Agora eu sou ex-gay

AGORA EU SOU EX-GAY – Convertidos pelos evangélicos, travestis viram chefes de família!

O goiano Antônio Chagas, 29 anos, é pai de Giovana, um ano. “Ela é sangue do meu sangue. Agora sou Tonhão!”, diz. Casado há um ano e meio, Tonhão vive com a mulher, a bancária Giani, 30, e a filha em um confortável apartamento em Vila Prudente, zona Leste de São Paulo. Até 1993, Tonhão foi Taiane, travesti de cabelos loiros esvoaçantes, formas arredondadas e seios fartos, inflados às custas de hormônios femininos. Hoje ele garante ter trocado o homossexualismo pela militância em igrejas evangélicas. “Sou ex-gay. Quem acha que homossexualismo é para sempre não conhece o poder de Deus”, proclama. Esse grupo de convertidos não pára de crescer e inclui até pastores evangélicos.

Chagas começou a enterrar a “cabeleireira” Taiane em 1993, na pequena Jussara, sua cidade natal, após uma tentativa frustrada de conquistar um evangélico. Decidido a investir na paquera, Chagas, de salto alto e “toneladas de maquiagem”, foi a um culto da Assembléia de Deus local. “O pastor me olhou e disse: ‘Você procura um homem. Aqui você o encontrará. Ele quer te dar amor’. Foi quando Chagas desabou em lágrimas: “A maquiagem borrava e eu tentava limpar aquilo tudo com o vestido”. No dia seguinte, Chagas cortou os cabelos, jogou tubinhos e saltos altos no lixo, comprou roupas masculinas e fechou o salão de beleza. “Aquele era o mundo da Taiane, e não do novo Antônio”. Mudou-se para São Paulo e passou a dar testemunhos em igrejas evangélicas. Num desses encontros, em julho de 1995, conheceu a também evangélica Giani. Chagas pediu a moça em casamento diante de mil pessoas. Em outubro do mesmo ano, os dois estavam casados. “Esqueci da Taiane do passado. Para mim, existe apenas o Antônio”, diz a moça.

Muitos enxergam essas transformações com reserva. “Esses rapazes sofreram muito. Por isso fizeram uma adequação à heterossexualidade para dar uma resposta ao ambiente em que encontraram paz. Acho quase impossível que tenham se livrado do desejo homossexual”, analisa o psicanalista Alberto Goldin. “Para mudar de comportamento, basta vontade. Mas, na psicanálise, consideramos que a orientação sexual é determinada na infância”, completa o terapeuta Ronaldo Pamplona, autor do livro Os 11 sexos – As múltiplas faces da sexualidade humana.

As histórias de conversão dos pastores João Carlos Xavier e Márcio Ribeiro são parecidas. Xavier virou Carla aos 18 anos. “Tomava 30 comprimidos de anticoncepcional por dia para aumentar os seios”. Mas Carla voltou a ser Xavier nos anos 80. “Entrei em uma igreja e resolvi que era hora de abandonar aquilo tudo. Percebi que sempre fui homem”, diz Xavier, hoje pastor da Assembléia de Deus, casado e pai de uma menina de seis anos. Marcio Ribeiro (ex-Bianca), ligado à Igreja Batista, foi travesti até os 19 anos. “Chegava a ganhar até US$ 800 dólares por noite em casas de shows, mas nunca tive paz”, diz ele. O jornalista João Luiz Santolin não chegou a se travestir, mas manteve um relacionamento “com um cantor famoso” em 1980. Hoje noivo da secretária Liane França, aproveita passeatas gays para divulgar um certo Movimento pela Sexualidade Sadia, que encara o homossexualismo como desvio de comportamento curável. “Abandonar a prática homossexual é fácil, mas deixar de sentir desejo por homens é um processo.

Você não acorda livre. Graças a Deus, consegui me livrar também desses pensamentos sem recaídas”, diz. Na verdade, a idéia não é confiar em si, mas no poder de Jesus. Mas o professor Jorge Iglesias, a drag queen Isabelita dos Patins, é mais radical. “Não tem jeito, meu amor, tá no nosso sangue”. Iglesias conta uma história que certamente provocará a ira desses convertidos. “No ano passado, umas bichinhas amigas abandonaram o homossexualismo e entraram para a Igreja Universal. A coisa não durou seis meses. Estavam todas apaixonadas pelo pastor.”


Fonte: Revista – “Isto É” 15 de outubro de 1997

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