Os termos pentecostes e pentecostal e seus cognatos estão hoje em destaque por toda parte, dentro e fora da igreja evangélica. Mas, de onde vem o termo pentecostes, o que significa e, que lições principais nos comunica?
É no Antigo Testamento que estão as raízes da maravilhosa experiência do Pentecostes na vida do crente e da Igreja do Senhor, pela instrumentalidade do Espírito Santo, o Consolador divino, prometido por Deus através dos antigos profetas, mas também prometido por Jesus várias vezes, principalmente no Evangelho de João.
Já ressurreto e pouco antes de ascender ao céu, Jesus renovou a promessa do Pentecostes para o seu povo. Em Lucas 24.49, está escrito: “E eis que sobre vós envio a promessa de meu Pai; ficai, porém, na cidade de Jerusalém, até que do alto sejais revestidos de poder”. Em Atos 1.4-5, também está expresso: “E, estando com eles, determinou-lhes que não se ausentassem de Jerusalém, mas que esperassem a promessa do Pai que (disse ele) de mim ouvistes. Porque, na verdade, João batizou com água, mas vós sereis batizados com o Espírito Santo, não muito depois destes dias”.
O nome Pentecostes
Linguisticamente o nome pentecostes significa quinquagésimo, em alusão ao 50° dia após a realização da festa sagrada das primícias, que precedia a Festa de Pentecostes ou das Colheitas, também chamada Festa das Semanas (Lv 23.15-16). Eram sete as festas sagradas que Deus determinara para o seu povo observar no Antigo Testamento, sendo a das Colheitas, a quarta. Esta comemoração anual do povo israelita era o antítipo da descida do Espírito Santo para batizar os primeiros convertidos da Igreja, conforme vemos em Atos 2.1: “Cumprindo-se o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar”. Na Festa das Colheitas, no culto levítico, entre outros atos, dois pães levedados eram solenemente movidos pelo sacerdote perante o Senhor (Lv 23.17). Isso prefigurava na profecia tipológica os salvos dentre os dois povos, judeus e gentios, unidos num só corpo em Cristo (Ef 2.14-16).
A Festa de Pentecostes ocorria num domingo conforme vemos em Levíticos 23.15-16 (sete x sete semanas + um dia). O derramamento do Espírito Santo no Dia de Pentecostes, batizando os primeiros convertidos da Igreja, ocorreu num domingo, 50 dias após a ressurreição de Cristo (At 1.3 e 2.1).
Pentecostes é, portanto, mais do que um dia anualmente presente no calendário da igreja. É também mais do que o maravilhoso acontecimento histórico que marcou o primeiro batis-mo no Espírito Santo logo após Jesus ascender ao céu. É também mais do que a gloriosa experiência do próprio batismo, ocasião em que o crente batizado fala noutras línguas conforme o Espírito Santo lhe concede falar. Pentecostes é ainda sinónimo dos ministérios, operações, atos poderosos e manifestações sobrenaturais do Espírito Santo através do crente na Igreja.
Orar no Espírito
“Se eu orar em língua estranha”, I Co 14.14. Orar nessa dimensão sobrenatural pelo Espírito Santo é também parte do Pentecostes, pois 1 Coríntios 14 tem a ver com os dons espirituais.
A vida iniciada e renovada pelo Espírito começa pela oração. Por ocasião do primeiro Pentecostes, os crentes “perseveravam unanimemente em oração e súplicas”, At 1.14. Era o Espírito Santo os conduzindo ao ponto do batismo pentecostal. Efésios 6.18 orienta que se ore “em todo tempo com toda oração e súplica no Espírito”, e Judas 20 exorta ao povo que permaneça “orando no Espírito Santo”. Viver na esfera do Pentecostes é, portanto, viver em constante oração, inspirado e impelido pelo Espírito Santo.
Poder real e abundante
“Mas recebereis a virtude do Espírito Santo, que há de vir sobre vós; e ser-me-eis testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judeia e Samaria e até aos confins da terra”, At 1.8. Esse glorioso poder que o Espírito Santo nos confere não é só para efetuarmos a obra de Deus, mas igualmente para vencermos nossas fraquezas, tentações, paixões mesquinhas, a natureza carnal e o mundanismo.
Jesus ordenou que os crentes ficassem em Jerusalém até que do alto fossem revestidos de poder (Lc 24.49). Tal revestimento vem pelo batismo pentecostal. “Recebestes já a unção real?”, como bem indaga o hino sacro? Outrossim, esse poder pentecostal é farto e abundante. A promessa divina fala de “derramamento”, indicando fartura, abundância, plena suficiência (Jl 2.28, Jo 7.38-39 e At 2.17,33).
Pureza espiritual
A gloriosa experiência pentecostal na vida cristã é qual nossa imersão (batismo) nas abundantes e profundas torrentes do Espírito Santo (Jo 7.37-39). “Ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo”, Mt 3.11. “Vós sereis batizados com o Espírito Santo”, At 1.5. Trata-se de uma imersão por Deus no seu fogo purificador. O fogo, como sabemos, arde, crepita, purifica, limpa, separa, depura, avança e consome. O verdadeiro Pentecostes é uma imersão espiritual no rio de fogo da santidade divina, que só queima o que é impróprio. O Espírito é chamado “Santo”, na experiência pentecostal do livro de Atos, isto é, “aquele que é santo e que santifica”.
Realmente, a experiência pentecostal mudou a vida daqueles irmãos que receberam o poder divino no cenáculo em Jerusalém. Compare-se a vida deles antes e depois do Pentecostes, na primeira parte do livro de Atos. O Evangelho quando pregado, falado, cantado, tocado, gravado, mas permeado do fogo pentecostal é bem diferente. São palavras, música e sons inflamados com poder do alto. “Línguas como que de fogo”, At 2.3. Esse fogo santo dá nova dimensão à nossa vida cristã em geral.
Imparcialidade
“Estavam todos reunidos no mesmo lugar”, At 2.1. Todos ali reunidos sem preconceitos, sem discriminação, sem contenda, sem tumulto, sem murmuração, sem racismo e sem ideia de grandeza.
As denominações ainda não existiam para diversificar as coisas. O divino Pentecostes remove barreiras criadas pelo homem. Quando predomina o Pentecostes, mesmo os pastores e demais obreiros são também ovelhas como as demais do rebanho, humildes e submissos ao Supremo Pastor.
Evangelização incessante
Discorrendo ainda sobre Atos 1.8, que diz “mas, recebereis a virtude do Espírito Santo… e ser-me-eis testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judeia e Samaria e até aos confins da terra”. Fundar uma igreja próspera em Jerusalém era tarefa difícil então. A cidade era fechada, fria, sanguinária, rebelde, sectária, difícil. Jesus chegou a chorar sobre ela, mas, agora, com o poder pentecostal vindo do céu, a obra de Deus seria realizada ali mesmo. É assim ainda hoje. Precisamos, sim, ter certeza de que vem mesmo do céu o poder que hoje se manifesta em certas igrejas locais. A Bíblia nos diz, do verdadeiro Pentecostes, “e de repente veio do céu”, At 2.2.
O poder pentecostal por ser celestial é qual “vento impetuoso e veemente”. Vento e fogo combinam muito bem. Vento é o ar em movimento, avançando. Vento forte é força propulsora, motriz, propagadora, comunicadora, fertilizadora.
Bênção para a família
Assim como a salvação em Cristo é a bênção de Deus para os perdidos, o batismo no Espírito Santo é a bênção de Deus, também por Cristo, para os seus filhos – os salvos. É uma bênção de valor e de efeitos inestimáveis.”Subiram ao cenáculo”, At 1.13. Cenáculo é um compartimento de uma residência. É o local das refeições, ‘o local de cear’ (significado do termo cenáculo). Assim, o Pentecostes está relacionado ao lar, à família, para salvá-la, abençoá-la, protegê-la, preservá-la. O primeiro Pentecostes ocorreu numa casa. “A casa em que estavam assentados”, At 2.2, e “vossos filhos e vossas filhas”, At 2.17. Todas são expressões domésticas em torno do primeiro Pentecostes.
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Fonte: Antonio Gilberto (Revista Pentecostes – Julho/2000)