Uma das características de grande parte da Igreja Evangélica Brasileira é a sua avidez por novidades. Vários segmentos evangélicos não se contentam mais com a antiga doutrina pregada pelos apóstolos e pais da Igreja — mais tarde defendida pelos Reformadores — e vivem numa busca constante de novidades e modismos doutrinários. Um assunto que ainda gera discussões é a Visão Celular.
Hoje, sete anos após o surgimento do G-12 no Brasil como método de crescimento para a igreja, as opiniões sobre o sistema de células pelo modelo dos 12 continuam gerando polêmica. Para alguns pastores, a visão é a solução para a igreja de Cristo; para outros, um movimento herético. Mas, afinal de contas, o que é o Movimento de Igreja em Células no Modelo dos Doze? Qual a sua similaridade com a igreja em células desenvolvido pelo pastor coreano David Yonggi Cho? Por que os parâmetros e métodos do G-12 ainda estão causando tanta polêmica?
O Movimento de Igrejas em Células no Modelo dos Doze, mais conhecido por G-12 (Grupo dos 12) ou Visão Celular, foi criado pelo pastor colombiano Cézar Castellanos Dominguez, da Missão Carismática Internacional (MCI), em 1991. Isso ocorreu após sua visita à Igreja Central do Evangelho Pleno, do pastor David Yonggi Cho, a maior do mundo, e que funciona com o sistema de células.
De acordo com a visão, a igreja deve ser subdividida em grupos que se reúnem nas casas, onde participam de estudos bíblicos e orações sob a coordenação de um líder. Assim que a célula atinge a meta de 24 membros, é dividida em duas de 12 membros cada, e assim por diante. Dessa forma, o G-12 é tratado como uma estratégia para frutificação rápida e eficaz da igreja, cujo princípio é ganhar, consolidar, discipular e enviar.
Em agosto de 1998, o brasileiro Renê Terra Nova, da Igreja Batista da Restauração de Manaus, participou de um encontro em Bogotá, Colômbia, e, inspirado no trabalho do apóstolo Cézar Castellanos, fundou o Ministério Internacional da Restauração (MIR), do qual é presidente. No final de março de 2005, Terra Nova se desligou do G-12, quando rompeu com Castellanos e adotou para si e sua igreja uma nova nomenclatura – Visão Celular (Movimento Celular, M12). No Brasil, outras duas lideranças significativas, o bispo Robson Rodovalho, fundador do Ministério Comunidade Sara Nossa Terra, e a apóstola Valnice Milhomens, da Igreja Nacional do Senhor Jesus Cristo, também abraçaram a visão do G-12.
Bispo Rodovalho, fundador da Comunidade Sara Nossa Terra, rebate que o fato de algumas pessoas entenderem o G12 como heresia é por não o conhecerem a fundo ou mesmo pelos exageros cometidos por algumas igrejas
DEUS FACE A FACE
A grande polêmica sobre se o modelo é herético ou não está baseada no “Encontrão” e na forma como os participantes são direcionados a atuar, já que existe uma promessa de que os que participarem estarão face a face com Deus. Antes do “Encontro”, entretanto, é necessário que todos passem pelo “Pré-Encontro”, que consiste em quatro palestras preparatórias. Nessa ocasião, é pedido a todos sigilo absoluto quanto a tudo que irão ouvir e ver a partir daquele momento. Existe também o “Pós-Encontro”, que ratifica o aprendizado.
“A visão traz renovação”, diz o bispo Rodovalho. Segundo ele, o fato de algumas pessoas a entenderem como heresia é por não a conhecerem a fundo ou mesmo pelos exageros cometidos por algumas igrejas na hora de aplicá-la. “O ‘Encontro’ é uma espécie de retiro onde as pessoas que estão chegando à igreja recebem orientações sobre a visão. Durante dois dias e meio falamos sobre batismo com o Espírito Santo, em cura interior, quebra de maldição e maldição hereditária. São doutrinas que, a gente sabe, estão dentro do nosso dia-a-dia. A visão comporta isso. O Pré-encontro, o Encontro e o Pós-encontro dão legalidade para começarmos a entendê-la”, explica, ressaltando que tudo o que é feito com exagero traz problemas e distorções.
Mas, para alguns pastores, os problemas vão além de exageros e distorções. Para eles, o “Encontro” torna-se um equívoco quando as pessoas colocam nele suas esperanças de que verão Deus face a face. É o caso do pastor Luiz Roberto dos Santos, da Igreja Batista de Neves, em São Gonçalo, cidade localizada na região metropolitana do Rio de Janeiro. “Não preciso ir ao encontro para analisar o que é certo ou errado. Se vou a um lugar onde Deus haverá de manifestar-se, isto gera uma visão pagã sobre Ele, gera idolatria e uma falsa teologia. Creio em um Deus que não brinca de esconde-esconde e que não se revela através de segredos esotéricos. Ele se manifesta integralmente e totalmente a cada um de nós. Não marca encontro em algum lugar, mas se revela onde nós estamos”, disse.
De acordo com Marcio Argachf, autor de um estudo sobre os enganos do movimento, datado de março de 2005, Castellanos revelou aos seus seguidores que, a partir daquele momento, ia querer receber um determinado valor das igrejas que usassem a marca G-12. “Por isso é comum hoje encontrarmos igrejas que não mais usam o termo G-12, mas continuam aplicando os mesmos ensinamentos, ou melhor, distorções doutrinárias aprendidas enquanto seguiam o colombiano”, explica Márcio em seu texto. Hoje, é natural ouvir falar em M12, Visão Celular, Igreja em Células, que se utilizam dos mesmos ensinamentos originais do G-12.
Extraído da Revista Enfoque Gospel