Sabemos que para termos de organização administrativa faz-se necessária a instituição de líderes. Isso se dá em qualquer grupo de pessoas organizadas, desde um time de futebol que se reúne aos finais de semana até empresas multinacionais.
Até mesmo na família há princípios organizacionais. Deus instituiu o homem como o líder da família e não a mulher. Da mesma forma, a Igreja necessita de liderança e ordem para que haja harmonia e desta forma a Obra de Deus continue a fluir (1 Co 12.28).
Todavia, algo bastante discutido e tratado com indiferença por muitos é a questão do apostolado. É o título de Apóstolo para os nossos dias? A Bíblia Sagrada evidencia-nos três ofícios eclesiásticos: Apóstolo, Presbítero (Bispo, Ancião ou Pastor) e Diácono.
Durante os séculos podemos observar as várias aplicações do Governo Eclesiástico, com algumas denominações utilizando pastores, outras anciãos, bispos e outras ainda, entendem esses títulos hierarquicamente, enfim, divergindo de alguma forma no entendimento do modelo bíblico mais apropriado.
Entretanto, algo que obteve mais sucesso no consenso histórico é de que, o ofício apostólico não existe mais, ou seja, não houve sucessão apostólica.
Para entendermos melhor sobre o assunto da sucessão apostólica, vejamos um trecho de um artigo publicado pelo reverendo Marcelo Parga de Souza, da Christ Reformed Church em Anaheim, Califórnia:
Existem dois sentidos básicos para o termo “apóstolo”. De um modo mais geral, o termo se refere a qualquer pessoa que seja um enviado ou emissário de Deus através da Igreja para uma obra especial, seja de liderança ou não (e.g., Fl. 2:25). Esse significado provém da correlação entre o substantivo “apóstolo” (ἀπόστολος) e o verbo em grego que significa “enviar” (ἀποστέλλω). Nesse sentido mais geral, não há dificuldade em se aceitar que qualquer pessoa pode ser um apóstolo de Deus. Qualquer pessoa pode ser enviada, por exemplo, por uma igreja para o trabalho missionário, e, nesse sentido amplo, ela é um apóstolo de Deus. No Novo Testamento, porém, o sentido mais comum da palavra é o sentido técnico e restrito, se referindo a um grupo seleto dos apóstolos de Cristo. A palavra traduzida “apóstolo” (e suas derivações) é encontrada 80 vezes no texto grego do Novo Testamento (Nestle-Aland 27a. Ed.). Dessas, ela tem esse sentido restrito nada menos do que 73 vezes. O sentido mais amplo de “enviado” ocorre somente 5 vezes (Jo. 13:16; 2 Co. 8:23; Fl. 2:25; At. 14:4 e 14 são duas referências ambíguas); ela se refere uma vez a Jesus Cristo (Hb. 3:1); e, finalmente, há 3 ocorrências que apresentam dificuldades exegéticas, podendo ter tanto o sentido mais amplo como o mais técnico: Rm. 16:7; At. 14:4; 14.[1]
No sentido mais amplo da palavra, isto é, enviado, podemos entender que qualquer pessoa pode ser enviada para uma missão. No sentido técnico da palavra, entendemos que o Apóstolo tinha uma autoridade diferenciada. Seus escritos eram considerados como inspirados, conforme vemos em passagens como 2 Pe 3.2; 1 Co 14,37; 1 Ts 2.13; 2 Pe 3.16. Os “Apóstolos” modernos teriam essa autoridade? Fariam parte do cânon bíblico escritos do Apóstolo Renê Terra Nova, Apóstola Valnice Milhomens, Apóstola Neuza Itioka?
Outra informação importante é quanto aos pré-requisitos necessários para que fosse levantado um apóstolo. Essa pessoa deveria ter sido testemunha ocular de Jesus Cristo ressurreto e ainda ter recebido tal comissionamento diretamente do Senhor Jesus.
O sucessor de Judas Iscariotes deveria ter essas qualificações, conforme está registrado em At 1.21,22. Depois da substituição de Judas por Matias, o último que pôde preencher tais requisitos foi Paulo (At 9.1-6; Gl 1.1; 1 Co 9.1; 15.7-9). Além disso, não há registro histórico de sucessão apostólica.
Segundo o professor Márcio Redondo, o movimento apostólico teve uma forte aparição a partir de 1980 e é dividido em pelo menos três grandes redes: carismática (neo-pentecostal), messiânica e judaizante. Em todas essas redes a ênfase em batalha espiritual é muito forte. De acordo ainda, com o professor Márcio, “o movimento apostólico ensina que cada apóstolo possui autoridade espiritual sobre territórios específicos. Um é apóstolo de Buenos Aires, outro é da Cidade do México, e assim por diante. É claro que o Brasil também já está loteado”.[2]
Pelo fato de enfatizarem bastante a batalha espiritual, doutrinas como a quebra de maldições e atos proféticos são comuns. Ele até conta no mesmo artigo que “um outro amigo me contou de um “apóstolo” aqui no Brasil que, na sua estratégia de batalha espiritual, resolveu delimitar as fronteiras de sua jurisdição. Como Jesus Cristo é apresentado na Bíblia como o leão de Judá (Apocalipse 5.5) e como os leões demarcam seu território com urina, esse “apóstolo” começou a sair pelas ruas de sua cidade e circunscrever sua área com… sua própria urina! Quanta ingenuidade!”
Como podemos ver, o termo Apóstolo foi banalizado e está sendo confundido, como se fosse um título profissional. Será que esses homens ao menos executam o sentido mais amplo? Será que há uma preocupação missiológica?
O comentário do professor é oportuno: “Minha dificuldade em aceitar o movimento apostólico dos nossos dias reside em que os ‘apóstolos’ modernos não viram Jesus ressuscitado, não foram designados pessoalmente pelo próprio Jesus, não realizam prodígios e sinais como na época do Novo Testamento e, ao contrário dos apóstolos do século I, se preocupam com a distribuição territorial. Minha conclusão é que tais pessoas declaram-se apóstolos, mas na verdade nunca o foram (2 Coríntios 11.13; Apocalipse 2.2). Se, apesar das objeções acima, você ainda está pensando em seguir a profissão de apóstolo, é melhor se apressar. Infelizmente as áreas nobres já estão ocupadas. Mas ainda existem cidades menores sem dono. A propósito, parece que a Antártida ainda não tem apóstolo. Um continente inteiro à disposição! Alguém se candidata?”
Uma vez que o ofício apostólico não possui embasamento bíblico para os dias de hoje, o que dizer então de Apóstolas? Renê Terra Nova diz que não vê problema para a consagração delas.[3]
Algo que devemos ressaltar é que as mulheres do mundo oriental eram desprezadas, tratadas como seres inferiores, que não tinham direito à voz, à educação e nem sequer eram contadas quando se queria saber quanta “gente” havia, quando era feito o censo. O que encontraremos com freqüência eram mulheres com o dom de profecia: Miriã (Ex 15:20), Débora (Jz 4:4), Hulda (2 Rs 22:14), Ana (Lc 2:36-38) e as 4 filhas de Felipe (At 21:9). Além disso, Evódia e Síntique em Fl 4:2-3 trabalhavam com Paulo, como cooperadoras, Priscila e seu marido Áquila são chamados também de cooperadores em Rm 16:3.
A mesma Débora era também juíza. Outra passagem interessante é a da mulher samaritana em Jo 4 27-29 que larga seu cântaro e vai à cidade anunciar o Cristo. Em Rm 16:12b Paulo também diz sobre Pérside, que muito trabalhou no Senhor.
O que enxergamos é que as mulheres cooperavam, isto é, ajudavam para que o Evangelho fosse propagado, mas não lhes era atribuído títulos. Baseado nessa ajuda que as mulheres tanto davam no Novo Testamento o título mais aceito hoje é o de missionária.
No caso do movimento G-12, o problema não é apenas a consagração de Apóstolos e Apóstolas, mas consagração automática das esposas de pastores para serem co-pastoras.
Ao mesmo tempo que Terra Nova não vê problemas para o ofício feminino, também não o vê para outros títulos ainda mais controvertidos. Ele mesmo foi ungido como “patriarca” em determinado Congresso da Visão Celular no Brasil. Não bastasse o título para ele mesmo, sua esposa também é reconhecida no MIR como “matriarca”.[4]
Não é meu intuito aqui generalizar que os “apóstolos” modernos sejam todos falsos apóstolos (embora o sejam no sentido técnico da palavra), mas evidenciar biblicamente que esse ensino possui suas controvérsias e não encontra apoio nas Sagradas Escrituras.
Digo o mesmo acerca da questão matriarcal, não é intenção atingir o caráter de ninguém, pois até ouço boas referências de sua pessoa.
Da mesma sorte, conhecemos muitos católicos que são mais honestos que evangélicos, entretanto, o assunto deste livro é concernente a ensinos sem apoio bíblico.
Embora muitos deles tenham seus corações sinceramente voltados para a Obra de Deus, não há necessidade de ultrapassar o que já está escrito.
Não precisamos aumentar e nem diminuir em nada o que está na Bíblia Sagrada, antes, devemos como bons bereanos, conferir se o que está sendo ensinado está em harmonia com a Palavra de Deus.
Faço minhas as palavras de C. H. Spurgeon: “A apatia está por toda a parte. Ninguém se preocupa em verificar se o que está sendo pregado é verdadeiro ou falso. Um sermão é um sermão, não importa o assunto; só que, quanto mais curto, melhor”.[5]
[1] SOUZA, Marcelo Parga de. Há Apóstolos hoje? São Paulo, 2006. Site da Agência de Informações Religiosas, www.agir.com.br
[2] REDONDO, Márcio. Apostolado ou Apostolice. Site da Agência de Informações Religiosas.
[3] NOVA, Renê Terra. M-12, O Modelo de Jesus. Semente de Vida. São Paulo, 2009, p. 146.
[4] Ministério Internacional da Restauração. Uma Matriarca Para a Nação. Disponível em: http://www.mir12.com.br/br/index2.php?pg=YXBhMDk=. Acesso em 20/06/11.
[5] SPURGEON. Charles. H. “Preface”, The Sword and the Trowel. 1888. Volume completo, p 3.
Extraído do livro “A Verdade Sobre o G12″, Couto