As profecias podem ser julgadas?

É, muito comum ouvirmos esta pergunta quando ministramos estu­dos bíblicos acerca dos dons espirituais. Assim, a fim de dirimir dúvidas, comentaremos brevemente sobre o assunto. Julgar as profecias é uma determinação expressa da Palavra de Deus (ICo 14.29; lTs 5.19-21). A obediência às Escrituras sempre traz ricas bênçãos à igreja; pois, assim, não será enganada pelos falsos profetas que se levantam no meio do povo de Deus, visando à fama ou vantagens financeiras. As igrejas onde as profecias são julgadas, criteriosamente, se conservam sadias dentro da sã doutrina.

Por que as profecias devem ser julgadas?

Responderemos a esta pergunta baseados na Bíblia:

As profecias devem ser julgadas porque não são infalíveis, como a Pa­lavra de Deus. Ele mesmo declara que a sua Palavra é perfeita (Sl 119-96; 19-7); é santa (Sl 12.6; 119-140); é verdadeira (Jo 17.17). As profecias são faladas por pessoas falíveis, passíveis de errar e torcer o sentido da mensa­gem que, por inspiração, recebem de Deus. Pode haver falha naquele que profetiza, mas não na profecia que Deus inspira. A inspiração dada aos escritores da Bíblia era infalível, eles não cometeram enganos ao escrevê-la, pois o Espírito Santo dirigiu a mente de cada um deles, como diz o apóstolo Pedro: “Sabendo primeiramente isto: que nenhuma profe­cia da Escritura é de particular interpretação. Porque a profecia nunca foi produzida por vontade de homem algum, mas os homens santos de Deus falaram inspirados pelo Espírito Santo” (2Pd 1.20,21). Porém, este tipo de inspiração cessou quando o cânon sagrado ficou completo. Depois disso, o que exercita o dom de profecia está sujeito a falhar. Por isso, o Espírito Santo, por intermédio do apóstolo Paulo, determinou que as profecias sejam julgadas conforme as Escrituras.

As profecias devem ser provadas, porque podem ser influenciadas pelo espírito do profeta. Deus considera seus servos como “vasos de barro”, aos quais Ele enche com o seu Espírito (2Co 4.7). É importante que este vaso esteja bem limpo, sem a contaminação da influência humana e da vaida­de, para não transmitir impurezas quando Deus quiser usá-lo por meio do dom de profecia. Por exemplo: se uma garrafa conteve café e se não for bem lavada antes de a enchermos com leite, este ficará com gosto de café, seu sabor sofrerá alteração. Paulo ensina-nos uma importante lição em ICoríntios 13.1-3, quando diz que se o “vaso” não tiver amor, os dons espirituais não terão proveito algum.

Quando o coração do profeta está cheio de amor, os ouvintes identificam a mensagem com o Deus de amor. Caso contrário, a mensagem deixa de ser construtiva, para ser destrutiva. Ao invés de edificar e consolar, ela pode per­turbar e destruir a fé. Algumas “profecias” descem a tal nível de espiritualidade, porque faltam amor e temor de Deus no “profeta”, o qual usa a mensagem para humilhar e ferir o irmão contra quem tem mágoa. Paulo disse que se tivesse o dom da profecia, “e não tivesse amor, nada seria”, ICo 13.2.

O que profetiza deve ser humilde, pois somente assim Deus se manifes­tará no meio do seu povo, e a profecia fará os ouvintes se humilharem na presença do Senhor. A humildade glorifica a Deus e enobrece o que profe­tiza. O orgulho é prejudicial à profecia (Dt 18.22). Se o profeta se envaide­cer, e se considerar superior aos irmãos, e desejar dominar a igreja e seu líder, por meio de profecias, é porque não tem o Espírito de Deus.

O vaso usado por Deus deve manter-se santo e puro (Is 52.11). Somen­te assim a mensagem pode refletir a pureza da fonte inspiradora, o Espírito Santo, e impor o respeito e a reverência espirituais. Se houver impureza no coração daquele que profetiza, a profecia poderá ser corrompida e contami­nar a igreja local, como aconteceu em Tiatira, sob a influência de Jezabel (Ap 2.20). Em alguns lugares tem havido mensagens “pré-fabricadas” sobre na­moro, casamento, emprego etc…, as quais não se cumprem e levam muitos a abandonar os caminhos do Senhor, descrentes nos dons espirituais. Da fonte impura, só sai água imunda (Mt 12.34,35).

As profecias devem ser julgadas, porque podem ser influenciadas pelos interesses pessoais do profeta. Temos um exemplo disto na Bíblia, quando Davi consultou o profeta Natã se devia construir um templo. O profeta logo se entusiasmou com a ideia, e disse: “Faze tudo quanto tens no cora­ção, porque Deus é contigo”. Depois, Deus mandou Natã voltar ao rei para entregar a verdadeira mensagem dele. A primeira não fora do Senhor, mas do coração de Natã (2Sm 7.2-17). Ainda bem que o profeta era sincero e temente a Deus. Entusiasmara o rei a construir o templo, porque pensara que Deus aprovaria a obra. Mas errou e teve de corrigir o erro. Correu o risco de desagradar ao rei e ser punido.

Deus pergunta: “Que tem a palha com o trigo?”, Jr 23.28. Isto significa que as ideias, os desejos e os pensamentos do profeta não podem ser expressos em nome de Deus, corno se Ele os inspirasse. Por isso, as profecias devem ser provadas.

As profecias devem ser julgadas porque podem ser transmitidas erronea­mente. Pode ser que o profeta tenha recebido uma inspiração autêntica, e a sua vida espiritual estivesse à altura de ser usado por Deus. Porém, ao proferir a mensagem, por causa de imaturidade espiritual, seus sentimentos o traíram e ele se deixou influenciar pela mente, procedendo como um menino. Leia ICoríntios 14.20. Por isso devemos orar pelos nossos irmãos que receberam o dom de profecias, para que Deus os preserve do erro.

As profecias devem ser julgadas porque podem proceder de fontes espúrias. Em quase tudo encontramos imitações. Isto acontece com os dons espirituais, especialmente o da profecia. As Escrituras falam sobre os falsos profetas e diz que o número deles aumentará nos últimos dias (Mt 24.24). A Bíblia registra duas espécies de profecias falsas: a) as inven­tadas pela mente do profeta. Estas são carnais, mentirosas e grosseiras, pois o “profeta”, quase sempre para impressionar os ouvintes, diz: “Assim diz o Senhor”, como se fosse um profeta autêntico. Porém o Senhor não os autoriza a falar em seu nome, e os condena pelo erro e pela mentira com que enganam o povo. Leia Jeremias 14.14; 23-30-34. Houve um caso em que uma profetisa foi alugada para atemorizar Neemias (Ne 6.10-14). Quando algum “profeta” procura dominar um obreiro ou uma igreja, geral­mente, usa esta artimanha; b) as proferidas por espíritos enganadores (2Cr 18.18-22; lTm 4.1).

Como devem ser julgadas as profecias?

Com a Palavra de Deus. Ela é a norma que encerra toda a verdade (2 Sm 7.28; Sl 119.142,160; Jo 17.17). Tudo que conflitar com a Palavra de Deus, sonhos, visões, profecias etc, deve ser rejeitado, não importando quem sonhou, viu ou falou. Toda a profecia tem de estar de acordo com a Palavra de Deus, tanto no conteúdo como na doutrina. Igualmente, não aceitamos profecias que pretendam trazer novas “luzes” ou “doutrinas” fora da Palavra de Deus. Tais profecias e revelações são malditas (Gl 1.8,9). A Bíblia é a revelação plena de Deus, da qual nada se pode tirar ou modificar, e à qual nada se pode acrescentar (Ap 22.18,19).

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Fonte: Eurico Bergstém (Artigos Históricos – Mensageiro da Paz – CPAD – Vol.2).

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