As duas faces da ambição

Deus criou o homem com cinco instintos necessários para sua subsistência:

autopreservação, que nos avisa dos perigos e nos capacita a cuidar de nós mesmos (Gn 3.3b);

aquisição, que nos leva a adquirir as provisões necessárias para o nosso sustento (Gn 2.8,15);

alimentação, que nos leva a satisfazer a fome natural (Gn 1.29 e 2.16);

reprodução, que nos leva à perpetuação da espécie (Gn 1.27-28);

domínio, que nos leva a exercer certa iniciativa própria para o desempenho das nossas atividades e responsabilidades (Gn 1.28b).

Com a entrada do pecado no mundo, esses instintos ficaram afetados. O pecado trouxe consequências funestas ao homem, provocando terríveis aberrações, distorcendo-os completamente. Exemplos: Gl 5.19-21 e ICo 6.9-10.

A autopreservação ficou afetada pelo egoísmo, inveja, ira etc.; a alimentação pela glutonaria; a aquisição por roubo e cobiça; a reprodução pela fornicação, adultério, impureza etc.

O domínio ficou afetado terrivelmente pela ambição negativa do poder, que leva o homem a cometer tirania, arrogância, injustiças, deslealdade, desconsideração, visando sempre interesses pessoais.

A ambição tem várias facetas. Segundo o Dicionário Aurélio, ambição significa: 1) desejo de alcançar aquilo que valoriza, bens materiais ou amor próprio como poder, glória, riqueza, posição social etc.; 2) desejo ardente de alcançar um objetivo de ordem superior; 3) anseio ou anelo; 4) aspiração com relação às coisas futuras. De acordo com a Bíblia, podemos classificar a ambição em positiva e negativa.

Ambição positiva é a ambição pelas coisas de Deus (Mt 5.48; Cl 3.1-3; IITm 3.17) principalmente para trazer a atuação da plenitude do Espírito Santo em nossas vidas (Cl 1.29). O alvo não é alcançar sucesso apenas com a capacidade humana, mas o poder divino (Zc 4.6; IICo 10.4-6). Essa é uma “ambição santa” e deve ser uma característica marcante na vida de todo cristão, visando alcançar bênçãos e valores espirituais de modo persistente até recebê-los (Sl 27.4; Lc 11.5-13). O mesmo ocorre com o recebimento dos dons espirituais (ICo 14.1); o conhecimento da Bíblia (IITm 2.15); o batismo no Espírito Santo (Lc 24.49; At 1.8). Sem essa ambição o crente torna-se conformado, desmotivado, quase infrutífero (IRs 17.24; IIRs 4.9).

A ambição negativa é ambição pelo poder, pela projeção ministerial ou social, por glórias e vaidades humanas (Rm 12.16; Fp 2.3; ITm 6.10-11). Exemplos: Diótrefes (IIIJo 9-11; Acabe (IRs 21.1-15). Provoca competições (ICo 3.1-3). Exemplos: relatórios evangelísticos, número de membros, curas e batismo no Espírito Santo além dos reais; construção de grandes igrejas (Gn 11.6; Is 42.8; Jo 3.30; At 12.23).

Os animais são governados por seus instintos, mas o homem foi elevado à dignidade de possuir o dom do livre arbítrio e razão, com os quais pode disciplinar a si mesmo e tornar-se árbitro do seu próprio destino (IJo 2.15-17).

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