor, e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo” (Romanos, 10:9). É de extrema importância que, ao recebermos Cristo, digamos a alguém o mais depressa possível o que se passou. Isto nos confere vigor e coragem para testemunhar.
É importante que tomemos nossa decisão e assumamos nosso compromisso com Cristo agora. “Eis agora o tempo sobremodo oportuno, eis agora o dia da salvação” (II Coríntios 6:2). Se quisermos arrepender-nos dos nossos pecados e receber Jesus Cristo como nosso Salvador, podemos fazê-lo agora. Neste momento, podemos curvar a cabeça ou ficar de joelhos e fazer a seguinte e pequenina prece que utilizei com milhares de pessoas, em todos os continentes:
Ó Deus, reconheço que pequei contra Ti. Lamento os meus pecados e desejo afastar-me deles. Recebo e reconheço publicamente Jesus Cristo como meu Salvador e O confesso como meu Senhor. A partir deste momento quero viver para Ele, e servi-Lo. Em nome de Jesus, amém.
Se está querendo tomar esta decisão, se houver em seu maior conhecimento recebido Jesus Cristo, Filho de Deus, como seu próprio Salvador, então de acordo com as afirmações citadas e tiradas da Escritura você se tornou um filho de Deus, em quem Jesus Cristo habita. Um número demasiadamente grande de pessoas comete o engano de medir a certeza de sua salvação por seus sentimentos. Não cometa esse grave erro. Acredite em Deus. Tome-O pela Sua palavra.
Extraído do livro “Mundo em Chamas” B. Graham