Abrir ou não as Igrejas?

Após o ministro do STF, Kassio Nunes, ter dito que autorizaria a frequência presencial aos cultos e missas, a polêmica sobre a abertura das igrejas na pandemia voltou a estar na ordem do dia. Partidos de esquerda como o Cidadania, criado a partir do Partido Comunista Brasileiro entraram na justiça contra a decisão de Nunes. O coro de “não abra” ganhou apoio nas vozes de jornalistas e senadores de esquerda tais como Mirian Leitão e a senadora do 5G, Kátia Abreu. Entre seus pares, o primeiro a se posicionar contra a decisão foi o Ministro Marco Aurélio. Nesta segunda-feira o decano, Gilmar Mendes, ponderou que “Em um cenário tão devastador, é patente reconhecer que as medidas de restrição à realização de cultos coletivos, por mais duras que sejam, são não apenas adequadas, mas necessárias ao objetivo maior de realização da proteção da vida e do sistema de saúde”.

Segundo a reportagem da CNN (aqui https://www.cnnbrasil.com.br/nacional/2021/04/05/gilmar-mendes-mantem-medida-de-fechamento-de-igrejas-e-templos-em-sao-paulo), Mendes considerou o pedido do Conselho de Pastores ilegítimo e reafirmou a decisão dada anteriormente de que a autoridade para abrir ou não igrejas cabe ao poder executivo municipal. A decisão irá a plenário e será apreciada pelo presidente Luiz Fux.

Essa é uma deixa para as igrejas. Oxalá isso desperte e motivo os pastores a se posicionarem de modo mais contundente contra a decisão de muitos prefeitos. Esperamos ver mais passeatas de pastores e igrejas como a que aconteceu na cidade de São José do Rio Preto, dia 03/04/2021, em frente à prefeitura municipal a favor da abertura das igrejas.

Mas, infelizmente, o cenário entre os pastores não é assim tão alvissareiro. Pelo o que eu tenho visto, a posição de muitos pastores é a de que as igrejas continuem com as portas fechadas por quanto tempo nossas autoridades desejarem.

UMA CASA DIVIDIDA

O mundo evangélico está dividido. Muitos pastores e crentes aplaudem de pé a decisão de políticos, ministros e médicos que dizem que fechar a igreja é a melhor decisão a ser tomada na pandemia.

A bem da verdade para muitos pastores é cômodo ficar em casa. Alguns destes pastores os quais conheço que defendem o “ficar em casa” em relação à igreja, encontram-se naquele grupo que se alimenta das informações repassadas pela velha imprensa sem questionamentos. Outros são do grupo de risco. Talvez por isso tenham medo de abrir suas igrejas e serem contaminados. Eu até entendo essa preocupação. Para os vulneráveis, o vírus é realmente mais perigoso. No entanto, observando o discurso que muitos estão reverberando pelas redes sociais, fica a impressão de que somente na igreja, ou pelo menos nela com mais frequência, é que ocorre as contaminações pelo Coronavírus. É claro que isso é uma falácia já que não existe nenhuma pesquisa mostrando correlação entre o aumento de contaminações pelo Sars-CoV-2 e a frequência às igrejas, até onde eu sei. Se a igreja seguir o protocolo sanitário correto, o perigo de contaminação cai absurdamente. Estes mesmos cristãos que são a favor da igreja não abrir, na maioria das vezes, não se furtam de irem ao mercado, que na minha opinião, é um ambiente bem mais frágil quanto à observância ao protocolo sanitário do que a igreja.

Entretanto, estes pastores que são a favor do fechamento parecem não enxergar um problema ainda maior na obediência às restrições em relação às igrejas a médio e longo prazo. Estou falando de uma ingerência ilegal do Estado sobre a religião. Aos poucos vão implementando um controle absurdo sobre as religiões com a desculpa de que é “para o nosso bem”, “para nossa proteção” ou como disse o ministro Gilmar Mendes, é para “proteção da vida e do sistema de saúde”.

Assim que saiu a decisão de Kássio Nunes, o primeiro a se manifestar contra foi o prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil. Seu governo, disse ele, iria manter as igrejas fechadas. Esse é o mesmo prefeito que em uma entrevista afirmou que “igreja é um saco”. Dentro da visão de mundo nutrida por percepções ateias, agnósticas, satanistas e socialistas presentes em indivíduos assim e naqueles que compõe os muitos comitês de Lockdown Brasil afora, a frequência aos cultos são além de irrelevantes, perigosas e precisam ser proibidas. Por outro lado, mercados, metrôs, farmácias, emissoras de TV, postos de gasolina, quarteis e outras repartições podem ficar abertos.

A dominação do Estado Leviatã está avançando cada vez mais sobre a vida privada das pessoas ao ponto de decidirem o que é ou não essencial. E eles já decidiram: a igreja não é essencial. A Igreja que comprovadamente é a instituição social que mais recupera pessoas doentes do corpo e da alma foi posta na categoria de irrelevância completa.

O STF, os governantes e médicos não são ignorantes quanto aos efeitos adversos do “fique em casa” sobre a psique humana e suas múltiplas doenças mentais tais como estresse, ansiedade, depressão, suicídio, violência etc. Para essas doenças, a igreja não é só essencial, mas é talvez, em tempos de colapso sanitário, o único meio de atendimento disponível, acessível e de graça para todos.

O PRIVADO VIRTUAL

Não podemos esquecer que o ateísmo sempre lutou para lançar a fé cristã à margem da arena pública. Sempre perseguiu o objetivo de calar a voz da religião, sobretudo cristã, no mundo da coisa pública, vide o trabalho que a ATEIA desenvolve no Brasil todo. Agora a tática não se restringe apenas em cancelar o discurso cristão no mundo das ideias, sobretudo pública, apelando para a laicidade do Estado. Trata-se de retirar nossa presença até mesmo do espaço físico com o argumento da pandemia. Se antes o discurso anticristão era amparado pela racionalidade como arma de guerra, agora, em tempos pós modernos, o sentimento de medo parece ser  o instrumento mais eficaz para nos ocultar. Eles querem nos confinar não apenas ao mundo privado, mas em algo mais restrito e impessoal ainda – o privado virtual. E isso com muitas restrições ao gosto do politicamente correto. A despeito de como seja útil as novas tecnologias para as igrejas na atual pandemia, não podemos ignorar que igualmente estamos sujeitos aos seus efeitos colaterais e males quase irreversíveis dela advindos. Podemos observar que este direcionamento para o virtual está sendo implementado de modo sutil e pior, com o consentimento de muitos pastores.  Com isso eles estão minando nossas forças e nos dividindo cada vez mais.

A objeção de muitos é que a espiritualidade cristã não pode ser dependente do templo. Sim, concordo. Mas este argumento não pode ser generalizado para toda a igreja, como se todas elas não soubessem que ser cristão não depende de templos. Esse entendimento defeituoso sobre a espiritualidade é pontual. Para o verdadeiro cristão o desejo de se reunir, não tem nada a ver em estar em um templo, pois é óbvio, o templo em si não é a igreja. Mas não podemos deixar de admitir também que onde o povo está reunido ai sim temos uma igreja.

Muitos alegam que a igreja primitiva não tinha templos. Suas reuniões aconteciam nas casas. Então, que mal há em ficar em casa cultuando a Deus? Mas esquecem que a forma de governo e o sistema político eram outros. A igreja não estava em uma democracia republicana presidencialista, estava em um Império. A igreja cristã era tida como uma religião ilícita no Império Romano. Se a igreja cristã tivesse a liberdade de se reunir em um templo como faziam os judeus, penso que não haveriam objeções teológicas por parte de seus líderes.

A culto presencial cristão não é importante apenas por questões teológicas, mas sociais e até culturais.

Muitos podem ler este artigo e ver nele nada mais que um exagero, um preciosismo eclesiológico. Diriam que este expediente de “fechar as igrejas” é temporário e logo poderemos voltar ao normal e nos reunir novamente. Sinceramente, olhando o cenário como um todo eu não só discordo disso, mas tenho o dever moral de discordar. Não posso admitir uma visão tão simplista. Engana-se quem pensa que voltaremos a ter nossa vida normal como antes. Novas regras serão implementadas. Teremos um novo normal depois desta pandemia, e eu não sei até que ponto essas novas normas afetarão a vida da igreja.

Mas pelo andar da carruagem o cenário é favorável à movimentos anticristãos que logo culminarão em leis anticristãs e por fim virá a judicialização contra a igreja . É só juntar o quebra-cabeça e você verá um quadro cristofóbico se formando. Jesus disse “sede simples como as pombas e prudentes como as serpentes” (Mateus 10.16). Cuidado!

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