As Testemunhas de Jeová e a Transfusão de sangue

Introdução: Baseados em Gen. 9.4, Levíticos 7.27; 17.10-14, e Deut. 12.25-28, as Testemunhas de Jeová (TJ) não permitem que alguém da seita ou da família se submeta a transfusão de sangue para intervenções cirúrgicas ou para salvar a vida de alguém em circunstâncias especiais. Casos graves neste sentido têm surgido, provocando a movimentação da opinião pública e que se tornaram chocantes.

Mas não foi sempre assim com as TJ Seu principal fundador, Charles Taze Russel, por volta de 1892, apenas proibiu comer sangue, mas nada falou de transfusão de sangue. Igualmente, seu grande sucessor, o Juíz Rootherford, em 1939, respondendo a uma indagação por carta de um de seus seguidores, falou que não se deveria comer a carne de animais com o seu sangue conforme a recomendação do Velho Testamento, mas não tratou de transfusão de sangue (Witnesses of Jehovah – A Shocking Expose of What Jehovah’s Witnesses Really Believe – Leonard & Majorie Chretien, Harvest House Publishers, Oregon, pag 183).

A proibição começou a ser implantada a partir de 22 de dezembro de 1943, quando saiu um artigo na revista Consolação (Consolation) defendendo a idéia (idem, idem, p. 183). Daí para a frente, vários artigos em várias literaturas, consolidaram a proibição.

Teriam razão as testemunhas de Jeová?

Vejamos:

1. Comer não é transfundir. A proibição de não comer era mais para deixar o sangue derramar-se sobre a terra em respeito à vida. Uma segunda razão da proibição no Velho Testamento era o fato de serem os animais usados no altar para expiação dos pecados dos seres humanos. Por isso, o sangue era considerado sagrado. De qualquer maneira, comer não tem nada a ver com transfundir sangue. O texto bíblico jamais deixa transparecer qualquer outro significado. A proibição é de não comer a carne com o sangue. Não entro aqui na discussão se o crente hoje deve ou não deve comer carne com sangue ou frango a molho pardo. De qualquer maneira, esta é uma das poucas exigências para os judeus, no Velho Testamento, que são mantidas no Novo Testamento, para os cristãos gentios. Mas daí, a entender que a proibição de comer carne com sangue significa proibir fazer transfusão de sangue para salvar uma vida, é muito diferente.

2. A “alma” da carne que está no sangue, segundo Lev. 17.11-12, é a vida e não o espírito. Animal não tem espírito. Só o ser humano tem espírito. As palavras para alma e espírito são diferentes. “Alma”, aqui é NEPHESH, que quer dizer: vida, força vital. A palavra geralmente usado no Velho Testamento para espírito é: RUAH. Algumas vezes, “nephesh” é usada como sinônimo de “ruah”, mas aí o contexto do texto (o que vem antes e o que vem depois), determina o sentido certo.

3. A proibição é de comer sangue de animal. Jamais esteve em foco a idéia de comer sangue humano. A Bíblia não permite o canibalismo, isto é, o ato de comer carne humana, muito menos o ato de comer sangue humano. Esse critério de interpretação bíblica para acomodar o texto a idéias preconcebidas é tão inconsequente, que leva seus agentes a cometerem incoerências. Será que nunca lhes passou pela cabeça o fato de que, ao proibirem a transfusão baseados na proibição bíblica de comer sangue de animais, estão igualando sangue de animal a sangue humano?

4. Sangue posto na veia não é a mesma coisa que soro para alimento. A grande argumentação das TJ., citando inclusive conceitos médicos de alimentação endovenosa, que infundir algo na veia é alimentar. Pode até ser “alimentar”, mas não é comer. Sabe-se que “comer” faz parte do processo de alimentar, pois quando comemos algo estamos levando para dentro de nós certos elementos que vão ser distribuídos pelo nosso organismo. Mas o ato de comer para alimentar envolve, ao final, o ato de jogar fora, pelos intestinos, aquilo que não presta. E isso seria indigno para a vida que tantas vezes era levada ao altar para servir de expiação pelo pecado. Daí concluímos que o ato mecânico de comer pode ser alimentar, mas o ato de alimentar com soro pela veia não é o mesmo que “comer”, pois dispensa os atos mecânicos de mastigar e deglutir (engolir).

5. Sangue injetado na veia, além de não ser de animal, mas de ser humano, é, ainda mais, de pessoa viva e não de pessoa morta. Um morto não pode doar sangue. A pessoa que doa sangue continua viva, em plena saúde. E a Bíblia, no caso, proíbe comer sangue de animal que foi morto para servir de alimento. É muito diferente.

6. Não há nenhuma passagem bíblica que regulamente a questão de transfusão de sangue especificamente, mesmo porque esse maravilhoso recurso médico ainda não era conhecido. Ademais, a própria Bíblia diz que “onde não há lei não há transgressão” (Rom. 4.15). A mesma coisa acontece com o Direito das nações cultas que diz: “Se não há lei, não há crime”.

7. Essa proibição, portanto, que tem ceifado tantas vidas inocentes e preciosas provém, data venia, da maneira errada das TJ interpretarem as Escrituras. Felizmente, ao longo dos anos, muitas pessoas conseguiram se libertar desses erros, como é o caso do casal Leonard & Marjorie Chretien, autores do Livro: Witnesses of Jehovah, A Shocking Expose of What Jehovah’s Witnesses Really Believe, que abandonaram a seita após 22 anos de serviço fiel à organização, e escreveram um livro, lançado em 1988, que todas pessoas engajadas no sistema Testemunha de Jeová deveria ler.

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