As distorções da TNM, por Raymond Franz

RAYMOND FRANZ: Ex-membro do Corpo Governante e escritor oficial das TJ fala sobre distorções da TNM

Por mais de 40 anos, Raymond Franz foi membro das Testemunhas de Jeová e, durante um grande período de tempo, exerceu uma das mais importantes posições no Corpo de Governantes. Foi missionário no Caribe, com sua mulher Cynthia, se tomou escritor oficial das publicações da organização, fez preleções em mais de 50 países e, nem assim, Franz se sentia parte do grupo. Esgotado com o falso comportamento dos integrantes, o abuso de poder que as Testemunhas de Jeová exercem sobre seus membros e a forma distorcida com que interpretam textos básicos das Escrituras Sagradas, Franz resolveu se desligar da organização. Terceira geração de seguidores e sobrinho de Fred Franz, um dos presidentes da seita e tradutor oficial da New World (Novo Mundo), Franz conta que não foi fácil sair da seita. Foi excomungado e afastado dos colegas de trabalho, parentes e membros e considerado morto, como exige a organização. Emocionalmente abalado, sem dinheiro, sem casa, sem amigos, Franz contou apenas com o apoio de algumas pessoas, para recomeçar sua vida aos 59 anos de idade.

Há 19 anos, desde que escreveu seus livros Crises of Conscience (Crises da Consciência), traduzido em 12 idiomas, e In Search of Christian Freedom, (À procura da liberdade cristã) Franz revela os segredos da seita, modelo de domina­ção e a vida dos seus membros. Conheci­da pela sua persistência proselitista de porta em porta, as Testemunhas de Jeová, têm um modelo diferente do Evangelho. Creem que a Bíblia é a Palavra de Deus, mas têm sua própria interpretação. Para eles não há Trindade, Jesus é inferior a Deus e o Espírito Santo é tido como uma força ativa de Deus. Não creem no inferno e acreditam que somente 144 mil pessoas entrarão no Céu. Creem também que Jesus já veio uma vez, em segredo, em 1914, e está prevista uma segunda vinda, com data ainda não marcada pelos seguidores da seita. Só que dessa vez, apenas 144 mil terão direito a entrar no céu. Franz vive em Atlanta e diz que tem um só remorso – não ter deixado a organização tempos antes.

RE O senhor veio de uma seita onde dúvida não é tolerada. O que o impul­sionou a expor suas incertezas?

Franz Como nos tempos de Jesus, uma das coisas que incomoda líderes religiosos é a questão da autoridade – todos teriam que se aliar à forma como pensam. O mesmo espírito existe há séculos e esteve presente, não somen­te na Igreja Católica Romana, mas nos Anabatistas, com João Calvino, e ou­tros líderes que tiveram coragem de questionar a autoridade das suas igre­jas. O que me incomodava mais era a forma com que se apropriam da auto­ridade de Deus, que somente perten­ce a Jesus Cristo, e de como se colo­cam entre os membros da organiza­ção e Deus, como mediadores. Cheguei à conclusão de que isso é contrá­rio às Escrituras, e comecei a me preo­cupar com este aspecto autoritário. Em João 14.6, Jesus expressa a si mesmo como “O caminho, a verdade e a vida”, e as Testemunhas de Jeová interpre­tam esta afirmação como: “Bem, Ele é o caminho e nós somos o caminho a Ele, e ninguém poderá chegar a Jesus senão por nós. Nós somos seu canal.” Não me sentia bem com a forma com que se apropriam das atribuições que só pertencem a Jesus.

RE Como o senhor quebrou o silêncio?

Franz Eu era missionário no Caribe, quando fui convidado para fazer par­te do Departamento de Literatura, em Nova Iorque, junto com mais outras quatro pessoas. Meu trabalho foi de­senvolver um dicionário bíblico. Os originais eram um trabalho conjunto de 250 homens em todo o mundo e o projeto de 1.696 páginas foi concluído 5 anos depois. Imediatamente após a publicação do dicionário, fui convida­do a fazer parte do Corpo de Governantes das Testemunhas de Jeová. Eu percebi, durante todo este período, que tudo o que eu havia visto e escrito não expressava o espírito bíblico das suas publicações e sim o espírito de amar­gura e tristeza. Minha preocupação sempre foi ajudar pessoas. Daí nasceu a ideia de expressar minhas dúvidas com relação à organização e meu pen­samento a respeito daquilo que expe­rimentei durante anos. O livro Crises in Conscience já foi traduzido em mais de 10 línguas.

RE Seu tio, Frederick Franz, foi presi­dente da organização nos Estados Unidos por vários anos e o tradutor executivo da New World (Tradução Novo Mundo). Qual foi a reação dele quando o senhor expressou sua justifi­cativa e foi excluído da seita?

Franz Meu tio era um homem de po­der intelectual e disciplina mental, um linguista. Falava espanhol, português, tinha um conhecimento profundo nas línguas originais da Bíblia e escreveu vários livros. Ele viu minha posição es­sencialmente como herética. Na sua vi­são, as Testemunhas de Jeová eram uma organização de Deus e repudiando-a era o mesmo que repudiar Deus. Eu escre­vi para ele duas vezes antes de deixar o comando e expressei meu interesse na sua pessoa e na sua saúde, mas ele nunca respondeu minhas cartas.

RE A tradução Novo Mundo, em por­tuguês não revela o nome dos seus tra­dutores. O senhor sabe por quê?

Franz Penso que na época em que foi feita não existia uma pessoa res­ponsável por toda a equipe de tradu­ção e o grupo achou por bem não publicar os nomes dos envolvidos. Foi uma tradução da tradução em inglês.

RE Como o senhor se sentiu psicológi­co e emocionalmente depois da sua decisão?

Franz Depois de passar uma vida in­teira dedicada ao serviço da organiza­ção, minha saída produziu um grau natural de trauma, muito embora tives­se certeza do curso que estava toman­do. Claro que foi difícil me separar de todas as pessoas que conheci durante meus 40 anos de serviço integral. En­tretanto, um número considerável de pessoas não me cortou fora, mas se manteve fiel a mim, pelo qual sou eter­namente grato.

RE Quem é Deus, quem é Jesus e quem é o Espírito Santo para as Tes­temunhas de Jeová?

Franz Claro que reconhecem Deus como o pai de Jesus Cristo, e Jesus Cristo como o seu filho, divino, mas não como Deus, o pai. É tido como uma pessoa distinta e não creem no Espírito Santo como uma pessoa. Eles se referem a Ele como uma força ati­va de Deus.

RE Eles não aceitam a transfusão de sangue, nem transplante de órgãos no corpo humano. Em que texto da Bí­blia baseiam esta proibição?

Franz Apoiam sua doutrina em Gênesis 9, quando Deus disse, de­pois do Dilúvio, que não poderiam comer sangue. Também em outros textos de Levíticos. Em Atos 15, Paulo lembrou no Conselho dos Apóstolos, em Jerusalém, que deveriam se abster do sangue e de coisas sacrificadas a ídolos. Baseados nestes textos, pensam que, se abster de comer sangue, a transfusão também não pode ser aceita. Eles interpretam que se recebe transfusão de sangue es­tão comendo sangue, o que é ri­dículo, porque o que é colocado na corrente sanguínea não é di­gestivo, não vai pelo mesmo pro­cesso que a comida, quando se come.

RE Porque não podem servirão Exército?

Franz Pensam que é errado tomar partido para matar pessoas.

RE Como veem a Vinda de Jesus?

Franz A Vinda de Jesus, para eles, tem dois estágios. Acreditam que Jesus já veio em 1914, e que voltará pela se­gunda vez, numa data ainda não pre­vista por eles. Entretanto, expressam cuidado quanto à questão da segunda data, porque não foram bem-sucedi­dos com as previstas em 1925 e em 1974. Eles se aproveitam também das catástrofes e tragédias que acontecem para propagar o fim do mundo.

RE Por que evangelizam sempre em dupla de porta em porta?

Franz Foi um dos aspectos que ten­tei mostrar no Corpo de Governantes, quando era um dos líderes. A expres­são grega em Atos 20.20, de porta em porta, significa ir a casas diferentes, e não necessariamente expressa a ideia de sair de porta em porta a exemplo de vendedores, como fazem. Eles ven­dem milhões de cópias de revistas e livros diariamente, e o cristão deveria também se envolver neste ministério pessoal de evangelização.

RE E quanto à mulher? Existe algu­ma restrição?

Franz São proeminentes na ativida­de de porta em porta e é permitido sua participação nas reuniões, onde podem se expressar. Só não podem ser pregadoras.

RE Por que afirmam que somente 144 mil pessoas entrarão no Céu?

Franz Baseado em Apocalipse 7, o ensino da organização é de que o nú­mero de pessoas permitido a entrar no Céu é limitado a 144 mil. Quando esse número for completado, pessoas não mais serão qualificadas para a vida no Céu. Eles se referem àqueles que seguram firme na sua esperança como “ungidos”. Todos os outros terão vida na Terra e não são designados como “ungidos”, mas como “outro rebanho”. Esse sistema de duas classes é contra­ditório nas palavras de Paulo.

RE Como se sente hoje?

Franz Hoje tenho 79 anos, sou feliz e beneficiado com a liberdade cristã, com um relacionamento mais perto de Deus e seu Filho. Sinto por não ter tomado esta decisão pelo menos uma década antes. Eu tinha 58 anos na época que me converti ao Evangelho, e começar tudo outra vez nessa idade é um pou­co difícil. Mas o que passou, pas­sou, e o presente e o futuro são aspectos que podemos focalizar agora. O passado fica para trás. Espero que eu tenha aprendido com os erros do passado, embo­ra eu saiba que terei outros, mas espero que pelo menos haja me­lhoras para o bem de outros e do meu próprio.

RE Que lições ensinaria?

Franz Nunca devemos permi­tir que nenhum sistema religio­so intervenha entre nós e Deus. A importância do relacionamento pessoal com Deus e seu filho é fun­damental. Jesus não disse venha à minha organização religiosa, e sim, “vinde a mim”. Ele também disse “ninguém vem ao Pai a não ser por mim.” Paulo diz em 1 Timóteo que só há um mediador entre Deus e o homem, Jesus Cristo. Isso nos pro­tege de qualquer sistema que se co­loca como mediador entre nós e Deus.

RE Cite um aspecto positivo das Tes­temunhas de Jeová.

Franz Colocam o seu livro nas mãos das pessoas e as ensinam com determi­nação, e ultrapassam as barreiras raci­ais e sociais em busca de adeptos.

ENTREVISTA DEDINAURA BARCELOS, FONTE: REVISTA REPOSTA FIEL – ANO 1 – N°2

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