Algumas informações sobre o Sínodo de Dort

(1) As ações políticas de Oldenbarnevelt prejudicaram consistentemente os planos de poder de Maurício de Nassau. O repúdio à atitude pastoral de Uytenbogaert foi a chave para que o Príncipe, movido pelo ódio e frente ao grande cisma na igreja, assumisse a posição de líder do partido Contra-Remonstrante. Maurício uniu o conflito religioso ao conflito político e utilizou-se da grande influência de seu próprio personagem para jogar a nação, através da igreja, contra seus inimigos políticos, os quais eram Remonstrantes. Para isso, ele ligou a figura dos Arminianos à Espanha e ao papado. Por trás desta atitude estavam os planos de ascendência ao poder e o sentimento de vingança contra o homem que acabou com suas campanhas militares. Maurício conseguiu o apoio dos líderes das províncias de maioria Contra-Remonstrante e foi eliminando os líderes opositores. Assim ele obteve o controle sobre toda a Holanda passando por cima da própria cultura de autonomia das províncias e dos Atos da União de Utrecht que deixavam às províncias o domínio sobre as questões religiosas. O sínodo foi não mais do que uma ferramenta para que Maurício alcançasse seus objetivos. Sua influência é o principal motivo para a ocorrência de um sínodo nacional.

(2) Embora a religião na Holanda fosse formada por maioria Contra-Remonstrante, a liberdade de pensamento religioso, mesmo dentro da igreja Reformada, sempre fora tolerada. Depois de Maurício assumir o partido Calvinista, um sínodo nacional foi aprovado pelos Estados Gerais para que, em tese, o tema em disputa na igreja fosse discutido e para que um consenso fosse alcançado. Entretanto, através de medidas vergonhosas, o partido Contra-Remonstrante garantiu que seus adversários não estariam presentes no sínodo como clérigos com direito a voto, mas como réus. Poucos Arminianos foram convocados e sequer tiveram a oportunidade de escolher seus interlocutores nos raros momentos em que tiveram o direito de falar. Além disso, a maioria dos Calvinistas holandeses presentes no sínodo eram inimigos declarados dos Remonstrantes e já haviam se envolvido em controvérsia com eles em outros momentos. De fato, um tribunal em que seus inimigos também são seus juízes, no qual você não tem sequer a oportunidade para se defender de forma digna e justa, deve ser considerado antiético e imoral. Ademais, se apenas representantes da linha de pensamento teológico calvinista estavam presentes no sínodo com direito a voto, excluindo Luteranos e Arminianos, a imensa parcialidade do corpo sinodal lhe confere total descrédito para que decida quais as doutrinas devem ser válidas para qualquer ente que não seja a própria igreja Contra-Remonstrante.

A utilização do sínodo de Dort como símbolo de ortodoxia somente tem validade entre calvinistas. Os demais cristãos, aqueles que compartilham das doutrinas centrais do evangelho, não devem reconhecer qualquer tipo de argumentação fundamentada em cima do rótulo do concílio realizado em Dort, afinal, como foi demonstrado, ele não é uma boa referência de imparcialidade e isenção.

Por Samuel Coutinho, Evan Minton – Via Walson Sales.

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