As origens religiosas da ciência moderna

A ciência hoje é encarada como algo mais que um mero instrumento de pesquisa. É um paradigma, um mito moderno e uma cosmovisão. Está associada ao racionalismo e muitas vezes ao ateísmo. Não raras vezes a mídia contrapõe ciência e religião, como se ambas estivessem em lados opostos. Poucos, entretanto, sabem que a ciência só existe devido ao contexto religioso intelectual europeu e aos fundamentos religiosos do Cristianismo.

OBJETIVOS

Neste artigo pretendemos mostrar o mito do conflito entre ciência e religião e apontar os pressupostos religiosos para o surgimento e sustentação da ciência.

  1. O CRISTIANISMO: UMA FÉ RACIONAL

De Heráclito a João – a questão do Logos: Heráclito foi enfático ao afirmar que “dando ouvidos não a mim, mas ao logos, é certo afirmar que tudo é um”. Muitos séculos depois, Albert Einstein teve a mesma percepção de Heráclito, ao afirmar que “sem a convicção de uma harmonia íntima do universo, não poderia haver ciência”.

1.1 A Importância do Uso da Razão na Tradição Cristã

“fides quaerens intellectum” – I Pedro 3.15.

1.2 Os pais da ciência moderna:  homens de fé

1.3 O modelo dos dois livros

“…um dos modelos mais prevalecentes foi chamado de “dois livros”, de que Deus se revelou tanto no Livro da Natureza como nas Escrituras. E que como Deus foi o autor de ambos os livros, era impossível que os dois pudessem entrar em conflito” (Ronald Numbers, historiador da ciência em http://www.counterbalance. org/transcript/ num-frame.html).

“Uma vez que nós, os astrônomos, somos sacerdotes do grande Deus, no que se refere ao livro da natureza, nos será de grande benefício refletirmos, não sobre a glória da nossa mente, mas acima de tudo, sobre a glória de Deus” – Johannes Kepler.

  1. MUDANÇA DE COSMOVISÃO

Cientificismo – O materialismo disfarçado de ciência.

“A Teologia, representada em Roma pelos Santos Padres, seus legítimos intérpretes, não só não se encontrou nunca, em tempo algum, de acordo com a ciência e com a razão do homem, mas esteve sempre em conflito, em contradição e em hostilidade com a razão e com a ciência” – Ramalho Ortigão, “As Farpas” – carta a Monsenhor Pinto de Campos.

2.1 CONFLITO?

“O criacionismo é um insulto ao intelecto, então qualquer cientista vai querer lutar contra isso. Eu nunca quis nada além de lutar contra o criacionismo” (Richard Dawnkins – Revista Galileu).

2.2 A Origem do Mito – Ciência X Religião

Um dos maiores estudos sobre ciência e religião, realizado na Universidade de Rice (EUA), mostrou que apenas 15% dos cientistas das principais universidades daquele país veem a religião e a ciência como estando em conflito permanente.

“A investigação científica só encontrou solo fértil depois que a fé num criador pessoal, racional, realmente impregnou toda uma cultura, a partir dos séculos da Idade Média Alta. Essa foi a fé que forneceu uma dose suficiente de crédito na racionalidade do universo, confiança no progresso e valorização do método qualitativo – todos eles, ingredientes indispensáveis da investigação científica” (Stanley Jack, historiador da ciência, em seu livro “Science and creation“).

  1. PRESSUPOSTOS PARA O SURGIMENTO DA CIÊNCIA

“O tipo de pensamento conhecido hoje em dia como científico, com sua ênfase na experimentação e formulação matemática, surgiu numa cultura específica – a da Fé Cristã – e em nenhuma outra…”

“Os mais diversos estudiosos reconhecem que o Cristianismo forneceu tanto os pressupostos intelectuais quanto a sanção moral para o desenvolvimento da Ciência moderna” – A Alma da Ciência: Fé Cristã e Filosofia Natural. São Paulo: Cultura Cristã, 2005, p. 15,16.

A investigação científica depende de certos pressupostos, que precisam ser aceitos, acerca do mundo. A ciência não pode existir até que estes sejam plenamente estabelecidos.

1º – Pressuposto: os fundadores da ciência moderna foram envolvidos por uma cultura predominantemente cristã.

“O Cristianismo era necessário para o começo da ciência moderna, pela simples razão de que o Cristianismo criou um clima de pensamento que colocou o homem em posição de investigar a forma do universo”.

2º – Pressuposto: o desencantamento do mundo e a desmistificação da natureza.

A metáfora do jardim encantado de Weber: “[Os protestantes] consumaram a mais radical desvalorização de todos os sacramentos como meios de salvação, e assim levaram o “desencantamento” religioso do mundo às suas últimas consequências” – WEBER,Max. A ética protestante e o “espírito” do capitalismo. São Paulo: Companhia das Letras, 2004, p. 133.

3º – Pressuposto: a natureza não deve ser ilusória, mas real e passível de observação e experimento.

“Somos facilmente enganados por Maya. Todo o show dos nossos sentidos tem nos iludido fazendo-nos acreditar nele, e, assim, nos seduzindo para um mundo de sofrimento. E o ilusionista é aquele velho pregador de peças: a própria mente da pessoa. Mas quando essa natureza ilusória é reconhecida como sendo apenas isso, a pessoa é libertada […]” (Trecho Budista).

4º – Pressuposto: a natureza não é uma divindade.

Na visão panteísta, Deus é o Universo e o Universo é Deus: eterno, necessário, cíclico, e orgânico.

“Somente quando o mundo deixou de ser um objeto de adoração é que pôde se tornar um objeto de estudo” – Pearcey, p. 23,24.

5º – Pressuposto: a natureza é boa e digna de investigação.

Ao contrário dos gregos antigos, que acreditavam que o mundo físico era inferior ao mundo intelectual espiritual, as Escrituras judaico-cristãs ensinavam que a dimensão criada era boa.

“Quanto mais pesquisas fazemos nesse admirável cenário de coisas, mais beleza e harmonia vemos nelas; e mais forte e nítida são as convicções que elas nos dão do ser, do poder e da sabedoria do Arquiteto divino“ – Stephen Hales, fisiologista, químico e inventor inglês (1677-1761).

6º – Pressuposto: Deus é um ser racional e fez o homem à sua imagem e semelhança.

Essas leis encontram-se ao alcance da mente humana. Deus queria que as reconhecêssemos ao criar-nos segundo a sua imagem, de modo a que pudéssemos partilhar dos Seus pensamentos” – Johannes Kepler.

7º – A natureza deve ser regida por leis naturais em um sistema onde os acontecimentos ocorrem de maneira regular e confiável.

A ciência não somente pressupõe que a natureza é ordenada sendo governada por leis, mas que essas leis podem ser escritas em uma linguagem matemática.

“A natureza deste ou daquele corpo nada mais é que a lei que Deus lhe prescreveu; falar propriamente sobre uma lei é a regra conceitual de agir segundo a vontade declarada de um Superior” – Robert Boyle, Notion of Nature. Filósofo natural, químico e físico irlandês.

“Deus estabeleceu essas leis na natureza, da mesma forma que um rei estabelece leis em seu reino” – Rene Descartes – filósofo, físico e matemático francês. Carta para Mersenne, em 15 de abril de 1630).

“Não pode existir uma ciência viva a menos que exista uma convicção amplamente difundida e instintiva na existência da ordem das coisas. E, de modo particular, no Ordenador da natureza” – A.N. Whitehead, Science and the Modern World. Filósofo, lógico e matemático britânico. É o fundador da escola filosófica conhecida como a filosofia do processo, atualmente aplicada em vários campos da ciência.

CONCLUSÃO

Nesta palestra procuramos demonstrar que não só não há conflito entre religião e ciência, como o Cristianismo deu a garantia para a existência dos pressupostos filosóficos da ciência, tais como a inteligibilidade do universo e a existência de sentidos confiáveis para a investigação do universo. Adicionalmente, o Cristianismo forneceu a motivação para se fazer ciência: Glorificar a Deus e promover o benefício da humanidade. Finalmente, o Cristianismo influenciou a ciência “dando” grandes cientistas à humanidade, tais como Johannes Kepler e Isaac Newton.

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