Como podemos saber se uma organização religiosa, política ou de qualquer outra área é uma seita perigosa? Este é objetivo deste artigo.
A seguir, apontaremos os principais elementos que nos auxiliarão a empenhar esta identificação, mas, antes de qualquer juízo, é primordial aconselhar a avaliação das características em seu todo, pois, se forem desassociadas do conjunto, poderão ser encontradas também em movimentos ortodoxos, sem que com isso caracterizem uma seita.
Faremos esta caracterização por meio de quatro tópicos:
- Recrutamento: as estratégias do grupo para recrutar novos adeptos.
- Programação: as estratégias do grupo para administrar a vida cotidiana dos seus adeptos.
- Retenção: as estratégias do grupo para reter seus adeptos.
- Resultado: as implicações destas estratégias na vida dos adeptos.
RECRUTAMENTO
- Engano: a identidade e os verdadeiros objetivos do grupo não são revelados antecipadamente. Os líderes dizem aos membros que eles não podem dar informações sobre o grupo, para que as pessoas “de fora” não saibam muito a respeito deles.
- Chantagem emocional: as seitas oferecem amizade e aceitação instantâneas. Os que recrutam novos adeptos não aceitam uma resposta negativa sem que antes levem a pessoa a sentir-se culpada ou ingrata pela rejeição de sua pregação.
- Exploração de crises emocionais: são exploradas situações como um relacionamento quebrado, um falecimento na família, a perda do emprego, uma mudança recente, a solidão e a depressão.
- Invenção de crise: o mundo à nossa volta e os crentes de outras religiões são vistos numa perspectiva sombria, ou o fim do mundo é iminente etc. Dizem para as pessoas que elas devem fazer parte do grupo para que possam ser salvas ou curadas.
- Respostas: o grupo tem respostas simplistas e únicas para todos os questionamentos sobre a vida.
PROGRAMAÇÃO
- Estudo intenso: a ênfase é posta nos escritos e doutrinas do grupo. A Bíblia, se usada, é citada de forma seletiva e fora do contexto.
- Avisos: os novos membros são avisados de que Satanás fará que seus familiares e amigos falem mal do grupo. Dentro de pouco tempo, os recrutas só confiam nos membros do grupo.
- Culpa e medo: os grupos enfatizam a natureza pecaminosa do indivíduo e a necessidade de purificar a velha personalidade.
- Controle da rotina, fadiga: o estudo e o trabalho para o grupo são obrigatórios, roubando quase todo o tempo do novo membro, tornando-o demasiado ocupado para refletir ou ouvir a opinião de outros. A família, os amigos, o emprego e os passatempos são postos de lado, isolando-o ainda mais.
- Ataque a qualquer tipo de pensamento independente: o pensamento crítico é desencorajado e interpretado como orgulho e pecado. E encorajada a aceitação cega.
- Comissão divina: o líder geralmente alega ter recebido novas revelações de Deus e afirma ser o único porta-voz de Deus para a humanidade neste tempo.
- Obediência irrestrita: todas as questões têm respostas simples e requer-se do novo adepto uma obediência inquestionável às ordens do grupo. Uma mentalidade do tipo “nós contra eles” fortalece a identidade do movimento. Todas as pessoas que não pertencem ao grupo são encaradas como fracas ou enganadas.
RETENÇÃO
- Questionamento de motivos: quando é apresentada evidência sólida contra o grupo, os membros são ensinados a questionar os motivos da pessoa que apresenta a evidência. Aquilo que pode ser verificado é ignorado e se aceita aquilo que não pode ser verificado.
- Controle de informação: o grupo controla aquilo que o membro pode ver ou ouvir. E proibido o contato com ex-membros e com qualquer pessoa que critique o grupo.
- Isolamento e alienação: o grupo substitui a família porque ouve que não precisa de mais ninguém (nem mesmo da família) além do grupo. Talvez o novo adepto receba instruções como: proibição de alimentos, proibição de casamento ou abandono do lar, desistência da escola, entre outras.
- Repressão: a desobediência, incluindo até mesmo desacordos insignificantes com a doutrina do grupo, terá como resultado o banimento e a expulsão.
- Fobias: o medo do mundo e das outras pessoas é aumentado, tal como o medo do diabo e do mal. É ensinado aos membros que lhes acontecerá algo muito mau se deixarem o grupo. Não existe nenhuma maneira honrosa de sair do grupo.
- Empenho: ser membro e trabalhar para o grupo é essencial para a salvação. Por mais que o adepto se esforce, nunca será o suficiente.
RESULTADOS
- Dependência: o adepto fica com uma dependência infantil do grupo.
- Desordens pessoais: depressão, desorientação, ansiedade, estresse, comportamento neurótico ou psicótico, e até mesmo tendências suicidas.
- Capacidade diminuída: o adepto perde a capacidade de pensar de forma clara e crítica. Contradições lógicas nas doutrinas têm pouco ou nenhum efeito sobre ele.
- Exploração: o adepto é explorado financeiramente, psiquicamente e/ou mentalmente. Pode ser manipulado para dar tudo o que possui ao grupo, abandonar escola ou emprego (para poder passar muitas horas vendendo literatura ou outros itens), fornecer mão-de-obra barata para o grupo e outras coisas.
“Mas o Espírito expressamente diz que nos últimos tempos apostatarão alguns da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores, e a doutrinas de demônios; pela hipocrisia de homens que falam mentiras, tendo cauterizada a sua própria consciência; proibindo o casamento, e ordenando a abstinência dos alimentos que Deus criou para os fiéis, e para os que conhecem a verdade, a fim de usarem deles com ações de graças” (1Tm 4.1 -3).
RANDALL WATTERS, FONTE: REVISTA “DEFESA DA FÉ” ANO 8 – N° 62