Um pagão culto, desejoso de conhecer melhor a nova religião que se espalhava pelas províncias do império romano, impressionado pela maneira como os cristãos desprezavam o mundo, a morte e os deuses pagãos, pelo amor com que se amavam, queria saber: que Deus era aquele em quem confiavam e que gênero de culto lhe prestavam; de onde vinha aquela cosmovisão nova e por que razões apareceram na história tão tarde. Foi para responder a estas e outras questões de igual importância que nasceu esta joia da literatura cristã primitiva, o escrito que conhecemos como Epístola a Diogneto.
Na defesa contra a idolatria do mundo pagão, percebi como o Catolicismo Romano tornou-se semelhante àquilo que Cristo e os primeiros cristãos combateram. A carta tem argumentos singelos, mas profundos contra a prática pagã da abominação da idolatria.
Preste atenção:
Refutação da idolatria
“Comecemos. Purificado de todos os preconceitos que se amontoam em sua mente; despojado do teu hábito enganador, e tornado, pela raiz, homem novo; e estando para escutar, como confessas, uma doutrina nova, vê não somente com os olhos, mas também com a inteligência, que substância e que forma possuem os que dizeis que são deuses e assim os considerais; não é verdade que um é pedra, como a que pisamos; outro é bronze, não melhor que aquele que serve para fazer os utensílios que usamos; outro é madeira que já está podre; outro ainda é prata, que necessita de alguém que o guarde, para que não seja roubado; outro é ferro, consumido pela ferrugem; outro de barro, não menos escolhido que aquele usado para os serviços mais vis? Tudo isso não é de material corruptível? Não são lavrados com o ferro e o fogo? Não foi o ferreiro que modelou um, o ourives outro e o oleiro outro? Não é verdade que antes de serem moldados pelos artesãos na forma que agora têm, cada um deles poderia ser, como agora transformado em outro? E se os mesmos artesãos trabalhassem os mesmos utensílios do mesmo material que agora vemos, não poderiam transformar-se em deuses como esses? E, ao contrário, esses que adorais, não poderiam transformar-se, por mãos de homens, em utensílios semelhantes aos demais? Essas coisas todas não são surdas, cegas, inanimadas, insensíveis, imóveis? Não apodrecem todas elas? Não são destrutíveis? A essas coisas chamais de deuses, as servis, as adorais, e terminais sendo semelhante a elas. Depois, odiais os cristãos, porque estes não os consideram deuses. Contudo, vós que os julgais e imaginais deuses, não os desprezais mais do que eles? Por acaso não zombais deles e os cobris ainda mais de injúrias, vós que venerais deuses de pedra e de barro, sem ninguém que os guarde, enquanto fechais à chave, durante a noite, aqueles feitos de prata e de ouro, e de dia colocais guardas para que não sejam roubados? Com as honras que acreditais tributar-lhes, se é que eles têm sensibilidade, na verdade os castigais com elas; por outro lado, se são insensíveis, vós os envergonhais com sacrifícios de sangue e gordura. Caso contrário, que alguém de vós prove essas coisas e permita que elas lhe sejam feitas. Mas o homem, espontaneamente, não suportaria tal suplício, porque tem sensibilidade e inteligência; a pedra, porém, suporta tudo, porque é insensível. Concluindo, eu poderia dizer-te outras coisas sobre o motivo que os cristãos têm para não se submeterem a esses deuses. Se o que eu disse parece insuficiente para alguém, creio que seja inútil dizer mais alguma coisa”. (1)
Conclusão
O que percebemos hoje é que o Catolicismo está absorvido justamente pelo que o autor desta carta combatia com vigor. A Bíblia, inclusive em textos apócrifos, sempre foi contra a concepção e sentimento idolatra.
O Catolicismo Romano diz que Deus não desaprova imagens como as católicas, mas ídolos de objetos aos quais o povo atribui vivência. Todavia, as encontradas no Catolicismo são ídolos (deuses e divindades). A reprovação bíblica atinge o estilo Católico de veneração das imagens, vejamos: Êx 32; 2 Rs 21.11; Sl 115.3-9; 135.15-18; Is 2.18; At 15.20; 21.25; 2 Co 6.16 e imagens: Êx 20.1-6; Nm 33.52; Dt 27.15; Is 41.29; Ez 8.9-12. Prestemos atenção à clareza deste versículo: “Não fareis para vós outros (1) ídolos, nem vos levantareis (2) imagem de escultura nem (3) coluna, nem poreis (4) pedra com figuras na vossa terra, para vos inclinardes a ela; porque eu sou o Senhor vosso Deus” (Lv 26.1). Ou seja, a Carta a Diogneto é uma reprodução da concepção teológica e bíblica que sempre pautou a verdadeira Igreja de Jesus Cristo.
Pense nisso!
Fonte:
1) Padres Apologistas, Vol. 2, Ed. Paulus.