O fato de que o casamento plural mórmon trazia grandes aflições a muitas das mulheres envolvidas dificilmente pode ser negado.
H.C. Kimball observou certa vez: “Existem muitas brigas nos lares e disputas por poder e autoridade. A segunda esposa está sempre contra a primeira, talvez, em algumas circunstâncias” (Journal of Discourses 4:178).
Brigham Young (B.Y.) também falava dos problemas:
“Há alguns anos atrás uma das minhas esposas, ao falar sobre esposas que abandonam seus maridos, disse: ‘eu gostaria que as esposas de meu marido o abandonassem, cada uma delas, menos eu’. É assim que todas elas se sentem mais ou menos, algumas vezes, quer sejam velhas ou jovens” (Journal of Discourses 9:195).
Irmãs, vocês desejam cuidar de sua própria felicidade? Então qual é o seu dever? É ter filhos… Vocês estão se atormentando a si mesmas imaginando que seus maridos não as amam? Não me incomodaria se eles amassem um pouquinho, ou nada, mas gostaria que vocês exclamassem, como uma esposa do passado, com toda a alegria do coração: consegui um homem de Deus! Aleluia! Sou mãe!…” (p. 37)
Zina Huntington, uma das esposas de B.Y., e grande defensora da poligamia, aconselhava: “É dever da primeira esposa considerar seu marido com indiferença, e com nenhum outro sentimento que não seja a reverência, pois o amor que devotamos é um sentimento falso, sentimento que jamais deveria ter lugar na poligamia… Acreditamos no bem do antigo costume em que os casamentos eram arranjados pelos pais dos jovens” (New York World, 17/111869, conforme citação no “The Lion of the Lord, ps. 229-230).
É quase impossível avaliar as aflições impostas às mulheres mormons. Joseph Lee Robson, ele próprio um polígamo, membro fiel da SUD, admitia francamente: “O casamento plural… calcula-se que em sua natureza ele testa severamente as mulheres até às lágrimas, derramando os seus corações através delas…”(Journal of Autobiography of Joseph Lee Robson, p. 60, microfilme na Biblioteca Genealógica da SUD).
Kimball relata algumas das dores de cabeça causadas pela poligamia:
“Quando James Hunter tomou sua segunda esposa, a primeira, que havia acompanhado o casal à Casa do Compromisso para a cerimônia, não conseguira dormir e havia passado a noite inteira andando pelo assoalho ao imaginar o seu marido nos braços de outra mulher…”
Certa pessoa levada a uma casa de poligamia… contou esta história: “Existe uma tragédia real na poligamia, pelo que posso recordar. Certa noite um homem trouxe para casa uma segunda esposa. Era inverno e a primeira esposa ficou tão transtornada que foi se deitar no telhado e lá morreu congelada” (Isn’t One Wife Enough?, ps. 147-148).
Outra ocasião, as condições se tornaram tão ruins na família de B.Y., que ele se ofereceu para libertar todas as suas esposas:
“Agora atentem na minha proposta; ela é mais particularmente dirigida às minhas irmãs, pois está acontecendo o fato de que as mulheres se dizem infelizes. Os homens dirão: ‘minha esposa, embora seja uma excelente mulher, ainda não se sentiu feliz um único dia, desde que eu tomei minha segunda esposa’. Não, nem sequer um dia feliz durante todo o ano, diria alguém, e outra não tem visto um único dia feliz em cinco anos…
Eu gostaria que minha próprias mulheres entendessem que o que vou falar é tanto para elas como para as demais, e desejo que as que aqui estão falem às suas irmãs, sim, a todas as mulheres da comunidade…Vou dar a vocês, agora, a partir do próximo dia 06/10, duas semanas para reflexão, a fim de que resolvam se desejam permanecer com seus maridos ou não, e depois irei deixar sair livre cada mulher e dizer-lhe: agora, vão embora, minhas mulheres e as demais, vão embora! E minhas mulheres terão de escolher entre duas opções: ou levantar os ombros e suportar as aflições deste mundo, vivendo sua religião, ou ir embora, pois não as quero ao meu redor. Vou dar liberdade a todas. O que? Também a primeira esposa? Sim, vou liberar todas elas… Desejo às minhas mulheres e às do irmão Kimball, e às do irmão Grant que vão embora, e a todas as mulheres deste território, ou que digam em seus corações que desejam abraçar o evangelho inteiro… ou eles dirão às suas esposas: ‘levem tudo que eu possuo e fiquem livres. Mas se ficarem comigo, terão de aceitar a Lei de Deus, isso mesmo sem murmurações nem queixas. Vocês devem cumprir a Lei de Deus em todos os sentidos, e levantar os ombros para andar até o fim, sem concessão alguma”.
Agora recordem-se dessas duas semanas, a partir de amanhã: vou deixar todas vocês em liberdade. Mas a primeira esposa dirá: ‘É duro, pois vivi com meu marido durante 20 ou 30 anos e dei-lhe uma porção de filhos, e isso é uma grande aflição para mim que ele tenha outras mulheres’. Então eu direi: ‘é hora de você deixar o campo livre para outras mulheres que possam me dar filhos. Mesmo que minha esposa tiver me dado todos os filhos que ela pôde dar, a lei celestial me ensinaria a tomar mulheres jovens que pudessem ter filhos…
Irmãs, não estou brincando. Não estou lançando esta proposta para zombar dos seus sentimentos, para ver se vocês largam seus maridos, todas ou algumas de vocês. Porém sei que não há uma pausa nas queixas de muitas das mulheres neste território.
Se as mulheres se desviarem dos mandamentos de Deus e continuarem a repudiar Seus desígnios, rogo para que a maldição do Todo Poderoso possa atingi-las da cabeça aos pés…Preparem-se para duas semanas a partir de amanhã e vou lhes dizer agora que se permanecerem com seus maridos, depois que eu as libertar, ajoelhem-se diante deles e a eles se submetam, conforme a lei celestial. Podem ir para onde bem desejarem, em duas semanas, a partir de hoje, mas lembrem-se que não irei mais suportar queixa alguma” (Sermão de B.Y., conforme Journal of Discourses, 4:55-57, também impresso no Deseret News 6:235-236).
Jedediah M. Grant, segundo conselheiro de B.Y., pintou a trágica situação em termos semelhantes: “E temos mulheres aqui que amam tudo exceto a Lei de Deus; e se pudessem deixar de lado o laço que as prende à Igreja de Cristo, dificilmente haveria uma neste Israel que não o fizesse neste dia. Pois elas falam aos seus maridos, às suas filhas, às suas vizinhas, dizendo que não gozaram uma semana sequer de felicidade, desde que seus maridos tomaram a segunda esposa”. (Deseret News, 6:235 e Journal of Discourses 4:51).
Até mesmo o lar de Joseph Smith (J.S.) não era isento dos problemas causados pelo casamento plural. O escritor mormon J. J. Stewart: “Assim semeou Satanás a semente da discórdia no próprio lar do Profeta, causando tormento mental a Emma, para ela afligir Joseph e fazer o trabalho terreno da Igreja e eventualmente tirar Emma e seus filhos da Igreja verdadeira” (Brigham Young and His Wives, p. 33).
Em sua tese “Emma Hale, Wife of the Prophet Joseph Smith, (p. 104, cópia datilografada), Reymond T. Bailey admitiu que se tornou publicamente conhecido que havia disputas entre Emma e J.S., especialmente durante o período de suas vidas em Illinois”. No dia 17/04/1844, The Warsaw Signal registrou que J.S. havia “lançado a esposa porta a fora”. A ofensa da ‘Irmã Emma’ fora ter ela conversado com Mr. E. Robinson e se recusado, ou mesmo hesitado, em contar ao Profeta tudo que se relacionava ao assunto. O ‘homem de Deus’ logo em seguida, inflamado de santa paixão, pegou a companheira pela gola e o dito Robinson e os lançou na rua – tudo isso à luz do dia, e sem dúvida da melhor maneira possível”.
Em seu jornal e autobiografia, Lee Robinson (irmão de E. Robinson, já mencionado), admitiu francamente que Joseph e Emma tiveram uma briga sobre a doutrina da poligamia: “… A esposa de Ebnezer, Angelene, havia há algum tempo observado o irmão Joseph, o Profeta, entrando numa certa casa e ela havia contado isso a Emma, esposa do Profeta. Isso foi no tempo em que ela, Emma, andava cheia de suspeitas e ciúmes dele, com medo que ele tomasse outra esposa… Ela resolveu que tal não aconteceria e que se acontecesse, estava resolvida a abandoná-lo e quando soube disso, ficou muito zangada, dizendo que o deixaria… E quase desmancharam a família… o Profeta se sentiu terrivelmente mal, então foi aos irmãos e falou com Angelene sobre o assunto, a qual não lhe deu satisfação alguma e seu marido também não a reprovou. Aconteceu que o profeta a amaldiçoou severamente…
Achei que não deixaria minha própria esposa fazer tal coisa neste mundo, mas se ela o fizesse, teria de se dobrar de joelhos pedindo perdão.”
O Mormon Portraits nos oferece mais detalhes sobre os problemas de J.S.:
“Joseph tinha oito moças em sua casa, as quais chamava de ‘filhas’. Emma ameaçou abandonar o lar e J.S. lhe disse: ‘tudo bem, pode ir’ Ela se foi, mas quando J.S. viu que esse escândalo iria ferir a sua dignidade profética, ele a seguiu e a trouxe de volta. Mas as oito ‘filhas’ tiveram de sair da casa”.
Miss Eliza P. Snow… foi uma das primeiras (voluntárias) vítimas de J.S. em Navoo. Ela costumava freqüentar a casa do Profeta e ele a tornou uma de suas noivas celestiais… Sentindo-se agredida como esposa, Emma teria usado o recurso vulgar da bengala como instrumento de vingança. E o duro tratamento recebido das mãos de Emma, dizem, destruiu as esperanças de Eliza Snow de se tornar a mãe de um filho do profeta (Mormon Portraits, D.H.Wyl, ps. 57-58).
A escritora mórmon Claire Noall reconheceu: Willar verificou que Emma havia recusado acreditar que qualquer das mulheres que habitavam a mansão, quando esta fora usada pela primeira vez como hotel, fosse casada com Joseph. Ela havia atirado Eliza Snow escada abaixo e Eliza, conforme as fofocas, havia perdido seu bebê ainda no ventre” (Intimate Disciple, a Portrait of Willard Richards , 1957, p. 407).
Existem membros da Igreja Mórmon que garantem que J.S. realmente não vivia com suas esposas aqui na terra. Porém existe uma abundância de evidências de que ele o fez. Por exemplo, Benjamim F. Johnson fez a seguinte afirmação, numa declaração escrita com a data de 04/03/1870: “Depois de curto período o Presidente Smith… veio novamente a Macedônia (Ramus), onde ficou dois dias, morando em minha casa com minha irmã, como marido e mulher (e para o meu completo conhecimento, eles ocupavam a mesma cama)”.
(Historical Records, 6:223).
Artigo de Jerald & Sandra Tanner
Resumo do livro “The Changing World of Mormonism”,
Moody Press, ps. 226-231, usado com permissão.
Tradução de Mary Schultze, do jornal
“The Evangel”, março/abril 1998