Uma das perguntas que me fazem com mais frequência é: “Como encontrar uma boa igreja?” Essa questão adquiriu mais significado nos últimos anos, por causa do impacto maciço do televangelismo em nossa cultura. Em muitos casos, o louvor foi substituído pelo entretenimento, e a comunhão transformou-se em individualismo. Tendo em vista esses desenvolvimentos culturais, é fundamental que os cristãos conheçam os ingredientes de uma igreja saudável e bem equilibrada.
O primeiro sinal de uma igreja saudável e equilibrada é um pastor comprometido em liderar a comunidade de fé no culto a Deus por meio da oração, do louvor e da pregação. A oração está entrelaçada no “tecido” do culto de tal forma, que seria inimaginável ter uma reunião da igreja sem ela. Desde o início da Igreja Primitiva, a oração é a principal forma de adorar a Deus. Por meio da oração, temos o privilégio de expressar adoração e gratidão ao Único que nos salvou, santificou e que um dia nos glorificará. Na verdade, nosso Senhor mesmo estabeleceu o padrão ao ensinar a seus discípulos o Pai Nosso (Mateus 6.9-13).
O louvor é outro ingrediente-chave do culto. As Escrituras nos incentivam a falarmos entre nós “com salmos, e hinos, e cânticos espirituais” (Efésios 5.19). Cantar salmos é uma forma magnífica de interceder, instruir e de internalizar as Escrituras. Além disso, os grandes hinos de fé resistem ao tempo e são ricos em tradição teológica e verdade. Cânticos espirituais, por sua vez, transmitem o vigor da nossa fé. Portanto, é fundamental preservarmos tanto o respeito por nossa herança espiritual quanto uma consideração pelas composições contemporâneas.
Juntamente com a oração e o louvor, a pregação é necessária para experimentarmos um culto vibrante. Como Paulo incentivou seu protegido Timóteo: “pregues a palavra, instes a tempo e fora de tempo, redarguas, repreendas, exortes, com toda a longanimidade e doutrina. Porque virá tempo em que não sofrerão a sã doutrina; mas, tendo comichão nos ouvidos, amontoarão para si doutores segundo as suas próprias concupiscências” (2Timóteo 4.2-3). Mais uma vez, os líderes da igreja devem gerar em seus membros uma fome pela Palavra de Deus. Pois é pela pregação da Palavra que os crentes são edificados, exortados, encorajados e preparados.
Além disso, uma igreja saudável e bem equilibrada caracteriza-se por sua unidade. Cristo rompe as barreiras de gênero, raça e experiência, e nos torna um só sob a bandeira de seu amor. Essa unidade se manifesta de modo tangível pela comunhão, pela profissão de fé e pela contribuição.
A comunhão é visível no batismo, que simboliza nossa entrada em um corpo de crentes que são um em Cristo. É um sinal e um selo de que fomos sepultados para a nossa velha vida e ressurgimos em novidade de vida, por meio de seu poder de ressurreição. De modo semelhante, a Santa Ceia é uma expressão de unidade. Quando compartilhamos os mesmos elementos, compartilhamos aquilo que simboliza — Cristo, por quem somos um. Nossa comunhão na Terra, celebrada na Ceia, é uma antecipação da comunhão celestial que teremos quando o símbolo der lugar ao significado.
Uma outra expressão de nossa unidade em Cristo é nossa profissão de fé em comum — um conjunto de crenças essenciais, ao qual se refere corretamente como “cristianismo essencial”. Essas crenças, que têm sido sistematizadas nos credos da igreja cristã, formam a base de nossa unidade como corpo de Cristo. O conhecido pensamento continua ecoando: “No essencial, unidade; no que não é essencial, liberdade; e em todas as coisas, caridade”.
Com a comunhão e a profissão de fé, experimentamos a unidade por meio da contribuição de nosso tempo, talento e tesouros. A questão que deveríamos fazer não é “O que a igreja pode fazer por mim?”, mas “O que posso fazer pela igreja?” A tragédia do Cristianismo moderno é que quando os membros do corpo se machucam, com frequência nós os afastamos para buscarem ajuda fora das paredes da igreja. E exatamente por isso que o apóstolo Paulo nos exorta: “comunicai com os santos nas suas necessidades, segui a hospitalidade” (Romanos 12.13).
Finalmente, uma igreja saudável e bem equilibrada é comprometida em preparar os crentes para serem testemunhas efetivas daquilo em que creem, por que creem e em quem eles creem. Na Grande Comissão, Cristo não chamou os crentes para simplesmente converterem outras pessoas, mas para fazerem discípulos (Mateus 28.19). Um discípulo é um aprendiz ou seguidor do Senhor Jesus Cristo. Portanto, devemos estar preparados para transmitir aquilo em que cremos. Em outras palavras, devemos estar preparados para transmitirmos o evangelho. Se os cristãos não sabem como partilhar sua fé, nunca passaram pelo treinamento básico. O evangelho de Cristo deve se tornar parte de nosso vocabulário de modo que apresentá-lo se torne natural.
Também devemos estar preparados para partilhar porque cremos naquilo em que cremos. Como Pedro declarou, devemos “[estar] sempre preparados para responder com mansidão e temor a qualquer que [nos] pedir a razão da esperança que há em [nós]” (1Pedro 3.15).
Muitos hoje acreditam que a tarefa da apologética é domínio exclusivo de estudiosos e teólogos. Nem tanto! A defesa da fé não é opcional; é treinamento básico para todo cristão.
Além de estarmos preparados para transmitir o “o que” e o “porque” de nossa fé, devemos estar capacitados para transmitir o Quem de nossa fé. Praticamente toda heresia teológica começa com uma concepção errônea da natureza de Deus. Portanto, em uma igreja saudável e bem equilibrada, os crentes são preparados para transmitir doutrinas gloriosas da fé como a Trindade e a deidade de Jesus Cristo. É fundamental que nós, como a Igreja Primitiva, entendamos mais plenamente o conceito bíblico de sacerdócio de todos os crentes. É evidente que não se trata do chamado do pastor para fazer a obra do ministério sozinho. Ao contrário, o pastor é chamado para “o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do Corpo de Cristo, até que todos cheguemos à unidade da fé e ao conhecimento do Filho de Deus, a varão perfeito, à medida da estatura completa de Cristo” (Efésios 4.12-13).
Resumindo, sabemos que encontramos uma boa igreja se Deus é adorado em espírito e em verdade por meio da oração, do louvor e da pregação da Palavra; se a unidade que partilhamos em Cristo se manifesta de modo tangível na comunhão, na profissão de fé e na contribuição; e se a igreja prepara seus membros como testemunhas que transmitem o que creem, porque creem e em Quem creem!
“E perseveravam na doutrina dos apóstolos, e na comunhão, e no partir do pão, e nas orações” (Atos 2.42).
- HANK HANEGRAAFF