Abu Hamza al-Masri foi considerado culpado por um tribunal de Nova York na sexta-feira por crimes de terrorismo e condenado à prisão perpétua. Mas quem é o homem que se tornou o maior clérigo radical do Reino Unido?
Nascido Mustafa Kamel Mustafa em Alexandria, no Egito, no dia 15 de abril de 1958, Abu Hamza era filho de um oficial naval e de uma diretora de escola infantil. Inicialmente, estudou engenharia civil antes de deixar o país rumo à Inglaterra em 1979.
Em Londres, um de seus primeiros empregos foi como segurança de boate. Ele se casou com uma britânica que, segundo ele, o encorajou a abraçar o Islã.
“Eu deixei o universo das boates e gostei”, afirmou ele durante seu julgamento nos Estados Unidos.
Abu Hamza decidiu voltar a estudar, na ocasião na Escola Politécnica de Brighton, e se formou em engenharia civil em solo britânico, tornando-se membro do Instituto de Engenheiros Civis (o CREA britânico) até 1994.
Seu primeiro casamento rapidamente se desfez e ele se casou novamente, tendo sete filhos.
‘Chamado’
Um de seus primeiros contratos como engenheiro civil o levou a Real Academia Militar de Sandhurst, o mais importante centro de treinamento do Exército britânico. Os desenhos da época da universidade ainda estavam em sua casa quando ele foi preso, em 2004.
No início dos anos 80, o jovem Abu Hamza começou a mostrar um interesse crescente no Islã e na política. A Revolução Iraniana exerceu forte influência sobre ele.

Na ocasião, alguns pensadores muçulmanos reivindicavam que países muçulmanos fossem demarcados segundo as antigas terras muçulmanas. Essa teoria ganhava rosto nos combatentes Mujahidin que, apoiados pelos Estados Unidos, se opunham à ocupação soviética no Afeganistão.
Em 1987, depois de conhecer Abdullah Azzam, um grande apoiador da tese de que os muçulmanos têm de lutar pela jihad (Guerra Santa), Abu Hamza mudou-se para o Afeganistão.
Foi durante esse tempo que ele perdeu um olho e as duas mãos. Não se sabe ao certo como e onde isso aconteceu.
Segundo alguns relatos, a perda do olho e das duas mãos foi resultado de uma explosão enquanto ele participava de um projeto de desminagem em Jalabad, no Afeganistão.
Mas em seu julgamento, Abu Hamza teria dito que o acidente aconteceu quando ele atuava como militar no Paquistão, mais exatamente em Lahora, quando um experimento com explosivos deu errado.
Abu Hamza retornou para o Reino Unido em 1993 para um tratamento de saúde. Mas em dois anos ele havia novamente deixado o país para apoiar muçulmanos bósnios durante a ruptura da antiga Iugoslávia.
Rapidamente, tornou-se uma figura central e conhecida na cena islâmica britânica. Abu Hamza gastava mais e mais de seu tempo rezando enquanto entregava folhetos convocando muçulmanos a se unirem a Jihad contra regimes corruptos no Oriente Médio.
Em 1997, ele se torna imã da mesquista de Finsbury Park, que ganha a reputação de um centro de islamismo radical em Londres.
Segurança

Há indícios de que a polícia e outros serviços de inteligência já vigiavam Abu Hamza, assim como outros militantes, nesse tempo. Segundo o próprio Abu Hamza, o MI5 (a agência de inteligência do Reino Unido) o contatou pela primeira vez em 1997, pouco depois de extremistas assassinarem 68 turistas na cidade de Luxor, no Egito.
Mas foi em 1999 que ele ganhou proeminência nacional.
A Scotland Yard, a polícia britânica, questionou o clérigo por envolvimento em supostos atentados a bomba ocorridos no Iêmen. Quando Abu Hamza foi solto, seu filho, Mohammed Mustafa Kamel, acabou preso no Iêmen por três anos, acusado de envolvimento em uma suposta campanha de violência no país.
Apesar do problema com a Justiça, Abu Hamza pouco a pouco consolidava sua liderança na mesquita. O local rapidamente se tornou um ambiente hostil a qualquer um que não era seu devoto seguidor, com aliados do clérigo barrando a entrada em quem não confiavam.
Abu Hamza fazia praticamente todos os sermões. No primeiro aniversário dos ataques de 11 de setembro, ele foi um dos organizadores de uma palestra na mesquita elogiando a ação dos sequestradores.
Cinco anos depois, soube-se, durante o julgamento dos homens posteriormente condenados pelos atentados fracassados em 21 de julho de 2005 em Londres, que vários dos autores haviam frequentado a mesquita de Abu Hamza. Outros terroristas condenados também tiveram seus nomes associados ao local.
Corrida contra o tempo

No dia 20 de janeiro de 2003, a polícia fez uma operação no prédio como parte de uma grande investigação sobre uma suposta conspiração para produzir ricina ─ um veneno que se inalado pode levar a morte em alguns minutos. A mesquita acabou fechada e devolvida a seus donos.
Na ocasião, Abu Hamza não foi preso como resultado da investigação. Mas, mesmo sem sua base, ele rezava do lado de fora do local toda sexta-feira.
O embate entre o clérigo e as autoridades continuaram em 2004. Naquele ano, o governo americano descreveu Abu Hamza como um “terrorista com alcance global” e ele foi preso à espera de extradição.
Cinco meses depois, ele foi acusado de 15 crimes associados a seus sermões e livretos de terrorismo encontrados em sua casa. Ele foi condenado por 11 desses crimes e encarcerado por sete anos.
As autoridades americanas continuaram a tentar obter sua extradição. Ao final de uma batalha legal de oito anos, ele foi finalmente extraditado em 2012.
Ele foi a julgamento em Nova York acusado de crimes incluindo uma conspiração para montar um acampamento de terrorismo no Estado americano de Oregon, tentativa de apoio a terroristas no Afeganistão e conexão com o ataque de 1998 no Iêmen, quando 16 turistas, sendo 11 britânicos, foram sequestrados.
Ele negou todas as acusações, mas foi considerado culpado em 2014. Segundo o procurador-geral de Manhattan, Preet Bharara, “Abu Hamza não era apenas um pregador da fé, mas um treinador de terroristas”.
Extraído do site http://www.bbc.co.uk/ em 11/01/2015