A revista DESPERTAI! tem uma tiragem bimestral de milhares de exemplares, uma apresentação tipográfica invejável e fortemente atraente. Mas, o conteúdo da DESPERTAI! pode tornar-se espiritualmente fatal para os que se deixam levar pelas aparências, mesmo porque nem tudo o que procede do Diabo é repelente (2Coríntios 11.14-15). Daí que na edição de 22 de maio de 1989, na contra-capa da última, depara-se com a seguinte manchete:
Em seguida se lê um convite para arrazoar à Base das Escrituras Sagradas sobre tal possibilidade – milhões que hoje vivem jamais morrerão:
Um convite feito bombasticamente, com apelo na Bíblia, sempre encontra ressonância, pois afinal de contas de modo geral se crê na Bíblia como a infalível Palavra de Deus: “O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não hão de passar” (Mateus 24.35).
Não é demais, pois, que muitas pessoas escrevam à Sociedade Torre de Vigia, no endereço indicado na revista, e aguardem a visita de um representante dessa Sociedade para expor provas bíblicas sobre tal iminente possibilidade de não se morrer mais — todos nós que nos achamos vivos.
É verdade que o anúncio feito na DESPERTAI! de 22/05/1989 não traz data marcada para que as pessoas vivas não venham a morrer. Mas quem pesquisa a literatura publicada pela Sociedade Torre de Vigia vai descobrir que não há nada de novo nessa fabulosa manchete “MILHÕES QUE AGORA VIVEM JAMAIS MORRERÃO”.
E por que, perguntará o leitor? Porque a Sociedade Torre de Vigia, tempos atrás, frustrou a espectativa de milhões de pessoas com tal perspectiva de não morrer jamais.
Isto se deu em 1920, quando o então presidente J. F. Rutherford publicou o livro “MILHÕES QUE AGORA VIVEM JAMAIS MORRERÃO”. Este livro foi publicado em inglês em 1920 e a edição portuguesa saiu em 1923.
Conta o “Anuário das Testemunhas de Jeová” de 1976 que elas se puseram em verdadeira polvorosa com a publicação desse livro, tornando-se um tipo de formigueiro humano, tais foram as atividades exercidas para dar o aviso final à humanidade daquela época:
Mas como pôde o escritor e então presidente da Sociedade Torre de Vigia chegar ao resultado de que os vivos em 1925 jamais morreriam? Qual a base bíblica para o desenvolvimento de tal raciocínio? Ele explica da seguinte forma:
“O Senhor ordenou a Moysés inaugurar o systema do Sabbado no anno em que Israel entrou na terra de Canaan, 1575 annos antes de Christo (Levitico 25:1-12), e que cada quinquagesimo anno seria celebrado o jubilo. Isto foi realizado no decimo dia do setimo mez, o dia da Expiação. “E santificareis o quinquagesimo anno e proclamareis liberdade por toda a terra, a todos os habitantes, e ha de ser um jubilo para vós e voltará cada um para as suas possessões, e voltará cada um para sua familia”.
Outras Escripturas mostram que haviam de guardar setenta jubileus (Jeremias 25:11; 2ºChronicas 36:17-21). Simplesmente calculando estes jubilos, chegamos ao seguinte facto importante: Setenta júbilos de cincoenta annos cada um dará o total de 3.500 annos. Este período de tempo, principiando 1.575 annos antes da era Christan, naturalmente terminará no outonno do anno 1925, data esta, na qual termina o typo, e o grande prototypo se iniciará”. Milhões que Agora Vivem Jamais Morrerão, p. 110.
Viram, senhores leitores, como é fácil brincar com a Bíblia? É só juntar duas ou três referências bíblicas, sem a mais remota possibilidade de serem ligadas, e se descobre o que muitos leitores assíduos nunca atinaram: 70 anos de cativeiro babilónico x 50 anos de jubileu, como resultado tem-se 3.500 anos. Diminuiu-se 1.575 anos da entrada de Israel em Canaã e pode-se afirmar que em 1925 se chegará ao verdadeiro jubileu – o princípio da restauração de todas as coisas.
E o que deveria acontecer para dar início ao protótipo do verdadeiro jubileu? Rutherford é mais entendido no assunto e ele explica:
“A cousa principal a ser restituída é vida à raça humana; desde que outras escripturas definitivamente estabelecem o facto de que Abrahão, Isaac e Jacob ressuscitarão e outros fieis antigos; e que estes seriam os primeiros favorecidos, podemos esperar em 1925 a volta desses homens fieis de Israel, resurgindo da morte e completamente restituídos à perfeição humana, os quaes serão visiveis e reaes representantes da nova ordem das cousas na terra”. Milhões que Agora Vivem Jamais Morrerão, p. 111.
Observe o leitor a parte final da profecia de Rutherford no livro mencionado: “desde que outras escrituras definitivamente estabelecem o fato, de que Abrahão, Isaac e Jacob ressuscitarão e outros fiéis antigos, e que estes seriam os primeiros favorecidos, podemos esperar em 1925 a volta desses homens fiéis de Israel, ressurgindo da morte e completamente restituídos à perfeição humana, os quais serão visíveis e reais representantes da nova ordem das cousas na terra” (o grifo é nosso).
Mas, o ano de 1925 chegou. E o que aconteceu? Deixemos que a Sociedade Torre de Vigia explique o resultado:
“Veio e foi-se o ano de 1925. Os seguidores, ungidos de Jesus ainda estavam na terra como classe. Os homens fiéis da antiguidade — Abraão, Davi e outros — não foram ressuscitados para se tornarem príncipes na terra (Sal. 45:16). Assim, como recorda Anna MacDonald: “1925 foi um ano triste para muitos irmãos. Alguns deles tropeçaram; suas esperanças foram despedaçadas. Tinham esperado ver alguns ‘antigos dignatários’ (homens da antiguidade como Abraão) serem ressuscitados. Ao Invés de isso ser considerado uma ‘probabilidade’ leram que era uma ‘certeza’, e alguns se prepararam para seus próprios entes queridos, na expectativa de sua ressurreição”. Anuário – 1976, p. 146.
Diz a Sociedade Torre de Vigia que a profecia de 1925 deveria ter sido considerada uma ‘probabilidade’ e não uma ‘certeza’. Tiveram suas esperanças frustradas porque leram mal o que a Sociedade escreveu sobre o assunto.
Ora, isso não passa de sutilezas para os menos prevenidos, pois a Sociedade Torre de Vigia chegou ao ponto de comprar uma casa para receber os santos a serem ressuscitados no ano de 1925:
Na verdade houve a declaração de “probabilidade” ou houve realmente declaração enfática quanto à certeza de tal acontecimento?
“e quando os príncipes voltarem, se alguns deles fizerem uso dessa propriedade, isso confirmará a fé e a esperança que induziu a edificação da Bet-Sarim”. Salvação, p. 276.
Observe que a declaração acima não está no condicional, mas está explicitamente falando do futuro “e quando os príncipes voltarem, se alguns deles fizerem uso dessa propriedade, isso confirmará a fé e a esperança que induziu a edificação de Bet-Sarim”.
Por que não se cumpriu a profecia de Rutherford? A Sociedade Torre de Vigia explica a razão: É verdade, houve aqueles que, em tempos passados, predisseram um “fim do mundo”, até mesmo anunciando uma data específica. Alguns ajuntaram grupos de pessoas a êles e fugiram para as colinas ou se retiraram para suas casas, aguardando o fim. Todavia, nada aconteceu. O “fim” não veio. Eram culpados de profetizar falsamente. Por quê? O que estava faltando!
Faltava a plena medida de evidência exigida em cumprimento da profecia bíblica. O que tais pessoas não tinham eram as verdades de Deus e a evidência de que Ele as guardava e usava. Despertai! – 22 de abril de 1969.
O que faltava a J. F. Rutherford na qualidade de profeta de Deus? “Faltava a plena medida de evidência exigida em cumprimento da profecia bíblica. O que tais pessoas não tinham eram as verdades de Deus e a evidência de que Ele as guiava e usava”.
O que aconteceu com as Testemunhas de Jeová na ocasião, em vista da profecia falsa de J. F. Rutherford, que era então o principal membro do Corpo Governante, o intitulado “escravo fiel e discreto?” Elas se retiraram da Sociedade. Eis o relatório apresentando na data da celebração da Refeição Noturna do Senhor no ano de 1925:
Isto foi evidenciado pela .assistência cada vez maior nas celebrações anuais da refeição noturna do Senhor, sendo que 32.661 participaram em 1922; 42.000 em 1923; 65.105 em 1924 e 90.434 em 1925. Evidentemente, porém, havia alguns que não ‘esperaram’ até o fim do tempo anunciado, pois em 1926 houve um decréscimo relatado na assistência à refeição noturna do Senhor em 27 de março para 89.278. Especialmente o ano de 1925 foi de grande prova para muitos do povo de Jeová. Alguns cessaram de esperar e voltaram ao mundo”. Seja Feita a Tua Vontade na Terra, p. 312.
Como se observa acima, houve uma diminuição de assistência à refeição noturna do Senhor no ano de 1925, eis que:
- em 1925 – data da profecia da ressurreição dos santos do Antigo Testamento, estiveram presentes 90.434 pessoas
- em 1926 – o ano seguinte………………………………………………… 278 pessoas
Se tal acontecimento trouxe tribulações inexplicáveis à Sociedade Torre de Vigia, por que hoje se repete a mesma história? A explicação é dada pela própria Sociedade:
“Falsos profetas? Absolutamente! Um falso profeta não se corrige. Êle persiste em proclamar um parecer errado mesmo quando sabe que está errado”. A Sentinela, 01/05/1963, p. 278.
É incrível, mas na verdade “um falso profeta não se corrige. Ele persiste em proclamar um parecer mesmo guando sabe que está errado”.
E é assim que o atual presidente da Sociedade Torre de Vigia – Frederic Franz não desconhece a falsa profecia de Rutherford, pois era contemporâneo dele e fazia palestras, anunciava o cumprimento da profecia de Rutherford como se lê no panfleto abaixo:
Boa tarde,
Há um erro na matéria…
O texto das testemunhas de jeova citado diz que em 1926 compareceram 89.278 pessoas…
já no comentário feito pelo redator logo abaixo consta 278…
Ou seja, 1156 pessoas deixaram de comparecer a refeição noturna.