Começando com a exposição das heresias, escolhi a famosa “Cobertura Espiritual” para dar início a esta seção do livro.
Segundo esta doutrina, os líderes religiosos, Pastores, Bispos e Apóstolos, são responsáveis espiritualmente pelas ovelhas confiadas a eles. Os adeptos desta doutrina afirmam que qualquer pessoa que estiver debaixo da “cobertura” de determinado líder, está protegido contra qualquer tipo de mal que poderia vir a ser enviado contra ela.
A manipulação é tão grande que as pessoas são induzidas a ficarem para sempre debaixo daquela “cobertura”, ninguém pode sair desta “redoma espiritual”, caso contrário, os males poderão acontecer contra ela e contra a família.
Quando uma pessoa se desliga destas igrejas que pregam a cobertura espiritual, e por algum motivo começam a passar qualquer dificuldade, seja ela financeira, familiar ou conjugal, rapidamente esta pessoa é exposta como “testemunho” de desobediência na igreja. Os manipuladores pregam frases como: “Veja fulano, saiu da cobertura e olha só o que ele está passando!”. Assim, com toda astúcia, eles conseguem manipular os “escravos”. Ninguém vai ousar desobedecer ou sair daquela suposta cobertura mística.
Heresias não provém do nada. Toda heresia tem o mesmo ponto de partida, a Bíblia. Ela até parece ser bíblica, mas não é. Ela até tem um “fundo” de verdade, que eu vou comentar no final, mas não é totalmente pura e verdadeira. Para que haja manipulação através desta falsa doutrina, os hereges tentam adaptar a Bíblia a sua tese. Algumas passagens bíblicas são “pinçadas” pra tentar dar base para a doutrina da cobertura espiritual. Por exemplo: A separação de Abraão e Ló.
8 Disse Abrão a Ló: Não haja contenda entre mim e ti e entre os meus pastores e os teus pastores, porque somos parentes chegados.
9 Acaso, não está diante de ti toda a terra? Peço-te que te apartes de mim; se fores para a esquerda, irei para a direita; se fores para a direita, irei para a esquerda.
Gn 13.8 – 9
Os adeptos desta doutrina vão dizer o seguinte: “Veja só, assim que Ló se afastou de Abraão sua vida foi completamente destruída. Por isso nunca se afaste desta cobertura, pois o mesmo pode acontecer com você”. Sempre usando a teologia do medo, para escravizar seus seguidores.
Na verdade, na época de Abraão, só Abraão e sua descendência carregavam as promessas de Deus. Estar perto de Abraão significava estar perto de Deus. Hoje, depois da vinda de Jesus Cristo e do derramar do Espírito Santo sobre toda a carne, todos nós temos livre acesso ao Pai, e todas as benção de Abraão chegaram até nós, os gentios, por meio da fé em Jesus nosso Senhor.
13 Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se ele próprio maldição em nosso lugar (porque está escrito: Maldito todo aquele que for pendurado em madeiro),
14 para que a bênção de Abraão chegasse aos gentios, em Jesus Cristo, a fim de que recebêssemos, pela fé, o Espírito prometido.
Gl 3.13 – 14
A benção de Deus não está mais sobre uma pessoa, mas sobre a sua igreja. Todas as pessoas que crêem em Jesus tem livre acesso as benção de Abraão. Recebemos o sacerdócio universal através de Jesus, temos acesso as bênçãos, temos acesso a Deus.
Esses líderes usam muito comumente o termo “sacerdote”, tratando o líder ou o pastor como sacerdote espiritual sobre aquela pessoa. No Antigo Testamento, os sacerdotes tinham o papel de intermediar o relacionamento do povo com Deus. Ninguém individualmente poderia chegar até Deus, era necessário a intermediação de um sacerdote. Porém, no Novo Testamento isso não é mais necessário, não existe mais sacerdotes como na antiga aliança, Jesus já rasgou o véu se tornando o Sumo Sacerdote sobre todos, sendo ele o único mediador entre Deus e os homens.
5 Porquanto há um só Deus e um só Mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, homem,
I Tm 2.5
6 Respondeu-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim.
Jo 14.6
O véu se rasgou, temos acesso ao santo dos santos pelo novo e vivo caminho, o sangue de Jesus.
19 Tendo, pois, irmãos, intrepidez para entrar no Santo dos Santos, pelo sangue de Jesus,
20 pelo novo e vivo caminho que ele nos consagrou pelo véu, isto é, pela sua carne,
21 e tendo grande sacerdote sobre a casa de Deus,
Hb 10.19 – 21
Geralmente, dentro destas instituições, a maioria delas neopentecostais, frequentemente é usado o termo “discípulos” junto com o pronome possessivo “meu ou minha” (Meu Discípulo e Minha Discípula). É obvio que algumas pessoas não tem, de maneira nenhuma, outras intenções ao usar este termo, pode ser apenas uma fala religiosa ou até mesmo uma maneira de expressão. Porém, podemos ver claramente a manipulação enrustida dentro desta fala. Dá a impressão que os discípulos “pertencem” ao líder. De modo que qualquer pessoa que vá tomar uma decisão difícil na sua vida, não pode fazer nada sem antes pedir autorização para seu líder (segundo essa doutrina). Exemplo: Namorar, viajar, mudar de casa, de emprego, etc. Tudo deve ser declarado previamente para o líder, para que, só depois da aprovação dele (líder), a pessoa esteja livre para tomar a decisão.
Temos que entender que os discípulos não são nossos, mas do Senhor. Ninguém é “meu discípulo”, mas discípulo de Jesus. Jesus não nos ensinou formar discípulos para nós, mas para ele.
35 No dia seguinte, estava João outra vez na companhia de dois dos seus discípulos
36 e, vendo Jesus passar, disse: Eis o Cordeiro de Deus!
37 Os dois discípulos, ouvindo-o dizer isto, seguiram Jesus.
Jo 1.35 – 37
Mais uma vez quero registrar que o problema não está no termo, mas na doutrina por trás do termo. Os discípulos que seguiam João, ao entender que quem estava ali era Jesus, o Messias, abandonaram João e foram seguir Jesus. Isso nos mostra que João não formou pessoas para ele, mas para seguir Jesus.
As ovelhas não são nossas, mas do Senhor. Quando Jesus perguntou três vezes para Pedro se ele o amava, as respostas de Jesus para Pedro foram as seguintes: “Apascenta as MINHAS ovelhas”. As ovelhas são de Jesus, que as comprou por alto preço na cruz do calvário.
A manipulação é tão forte, que a discordância de qualquer orientação do líder é tratado como um ato de rebeldia. O ensino dentro desta doutrina é o seguinte: “Se o teu líder te disser pra fazer alguma coisa, faça! Mesmo que esta ordem seja para fazer algo que você considere errado. Pois, se realmente for algo errado, quem vai prestar contas é o líder e não você.” Ou seja, obedeça, ainda que seja pecado ou errado, e a “conta” não virá nas suas “costas”, mas na do líder, que te orientou errado. A orientação é: “Apenas obedeça! Para você não ser rebelde!”.
É obvio que isso não tem fundamento. A Bíblia nos ensina a sermos submissos às nossas autoridades, também nos ensina a nos sujeitarmos uns aos outros, isso é bíblico, mas tudo tem um limite.
Um ótimo exemplo de (submissão x limite) é o texto de Daniel 3. Sadraque, Mesaque e Abede-Nego. Eles eram submissos ao rei, mas até certo limite. Que limite era esse? O limite de não pecar contra Deus, de não pecar contra a lei maior, a lei do Senhor. É como se esses três homens respondessem assim para o rei: “olha rei, em tudo te obedeceremos, mas quanto a isso que você nos pediu para fazer não necessitamos nem de te responder, pois há um limite”.
Da mesmo forma Pedro e João. Eles não eram rebeldes contra as autoridades, mas existe um limite, eles não poderiam colocá-las acima de Deus.
19 Mas Pedro e João lhes responderam: Julgai se é justo diante de Deus ouvir-vos antes a vós outros do que a Deus;
At 4.19
Como já disse anteriormente, a Cobertura Espiritual tem um fundo verdadeiro, os pastores cuidam das pessoas e as pessoas são submissas aos seus líderes, não é disso que eu estou falando neste assunto, estou falando da manipulação de pessoas.
Vou dizer o que eu acredito ser a verdadeira cobertura espiritual. Cobertura espiritual é a cobertura de oração que eu posso dar para os irmãos que frequentam nossa igreja. Cobertura para mim é dar suporte de aconselhamento, amor, carinho, ação social, etc. Não posso dar uma cobertura mística, não tenho um campo de força ao redor de mim em que eu possa proteger qualquer ovelha que estiver no “rebanho do Bispo Tarles”.
2 pastoreai o rebanho de Deus que há entre vós, não por constrangimento, mas espontaneamente, como Deus quer; nem por sórdida ganância, mas de boa vontade;
3 nem como dominadores dos que vos foram confiados, antes, tornando-vos modelos do rebanho.
I Pe 5.2 – 3
Cuidado com os que pregam a doutrina da cobertura espiritual mística, abra os olhos, não seja escravo desta heresia, o Senhor é a sua cobertura. Contra a igreja as portas do inferno não prevalecerão. Ser igreja já basta para estar coberto!
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Extraído do livro “ESCRAVOS DAS HERESIAS”, Tarles Elias
cobertura espiritual como fazem por aí, mais parece “coleira” … um fetiche para dominar as pessoas, princialmente visando lucro.